Por: Humberto Pinho da Silva
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
Descia as "Carmelitas" numa tarde outonal, de céu todo encarvoado, quando de súbito deparo com o João, que de passos entorpecidos subia a mesma artéria.
Caminhava de semblante sombrio, dedos encanastrados atrás das costas, em direção aos " Leões".
- "Há que séculos que não te vejo!? O que é feito de ti? Parece-me que estás acabrunhado..."
- "Ando a cogitar como é triste ser velho em Portugal."
- "Desembucha homem! O que é que te aconteceu?"
- "Estava com uma gripe das antigas. Fui ao médico. Entretanto contactaram-me para ser vacinado. Fui. Disseram-me que era mais seguro testar. Se fosse Covid era perigoso.
"Venderam-me o teste rápido. Perguntei se me faziam o favor de me dizerem como era.
"Responderam-me que era simples, mas tinha que ter muito cuidado para não obter resultado enganoso.
"Receoso, recorri a clínica. Informaram-me que não realizavam testes, aconselhando que fosse ao Centro de Saúde ou telefonasse para a " Saúde 24"
” Como o meu "Centro" é longe, fui a um hospital particular, mas disseram-me: que só faziam o deles.
“Regressei à farmácia. Atendeu-me amável empregada, que me declarou: no estabelecimento é proibido, mas que podia inscrever-me para realizar o teste, avisando-me que ficava dispendioso.
“Argumentei, que pagava o que fosse.
“Pela manhãzinha do dia seguinte fizeram-me o teste”
- “Pronto, ainda bem. Ficou resolvido.” - Disse.
- “Sim, mas fiquei a magicar: como tudo é complicado neste País, principalmente para os idosos. Nós somos a geração que ia para a escola de pé descalço e sacola de serapilheira; começamos a trabalhar na adolescência: passamos horas, se queríamos estudar, nos bancos da biblioteca, porque não havia Internet. Fomos para a guerra para defender a Pátria, que afinal parece que não era; e chegados à velhice.... Qual é a recompensa? Reforma que não chega para pagar um lar decente.... É tudo para os jovens, que são o futuro. E nós, que já não temos futuro? “
Abraçamo-nos e seguimos o nosso caminho, mas fui recordando como ainda é atual o célebre verso de António Nobre...
Caminhava de semblante sombrio, dedos encanastrados atrás das costas, em direção aos " Leões".
- "Há que séculos que não te vejo!? O que é feito de ti? Parece-me que estás acabrunhado..."
- "Ando a cogitar como é triste ser velho em Portugal."
- "Desembucha homem! O que é que te aconteceu?"
- "Estava com uma gripe das antigas. Fui ao médico. Entretanto contactaram-me para ser vacinado. Fui. Disseram-me que era mais seguro testar. Se fosse Covid era perigoso.
"Venderam-me o teste rápido. Perguntei se me faziam o favor de me dizerem como era.
"Responderam-me que era simples, mas tinha que ter muito cuidado para não obter resultado enganoso.
"Receoso, recorri a clínica. Informaram-me que não realizavam testes, aconselhando que fosse ao Centro de Saúde ou telefonasse para a " Saúde 24"
” Como o meu "Centro" é longe, fui a um hospital particular, mas disseram-me: que só faziam o deles.
“Regressei à farmácia. Atendeu-me amável empregada, que me declarou: no estabelecimento é proibido, mas que podia inscrever-me para realizar o teste, avisando-me que ficava dispendioso.
“Argumentei, que pagava o que fosse.
“Pela manhãzinha do dia seguinte fizeram-me o teste”
- “Pronto, ainda bem. Ficou resolvido.” - Disse.
- “Sim, mas fiquei a magicar: como tudo é complicado neste País, principalmente para os idosos. Nós somos a geração que ia para a escola de pé descalço e sacola de serapilheira; começamos a trabalhar na adolescência: passamos horas, se queríamos estudar, nos bancos da biblioteca, porque não havia Internet. Fomos para a guerra para defender a Pátria, que afinal parece que não era; e chegados à velhice.... Qual é a recompensa? Reforma que não chega para pagar um lar decente.... É tudo para os jovens, que são o futuro. E nós, que já não temos futuro? “
Abraçamo-nos e seguimos o nosso caminho, mas fui recordando como ainda é atual o célebre verso de António Nobre...
Humberto Pinho da Silva nasceu em Vila Nova de Gaia, Portugal, a 13 de Novembro de 1944. Frequentou o liceu Alexandre Herculano e o ICP (actual, Instituto Superior de Contabilidade e Administração). Em 1964 publicou, no semanário diocesano de Bragança, o primeiro conto, apadrinhado pelo Prof. Doutor Videira Pires. Tem colaboração espalhada pela imprensa portuguesa, brasileira, alemã, argentina, canadiana e USA. Foi redactor do jornal: “NG”. e é o coordenador do Blogue luso-brasileiro "PAZ".
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