A FLORAÇÃO DO SILÊNCIO
I.
Desci de novo à raiz dos caminhos,
os sabidos carreiros acesos no sangue,
na pauta da pele lavrados em canção.
A um umbigo de luz atadas sem cessar,
não param as nunca saradas feridas de amassar
o pão, que cresce adubado pelo tempo.
Como farei para acordar a doçura dos figos,
eterno migrante para a terra onde o silêncio urge deitar flor
e adiadas palavras inventam a vida,
num voo sobre as cicatrizes dos devastados dias?
II.
Como pode o pastor levar cinzas de palavras no bornal
e esperar um milagre de ventos e migalhas?
Quem ensina os meninos a desenhar caminhos
e a dependurá-los em seus olhos cor de riso?
Quem há de por azeite nas dobradiças dos cabeços
e aprender a pentear o cabelo dos freixos?
III.
Vamos em frente com nossos frescos passos
e ninho faremos com uma mancheia de líquenes,
nadas que além neblinas de memórias dormem,
e cantam nos ventos mundos impossíveis.
IV.
Por onde andas Fernão Mendes,
que tanta falta me fazes nesta peregrinação
entre terras por inventar,
coalhadas de mágoa,
que nem um sorriso se acende a iluminar o dia?
Porque me havia de doer o voo dos pássaros
se pelo inverno entrou
com suas asas de palavras doridas de cincelo,
a que o compassado bater pode limpar o pó das raízes?
V.
Essa terra não te pede menos que conquista,
grão a grão,
nadas que nunca te darão o uso do título de conquistador,
ainda que sem fim tenhas mundos para abraçar.
VI.
Bateu no fundo a noite
mas ainda não soou a hora de dormires,
e tudo bate certo com os manelos à espera da fiação.
Fica a ler o que o vento te traz,
desfolhando a luz das neblinas,
desfraldando o claro-escuro da cor das borboletas,
que as estrelas não orientam já modernos navegantes.
VII.
Quem ainda será capaz de medir
A pulsação das aldeias antes que desfaleçam
à míngua de coração,
perdido por velhos caminhos que novos passos não acendem?
VIII.
Já não queres adivinhar o amanhã,
que o agora não te deixa espaço para mais nada.
E continuas sem parar,
que não te vence o navegar num mar de medo.
Amadeu Ferreira
21 de márcio de 2014
LA FLORAÇON DE L SILENÇO
I.
Abaixei outra beç a la raiç de ls caminos,
ls coincidos carreirones acesos ne l sangre,
na pauta de la piel arados an cantiga.
A un ambelhigo de lhuç atadas sien paraige,
nun páran las nunca sanadas feridas de amassar
l pan, que medra adubado pul tiempo.
Cumo fazerei pa spertar la doçura de ls figos,
aterno migrante
pa la tierra adonde l silenço ten priessa an botar frol
i adiadas palabras ambéntan la bida,
nun bolo porriba las brechas de ls derraigados dies?
II.
Cumo puode l pastor lhebar cinzas de palabras ne l cerron
i sperar un milagre de aires i forfalhas?
Quien ansina ls ninos a zenhar caminos
i a colgá-los an sous uolhos quelor de risa?
Quien ha de poner azeite nas missagras de ls cabeços
i daprender a peinar l pelo de ls freznos?
III.
Bamos palantre cun nuossos frescos passos
i niu fazeremos cua ambuça de patrielhas,
nadas que alhá nubrinas de lhembráncias drúmen,
i cántan ne ls aires mundos ampossibles.
IV.
Por adonde andas Fernan Mendes,
que tanta falta me fazes nesta pelegrinaçon
antre tierras por ambentar,
coalhadas de mauga,
que nien ua risa s’acende a alhumbrar l die?
Porquei me habie de doler l bolo de ls páixaros
se pul ambierno antrou
cun sues alas de palabras deloridas de cenceinho,
a que l cumpassado bater le puode lhimpar l puolo de las raízes?
V.
Essa tierra nun te pide menos que cunquista, granico a granico,
nadas que nunca te daran l uso de l títalo de cunquistador,
anque sien fin tengas mundos para abraçar.
VI.
Batiu ne l fondo la nuite
mas inda nun sonou la hora de te drumires,
i todo bate cierto culs manielhos a spera de l filaço.
Queda te a ler l que l aire te trai,
çfolhando la lhuç de las nubrinas
i çfraldando l claro scuro de la quelor de las paixarinas,
que las streilhas nun ouriéntan yá modernos nabegantes.
VII.
Quien inda será capaç de medir
la pulsaçon de las aldés antes que çfalhéçan
a la míngua de coraçon,
perdido por bielhos caminos que nuobos passos nun acénden?
VIII.
Yá nun quieres adebinar manhana,
que l agora nun te deixa campo para mais nada.
I sigues sien paraige,
que nun te derrota l nabegar nun mar de miedo.
Fracisco Niebro
21 de márcio de 2014
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