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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 27 de março de 2014

Os cantos transmontanos constituem umas das mais profundas e originais expressões da música regional portuguesa.

Não iremos, nesta breve notícia, embrenhar-nos em considerações acerca da filiação ou influências, remotas ou próximas desses cantos. Mas não há dúvida que, em múltiplas das suas feições, a música regional de Trás-os-Montes levanta perplexidades e interrogações que hão-de certamente apaixonar os estudiosos do folclore comparado. É possível que estes vislumbrem nela ecos ou reminiscências de expressões e formas musicais pretéritas, medievalismos, exotismos, a Igreja, a Sinagoga, os Gregos, os Árabes, tudo o que forma, ou supõe formar, o protoplasma do homem português e da sua cultura.
Note-se a extrema severidade desta música, destes cantos, o seu carácter despido de todo e qualquer sentimento ou preocupação de «agradabilidade», o seu «desenfeitamento», a sua cor terrosa -, o que tão bem vai com a paisagem de linhas e volumes duros, ensimesmados, com o génio rude, inteiro, da gente transmontana e o patriarcalismo dos seus costumes.
No seu lirismo sóbrio e penetrante, certos «romances» cantares  - como Malhaninha de S. João, Valdevinos, Malva-malveta, o Bendito e outros cantos repassados de vozes, ancestrais, bem se pode dizer a expressão pura do homem transmontano, parcela do homem universal, nos seus momentos de funda identificação com o espírito da Terra.
Em traços breves, apontemos alguns cantos, hinos sagrados, cânticos de trabalho, poemas de amor e de morte, entre os mais significativos do património musical do povo transmontano:
O Conde Ninho. (Também conhecido por Conde Nilo, Conde Aninho ou Conde Alcano). É uma cantiga de segada (ou de ceifa). À maneira do rito litúrgico, as cantigas de segada cantam-se três ou quatro vezes ao dia: de manhã, à tarde e ao pôr-do sol. A melodia é pentacordal (comum curioso ornato à segunda maior superior), alternando a terceira maior com a terceira menor, e pode supor-se, no seu carácter arcaico, protótipo de bom número de outros cantos que se encontram na região de Trás-os-montes.
Manharinha de S. João. Outro exemplo de romance (este de carácter religioso) utilizado nas segadas (11 horas da manhã). A melodia desenvolve-se no âmbito de uma oitava distribuída por dois cantores: um pentacorde inferior confiado à voz masculina, e um tetracorde jónio superior (à guisa de resposta), confiado à voz feminina.
Agora baixou o Sol. Cantiga de «malhas», utilizada também como cantiga de segada. É um fragamento do romano conhecido por Madalena.
Primitivo pentacorde (com ornato à segunda menor inferior), constituído por dois curtos inciosos, confiados alternadamente aos dois cantores.
Viste lá o meu Amado. Fragmento de um auto da Paixão. Trata-se de uma preciosa sobrevivência do canto litúrgico (salmodia e cantilena), na qual se é tentado a vislumbrar um embrião da Clássica forma dramática: recitativo-arioso.
Murinheira. Uma das mais típicas e saborosas danças trasmontanas (como o Passeado e a Carvalhesa). É acompanhada de gaita de foles, pandeireta e ferrinhos.
Dona Ancra. Belo romance talvez corruptela ou deformação sónica de Dona Ângela, romance vulgarizado em Trás-os-Montes e em Espanha, nesta conhecido pela designação de La novia del duque de Alba.
Deus te salve, Rosa. Encantador romance pastoril. A melodia em maior e de regular ritmo binário, semelha uma graciosa ronda infantil.
Faixinha verde. Canção de sabor e corte trovadoresco, usada em Tuizelo como cantiga de «malhas». A melodia é um simples, mas elegante tetracorde dórico (que, descendentemente, por vezes, se transforma em jónico), com um ornato inferior na segunda menor - que, nas cadências inferiores, se converte em maior.
Li-la-ré. Originariamente decerto uma canção dançada. É utilizada para animar os compridos verões de Inverno. Curiosa a alternação da melodia vocal, sincopada (copla formada de quadras soltas, e estribilho em interjeições) com o adufe (que não desempenha um papel acompanhado, mas sim solístico), à laia de ritornello instrumental.
Valdevinos. Bela melodia, fortemente vocalizada e de sabor um tanto exótico no seu cromatismo, distribuída por duas vozes. Filia-se no famoso romance de assunto carolíngio, também conhecido por D.Beltrão, que Garret considerava «mais bonito» na versão portuguesa do que na versão espanhola, intitulada De la batalla de Roncesvalles.
Malva, malveta. Belissímo espécime de primitivo canto tetracordal, iniciado pela voz masculina, com a resposta à 5ª superior pela voz feminina. É uma cantiga de «malhas» ainda usada em Tuizelo.
A mal-casada. Cantiga de «malhas» (romance).
O Perdigão. Cantiga de «malhas». Compõe-se de coplas e estribilho cantadas (com ligeiras variantes) com a mesma solfa: uma simples, masintensa e luminosa melodia hexacordal do modo maior.
Galandum. Canção dançada da região mirandesa, de sabor profundamente arcaico. É acompanhada de tamboril, gaita de foles, flauta pastoril («fraita», em mirandês), pandeiro, pandeiretas, castanholas, conchas («carracas»), ferrinhos e assobio dento-labial.
Vinte e cinco. Um dos «llaços» ou figuras da *Dança dos Paulitos. Começa por uma espécie de apelo do bombo, destinado a congregar os bailadores, os pauliteiros (em número de dezasseis), seguido da dança, executada instrumentalmente por gaita de foles, tamboril, bombo e castanholas, a que vem juntar-se o som seco da percurssão dos próprios paulitos, atributo dos bailadores, numa curiosa e excitante polirritmia. Muito espalhada nos concelhos de Miranda, Vimioso, Mogadouro.
*Dança dos Paulitos (em que uns querem ver uma dança pírrica, outros uma dança ligada aos ritos da fecundidade) é, fora de dúvida, uma das preciosidades folclóricas de Trás-os-Montes, embora com correspondência noutros povos.
Mineta. Versão transmontana de muito espalhado romance O Cego, também conhecido sob a designação de O rei e a pastora, Aninhas. Canção usada no trabalho de fiar o  linho.
Encomendação das almas. Sobrevivência do antigo culto dos mortos, associada aos símbolos do Cristianismo, as «encomendações das almas» eram práticas religiosas muito correntes em várias províncias de Portugal. Actualmente estão em vias de desaparecer. Destinavam-se, por meio de uma oração cantada, a aliviar das suas penas as almas dos pecadores condenados ao Purgatório. Cantavam-se pela Quaresma, à meia noite, por grupos de habitantes da povoação, que percorriam as ruas e paravam nas encruzilhadas onde havia edículas de «alminhas», ou subiam aos pontos altos e daí, em voz lúgubre, faziam suas súplicas e «encomendações».
A súplica era feita não em coro mas, sim, por um homem ou por uma mulher.
Carvalhesa. Uma das três danças típicas do termo de Vinhais, composta de quatro figuras e acompanhada por gaita de foles e ferrinhos.
Ró-ró. Canção do berço, de ritmo verdadeiramente embalador. Letra em dialecto mirandês.
Redondo. Dança pastoril, executada alternadamente em «fraita» e gaita de foles.
Dá-la-don. Graciosa e ingénua cantilena de «abaular», isto é, género de diálogo cantado entre  os pastorinhos que comunicam entre si de um monte para o outro.

in:folclore-online.com

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