Por: César Urbino Rodrigues
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
De há uns anos a esta parte, a Câmara Municipal de Bragança parece ter-se convertido numa Comissão de Festas. Francamente, nada tenho contra isso, se é isso que faz feliz o Zé Povinho. No entanto, acho que não podemos tornar as festas do Zé Povinho num inferno para alguns outros munícipes. E é o que, de há uns anos a esta parte, tem vindo a acontecer no Eixo Atlântico, desde que a Câmara Municipal resolveu transformar a Feira das Cantarinhas e as Festas da Cidade num autêntico forrobodó, recorrendo às barracas das farturas e de outros «comes e bebes», bem como a uma grande variedade de diversões para a criançada e para os adolescentes, de que destaco os aviões, que são certamente a diversão mais apetecida dos últimos. Repito que nada tenho contra isso, assim como nada tenho contra a comunidade cigana, seja a de Portugal, seja a de Vigo ou de qualquer outra parte do mundo, desde que os direitos dos outros cidadãos sejam respeitados e eles não se excedam no usufruto dos seus direitos.
Todavia, não é o que está a acontecer com o volume do som da música que os proprietários dos aviões põem todos os dias, desde as 14.00h até às 24.00h, nas 4 semanas da Feira das Cantarinhas e na semana das Festas da Cidade. É de tal forma insuportável o volume do som que se torna praticamente impossível aguentar, 10 ou 15 minutos, num terraço ou num quintal da vizinhança.
Sei que há 2 ou 3 anos atrás, um grupo de moradores à volta do Eixo Atlântico foi à Câmara Municipal manifestar o seu repúdio por uma situação idêntica, que já então se vivia. Na sequência disso, a PSP chegava a deslocar-se ao Eixo Atlântico para chamar os infractores à ordem. E durante alguns minutos eles baixavam o som. No entanto, passados uns minutos, depois de os agentes da PSP se irem embora, tudo voltava à mesma situação.
Perante esta esperteza saloia dos donos dos aviões, seria de esperar que a PSP e a Câmara Municipal tomassem medidas que acabassem com estes excessos e, caso eles não se emendassem, os proibissem de voltar no ano seguinte. No entanto, todos os anos, tanto no período da Feira das Cantarinhas como no período das Festas da Cidade, o forrobodó volta sempre com a mesma desfaçatez, como se os ciganos de Vigo tivessem só direitos e nenhuns deveres, com a cumplicidade da Câmara Municipal e da PSP.
Perante isto, estou a matutar na hipótese de alugar uma carrinha, com altifalantes, que passe, metade do dia, junto à Câmara Municipal, e a outra metade do dia em frente às instalações da PSP, com música nos mesmos níveis de som que os moradores do Eixo Atlântico somos obrigados a suportar, durante 10 horas por dia. Se acham assim tanta piada ao que nos fazem no Eixo Atlântico, devem merecer que facultemos a mesma “felicidade” aos membros do Executivo Municipal e aos responsáveis pela PSP de Bragança, que têm a incumbência de zelar pela ordem pública.
E nós, os moradores do Eixo Atlântico, gostamos de seguir à letra a ética da reciprocidade: iguais direitos e iguais deveres para todos os cidadãos, independentemente da sua condição social e profissional.
César Urbino Rodrigues, natural da aldeia de Peredo dos Castelhanos, concelho de Moncorvo, estudou 9 anos no Seminário de Macau, fez a licenciatura em Filosofia na Universidade do Porto, o Mestrado em Filosofia da Educação na Universidade do Minho, com uma tese sobre «As Coordenadas fundamentais da Educação no Estado Novo», e o doutoramento na Universidade de Valhadolid, em Teoria e História da Educação, com uma tese sobre a «Representação do Outro No Estado Novo. Foi professor no ensino secundário, na Escola do Magistério Primário de Bragança, no ISLA de Bragança, no Instituto Piaget de Mirandela e DAPP na Escola Superior de Educação de Bragança.

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