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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Carta Aberta de Historiadores aos Deputados

Vários apelos, com as mais diversas origens, não comoveram o governo, que nos próximos dias apresentará aos deputados e deputadas à Assembleia da República uma proposta que visa a eliminação de quatro feriados, dois deles cívicos, os restantes, religiosos. A decisão ficará então nas mãos dos deputados e deputadas eleitos pelo país e é a eles que por isso se dirigem os historiadores que subscrevem esta carta.
O governo apresenta razões de índole económica para fundamentar a sua proposta, o que não surpreende. Sabe o governo que no actual contexto de crise é atraente justificar toda e qualquer medida em nome da melhoria da economia nacional. Acontece, porém, que uma das principais fragilidades desta proposta é a ideia menor de economia que a inspira.
Diz o governo que implementar mais quatro dias de trabalho se traduzirá em aumento da produtividade nacional. Porém, no fundamental, o aumento da produtividade depende não da quantidade de trabalho, mas da qualidade do processo produtivo. E no caso português, como reconheceram patrões e sindicatos, assim como economistas de todos os quadrantes, é justamente a escassa qualificação tecnológica do processo produtivo que tem constituído um obstáculo principal ao desenvolvimento económico. Aprovassem esta proposta do governo e os deputados e deputadas estariam a dar um sinal às empresas e aos trabalhadores de que a questão da qualificação é um assunto menor. Tratar-se-ia de um sinal agravado por se juntar a decisões particularmente gravosas tomadas recentemente pelo governo, nomeadamente quanto à diminuição significativa de investimento em ciência e tecnologia. 
Só o fervor moralista explica que o governo faça por ignorar que o tempo de lazer da população é economicamente valioso: não há trabalho de qualidade sem descanso de qualidade. Os direitos sociais são não apenas um fundamento da democracia e o direito ao lazer, a uma vida além do trabalho, é uma das grandes conquistas dos movimentos sociais da época contemporânea, mas os direitos por que vos escrevemos são também condições de uma economia que se queira próspera.
Permitir agora a supressão dos feriados é iniciar o caminho de volta na longa estrada que nos conferiu o direito ao fim-de-semana, ao limite de horas de trabalho ou ainda ao período de férias. Votando favoravelmente a proposta do governo, será esse o caminho que os deputados e deputadas do país trilharão
Queremos, igualmente, chamar a atenção para os feriados civis que estão em questão. O governo propõe-se eliminar o 5 de Outubro e o 1 de Dezembro. É o mesmo que impedir a comunidade de celebrar-se como tal, como identidade, nas datas que simbolizavam a restauração da independência e a implantação da República. Presumem os governantes que questões de ordem simbólica, como os feriados que visam reunir a comunidade nacional nas suas celebrações identitárias, não têm implicação económica, mas engana-se. Nenhuma economia sobrevive à degradação do sentido de comunidade e este constitui-se tanto em momentos laborais como em ocasiões festivas.
Acresce a este respeito que a decisão de eliminar o 5 de Outubro é particularmente gravosa ao verificar-se poucos meses depois de, sob a vigência deste governo, terem sido encerradas, nessa mesma Assembleia da República, as cerimónias oficiais de comemoração do centenário da República. Nem a ditadura salazarista, que igualmente dizia ser imperativo seu sanear o problema das contas públicas, colocou em causa esse feriado. Um dia e um direito de celebração pública da República conquistado na rua, tantas vezes contra a repressão policial da ditadura: ides permitir Senhores e Senhoras deputados, que cem anos depois, ele seja suprimido com o vosso voto? Se assim for, a seguir o que virá?

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