segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Homilia do bispo de Bragança-Miranda na solenidade de Santa Maria Mãe de Deus

Foto: AP
Caros Presbíteros, Párocos da Cidade
Caríssimos Jovens
Irmãos e Irmãs

Na oitava da solenidade do Natal que celebramos com nobre simplicidade nesta igreja catedral, a Liturgia de hoje apresenta-nos o Deus menino «nascido de uma mulher, nascido sob a lei (2ª leitura), a quem foi dado o nome de Jesus, oito dias depois do nascimento (evangelho), como realização plena da bênção de Deus à humanidade (1ª leitura). Bênção= dizer bem. Deus diz bem de nós – nós somos chamados a dizer bem de Deus.
A Igreja dedica o primeiro dia do ano civil a Maria, celebrando o seu privilégio único e o seu título essencial de Mãe de Deus (Theotókos). O tempo do Natal constitui uma prolongada memória da maternidade divina. Por tal, a solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus, se celebra hoje, 1 de janeiro, dia da oitava do Natal. A liturgia canta-o com admiração: «oh admirável mistério! Comércio admirável que o amor descobriu».
Hoje contemplamos a possibilidade do impossível: Maria, Virgem e Mãe. A protagonista do texto do evangelho é Maria (com José e Jesus). Aparecem também os pastores que contam o que lhes aconteceu e o que os anjos lhes anunciaram, e veem o sinal: “o menino deitado na manjedoura”. Maria, da sua parte, “fixava todas estas palavras e pensava nelas no íntimo do seu coração”. A atitude de Maria é de prudente sabedoria e o convite a ver bem com o coração.
Quando a Igreja fala da maternidade de Maria não proclama só um mistério, mas evidencia também uma relação de família: “os pastores encontraram Maria e José e o menino”. O silêncio é o segredo de Maria. Do silêncio-escuta passa ao acolhimento-disponibilidade. Esta é a memória do coração. Maria é modelo da escuta da Palavra e presença orante na Igreja nascente e na Igreja de todos os tempos.      
O próprio nome dado – Jesus, que significa “o Senhor salva” – indica a vontade da salvação de Deus. «A Sua vinda testemunha o que não sabíamos ainda: a nossa frágil humanidade é narração da autobiografia de Deus» (Tolentino Mendonça). Jesus é o grande sorriso de Deus às pessoas de todos os tempos. Cada um de nós é chamado pelo nome próprio desde o nosso Batismo.
Hoje trocamos os melhores votos de paz, porque este dia foi também escolhido há 45 anos como o dia mundial da paz. A paz é o grande desejo do coração de cada um. Jesus Cristo é a nossa verdadeira paz. «Educar os jovens para justiça e a paz» – tema do dia. Porque estamos convencidos «de que eles podem, com o seu entusiasmo e idealismo, oferecer uma nova esperança ao mundo» e convida-nos «prestar atenção ao mundo juvenil, saber escutá-lo e valorizá-lo para a construção dum futuro de justiça e de paz não é só uma oportunidade mas um dever primário de toda a sociedade».
A Igreja acredita que a educação é uma aventura fascinante e confia muito nos jovens. «Queridos jovens, vós sois um dom precioso para a sociedade. Diante das dificuldades, não vos deixeis invadir pelo desânimo nem vos abandoneis a falsas soluções, que frequentemente se apresentam como o caminho mais fácil para superar os problemas. Não tenhais medo de vos empenhar, de enfrentar a fadiga e o sacrifício, de optar por caminhos que requerem fidelidade e constância, humildade e dedicação».
Uma saudação amiga aos jovens, em especial aos seminaristas que buscam, na alegria e na esperança dos vários caminhos, a Cristo, Caminho, Verdade e Vida. Tal como o grão de amendoeira, vós jovens estais a amadurecer a vossa vida, por isso, não tenhais medo dos desafios destes tempos. Quero ser colaborador da vossa alegria. A primeira experiência que juntos fizemos de escuta da Esperança na lectio divina aqui na cripta da Catedral leva-nos a uma sempre maior paz do coração para poderdes sempre dizer Senhor, eis-me aqui, podeis enviar-me.
A fé traz consigo o risco da confiança. Não somos cristãos porque decidimos por uma ética ou alguma ideia, mas por causa de um encontro com a Pessoa de Jesus Cristo que dá um novo horizonte à vida.
Cristo, a nossa Paz, nos renove na confiança realista do Evangelho!
