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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite, Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues, João Cameira e Rui Rendeiro Sousa.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sábado, 3 de maio de 2025

AS FORMIGAS SÓ ANDAM POR CELEIROS CHEIOS

Por: Humberto Pinho da Silva 
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")


 Dona Maria José de Noronha e Sá , vivia em aparatoso palacete, cercado de vistoso jardim, onde medravam roseiras e frondosas árvores, nas cercanias da casa onde nasci.
Muitas vezes a vi passar pela minha rua, no seu Mercedes preto – umas vezes ao volante, outras com o "chauffeur", como gostava de dizer.
No seu “solar” realizavam-se, com frequência, festins esplendorosos, onde a elite da sociedade permanecia até altas horas da madrugada.
Cansada da agitada vida social, resolveu recolher-se, com o marido, a espaçoso apartamento de sóbrio prédio, erguido no bairro nobre cidade.
Todas as tardes… 
Recebia, na aconchegante salinha, que permanecia sempre em repousante penumbra, íntimas amigas.
Frequentemente a visitava. Proseávamos do tempo que já não é, e relembrávamos figuras típicas, que viveram no bairro onde nascemos, em amena e festiva cavaqueira.
Uma tarde de julho, quando já declinava o sol, após a merenda, que era sempre a mesma – chá preto e torradas, – confessou-me amarguradamente, quase à puridade:
- Sabes? - Tratava-me ternamente por tu, como se seu filho fosse –"Já não tenho tantas amigas como outrora: umas faleceram; outras foram morar para outras cidades...; e ainda outras falam, certamente, com seus botões: “abandonou o palacete, trocou-o por prédio de Esquerdo – Direito, já não deve estar bem de finanças... Afastaram-se. “Quem sabe? Receiam que lhes peça alguma coisinha?"
Camilo, lamentava-se, contrito, de estar cego, e os numerosos amigos, que o acompanharam nos dias festivos, não o irem visitar, pensando: o que vamos lá fazer está invisual?
Também Job – figura bíblica, – era rico. Possuía herdade onde labutavam dezenas de trabalhadores. De súbito tudo perdeu, até mulher e filhos. Só, doente, abandonado por todos, era consolado por três leais amigos, que lamentavam sua triste sorte:
São sempre assim os amigos – há raras exceções, – semelhantes às formigas, que só rondam celeiros cheios.
Com a minha boa amiga, já falecida, os amigos apartaram-se por terem pensado, erradamente, que estava pobre, e dizem:
- O que vamos lá fazer? Já não precisámos dela...; mas algumas já precisaram, e muito... A ingratidão humana não tem limite.


Humberto Pinho da Silva
nasceu em Vila Nova de Gaia, Portugal, a 13 de Novembro de 1944. Frequentou o liceu Alexandre Herculano e o ICP (actual, Instituto Superior de Contabilidade e Administração). Em 1964 publicou, no semanário diocesano de Bragança, o primeiro conto, apadrinhado pelo Prof. Doutor Videira Pires. Tem colaboração espalhada pela imprensa portuguesa, brasileira, alemã, argentina, canadiana e USA. Foi redactor do jornal: “NG” e é o coordenador do Blogue luso-brasileiro "PAZ".

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