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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite, Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2025

A curiosa biodiversidade do Parque Natural de Montesinho

 Apesar dos solos ricos em metais como o níquel, a vida animal e vegetal neste pedaço de paraíso no nordeste do nosso país é diversa e marcante. Da próxima vez que for a Bragança e Vinhais, não perca a oportunidade de desbravar o Montesinho.

diego matteo muzzini / SHUTTERSTOCK - O Parque Natural de Montesinho tem quase 75 mil hectares de área. 

Criado a 30 de Agosto de 1979 por iniciativa legal, o Parque Natural de Montesinho situa-se em plena Terra Fria Transmontana, abarcando a parte norte dos concelhos de Bragança e de Vinhais.

Devido à topografia que o rodeia, esta região está sujeita a variações consideráveis de temperatura, podendo variar entre os -12 e os 40 graus centígrados e apresentar uma diversidade notável de espécies ao longo do ano. Um dos maiores parques naturais portugueses, inclui duas serras: a serra da Coroa e a serra de Montesinho, respectivamente com altitudes máximas de 1.273 e 1.486 metros, descendo depois até aos 438 no vale do rio Mente.

A Flora

Uma das principais características do Parque Natural de Montesinho é a existência de solos derivados de rochas ultrabásicas, situação muito rara no nosso país. Estes solos são pobres em nutrientes e ricos em metais tóxicos, como o níquel ou o crómio, o que os torna pouco convidativos para a maior parte das plantas.

No entanto, esta mesma característica faz com que algumas espécies, capazes de tolerar estas condições, encontrem aqui refúgio, conhecendo-se mesmo espécies endémicas desta área. É o caso da arméria de Bragança (Armeria eriophylla) ou de outras espécies como a Santolina semidentata. Espécies de distribuição reduzida no nosso país como a violeta-de-pastor (Linaria aeruginea) ou a subespécie da aveia-perene Avenula pratensis lusitanica, também endémica deste território, ocorrem aqui. 

Desengane-se quem julga que o interesse da flora de Montesinho se esgota nos maciços ultrabásicos. Este parque transmontano apresenta também comunidades importantes noutros biomas. É o caso das turfeiras, que abrigam espécies pouco comuns no nosso país, como a genciana-dos-pauis (Gentiana pneumonanthe), o malmequer-dos-brejos (Caltha palustris) ou a violeta Viola bubanii (que apenas ocorre nesta região no nosso país).

tolobalaguer.com / SHUTTERSTOCK - A remota aldeia de Guadramil, no concelho de Bragança, pode ser visitada em pleno Parque Natural de Montesinho. Aviso: aventurando-se por estas bandas, não conte com rede móvel.

Também relevantes são os bosques, principalmente carvalhais de carvalho-negral (Quercus pyrenaica) ou sardoais de azinheira (Quercus rotundifolia), assim como as galerias ripícolas. Estas últimas acolhem espécies como o azevinho (Ilex aquifolium) ou as rosas-da-páscoa (Primula acaulis), enquanto que os carvalhais são caracterizados por plantas como a violeta-hirta (Viola hirta), o ciano-maior (Centaurea triumfetti ssp. lingulata) ou o martagão (Lilium martagon), e os sardoais por plantas como a cássia-branca (Osyris alba), a gilbardeira (Ruscus aculeatus) ou a rosa-albardeira (Paeonia broteroi).

A fauna 

No geral, o Parque Natural de Montesinho apresenta uma fauna típica do norte da Península Ibérica, com várias espécies a terem nesta região (ou um pouco mais a sul) os seus limites meridionais de distribuição, como o picanço-de-dorso-ruivo (Lanius collurio), que pode ser localmente comum. Também outras aves, de distribuição mais alargada no nosso país, mas relativamente raras, ocorrem aqui: é o caso da águia-real (Aquila chrysaetos, da cegonha-preta (Ciconia nigra), do bútio-vespeiro (Pernis apivorus) ou do melro-das-rochas (Monticola saxatilis). É também aqui o único local conhecido de reprodução regular em Portugal da petinha-ribeirinha (Anthus spinoletta), embora seja pouco claro se esta ainda se mantém. É também um dos bastiões que ainda resta do tartaranhão-caçador (Circus pygargus), severamente ameaçado.

Lev Paraskevopoulos / Shutterstock - O melro-das-rochas é uma das aves mais características das serras do Norte do país, onde se inclui Montesinho. 

Em termos de mamíferos, e além dos sempre assinaláveis lobos-ibéricos (Canis lupus signatus) e das suas presas de eleição, os corços (Capreolus capreolus) e os veados-vermelhos (Cervus elaphus), o Parque de Montesinho distingue-se por ser abrigo de populações saudáveis em contexto nacional da toupeira-de-água (Galemys pyrenaicus), assim como pela presença de espécies ameaçadas como o gato-bravo (Felis sylvestris). É também a única zona conhecida do país onde ocorre o rato-dos-lameiros (Arvicola terrestris). A acrescentar a isto, temos ainda 14 espécies identificadas de morcego, incluindo o morcego-de-peluche (Miniopterus schreibersii) ou o criticamente ameaçado morcego-rato-pequeno ​​​​​​(Myotis blythii). 

Ocorre também aqui a maior parte dos anfíbios portugueses do norte do país (é comum haver complexos de espécies com diferentes representantes a norte e a sul), com 13 espécies referenciadas,  entre as quais o tritão-de-ventre-laranja (Lissotriton boscai) ou a rã-de-focinho-pontiagudo (Discoglossus galganoi). No caso dos répteis, estão registadas nesta área 18 espécies, com destaque para a víbora-cornuda (Vipera latastei) ou o lagarto-de-água (Lacerta schreiberi), sendo que 50% dos endemismos ibéricos estão aqui presentes.

A fauna piscícola não é particularmente diversa, contando com apenas oito espécies autóctones. Porém, inclui espécies ameaçadas como a verdemã-do-norte (Cobitis calderoni) ou a panjorca (Achondrostoma arcasii). É ainda uma das principais zonas no país a servir de casa à truta-de-rio (Salmo trutta).

SHUTTERSTOCK - O rato-dos-lameiros tem no Parque de Montesinho a sua única população conhecida em Portugal. 

No que diz respeito aos invertebrados, destacamos as diversas espécies de borboletas que em Portugal praticamente só são observáveis no Nordeste Transmontano, como é o caso da manto-de-ouro (Lycaena virgaureae) ou da laranja-do-nordeste (Boloria dia), mas também de espécies que apenas ocorrem aqui em Portugal, como a libélula lestes-do-Montesinho (Lestes sponsa), apenas registada no Açude das Gralhas.

António Matos

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