Número total de visualizações do Blogue

Pesquisar neste blogue

Aderir a este Blogue

Sobre o Blogue

SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

A morte lenta dos soutos de Trás-os-Montes

"Dentro de poucos anos, algumas manchas de castanheiros na zona da Padrela terão desaparecido devido à doença do cancro e da tinta". Esta conjectura foi avançada pelo presidente da Associação Regional dos Agricultores das Terras de Montenegro, ARATM, Flávio Costa. Apesar de vários estudos e novas práticas de plantação, variedades e sustentabilidade dos soutos, as doenças continuam a afectar os castanheiros e os produtores mostram-se impotentes para combater esta realidade.

Os inúmeros trabalhos de investigação que têm sido feitos pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Instituto Politécnico de Bragança e pelo Centro Nacional de Sementes Florestais de Amarante, ainda não permitem um tratamento eficaz para nenhuma das pragas. A doença da Tinta deve o seu nome à cor negra que a árvore adquire por baixo da casca quando é atacada, sendo conhecida desde o século XIX. A sua propagação faz-se através da água de rega, da chuva, do transporte de terra e de material vegetativo infectado. Na Europa, está presente já há várias décadas e foi detectada pela primeira vez, em Portugal, no ano de 1989, concretamente na região de Trás-os-Montes. A zona de Padrela foi a mais afectada, principalmente a variedade "Judia".

A outra doença, o cancro do castanheiro, só é detectado a partir do terceiro ou quarto ano após a plantação, é muito virulento e ataca a parte aérea da árvore de forma rápida e irreversível. Detecta-se pelo desenvolvimento de necroses castanho-avermelhadas no tronco e pela permanência das folhas e ouriços mortos nos ramos secos da árvore.

Na abordagem que fez ao Nosso Jornal, Flávio Costa deixou transparecer muita preocupação e algum cepticismo. "Nesta actividade rural, o principal problema são as doenças dos castanheiros. Embora haja pessoal técnico a ajudar, não conseguimos controlar as doenças e daqui a poucos anos vamos ter muito prejuízo nos castanheiros mais velhos. O que vai valendo ainda são os soutos plantados recentemente, além de das novas plantações que se estão a fazer, que vão resistindo à doença. Por outro lado, há variedades mais resistentes à doença da tinta e ao cancro. Infelizmente, ainda não há cura para estas doenças".

Envelhecimento dos produtores e desinteresse dos mais jovens também afecta produção

Para o presidente de uma das maiores associações de agricultores de Trás-os-Montes, a solução, para adiar o pior, passa "por cortar e desinfectar as partes atingidas pela doença". "O cancro está a destruir os nossos soutos. É com tristeza que vemos os nossos castanheiros a morrer pouco a pouco. Outro factor que nos preocupa é o envelhecimento dos produtores. A maioria das pessoas que estão ligados à produção de castanha já têm uma certa idade e não podem tratar das árvores. Os jovens não se querem dedicar à agricultura porque não dá rendimento e não se sentem atraídos pela castanha. Além disso, falta-lhes o incentivo do rendimento, que nem sempre é certo, há anos muito difíceis".

A receita para contrariar esta tendência fatídica passa por incentivos e ajudas aos agricultores, para fazerem projectos destinados a novas plantações para a reposição das zonas afectadas. No apoio aos agricultores, o dirigente realçou o papel dos técnicos da Associação e da Direcção Regional e também da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, que têm desempenhado uma acção importante, com a sua colaboração e realização de projectos conjuntamente com a associação.

Um dos produtores de castanha que está a sentir na pele o alastramento da doença do cancro nos seus soutos, é Júlio Amaro, de Carrazedo de Montenegro (na foto). "De ano para ano, a doença está a dar-me muito prejuízo. Ainda encomendei, de França, vários pés de castanheiros, mas acabaram por ser afectados também. Vou cortando os ramos atacados para adiar a morte dos castanheiros velhos. Depois, lá os terei de arrancar" .

De acordo com um estudo (um magnífico trabalho de investigação sobre o castanheiro em Portugal) levado acabo por Luís Martins, da UTAD, nas freguesias da Padrela e Corveira assistiu-se ao agravamento do declínio dos povoamentos de 1995 até 2001, com estas doenças. Em 2000, cerca de 20 por cento das árvores estavam decrépitas, detectando-se já em 2001 a mortalidade em mais de 11 por cento dos castanheiros observados. Outras afecções também aparecem no terreno, a antracnose, que debilitam progressivamente os castanheiros.

Flávio Costa abordou ainda a mão-de-obra para a apanha da castanha, revelando uma situação curiosa. "Esse problema não existe. Nesta zona, como a castanha se valoriza muito, é essencialmente grande, brilhante e de grande qualidade, as pessoas gostam de ir para a apanha. Além disso, nós já temos a mecanização, só que, para ser rentável, tem de haver muita castanha".

Quebra pode chegar aos 40 por cento

Na colheita deste ano, os produtores têm sentido uma contrariedade, que é a falta de chuva. Com a ausência de chuva, o fruto está agarrado ao ouriço, e ela só é deitada ao chão com o auxílio de uma vara, o que tem dificultado a apanha.

Segundo a ARATM, este ano a quebra de produção de castanha pode chegar a 40 por cento em relação aos anos anteriores, salientando contudo que os preços correntes têm sido bons (2 euros por quilo).

A castanha "DOP Padrela" é exportada essencialmente para França, Brasil, Inglaterra, Espanha, Itália e para outros países da Europa. A produção média de castanha, na área da ARATM, é de 12 mil toneladas. A ARATM representa cerca de mil agricultores, produtores da castanha e de outras áreas, prestando vários serviços aos seus associados. Abrange os concelhos de Valpaços, Murça, Vila Pouca e Chaves.

O castanheiro (Castanea Sativa Mill), em Portugal, tem sido uma mais-valia no rendimento do agricultor desde meados da década de 1980. O mesmo tem acontecido na área produtora da "Castanha da Padrela". Nesta zona, a castanha "Judia" é uma das principais fontes de receita das populações locais, nomeadamente em seis freguesias do Concelho de Valpaços (Carrazedo de Montenegro, Curros, Padrela e Tazém, Santiago da Ribeira de Alhariz, São João da Corveira e Serapicos).

José Manuel Cardoso
Semanário Expresso

Sem comentários:

Enviar um comentário