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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite, Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues, João Cameira e Rui Rendeiro Sousa.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 1 de julho de 2025

O LENÇO

Por: José Mário Leite
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)

No lançamento do livro “Um Homem Comum num Tempo Incomum”, onde o autor, António Lacerda Sales, relata a sua experiência enquanto médico e governante no dramático período da pandemia do COVID-19, a uma pergunta da assistência afirmou, sem qualquer rebuço: “entre seguir a lei e salvar duas crianças, escolheria salvar as crianças”. Esta afirmação foi uma alusão clara ao célebre caso das gémeas brasileiras tratadas no Hospital Santa Maria, com o medicamento mais caro do mundo, o Zolgensma.

Independentemente do juízo de valor e ético sobre o seu envolvimento no célebre caso que abalou a política portuguesa, é difícil contestar essa afirmação. De tudo quanto se sabe sobre os contornos políticos e jurídicos do incidente, tornado público e amplamente comentado, seja por ser necessário encontrar um bode expiatório ou porque o comportamento do governante deixou muito a desejar e não cumpriu as regras estabelecidas, é bem provável que o antigo Secretário de Estado venha a ser condenado em tribunal pela sua conduta.
Porém, se o político deveria ter sido mais prudente e menos voluntarista, já ao médico, que sendo-o antes e depois de assumir responsabilidades no Governo, não deixou de o ser enquanto integrou o Ministério da Saúde, não seria de esperar outra atitude. A sua afirmação apenas reflete a consequência lógica do seu juramento de Hipócrates, que lhe há de condicionar a vida e comportamento enquanto portador de uma missão a que se comprometeu, por sua honra, dedicar-se.
Não quero com isso dizer que o poder judicial não deva atuar de acordo com a Lei e sancionar tudo quanto houver de sancionável. Não direi uma única palavra em seu desabono. Já quanto ao olhar político sobre o caso, terei toda a tolerância e adesão a tantos quantos, nesse campo, se dedicarem a entender as motivações dos variados intervenientes. E, consequentemente, a maior repulsa por quem, com motivação populista, crendo que é no quanto pior melhor que pode construir um projeto de sociedade. Não só por razões de humanidade, mas pelo apuramento do que, em qualquer dos cenários, aproveita a quem.
Pelo mesmo motivo, me proponho comentar a recente afirmação de André Ventura, que anunciou que o seu partido irá propor que seja proibido o uso do véu ocultando o rosto ou parte dele, em todas as instituições públicas como escolas não religiosas, hospitais, transportes públicos e demais locais regidos ou pertencentes ao Estado. Porque Portugal é um Estado laico. Pois é. E então? Que diferença me faz a mim ou a qualquer um dos leitores que fulana ou cicrana traga a cabeça descoberta, tenha um chapéu ou use um lenço? Incomoda-me, sim, a obrigatoriedade de o usar, mas também a sua proibição. E não consigo descortinar qual a motivação de o fazer… Até porque, aí chegados, seremos iguais àqueles que pretendemos criticar.
Provavelmente é uma questão de “costumes”. Mas aí, alto e para o baile! Lenços na cabeça, a tapar todo o cabelo e parte da cara, SEMPRE houve, em Portugal, sobretudo em tempos idos, na viuvez, nas igrejas e em muitas atividades agrícolas, sobretudo as estivais.
Trabalho numa instituição onde, com frequência, me cruzo com mulheres de lenço na cabeça. E não é por qualquer questão religiosa, antes fosse. 


José Mário Leite
, Nasceu na Junqueira da Vilariça, Torre de Moncorvo, estudou em Bragança e no Porto e casou em Brunhoso, Mogadouro.
Colaborador regular de jornais e revistas do nordeste, (Voz do Nordeste, Mensageiro de Bragança, MAS, Nordeste e CEPIHS) publicou Cravo na Boca (Teatro), Pedra Flor (Poesia), A Morte de Germano Trancoso (Romance) e Canto d'Encantos (Contos), tendo sido coautor nas seguintes antologias; Terra de Duas Línguas I e II; 40 Poetas Transmontanos de Hoje; Liderança, Desenvolvimento Empresarial; Gestão de Talentos (a editar brevemente).
Foi Administrador Delegado da Associação de Municípios da Terra Quente Transmontana, vereador na Câmara e Presidente da Assembleia Municipal de Torre de Moncorvo.
Foi vice-presidente da Academia de Letras de Trás-os-Montes.
É Diretor-Adjunto na Fundação Calouste Gulbenkian, Gestor de Ciência e Consultor do Conselho de Administração na Fundação Champalimaud.
É membro da Direção do PEN Clube Português.

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