«Senhora. — Diz José Marcelino Jorge de Figueiredo Sarmento cavaleiro professo na Ordem de Christo fidalgo cavaleiro da caza de Sua Magestade que não lhe sendo permitido na guerra de 1762 o sacrificar a sua vida na defença do castelo da cidade de Bragança de que he alcayde mor com homenagem jurada nas riaes mãos de V. Magestade, por se determinar o abandono da dita cidade e praça; elle para o fim de acreditar hua preciosa ação de fidelidade e em consequencia desta aqueles estimulos de honra, proprios do seu destinto nascimento, determinou precedendo o real beneplacito de S. Magestade asentar voluntariamente praça de tenente de Cavallaria e seguir os paços da dita guerra a exemplo dos seus antepaçados que todos servirão nas diferentes que tem ocorrido neste Reyno com o mayor risco e perda das suas vidas, e consideravel despeza da sua fazenda asim como succedeu a dous tios direitos do supplicante Manuel Jorge de Figueiredo e João Sarmento que ambos perderão gloriosamente as vidas este na batalha de Almança e aquelle na Brecha de Valença de Alcantara, sendo tão bem seos fieis imitadores no valor, fidelidade, e amor com que serviráo o avo, e vizavo materno do supplicante na guerra da Liga, e na felix aclamação (...).
Continuava o supplicante o exercicio do mesmo posto de tenente e continuou athé 25 de Setembro de 1768 em que por hum infeliz acaso, e disposto por alguns inimigos, foy o supplicante obrigado a retirar-se para Espanha aonde se conservou athé o anno de 1777 em que se recolheu a este Reyno no geral perdão do S.or Rey D. José (...).» (202).
Continuava o supplicante o exercicio do mesmo posto de tenente e continuou athé 25 de Setembro de 1768 em que por hum infeliz acaso, e disposto por alguns inimigos, foy o supplicante obrigado a retirar-se para Espanha aonde se conservou athé o anno de 1777 em que se recolheu a este Reyno no geral perdão do S.or Rey D. José (...).» (202).
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(202) Documentos autênticos encontrados na casa Pavão de Quintela de Lampaças, concelho de Bragança, a cujo arquivo este pertence, pelo nosso erudito e bom amigo Francisco de Moura Coutinho; permitem esclarecer o que no vol. I desta obra, p. 327 e 328, dissemos acerca de José Marcelino Jorge de Figueiredo Sarmento. Desses documentos consta: que era filho mais velho do alcaide-mor do castelo de Bragança, Lázaro Jorge de Figueiredo Sarmento; que por carta régia de 31 de Agosto de 1756 lhe foi feita mercê de mais uma vida na dita alcaidaria, visto haver falecido seu pai; que neste cargo se conservou desde essa data até 2 de Setembro de 1768 em que fugiu da prisão «não por desertor, pois se retirou pelo justificado temor da justiça que o ameaçava a sentir üa pena capital a que resiste a mesma lei natural na obrigaçam de conservar a vida como catolico»: que, amnistiado, regressou à pátria em 1777 onde parece concluir-se que retomou posse da alcaidaria; e que deveu morrer em 1793.
Dos mesmos documentos consta: que por alvará de El Rei D. João V, de 2 de Abril de 1759, foi armado cavaleiro da Ordem de Cristo; que teve a propriedade do ofício de juiz da alfândega de Bragança; que à sua morte, seu irmão José Tenreiro de Figueiredo de Mello, que lhe succedera no morgadio e casa na qual andava, segundo ele dizia, o dito juizado, requereu à rainha o efectivo da propriedade e que por carta real de 10 de Novembro de 1791 foi nomeado governador do forte de S. João de Deus da cidade de Bragança.
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MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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