1.agosto.1872 – 25.novembro.1873
TONDELA, 1.7.1831 – LISBOA, 6.2.1901
Advogado. Alto funcionário da Administração Pública. Escritor.
Bacharel em Direito pela Universidade de Coimbra.
Presidente da Câmara Municipal de Tondela. Administrador do concelho de Sabugal.
Deputado (1861-1864, 1865, 1865-1868, 1875-1878, 1879 e 1880-1881). Secretário-geral do
Governo da Índia (1870). Governador civil de Bragança (1872-1873). Ministro dos Negócios Eclesiásticos e da Justiça (1878). Ministro da Marinha e Ultramar (1879-1879). Governador civil do Porto (1881). Ministro do Reino (1881-1883). Par do Reino (25.1.1882). Ministro das Obras Públicas (1885-1886 e de 1890-1891). Ministro plenipotenciário no Brasil (1895).
Natural da freguesia de Parada de Gonta, concelho de Tondela.
Filho de João Emílio Ribeiro Ferreira, proprietário e lavrador, e de Maria Amália de Albuquerque.
Casou com Maria da Glória Loureiro Castelo Branco. Teve duas filhas da inglesa Ann Charlotte Syder, a poetisa Branca de Gonta Colaço (n. 8.7.1880) e Irene de Gonta Syder Ribeiro (n. 11.4.1885).
Grã-cruz da Ordem da Coroa de Itália. Grã-cruz da Ordem da Coroa Real do Sião. Comendador da Ordem de Santiago. Comendador da Ordem de Carlos III de Espanha. Medalha de Mérito Científico, Literário e Artístico.
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Tomás Ribeiro fez os seus estudos preparatórios em Viseu, partindo depois para Coimbra, onde se matriculou na Faculdade de Direito. Companheiro dos poetas e pensadores Alexandre Braga e Silva Gaia, terminou o curso em Coimbra em 1855 e logo começou a exercer advocacia em Tondela. Foi ainda presidente da Câmara Municipal do mesmo concelho e administrador do concelho de Sabugal.
Filiado no Partido Regenerador, de que foi uma das mais prestigiadas figuras, viu-se pela primeira vez eleito para a Câmara dos Deputados em 1861, para a legislatura de 1861-1864 ( juramento a 10.6.1861), de novo em 1864, para a legislatura de 1865 ( juramento a 14.1.1865), e uma terceira vez em 1865, para a legislatura de 1865-1868 (proclamação a 24.8.1865), sempre em representação do círculo uninominal de Tondela.
Voltaria a concorrer nas eleições de 1868, mas perdeu por margem apreciável contra António Gonçalves da Silva e Cunha.
Entre 1861 e 1868, pertenceu à Comissão de Redação (1861) e à Comissão Diplomática (1863), e no Parlamento abordou questões tão diversas como a diretriz da estrada Viseu-Mealhada (3.6.1861), a validade da eleição no círculo de Tabuaço (19.6.1861), os atrasos no pagamento do imposto do selo (2.7.1861) e a forma como a imprensa espanhola se pronunciava sobre Portugal (22.7.1861).
Tendo entrado no Parlamento quando o Partido Histórico estava no poder, a primeira legislatura de Tomás Ribeiro cumpriu-se na bancada da oposição. A clara oposição ao Governo ficou manifesta na discussão da resposta ao Discurso da Coroa, quando atacou fortemente a situação que permitiu a eclosão de tumultos militares em Braga, em setembro de 1862, e se referiu à incapacidade política do Partido Histórico – “o Partido Histórico, o nome o diz, é o partido que morreu” (27.1.1863) – e também quando, já em 1864, entrou em polémica com o presidente do Conselho de Ministros, duque de Loulé, a propósito da eleição da Comissão de Recenseamento em Castelo de Paiva. Nesse mesmo ano, os estudantes da Universidade de Coimbra fazem greve em protesto contra a não concessão de uma passagem administrativa de ano, no incidente que ficou conhecido pela Rolinada e que envolveu inclusive o envio de tropas para a cidade universitária, sendo Tomás Ribeiro o único parlamentar a levantar-se em sua defesa.