No limiar do Ano 2012 e há 3 meses da ordenação e início do ministério episcopal na nossa amada Diocese de Bragança-Miranda, estou consciente que ser bispo significa servir. Vivemos um tempo e um mundo que encaro com esperança no futuro. Disponho-me, como servo, a uma escuta da Palavra sacramental entrançada com a vida quotidiana. Continuo a pedir a Deus um coração que escuta para ser um servidor da Esperança nesta Igreja que peregrina em Bragança-Miranda e que se quer repensar e reorganizar ao longo deste ano. O Senhor ilumine e acompanhe a preparação do plano pastoral diocesano para 5 anos até 2017 – o ano do centenário das aparições em Fátima.
O Ano da Fé proclamado pelo Papa Bento XVI a iniciar a 11 de outubro, dia em que se comemoram os 50 anos da abertura do grande acontecimento do Concílio Vaticano II, a reorganização da pastoral nas suas estruturas diocesanas e paroquias, a formação inicial e permanente do Clero, o Instituto Diocesano do Clero, a Casa sacerdotal, a formação permanente dos Leigos, a recriação do Instituto Diocesanos de Estudos Pastorais – são alguns dos grandes desafios destes tempos novos.
Jesus Cristo tem de ser o centro e estar no centro «Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e sempre» (Hb 13,8). Temos sempre de fixar os olhos em Jesus (cf. Lc 4,20). Este Ano é a oportunidade de confessar a fé no Senhor Ressuscitado na nossa catedral e nas igrejas da Diocese, nas nossas casas e no meio das nossas famílias, para que cada um sinta fortemente a exigência de conhecer melhor e de transmitir às gerações futuras a fé de sempre. O Santo Padre apela a que: «tanto as comunidades religiosas como as comunidades paroquiais e todas as realidades eclesiais, antigas e novas, encontrarão forma de fazer publicamente profissão do Credo».
Bragança tem montes de Esperança e muitas possibilidades e oportunidades!
De todo o coração quero saudar todos os meus irmãos e amigos Presbíteros. Em Cristo Cabeça, Pastor, Esposo e Servo da Igreja, o presbitério é lugar de comunhão e crescimento, o qual tem «origem sacramental e se reflete e se prolonga no âmbito do exercício do ministério presbiteral do mistério ao ministério». A feliz realização da nossa Assembleia do Clero renovou em nós o dinamismo da formação permanente e da conversão pastoral.
Aos Diáconos encorajo no serviço da caridade, da Palavra e da Liturgia. Até junho de 2012 esperamos a apresentação dos candidatos ao Diaconado permanente e faremos a respetiva seleção.
Aos Religiosos e às Religiosas e aos membros dos Institutos seculares, expresso a minha estima e gratidão pelo dom do testemunho do primado absoluto de Deus na Igreja e no mundo. Maria, a Mulher da Esperança ajude a confirmar os desafios que assembleia dos Religiosos aceitou para a Nova Evangelização na nossa Diocese.
A todos os cristãos leigos, às famílias, às paróquias, aos Movimentos e às novas comunidades eclesiais, às Vigararias, aos Secretariados, às Comissões diocesanas, às Instituições de solidariedade social, às Misericórdias, às Confrarias e às Irmandades continuo a garantir a minha disponibilidade e oração, contando com a vossa colaboração e corresponsabilidade na construção da civilização do amor e de comunidades eclesiais amadurecidas.
Com as Autoridades autárquicas, civis, académicas, forças de segurança e órgãos de comunicação social espero continuar uma colaboração recíproca em ordem ao bem comum no nosso Distrito e Diocese.
Saúdo ainda todas as pessoas de boa vontade que buscam a verdade na sua vida. Desejo, sinceramente que se promova o desenvolvimento na verdade e na caridade e que na nossa terra «os montes tragam a paz ao povo, e as colinas, a justiça» (Sl 72).
S. Bento, o padroeiro da Diocese, continua a desafiar na sua Regra: «não prefiram absolutamente nada a Cristo». Convido-vos, por isso, a ousar a coragem da Esperança, para podermos mostrar hoje os mistérios de Cristo, porque a beleza e a alegria do Evangelho têm um enorme fascínio.
A nossa realidade pastoral exige a coragem, a confiança e a paciência para ir ao encontro dos homens e das mulheres do nosso tempo, testemunhando que também hoje é possível, belo, bom e justo viver a existência humana à luz do Evangelho.
Quero ser Bispo para vós e continuar a ser cristão convosco numa só Igreja, que tem como sinal visível da comunhão esta igreja Catedral, qual casa de Deus na cidade dos homens e das mulheres de hoje.

Igreja catedral de Bragança, 1 de janeiro 2012
D. José Cordeiro

in:Agência Ecclesia

Sem comentários:

Enviar um comentário