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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite, Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues, João Cameira e Rui Rendeiro Sousa.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

domingo, 3 de agosto de 2025

Partiu Rui Paulo Pereira - A voz silenciosa por trás de todas as rádios


 A rádio está de luto! Morreu o homem por detrás da maior parte das rádios em Portugal.

- Rui Paulo, Rui Paulo, tenho a emissão em branco!

Do outro lado, a voz calma de quem já viu tudo, responde:

-  ⁠Não há problema, há sempre solução, só não há para a morte!

E eis que esta decidiu passar por aqui, e num ato de profunda injustiça, levar-nos os que mais precisamos. 

A rádio precisa  de ti, Rui Paulo! Onde vais?

A rádio em Portugal está de luto!

Rui Paulo Pereira, o homem por detrás da maior parte das rádios em Portugal, morreu! 

É ele que recebe as chamadas de emergência dos aflitos das rádios, quando estas avariam.

Não há antena alta de mais para o destemido que, sempre em silêncio, se elevava, por vezes, centenas de metros, nos céus, onde era apenas um pontinho no alto da frágil estrutura metálica!

A rádio em Portugal deve-te tanto, mas tanto, Rui Paulo, que jamais conseguirá pagar-te ou fazer-te a justa homenagem! 

Quando ligamos o rádio do carro ou de casa, não interessa qual, seja local ou nacional, o mais provável é que tenha a mão do Rui Paulo. O derradeiro técnico dos técnicos em Portugal assiste rádios locais e nacionais como a TSF, a Rádio Comercial, a Renascença, a RFM e sei lá quantas mais.

No que a mim concerne, foi um enorme privilégio poder contar com a tua preciosa ajuda na Rádio Brigantia!

Quanto a mim, amigo, cabe-me despedir-me de ti! 

Lembro-me como hoje, estávamos na primeira metade dos noventa, no tempo em que as rádios ainda dispunham de um técnico de som, estavas tu a fazer "técnica" na rádio RBA, e eu a tentar dizer algumas palavras ao microfone, que teimavam em sair inseguras e de forma atabalhoada.

Na tua voz, uma vez mais, calma, dizias: "não tenhas pressa. Para saber, é preciso aprender".

Mas a serenidade que me transmitias, numa atitude paternal, fazia com que o desconforto passasse e tudo fosse tão mais fácil.

Tão fácil, como se fosses tu a fazer e eu só estivesse ali a ajudar. És assim, tu! Assim como num alto de uma antena de dezenas de metros de altura, por volta das oito das noite, de um inverno gelado, nevado, enquanto nos preparávamos para colocar o anti-torção da torre da Serra da Nogueira, o vento decidiu quase fazer tombar a grua, que levantou as "patas" um bom palmo e meio do chão.

O operador da grua fugiu com as mãos na cabeça, enquanto soltava uns gritos de pânico e protesto! Eu de um lado, tu do outro, presos pelos cintos de segurança, saímos sacudidos uns metros para um lado, uns metros para o outro, ainda com espiamento incompleto. Podia ter sido ali o nosso derradeiro encontro com o "Criador"! Eu soltei um berro: Rui Paulo! Enquanto o vento assobiava e nos trespassava os corpos gelados, naquilo desde manhã, com temperaturas negativas, disseste apenas: "bem, não sei se a partir de aqui estaremos muito seguros"! Conseguimos, por milagre talvez, terminar a tarefa, por entre os múltiplos protestos do sr. da Grua, que ameaçava constantemente ir-se embora, porque tinha para ele que iríamos todos morrer ali, naquela hora! Estávamos em 2009.

Foi a única vez que te vi vacilar...

Ironia, como um prenúncio, a antena caiu este ano, junto ao heliporto da Serra da Nogueira.

Podemos procurar, não encontraremos outro como tu!

Este é o meu testemunho que quero, faço questão de partilhar publicamente, com a voz embargada, os olhos turvos e as mãos trémulas, porque foste embora, e agora não sei o que fazer. Como vou eu resolver avarias, prender cordas, correr aos emissores, fugir para os estúdios...

Sempre consegui acompanhar-te nas subidas em direção ao céu! Mas desta vez deixaste-me mesmo para trás, meu amigo! Desta vez não vou conseguir acompanhar-te! Irei depois, e sei que, quando chegar, estarás à minha espera para arranjarmos o rádio do Céu!

Até lá, meu eterno amigo!

O homem rádio voou para a mais alta frequência celeste!

Escrito por Brigantia.
Jornalista: Paulo Afonso

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