Em 1865, ao tempo do Governo da Fusão, que, apesar de unir as direções dos partidos Histórico e Regenerador, não conseguiu sequer reunir o consenso para a nova proposta de lei de liberdade de imprensa, coube a Tomás Ribeiro, enquanto relator do parecer da Comissão de Legislação, defender o Governo e enfrentar os principais opositores, Levi Jordão e Santana de Vasconcelos, evocando autores como Édouard Laboulaye e Benjamin Constant. A sua fidelidade ao Governo continuou manifesta em 1867, ao defender intransigentemente o lançamento das novas linhas de caminhos-de-ferro e das obras no porto de Leixões, cujos pesados compromissos financeiros contribuíram para a necessidade do aumento da carga fiscal sobre a população e consequente eclosão de protestos, que tiveram o seu corolário na revolta da Janeirinha, e o seu epílogo na queda do Governo da Fusão.
A subida ao poder da corrente reformista determinou a derrota de Tomás Ribeiro nas eleições de março de 1868. Interrompeu então as lides parlamentares durante sete anos, parte dos quais passados na Índia, sendo em 1870 nomeado para o cargo de secretário-geral do Governo daquele território, durante o governo do conde de S. Januário. Em Goa, fundaria o Instituto Vasco da Gama, um notável centro de investigação da história portuguesa na Índia, atribuindo-lhe um edifício para instalação da sua sede e apoio financeiro para a publicação de um boletim mensal com o título do próprio instituto.
Regressou à Metrópole em 1872, e por decreto de 1 de agosto desse ano foi nomeado governador civil de Bragança, tomando posse do cargo no dia 17 desse mês. Alguns dias antes, ocorrera um motim em Vinhais, provocado por populares que pretendiam queimar as matrizes prediais e que deu origem a graves confrontos com a força militar encarregada de manter a ordem. Por proposta sua, a Junta Geral do Distrito de Bragança extinguiu, em 1872, as rodas dos expostos e substituiu-as pela Casa da Roda-Hospício (começou a funcionar em julho de 1873), um projeto que veio a ser seguido por outros governos civis e no qual Tomás Ribeiro se empenhou com entusiasmo.
Regressaria ao Parlamento em 1875, sucessivamente eleito pelos círculos uninominais de Braga, para a legislatura de 1875-1878 ( juramento a 11.1.1875); por Mangualde, para a legislatura de 1879 ( juramento a 24.1.1879); e por Nisa, para a legislatura de 1880-1881 ( juramento a 14.1.1880). Seria ainda eleito para a Câmara dos Deputados em 1881, pelos círculos uninominais de Lamego e Sabugal, mas não chegou a ser proclamado deputado, por entretanto ter sido elevado a par do Reino, por carta régia de 29 de dezembro de 1881, lugar de que tomou posse a 25 de janeiro de 1882.
Nesta segunda fase na Câmara dos Deputados, entre 1875 e 1881, vai integrar as Comissões de Verificação de Poderes (1875), Legislação (1875), Resposta ao Discurso da Coroa (1875, 1877-1878), Administração Pública (1875, 1877-1878), Ultramar (1875-1878), Obras Públicas (1876), Legislação Penal (1876-1878), Instrução Pública (1877-1878), Regimento (1877-1878), Instrução Primária e Secundária (1880-1881), Marinha (1880-1881), a Comissão Especial para a Reforma da Lei Eleitoral (1877-1878) e a Comissão para tratar dos negócios da magistratura e da criação de novas comarcas no Ultramar (1876).
A sua vontade de intervir neste regresso às lides parlamentares era tanta que quando Mariano de Carvalho questionou a Mesa sobre dúvidas suscitadas pelos resultados de uma votação, resolveu ele próprio responder, o que levou Mariano a questionar se era Tomás Ribeiro quem tinha aquelas atribuições (27.1.1875).
