Lisboa reuniu associações de desenvolvimento local e profissionais inseridas em meio rural na Conferência «O Futuro dos Territórios Rurais». Os intervenientes no encontro concluíram que deve ser atribuído mais poder a quem está no terreno para «reanimar» o mundo rural. Uma dinâmica que passa pela agricultura, por políticas mais articuladas, pela captação de jovens.
Os intervenientes na Conferência «O Futuro do Mundo Rural», organizada pela Federação Minha Terra, que decorreu em Lisboa, sublinharam a importância de olhar o território rural como um todo e não apenas na perspectiva agrícola.
Nessa linha de pensamento, Frederico Reis, da Animar - Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Local, alertou para a coesão e sustentabilidade territorial que deve ter como prioridades a «mobilização dos cidadãos para serem mais participativos, novos espaços de diálogo, serem agentes de mudança».
Frederico Reis referiu ainda a urgência em procurar «diagnosticar a nível municipal os sectores de negócios que mais resistem à crise e definir estratégias de actuação territorial». O orador acrescentou ainda ser importante pensar «o ordenamento do território e a preservação do ambiente». O presidente da Animar concluiu alertando para a necessidade de «dar o poder necessário a quem está nos territórios para os reanimar».
O poder de decisão nas mãos de quem está no território foi também defendido por Arlindo Cunha, da Comissão Vitivinícola Regional do Dão. O interveniente no encontro disse ser preciso dar o «poder a nível do território». Nesta perspectiva, defendeu que as comunidades intermunicipais serão entidades importantes para aplicação de poder porque «as câmaras municipais não chegam e o regionalismo não existirá da próxima geração».
Os territórios devem cada vez mais ser encarados como uma economia e devem ser definidas estratégias de acordo com as especificidades de cada território. «E depois é imperativo criar mercados», alertou Arlindo Cunha.
Coesão territorial
A coesão e sustentabilidade do território, um dos temas abordados na conferência, carece também de territórios com pessoas, com infra-estruturas de educação, saúde e culturais, mas também de sistemas agrícolas sustentáveis e que não cedam às exigências da grande distribuição porque o mais importante é assegurar a qualidade do produto.
Alfredo Cunhal Sendim, agricultor, sublinhou que «um terço do nosso território é erosão, nada cresce, nada se cria». Proprietário da Herdade do Freixo do Meio, no Alentejo, Alfredo Sendim valoriza o sistema de montado tradicional da região e agricultura biológica.
«Os modelos agro-ecológicos, como aquele que desenvolvo, são o único modelo que vejo para termos um Portugal de “Jardim à beira mar plantado”, com população em todo o território e sustentável», acrescentou Alfredo Sendim, interveniente no primeiro painel da conferência.
A ideia é aplaudida pelos restantes elementos da mesa e reforçada por João Vieira, membro da Confederação Nacional da Agricultura: «A pequena e média agricultura está em melhor condições de responder às necessidades de alimentação e de povoar o território, contra as grandes explorações que respondem às exigências dos grandes distribuidores e exportação».
O também agricultor, na região do Oeste, alertou para o preço comercializado, que é cada vez mais «esmagado» pela distribuição e isso conduz a um abandono de sementes tradicionais, e produção de qualidade.
«A produção agrícola deve deixar de ser considerada matéria-prima produzida ao mais baixo preço para os monopólios da distribuição. Devemos considerar o factor da qualidade alimentar», afirmou João Vieira.
Rejuvenescimento agrícola
Na conferência «O Futuro dos Territórios Rurais» estiveram também presentes Firmino Cordeiro, da Associação dos Jovens Agricultores de Portugal (AJAP) e Miguel Guisado, da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP).
Miguel Guisado falou de diversificação. No seu entender, as explorações agrícolas devem diversificar os produtos que plantam, mas também o mundo rural deve ser diverso. E neste âmbito há lugar, por exemplo, ao turismo em espaço rural «que contribui para recuperação e preservação de património imobiliário».
O membro da CAP defendeu para a estratégia dos próximos anos o «apoio à comercialização de produtos das explorações agrícolas e florestais, bem como desenvolvimento, transformação e valorização de produtos locais de qualidade. Não devemos descurar a criação de desenvolvimento de pequenas empresas no espaço rural».
Por seu turno, Firmino Cordeiro referiu que o grande intuito da AJAP é o rejuvenescimento agrícola o que deve ser feito atraindo os jovens para esta actividade. Actualmente, 48% dos produtores tem mais 65 anos, segundo dados da AJAP.
«É importante atrair jovens agricultores mas devem ser muito apoiados», disse. E o apoio deve ser dado por profissionais especializados, que estão no terreno «para ajudar estes jovens a criar a nova realidade que eles se propõem fazer».
Além deste acompanhamento, os jovens agricultores necessitam de outros incentivos tais como «acesso ao crédito, acesso à terra e formação adequada», acrescentou Firmino Cordeiro.
Sara Pelicano; Fotos: Antunes Amor
in:cafeportugal.net
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