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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

domingo, 15 de maio de 2011

«Tiu» Ângelo Arribas, o mestre Mirandês da gaita-de-foles

Em menos de duas décadas espalhou a gaita-de-foles mirandesa por meio mundo e ganhou o estatuto de «mestre Mirandês». «Tiu» Ângelo Arribas cumpriu tarde um sonho de menino. Uma história de vida a ensinar gaiteiros de todas as idades.
 A cultura mirandesa tem na gaita-de-foles, nos pauliteiros e na língua (o mirandês) alguns dos seus traços mais marcantes. Ângelo Arribas é, por sua vez, uma espécie de guardião de saberes. Uma experiencia que passa a novas gerações.
Aos 73 anos, «Tiu» Ângelo, como é tratado, ensinou dúzias de «gaiteiricos» e já perdeu a conta ao número de gaitas mirandesas que construiu, espalhadas pelo país e além fronteiras, desde Itália ao Brasil. Uma fama internacional para o instrumento nascido em Trás-os-Montes que nos últimos anos se tornou numa verdadeira «gaitomania», recuperando do esquecimento a tradicional gaita-de-foles mirandesa.
Tocador, gaiteiro, ninguém como «Tiu» Ângelo sabe, sem nunca ter sido ensinado, dos sons e das tradições locais. Aprendeu a tocar de ouvido a gaita-de-foles. «Nasci para isto», diz, garantindo que a mirandesa se distingue das demais pelo "som mais cheio".
O «mestre mirandês» chegou a fazer três instrumentos por mês. Actualmente faz um. Custa cerca de trezentos euros. Um valor que duplica se a gaita for genuinamente mirandesa. Ângelo Arribas olha para a moeda em circulação e faz as contas. «O euro fez-me muita cobrança. Dantes vendia muita gaita, mas desde o euro para cá…». A crise também não ajuda, como sublinha.
Aos sete anos, era já pastor e improvisou a primeira gaita com a pele de um rato. «A necessidade é a mãe das ideias», refere «Tiu» Ângelo. Ainda menino, saltava da cama de madrugada para acompanhar os gaiteiros nas alvoradas das festas.
Nascido na Freixiosa, foi pastor até aos 15 anos, aprendeu a ler na tropa e trabalhou na Hidroeléctrica do Douro, na construção da aldeia do Barrocal do Douro e daquela que, mal imaginava, viria a ser a sua casa. Só há 20 anos, Ângelo Arribas dedica o seu tempo inteiro à construção de gaitas. Fá-lo num anexo que serve de oficina. Ai, transforma materiais da terra como a madeira de freixo ou de buxo, chifre de boi, osso de pé de cavalo e pele de cabrito nas gaitas e outros instrumentos como caixas e a flauta pastoril.
O pastoreio é o berço de alguns destes instrumentos tradicionais, do tempo em que «não havia rádios, nem nada para se entreterem nos campos» e os pastores construíam as suas diversões. Os mesmos instrumentos que animavam festas, romarias e cerimónias religiosas até serem silenciados pelas «manias modernas» de outras sonoridades.
Foi «instrumento» do saudoso historiador mirandês, o padre Mourinho, e acompanhava para todo o lado os Pauliteiros de Miranda.
«Tiu Ângelo» tem uma gaita-de-foles com 150 anos herança de um gaiteiro antigo, o bisavô da mulher. O neto segue-lhe os passos, mas desengane-se quem pensa que desfrutou da mestria do avô, pois tal como ele aprendeu a tocar sozinho.
«Tiu» Ângelo vendeu muitos instrumentos para grupos tradicionais, gaiteiros portugueses e espanhóis, emigrantes e curiosos estrangeiros, mas «por fortuna nenhuma
do mundo» se desfazia da sua gaita e de uma flauta de 1961 que o acompanharam por «meio mundo».
Quando começou eram só cinco os gaiteiros no Planalto Mirandês. Agora são mais de meia centena com presença forte da juventude.
«Se se perder a gaita é uma falha», alerta o guardião de artes e saberes como lengas-lengas, provérbios, anedotas, e lamenta ter-se perdido o meio de passar o saber: os serões de antigamente.


Café Portugal; Foto - At-Tambur

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