O conflito com Mariano de Carvalho prosseguiria mais tarde no debate sobre a divisão comarcã, no qual Tomás Ribeiro invocou o seu estatuto de diretor-geral do Ministério da Justiça, e num outro sobre as debilidades das forças de defesa nacional, afirmando que “os ilustres deputados não seriam capazes de vir dizer na praça pública os defeitos, embora fossem reais, de suas mães, de suas mulheres, de suas irmãs ou filhas! Pois a Pátria é minha mãe e a mãe de todos vós!” (16.2.1876).
O caráter arrebatado que imprimiu a alguns dos seus discursos ficou também patente durante as discussões da resposta ao Discurso da Coroa, em janeiro de 1878, quando vigorava um Governo do duque de Ávila, ao qual chegou a apresentar uma moção de censura.
Nesta fase da sua vida, paralelamente às funções parlamentares, foi também chamado a assumir responsabilidades ministeriais, nos segundo e terceiro governos de Fontes Pereira de Melo (1878-1879 e 1881-1886). Começou por gerir a pasta dos Negócios Eclesiásticos e da Justiça (15.11.1878 a 13.12.1878), tendo então assinado um importante decreto a reconhecer a liberdade de consciência, tanto no casamento como no batismo, aos portugueses não católicos. Foi depois ministro da Marinha e Ultramar (29.1.1879 a 1.6.1879), e em 1881 ausentou-se temporariamente das suas funções parlamentares e ministeriais para exercer o cargo de governador civil do Porto, nomeado a 2 de abril de 1881 e exonerado a 29 de dezembro do mesmo ano, por ter entretanto sido chamado à mais importante pasta governativa, a do Reino (14.11.1881 a 24.10.1883). Neste Governo, viria ainda a ser ministro das Obras Públicas (19.11.1885 a 20.2.1886).
Enquanto ministro do Reino, esteve ligado ao debate de duas importantes propostas, em ambos os casos apresentando propostas de caráter centralizador. No primeiro caso, pretendeu restringir o direito de voto aos cidadãos que possuíssem o rendimento exigido na Carta Constitucional e admitir o sistema de lista incompleta nos distritos que elegiam seis ou mais deputados (20.2.1883); no segundo, defendeu a organização de um Conselho Superior de Instrução Pública e a criação do Ministério da Instrução Pública, “tanto mais necessário quanto é preciso desviá-lo da parte política, que pertence ao [do] Reino” (6.3.1883), apresentando propostas de regulamentação restritiva das leis sobre instrução de 1878 e 1880 (nomeação de professores, inspeções, vencimentos, aposentações, etc.), com o argumento de que “a descentralização liberta o distrito, o município, a paróquia, mas não cria autonomias” (3.4.1883).
Da sua atividade na Câmara dos Pares, na qual tomou assento, como já referimos, a partir de janeiro de 1882, destaca-se a apresentação de um relatório sobre diversas propostas de lei que apresentara enquanto ministro do Reino e que refletiam a preocupação que dominaria os seus últimos anos de vida parlamentar, o combate à emigração, favorecendo o trabalho em Portugal e suas colónias, considerando que a emigração portuguesa não era um ato de colonização, como nos países do norte da Europa, em que famílias inteiras vendiam tudo e partiam, mas sim uma emigração singular e numa perspetiva de ausência temporária para um regresso à terra natal.
Posteriormente, foi o relator da Comissão Especial para tratar das reformas políticas que, embora diferentes das que subscrevera enquanto ministro, não se coibiu de defender, até por permitirem o acordo entre progressistas e regeneradores.
Apenas se manifestou contrário à existência de círculos uninominais, por julgar que eles representavam “menos ainda que o círculo, pois que é procurador apenas das influências locais e traz um mandato quase imperativo; desgraçadamente, não é para as altas questões políticas ou administrativas da Nação, é para alcançar empregos para os seus vizinhos” (14.5.1884).
