Estação de Mogadouro |
“Em 15.VIII.1899 deslocou-se ao Pocinho o Ministro das Obras Públicas, decidindo por Portaria de 30.IX.1899 que fosse elaborado “com a possivel urgencia, o projecto do programma para a construcção, por concurso publico... de uma ponte sobre o rio Douro, na estrada real n.º 9, nas proximidades da estação do Pocinho”.
A decisão de se abrir concurso público perante o Conselho de Administração dos Caminhos de Ferro do Estado, “para a construção e exploração durante dez annos, de duas pontes sobre o rio Douro, no Pocinho e no Pinhão”, sendo que a do Pocinho, “alem de ligar entre si os dois troços da estrada real n.º 9, será construida de modo que possa ser aproveitada para o caminho de ferro do Pocinho a Miranda”, ocorre a 26.II.1901.” (Carlos d’Abreu e Emilio Rivas Calvo).
Sempre me intrigou o facto de a linha do Sabor ter parado em Duas Igrejas e não ter continuado até Miranda do Douro. E nunca percebi muito bem porque é que esta via que se pretendia estruturante “ignorava” os principais centros urbanos da região que servia (com excepção de Torre de Moncorvo). Repare-se no que se escrevia, a este propósito, em 1914, no jornal “Republica”: “os ultimos trabalhos de campo do snr. engenheiro Wanzeler que tem andado a fazer a rectificação do estudo do caminho de ferro do Pocinho a Miranda do Douro, empurram êste para as povoações raianas da margem do rio, deixando, a grande distancia, o centro do concelho de Mogadouro (…)”. “Para tudo isto chamamos a atenção do senhor ministro do Fomento, lembrando-lhe que fazer um caminho de ferro que a ninguém serve, deixando, a 9 quilómetros, a séde dum importantissimo concelho, é um erro absolutamente imperdoavel, para não dizermos um crime”.
Estação de Vilar do Rei |
Efectivamente, esta linha cujo primeiro troço entre o Pocinho e Carviçais foi inaugurado em 17 de Setembro de 1911, foi gizada ab initio para fazer a ligação entre o porto de Leixões e Madrid, criando assim um corredor ferroviário entre a via larga do Porto/Pocinho, afunilando depois entre Pocinho e Miranda do Douro, voltando à via larga no campo espanhol.
A Câmara Municipal de Miranda do Douro peticionava ao Parlamento, em Junho de 1888 que: “em Zamora, a menos de 40 kilometros de nós, a linha férrea, que já bem há espera a linha portugueza, a que tem de se ligar…”
De permeio, estavam previstos nós de ligação às principais localidades do Nordeste. A opção por Torre de Moncorvo não seria à partida muito aceitável, dada a dificuldade de execução do troço e a elevada inclinação (a mais acentuada do país, se não estou em erro). Mas tal justificava-se pela existência do rico jazigo ferrífero.
Estação de Torre de Moncorvo |
A História confirma que a ligação a Espanha nunca foi concluída, condenando o projecto, como fatalmente acabou por suceder, pois as distâncias às sedes dos concelhos de Freixo de Espada à Cinta, Mogadouro e Miranda do Douro esvaziou a linha de sentido, cedendo lugar aos autocarros que, através da rodovia, serviam de forma mais eficaz as populações rurais do Nordeste.
Antero Neto
in:lelodemoncorvo.blogspot.pt
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