Apesar dos solos ricos em metais como o níquel, a vida animal e vegetal neste pedaço de paraíso no nordeste do nosso país é diversa e marcante. Da próxima vez que for a Bragança e Vinhais, não perca a oportunidade de desbravar o Montesinho.
diego matteo muzzini / SHUTTERSTOCK - O Parque Natural de Montesinho tem quase 75 mil hectares de área. |
Criado a 30 de Agosto de 1979 por iniciativa legal, o Parque Natural de Montesinho situa-se em plena Terra Fria Transmontana, abarcando a parte norte dos concelhos de Bragança e de Vinhais.
Devido à topografia que o rodeia, esta região está sujeita a variações consideráveis de temperatura, podendo variar entre os -12 e os 40 graus centígrados e apresentar uma diversidade notável de espécies ao longo do ano. Um dos maiores parques naturais portugueses, inclui duas serras: a serra da Coroa e a serra de Montesinho, respectivamente com altitudes máximas de 1.273 e 1.486 metros, descendo depois até aos 438 no vale do rio Mente.
A Flora
Uma das principais características do Parque Natural de Montesinho é a existência de solos derivados de rochas ultrabásicas, situação muito rara no nosso país. Estes solos são pobres em nutrientes e ricos em metais tóxicos, como o níquel ou o crómio, o que os torna pouco convidativos para a maior parte das plantas.
No entanto, esta mesma característica faz com que algumas espécies, capazes de tolerar estas condições, encontrem aqui refúgio, conhecendo-se mesmo espécies endémicas desta área. É o caso da arméria de Bragança (Armeria eriophylla) ou de outras espécies como a Santolina semidentata. Espécies de distribuição reduzida no nosso país como a violeta-de-pastor (Linaria aeruginea) ou a subespécie da aveia-perene Avenula pratensis lusitanica, também endémica deste território, ocorrem aqui.
Desengane-se quem julga que o interesse da flora de Montesinho se esgota nos maciços ultrabásicos. Este parque transmontano apresenta também comunidades importantes noutros biomas. É o caso das turfeiras, que abrigam espécies pouco comuns no nosso país, como a genciana-dos-pauis (Gentiana pneumonanthe), o malmequer-dos-brejos (Caltha palustris) ou a violeta Viola bubanii (que apenas ocorre nesta região no nosso país).
Também relevantes são os bosques, principalmente carvalhais de carvalho-negral (Quercus pyrenaica) ou sardoais de azinheira (Quercus rotundifolia), assim como as galerias ripícolas. Estas últimas acolhem espécies como o azevinho (Ilex aquifolium) ou as rosas-da-páscoa (Primula acaulis), enquanto que os carvalhais são caracterizados por plantas como a violeta-hirta (Viola hirta), o ciano-maior (Centaurea triumfetti ssp. lingulata) ou o martagão (Lilium martagon), e os sardoais por plantas como a cássia-branca (Osyris alba), a gilbardeira (Ruscus aculeatus) ou a rosa-albardeira (Paeonia broteroi).
A fauna
No geral, o Parque Natural de Montesinho apresenta uma fauna típica do norte da Península Ibérica, com várias espécies a terem nesta região (ou um pouco mais a sul) os seus limites meridionais de distribuição, como o picanço-de-dorso-ruivo (Lanius collurio), que pode ser localmente comum. Também outras aves, de distribuição mais alargada no nosso país, mas relativamente raras, ocorrem aqui: é o caso da águia-real (Aquila chrysaetos, da cegonha-preta (Ciconia nigra), do bútio-vespeiro (Pernis apivorus) ou do melro-das-rochas (Monticola saxatilis). É também aqui o único local conhecido de reprodução regular em Portugal da petinha-ribeirinha (Anthus spinoletta), embora seja pouco claro se esta ainda se mantém. É também um dos bastiões que ainda resta do tartaranhão-caçador (Circus pygargus), severamente ameaçado.
Lev Paraskevopoulos / Shutterstock - O melro-das-rochas é uma das aves mais características das serras do Norte do país, onde se inclui Montesinho. |
Em termos de mamíferos, e além dos sempre assinaláveis lobos-ibéricos (Canis lupus signatus) e das suas presas de eleição, os corços (Capreolus capreolus) e os veados-vermelhos (Cervus elaphus), o Parque de Montesinho distingue-se por ser abrigo de populações saudáveis em contexto nacional da toupeira-de-água (Galemys pyrenaicus), assim como pela presença de espécies ameaçadas como o gato-bravo (Felis sylvestris). É também a única zona conhecida do país onde ocorre o rato-dos-lameiros (Arvicola terrestris). A acrescentar a isto, temos ainda 14 espécies identificadas de morcego, incluindo o morcego-de-peluche (Miniopterus schreibersii) ou o criticamente ameaçado morcego-rato-pequeno (Myotis blythii).
Ocorre também aqui a maior parte dos anfíbios portugueses do norte do país (é comum haver complexos de espécies com diferentes representantes a norte e a sul), com 13 espécies referenciadas, entre as quais o tritão-de-ventre-laranja (Lissotriton boscai) ou a rã-de-focinho-pontiagudo (Discoglossus galganoi). No caso dos répteis, estão registadas nesta área 18 espécies, com destaque para a víbora-cornuda (Vipera latastei) ou o lagarto-de-água (Lacerta schreiberi), sendo que 50% dos endemismos ibéricos estão aqui presentes.
A fauna piscícola não é particularmente diversa, contando com apenas oito espécies autóctones. Porém, inclui espécies ameaçadas como a verdemã-do-norte (Cobitis calderoni) ou a panjorca (Achondrostoma arcasii). É ainda uma das principais zonas no país a servir de casa à truta-de-rio (Salmo trutta).
SHUTTERSTOCK - O rato-dos-lameiros tem no Parque de Montesinho a sua única população conhecida em Portugal. |
No que diz respeito aos invertebrados, destacamos as diversas espécies de borboletas que em Portugal praticamente só são observáveis no Nordeste Transmontano, como é o caso da manto-de-ouro (Lycaena virgaureae) ou da laranja-do-nordeste (Boloria dia), mas também de espécies que apenas ocorrem aqui em Portugal, como a libélula lestes-do-Montesinho (Lestes sponsa), apenas registada no Açude das Gralhas.
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