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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 25 de março de 2014

Há 1800 anos um soldado romano escreveu sete vezes à família, a última carta chegou até nós

O papiro foi descoberto no Egipto,
na cidade onde vivia a família
do soldado romano que o escreveu
O papiro de um soldado romano enviado à família foi encontrado no final do século XIX, ficou por decifrar durante mais de 100 anos por estar em mau estado. Aurelius Polion tinha saudades de casa e estava à espera de receber notícias dos familiares.
A frase faz parte de uma mensagem com 18 séculos: “Rezo noite e dia para que estejam de boa saúde e presto obediência contínua aos deuses em vosso nome.” Aurelius Polion, cidadão romano, legionário, escreveu estas palavras para a sua família por volta do ano 214 depois de Cristo (d.C.). O papiro foi encontrado no final do século XIX, mas por estar tão degradado só recentemente é que foi decifrado do grego antigo e traduzido para inglês. Através do seu estudo, publicado no Bulletin of the American Society of Papyrologists, ficamos a conhecer as saudades de um filho e de um irmão, que pede notícias de casa.

Cerca de 4000 quilómetros separam a Panónia Inferior, a província romana onde Aurelius Polion estava colocado (hoje na região de Budapeste, na Hungria), e a cidade de Tebtunis, a 130 quilómetros a sudoeste do Cairo, no Egipto, onde a família do legionário vivia. Foi nos vestígios desta cidade egípcia, dominada por Roma, que os egiptólogos britânicos Bernard Grenfell e Arthur Hunt encontraram, no final do século XIX, este e outros papiros.

“Não sei quantas cartas de soldados romanos sobreviveram ao todo”, diz ao PÚBLICO Grant Adamson, que em 2011 participou no programa de Verão da Sociedade Americana de Papirologistas, onde decifrou este papiro, guardado na Biblioteca de Bancroft, na Universidade da Califórnia, em Berkeley, Estados Unidos. Segundo o investigador, que é da Universidade de Rice, em Houston, Texas, terá havido muitas cartas, mas poucas terão sobrevivido. Esta carta só sobreviveu porque no Egipto “o clima é apropriado para a sua preservação”.

A carta dirige-se ao irmão, à irmã e à mãe. “Não paro de vos escrever, mas vocês não se lembram de mim. Mas eu faço a minha parte de vos escrever e não paro de vos ter presentes (na minha mente) e de vos trazer no coração. Mas vocês nunca me responderam, falando da vossa saúde, de como estão. Estou preocupado convosco, porque, apesar de receberem frequentemente cartas minhas, nunca respondem, para que saiba de vocês.”

E continua a exigir notícias da família: “Enviei-vos seis cartas. No momento em que vocês (?) me tiverem na mente, deverei obter uma licença do (comando) consular, e irei ter convosco para que saibam que sou vosso irmão. Porque não exijo (?) nada de vocês para o exército, mas culpo-vos porque, apesar de vos escrever, nenhum de vocês (?) … tem consideração. Vejam, o vosso (?) vizinho … Sou o vosso irmão.”

Grant Adamson defende que o legionário terá nascido como egípcio, mas que, entretanto, adquiriu cidadania romana. A idade do documento foi inferida pelo estilo da escrita, pelo facto de o soldado ser romano – em 212 d.C. foi dada cidadania romana a muita gente – e pela referência ao “comando consular”, já que a região da Panónia Inferior só passou a ter governo consular depois de 214 d.C.

Aurelius Polion terá sido, assim, voluntário do exército romano, pertenceu à Legio II Adiutrix, ou segunda legião auxiliar, numa altura em que o serviço militar era de 20 anos, mas num tempo calmo, sem guerras. “É precisamente por as coisas estarem pacíficas que ele tem tempo para escrever todas estas cartas”, diz Grant Adamson. “Uma das coisas que não esperava encontrar foi a referência à obtenção da licença militar – que implica um soldado ter de fazer um pedido [de licença], que depois seria dada ou negada pelo comandante.”

O soldado falaria egípcio e grego com a família – Tebtunis esteve sob ocupação grega antes de passar a pertencer a Roma – e latim na legião. A carta, no entanto, foi escrita em grego. “O egípcio era falado, mas não era escrito pela maioria dos egípcios, e a sua família quase de certeza que não saberia muito latim”, explica o investigador, acrescentando que na altura a literacia da população era muito fraca.

Aurelius Polion terá pertencido a uma família de classe baixa com alguns privilégios, mas não escreveria bem: “Ele até escrevia algumas letras do alfabeto latino em vez do grego e usava alguma pontuação latina.”
O documento terá viajado de mão em mão até chegar a Tebtunis. Lido hoje, é fácil sentir empatia pelos sentimentos que transparecem. “Reflecte as emoções de um soldado no mundo antigo”, diz April DeConick, orientadora do trabalho de Grant Adamson, citada num comunicado da Universidade de Rice. “As suas emoções não são diferentes das dos soldados de hoje, que querem voltar para casa.”

in:publico.pt

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