sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

Algumas tradições do Carnaval (em Trás-os-Montes e Alto Douro)

 Em Paradinha Nova fazem bonecos de palha, no dia de Carnaval, e distribuem-nos pelos bairros da aldeia. À noite, embarram-nos em árvores e destroem-nos à pancada, com paus. 
Em Pinela e Babe, os vizinhos entram em casa no dia de Carnaval e trocam a panela do butelo por outra onde há apenas cebola. 
Em Babe levam a panela para a rua. Em Babe, terça-feira à noite, mascaram-se adultos e crianças e vão a casa dos vizinhos sem se deixarem reconhecer. Chamam-se farramechos ou farramasqueiros. Em Pinela, na segunda-feira à tardinha, fazem um boneco e vão escondê-lo numa casa qualquer, sem o dono saber. Na terça-feira à tarde, dão volta à aldeia a saber do entrudo. Na casa onde for encontrado têm de lhes dar de comer. Na quarta-feira de tarde queimam o entrudo. 
Em Penhas Juntas, na terça-feira de Carnaval, os rapazes desfazem a cama às raparigas e as raparigas aos rapazes. Se for necessário entram pela janela e deitam farinha ou açúcar na cama. Na noite de Carnaval, rapazes e raparigas também se vestem de caretos e vão pedir pelas casas. 
Nas aldeias da Bouça e Ferradosa jungem dois burros e com um arado fazem que lavram. Dois homens trazem um saco de cinza e fazem que vão semeando, enquanto deitam cinza às pessoas. 
Em Carrazedo, no dia de Carnaval à noite, os rapazes fazem um boneco de palha e vão colocá-lo à porta das moças. Cada uma durante a noite, vigia e, se o boneco de palha estiver à sua porta, vai colocá-lo a outra. De manhã, a moça onde estivesse o boneco de palha não casava.
Estes elementos são extraídos da revista Brigantia (Bragança, 1987), dirigida pelo investigador Belarmino Afonso. Algumas das tradições, com uma ou outra variante, são comuns a todo o país, como deitar cinza (farinha ou água) às pessoas, usar máscaras e queimar o Entrudo. 
Em Podence (Macedo de Cavaleiros) os caretos são vistosos e barulhentos, havendo quem pense tratar-se da figuração de forças obscuras da natureza como o Espírito da Vegetação ou uma espécie de demónios brincalhões a que não é alheia uma tradição que ganhou corpo nos autos populares.
As máscaras de Lazarim (Lamego) são também muito expressivas, tendo-se já convertido numa poderosa atracção turística. Costume bem pitoresco é ainda o do Cavalinho que se usava e se vê cada vez menos nas aldeias durienses.

© António Cabral [1931-2007] foi um poeta, ficcionista, cronista, ensaísta, dramaturgo, etnógrafo e divulgador da cultura popular portuguesa.

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