Fosse como ministro, fosse como par do Reino, Tomás Ribeiro manter-se-ia como figura incontornável do seu partido até à morte de Fontes Pereira de Melo, em janeiro de 1887, quando este ocupava ainda o cargo de presidente do Conselho de Ministros, e teve um papel destacado na oposição ao novo Governo progressista que lhe sucedeu, criticando duramente a aprovação da Concordata e a proposta de lei do Executivo sobre construção de estradas, ambas em julho de 1887.
Com o desaparecimento do incontestado chefe dos regeneradores, o partido começou rapidamente a desestruturar-se. Lamentando publicamente as dissensões internas a que assistia da primeira fila, Tomás Ribeiro entrou num progressivo afastamento relativamente ao partido, chegando mesmo a opor-se ao Governo regenerador pós-Ultimato, acusando-o de violar a Constituição devido aos seus decretos ditatoriais (24.4.1890).
Foi ainda chamado a integrar um elenco ministerial, agora pela derradeira vez, a 13 de outubro de 1890, assumindo a pasta das Obras Públicas, Comércio e Indústria do Executivo presidido por João Crisóstomo de Abreu e Sousa, até 21 de maio de 1891.
Afastado do Governo e do seu partido de sempre, vai dedicar-se então, na Câmara dos Pares, especialmente entre 1891 e 1896, às grandes causas a que há muito se dedicava, agora com acrescida intensidade: os problemas da emigração, a administração ultramarina, o caciquismo político, a ineficiência do Estado e a reforma administrativa e eleitoral. A respeito desta, vai defender a existência de uma só lista para todo o País, declarando que enquanto fosse mantida a contagem dos votos “nas cabeças dos concelhos ou no escrutínio de cada assembleia, nunca ninguém saberá ao certo qual foi a genuína votação, ou qual seria se ali não estivessem os olhos e os caprichos das autoridades e campeões locais. É preciso que os votos venham todos para Lisboa e aqui se faça a contagem e o escrutínio, e bem misturadas as listas e sem poder saber-se a sua respetiva especial proveniência (...) Só assim se poderá evitar a interferência eficaz dos administradores dos concelhos e mandões oficiais ou oficiosos sobre o ato eleitoral. A organização dos partidos, mas organização a valer, era essencial, e os eleitos seriam da Nação e não do campanário”.
Em 1895, exerceu o seu último cargo político, como ministro plenipotenciário junto do Governo do Brasil, com a missão de normalizar as relações diplomáticas com aquele país, interrompidas dois anos antes em consequência do incidente com Augusto de Castilho e cuja reaproximação era reclamada pela numerosa comunidade portuguesa ali residente.
Além dos cargos referidos, foi por diversos anos diretor-geral do Ministério da Justiça, vogal do Tribunal de Contas e presidente da Junta do Crédito Público.
Mas apesar do seu impressionante currículo profissional e especialmente político, foi como poeta que Tomás Ribeiro conquistou maior nomeada e visibilidade pública. Começando a publicar ainda estudante de Coimbra, seria admitido com apenas 31 anos na Academia Real das Ciências de Lisboa, onde foi sócio-correspondente, sócio-efetivo, presidente da classe de Letras e vice-presidente da Academia.
Foi ainda sócio de várias corporações literárias e científicas, nacionais e estrangeiras.
Em 1862, publica o seu poema D. Jaime ou a dominação de Castela, que lhe deu a celebridade e que rapidamente se divulgou, mesmo nas classes populares. O poema motivou animada polémica, em que se envolveram Ramalho Ortigão, António Feliciano Castilho, Manuel Pinheiro Chagas, Teixeira de Vasconcelos e Abreu Gouveia Júnior, considerando Castilho que a obra era mais adequada ao ensino da língua portuguesa do que Os Lusíadas. Desta obra fizeram-se desde então inúmeras edições, a comprovarem o seu êxito e popularidade. O próprio conteúdo da obra foi aproveitado por outros escritores, alguns de nomeada, para adaptações e paródias.
