Deste fabuloso livro que é nosso lusíadas das águas e que todos deveríamos conhecer o “Aquilegio medicinal: en que se da noticia das agoas de caldas, de fontes, rios, poços, lagoas, e cisternas do Reyno de Portugal e dos Algarves” de 1725 de Francisco da Fonseca Henriques ( basta clicar aqui) . Eis um trecho sobre as termas de São Lourenço.
“ … descendo para o rio Tua, por uma serra tão áspera que só a pé se pode andar por ela, nasce uma fonte de água sulfúrea, com calor moderado, despenhando-se pela serra a abaixo em grande quantidade, onde o zelo do Padre António de Seixas […] mandou fazer um tanque, ainda que humilde e de pedra tosca, no qual se tomam banhos em todo o tempo do ano, e servem para curar debilidades de nervos, e juntas tolhidas[…] São também eficacíssimas estes banhos a curar sarnas, chagas antigas, e lepra […] Se houvera casa de Banhos, e tanque acomodado para se frequentarem, logo pelos efeitos se iria alcançando a qualidade dos minerais, e se viria em claro conhecimento das suas virtudes, seria um grande bem para todos aqueles povos,[…] Todos os anos há grande concurso de gente a lavar-se, e tomar banho nesta água, na noite da véspera e dia de S. Lourenço, pela fé que ela tem; passam de 400 pessoas que se banham nessa noite e dia, sempre com banho novo”.
A “Casa dos Banhos” é obviamente um espaço que deve ser imediatamente conservado e classificado, dada a sua raridade em Portugal. Trata-se de uma pequena casa de águas única em Portugal, pela sua estética e antiguidade e que ao longo dos séculos tem sido utilizado pelos aquistas.
A casa é um cubículo em granito hermeticamente fechado a lembrar um templo com algumas frechas para permitir a intimidade de um banho milagroso . A cobertura tem formato piramidal culminada com uma cruz granítica. No seu interior avulta um tanque e uma tosca imagem de São Lourenço de Huesca (clicar no santo), mais confortável que o original, porque este sortudo não pode pedir para que o assem do outro lado, porque a temperatura das águas é benigna com 34ºC. O tempo de cada banho é cerca de 30 minutos. A tina, que pelas suas dimensões até permite o “banho familiar” recebe a água quente de uma bica e descarrega para um tanque exterior.
Diz o povo que esta casa foi capela, talvez, mas o certo é que tem muitas parecenças com os tanques Joaninos das Caldas do Gerês, demolidos em inícios do séc. XX.
Outro elemento que poderá ajudar a esclarecer a história desta casa dos banhos é a inscrição sobre a porta da capela, de leitura difícil dela se depreende que foi mandada fazer por: Vítor Dafre(?) no ano de 1839. Quem seria este senhor? Um agraciado pelo poder curativo das águas ou o explorador das mesmas águas.
O lugar de São Lourenço consta de pouco mais de uma vintena de casas, construídas em função do aproveitamento terapêutico das suas águas (aluguer de quartos e algumas residências particulares), boa parte das quais abandonadas e algumas em avançado estado de ruína. São na sua maioria construções modestas de piso térreo em pedra e piso superior em alvenaria, de finais do séc. XIX inícios do XX, onde não falta a varanda em madeira corrida na sua fachada.
A recuperação do local com fins termais deveria proteger essa arquitectura, e respeitar a traça em novas construções que se determine necessário criar, como novos balneários bem apetrechados. Quanto a alojamentos parece-nos que a simples reconstrução e apetrechamento do existente será suficiente para a procura actual de aquistas.
Mas é o relevo do local que torna únicas as termas de São Lourenço, a encosta íngreme sobre o rio Tua, o vale granítico que seduz, por cima do horizonte da outra margem, o silêncio, o tempo que parece estático, tornam as termas de São Lourenço num local encantador.
EM 629 - São Lourenço
5140-223 Carrazeda de Ansiães
Freguesia: Pombal
PH da água: 8.35
Mineralização da água: Bicarbonatada sódica, fluoretada, sulfidratada
Fonte de informação: http://www.aguas.ics.ul.pt/braganca_slourenco.html
in:portugalnotavel.com
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