Este não está a ser um ano de excelência para o sector da castanha. Em Trás-os-Montes e Alto Alentejo as condições climatéricas não ajudaram à produção. Uma quebra numa fileira que rende anualmente cerca de 50 a 60 milhões de euros. Castanha que, na sua maioria, segue a via da exportação. Incentivar o consumo interno e aumentar a área de produção são objectivos expressos por alguns dos responsáveis do sector.
Nuno Neves, presidente da Cooperativa Agrícola dos Cerealicultores de Porto Espada, em Marvão, explica que este ano a produção no norte alentejano registou uma «pequena quebra em quantidade mas a qualidade melhorou». Tal deveu-se «a condições climatéricas anormais. «Neste momento a produção está estabilizada nos 80 toneladas só em Marvão», afiança.
Mais a Norte, José Gomes Laranjo, professor na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) e coordenador-geral da rede nacional da fileira da castanha (RefCast), corrobora a tese da quebra na produção na região.
«A produção este ano está em quebra, sobretudo, devido às condições climatéricas que temos tido. Quando tudo levava a crer que ia ser um ano extraordinário da castanha, porque tivemos um Verão relativamente ameno, vieram os meses de Setembro e Outubro quentes e sem chuva. Não ajudou nada», realça.
O mesmo responsável vinca que a produção pode até descer para metade dos valores anuais. «Normalmente há uma grande divergência entre os valores das estatísticas e os reais. E valores que entendemos como reais para a produção são na ordem das 50 mil toneladas, por ano em Trás-os-Montes, o que corresponde a 85% da produção nacional», recorda José Gomes Laranjo.
E tudo isto, sublinha, «vai reflectir-se no valor nacional, no rendimento dos agricultores e na nossa capacidade exportadora».
Por seu turno, Gilberto Baptista, Grão-Mestre da Confraria Ibérica da Castanha, fala numa quebra na produção da castanha nesta época de 2011 em Trás-os-Montes, apontando, neste caso, uma queda de 30% da produção em relação a 2010, «o que representa uma queda de 8 mil toneladas».
Gilberto Baptista recorda que, de acordo com os dados disponibilizados recentemente pelo secretário de Estado das Florestas e do Desenvolvimento Rural, Daniel Campelo, a fileira da castanha «vale cerca de 56 milhões de euros anualmente».
A importância do sector :
A exportação no sector tem crescido nos últimos anos, sendo que os mercados externos de excelência estão concentrados na Europa - França, Alemanha e Itália - e cada vez mais nos Estados Unidos, Brasil e Canadá, como explicam os responsáveis da fileira.
Nuno Neves refere a falta de apoios ao sector, «fundamentais para potenciar a fileira. Neste momento não há apoios do Ministério da Agricultura, nem de outras entidades, talvez porque o escoamento do produto esteja assegurado e concentrado em dois ou três pontos do país», critica.
E refere que as principais dificuldades «passam por tentar preservar os soutos antigos centenários que estão a ser atacados por algumas doenças, como o cancro do castanheiro».
Nuno Neves apela por isso à criação de «circuitos nacionais de comercialização mais eficazes» de forma a permitir criar valor à castanha e transformá-la também para outros produtos alimentares.
Por sua vez, José Gomes Laranjo que por diversas vezes já chamou à castanha o «o petróleo de Trás-os-Montes», salienta que o fruto «é cada vez mais um produto de exportação. As nossas variedades são de excelente qualidade. Além disso, têm uma forte procura, quer para a transformação ou consumo em fresco nos países europeus, como França e Itália, quer para o mercado dos nossos emigrantes - o “mercado da saudade”, como lhe chamamos», realça.
Para o docente da UTAD «há uma dinâmica muito forte em Portugal em torno da fileira da castanha». Porém, considera que «temos feito pouco face àquilo que poderíamos fazer tendo em conta o potencial desta riqueza».
Para José Gomes Laranjo, «falta imagem à fileira» tal como existe, por exemplo, em relação ao sobreiro e à vinha. Os decisores políticos não olham para o castanheiro da mesma maneira que olham para estes dois sectores», critica. De acordo com José Laranjo há que aumentar a área de produção (perto de 35 mil hectares estão ocupados com souto, com as propriedades a terem em média 1 hectare e meio), incentivar o consumo em Portugal, fora da época da apanha, e apostar na transformação.
Por fim, também Gilberto Baptista, Grão-Mestre da Confraria Ibérica da Castanha, considera que é fundamental «não abandonar do cultivo», sobretudo pelo valor económico que a fileira gera, como também «a recuperação e humanização da paisagem e o desenvolvimento da gastronomia».
Recorde-se que neste momento está em fase de criação a Federação Europeia da Castanha. A nível nacional é representada por José Gomes Laranjo. Os seus órgãos sociais deverão tomar posse em Setembro de 2012.
Ana Clara
in:cafeportugal.net
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