Por estes dias em que o mundo tem os olhos postos na Líbia, a Rádio Brigantia encontrou uma jovem de Bragança, que passou um ano e meio no país que vive uma transição violenta de regime, tendo regressado a Portugal imediatamente antes de terem rebentado os confrontos.
Belina Cangueiro, juntamente com o marido, partiu pela oportunidade de trabalho, tendo sido professora de francês numa escola intrenacional. Apesar das diferenças culturais, encontrou na ditadura de Kadafi alguns sinais de abertura ao mundo ocidental.
“Cheguei e fui o registo 34. Num ano passou para 120. Houve a abertura de um banco português e muitas empresas de construção civil que pretendiam entrar naquele mercado. Era um país em que é preciso fazer tudo. A fórmula perfeita para uma empresa vingar”, recorda.
Quanto ao dia-a-dia destes portugueses na Líbia, houve outras descobertas que surpreenderam. “Nunca paguei água na Líbia. Embora tenha costa, é muito quente e todas as casas têm piscina. Só para a manutenção disso e do jardim, gasta-se muita água, mas era gratuita. Os bens de primeira necessidade eram muito baratos”, conta.
Ainda assim, país islâmico é país islâmico, pelo que havia que ter cuidado com alguns costumes ocidentais. “Aqui cumprimentarmos uma pessoa de beijo é uma coisa vulgar. Lá é impensável”, avisa Belina Cangueiro.
“O que toda a gente dizia é que [a destituição de Kadafi] interessava mais ao Ocidente do que ao povo”
Circular no trânsito é também uma verdadeira guerra na Líbia. “Ninguém respeita sinais. Há muitos acidentes”, relata.
Em relação à motivação do povo Líbio em deitar abaixo o regime de Kadafi, Belina Cangueiro levanta algumas dúvidas. “O que toda a gente dizia é que interessava mais ao Ocidente do que ao povo”, testemunha esta brigantina.
Eis alguns contornos desta passagem pela Líbia de cerca de um ano e meio. Bina Cangueiro regressou a Bragança há pouco mais de meio ano, pouco antes de ter rebentado o conflito que poderá ditar o fim do regime de Kadafi.
Paulo Afonso
in:jornalnordeste.com
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