Em 1885, fundou, com Luciano Cordeiro e outras individualidades, o semanário político República. Em 1889, funda o diário, também político, O Imparcial, a que se seguiu A Opinião, ambos durando pouco tempo. Colaborou na Gazeta Portugal, Portugal-Brasil, Artes e Letras, Actualidade, Revista Contemporânea, Almanaque de Lembranças, Jornal das Colónias (onde colaborou com o pseudónimo de Tomé de Diu), Jornal de Viseu e noutros jornais e revistas, por onde dispersou contos e poesias.
Entre as obras que publicou, destacam-se A Delfina do Mal, um poema em dez cantos publicados em 1868 e levados à cena no Teatro D. Maria II, com assinalável sucesso; Sons que Passam, do mesmo ano, uma compilação de poemas, dos quais um em particular, intitulado A Judia, foi muito celebrado nos salões sociais da época, tendo sido musicado e transformado numa canção ultrarromântica com alguma popularidade; Dissonâncias (1890); e um conjunto de crónicas reunidas em Jornadas (1.ª parte: do Tejo ao Mandovi; 2.ª parte: Entre palmeiras; 3.ª parte: Entre primores), publicadas em 1873. Esta última obra, a par da peça dramática A Indiana, que seria apresentada no Teatro D. Maria II, e vários poemas coligidos no volume Vésperas, refletem a sua experiência na Índia Portuguesa, em particular a vivência como administrador colonial em Goa, sendo nelas patente um certo gosto pelo exotismo, ainda ao jeito romântico. Publicou também alguns ensaios históricos, entre os quais D. Miguel, a Sua Realeza e o Seu Empréstimo Outrequin e Jauge (1880), um estudo económico-político, e a História da Legislação Liberal Portuguesa (1891-1892).
Com uma obra literária que se insere plenamente no romantismo português da Regeneração, Tomás Ribeiro pode ser com justiça considerado como o poeta lírico mais representativo da fase de dissolução da corrente literária e estética que vinha desde O Novo Trovador e findou no plano doutrinário com a Questão Coimbrã e no plano lírico com a poesia de João de Deus. Embora tivesse chegado a ser visto como um poeta realista, por ter assimilado, mais tarde, algumas características do realismo, Tomás Ribeiro nunca abandonou o fundo melodramático característico do ultrarromantismo. Apesar de alguns críticos o considerarem discípulo de Charles Baudelaire, o certo é que Tomás Ribeiro nada tem a ver com os precursores da Escola Nova, sendo antes o expoente do ultrarromantismo literário português.
Manteve ao longo da sua carreira uma ligação estreita à sua aldeia natal de Parada de Gonta, que lhe serviu de inspiração para diversos poemas e que apelidava de “fresca aldeia formosa”. Foi por influência de Tomás Ribeiro que o lugar foi elevado à categoria de freguesia, por decreto de 29 de maio de 1884, e dotado de uma escola primária, que recebeu o nome do então chefe do Governo e seu amigo íntimo, Fontes Pereira de Melo. Também doou a casa onde nascera para aí ser instalada uma estação de correios, e conseguiu que a freguesia fosse servida por uma estação de caminho-de-ferro, tendo presidido como ministro das Obras Públicas, Comércio e Indústria à sua inauguração em 1885. Também foi por sua influência que em 1894 foi inaugurada a igreja paroquial da localidade.
Faleceu em Lisboa, a 6 de fevereiro de 1901, tendo sido sepultado no Cemitério dos Prazeres, em Lisboa. Quando em 1982 foi comemorado o 150.º aniversário do seu nascimento, as forças vivas de Parada de Gonta prestaram-lhe homenagem e, cumprindo o último desejo de Tomás Ribeiro, procederam à transladação dos seus restos mortais para um jazigo então construído no cemitério da sua aldeia natal. O poeta é recordado na toponímia de múltiplas localidades portuguesas, com destaque para Parada de Gonta e Tondela, que também lhe dedica a sua Biblioteca Municipal, e é patrono de escolas nestas duas localidades.
Relatório apresentado por Tomás Ribeiro à Junta Geral do Distrito de Bragança (2.12.1872)
Senhores Procuradores à Junta Geral do Distrito de Bragança:
Em desempenho de uma das funções, que a lei me confere, cabe-me a honra de iniciar os trabalhos da presente sessão ordinária de Junta, neste ano de 1872-1873.
É-me grato achar-me na presença dos conspícuos procuradores do distrito, amparar-me no seu conselho em muitos pontos importantes da administração, esperar e executar-lhe as deliberações, que serão alumiadas pela sua muita experiência e ilustração, e ditadas pelo amor dos povos que singularmente representam, o que dará em resultado o bem coletivo do distrito, a cujos destinos tenho a honra de presidir.
Tanto era meu desejo de inaugurar pessoalmente a presente sessão que, não podendo estar no distrito na época fixada por lei para os trabalhos ordinários da Junta, pedi ao Governo de Sua Majestade a determinação de nova época, e o meu pedido deu em resultado o decreto de 26 de setembro último, que adiou para hoje a vossa convocação.
Antes de entrar na menção de especialidades, que se me antolham mais dignas de oferecer-se à consideração da Junta, é dever de consciência e grato ao meu coração dizer-vos que o serviço propriamente do Governo Civil neste distrito é um dos mais regulares do Reino, e que todos os ramos de administração achei guiados e desempenhados com zelo e saber; o que desafrontadamente vos digo, porque tudo isto é devido aos esforços da secretaria e dos magistrados que antes de mim têm gerido os negócios do distrito. Eu, com dois meses incompletos de gerência, mal tenho tido tempo de colher informações, e não posso querer para mim honras, que não me pertencem.
Se nem todos os concelhos se podem apresentar como modelos na sua administração, muitos há que revelam zelo das suas autoridades e corporações administrativas, e outros em que um largo concurso de circunstâncias, antes do que a falta de vontade e de experiência das autoridades, tem obstado ao necessário desenvolvimento moral e material de que precisam.
Empenhado como estou na boa gerência dos negócios do distrito, espero promover por todos os meios ao meu alcance quanto seja conducente a melhorar o serviço a meu cargo, no que espero ser ajudado pelos poderes públicos e pelo esforço e coadjuvação de todos os homens de boa vontade.
Não basta para tanto a autoridade legal, que o Governo me conferiu: careço da autoridade moral, que só pode dar-me a confiança dos povos que administro, e espero merecer.
Lancemos agora uma vista geral sobre as pessoas e as coisas do distrito, especialmente sob o ponto de vista da sua administração.
Secção 2.ª
Instrução Pública
§ 2.º Instrução primária
A população do distrito reparte-se por 313 freguesias, e estas por doze concelhos; há no distrito escolas régias: para o sexo feminino 16, e para o sexo masculino 110; ao todo 126; há mais, pagas por corporações do distrito, 13 para o sexo masculino, e duas para o feminino; total 141, sendo 18 para meninas e 123 para meninos.
Daqui resulta que das 313 freguesias, 172 não têm escola; e note-se que são mais ainda as deserdadas, porque também algumas têm duas e mais cadeiras. Assim, pois, muito mais do dobro das freguesias do distrito não têm escola. Em relação ao geral dos habitantes, está uma escola para 1 090,48. Em especial, para o sexo feminino a proporção é de uma escola para 4 306,13, para o masculino de uma escola para 619,80 habitantes.
O Governo, empenhado como está em promover a educação do povo, e vendo que o distrito não pode suprir tão avantajada falta, como esta exposição manifesta, há de atender a qualquer representação que a Junta neste sentido lhe dirija.
É certo que o número dos alunos ainda assim é extremamente diminuto, segundo os mapas dos professores (que aliás tenho em geral por exagerados), o que em parte é devido às distâncias e maus caminhos que têm a percorrer, e em parte e principalmente ao desleixo dos pais e ao modo por que está organizado nos distritos o serviço de ensino, que me parece carecer de profunda reforma.
Peçam-se, e criem-se sobretudo escolas de meninas, e nelas mestras que saibam educar. Cada escola do sexo masculino é frequentada, termo médio, por 25,8 alunos, e do sexo feminino por 34,9 meninas, o que torna relativamente caro o ensino de cada aluno deste distrito, como justamente notou um meu ilustre antecessor, o Sr. Barbosa, em 1870, tratando deste mesmo assunto, se caro se pode chamar o ensino por mais que com ele se despenda.
Fica evidente, do breve escorço que apresento à Junta, que o sexo feminino procura mais a instrução que o masculino. É o instinto popular encaminhando os estadistas: respeite-se a tendência, e anime-se o desejo. Eduque-se o homem pela mulher.
§ 7.º Dos crimes
A estatística dos crimes, que podeis compulsar, mercê de Deus, não nos envergonha em muitas das suas classes, nem mesmo a deste Reino, se a compararmos com as das outras nações; no mapa que vos ofereço, muitos dos crimes que mais degradam a sociedade quase se não encontram: achais, por exemplo, dez infanticídios nos últimos dez anos, cinco crimes de moeda falsa, dez envenenamentos, dezanove atentados contra a pudicícia, nenhuma falsificação, nenhum crime político, um só religioso. Nos atentados, porém, contra o alheio notam-se cento e três roubos e cinquenta furtos, o que prova que a índole deste povo é mais propensa à violência que à dissimulação, e mais o provam ainda os cento e doze assassinatos e as oitocentas e uma rixas, desordens e ferimentos, que tanto dá o cômputo total dos últimos dez anos. É também de ver que a estatística dos crimes tende a descer; os assassinatos mantiveram-se quase na mesma cifra, porque apenas há a diminuição de um no decénio; porém, nos roubos houve a diminuição de cinco, nos furtos de oito, e nas rixas, desordens e ferimentos de quarenta e dois; sendo inferior a quase todas as médias, e em algumas classes notavelmente, a estatística de 1871. É fácil à Junta aproximar esta da estatística da população, e fazer o cálculo comparativo. Será o mapa exato?
E diga-se em boa consciência – o distrito não tem polícia, nem rural nem urbana; existe na lei, existe nos mapas dos concelhos; mas a lei antiga, e que ainda nos rege, nunca deu polícia.
Carecemos de uma reforma administrativa.
Fonte: Relatorio apresentado à Junta Geral do Districto de Bragança na sessão ordinaria de 1872. Coimbra, Imprensa da Universidade, 1873.
Fontes e Bibliografia
Arquivo Distrital de Bragança, documentos vários.
Relatorio apresentado à Junta Geral do Districto de Bragança na sessão ordinaria de 1872. 1873. Coimbra: Imprensa da Universidade.
Regulamento geral da Roda-Hospicio e providencias relativas ao serviço dos abandonados, expostos e subsidiados do distrito de Bragança [1873].
ALVES, Francisco Manuel. 2000. Memórias arqueológico-históricas do distrito de Bragança, vol. VII. Bragança: Câmara Municipal de Bragança / Instituto Português de Museus.
CARVALHO, Maria Amália Vaz de. 1902. Figuras de hoje e de ontem. Lisboa.
MÓNICA, Maria Filomena (coord.). 2004. Dicionário Biográfico Parlamentar (1834-1910), vol. II. Lisboa: Assembleia da República.
SAMPAIO, Albino Forjaz de. 1931. Thomaz Ribeiro. A sua Vida e a sua Obra. Lisboa: Empresa do Diário de Notícias.
SILVA, Inocêncio Francisco da. 1858-1923. Dicionário Bibliográfico Português, t. VII, Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda.
Publicação da C.M. Bragança
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