OPINIÃO - Barroso da Fonte
Nesta crónica vou dar a palavra a um reparo que me chegou através do meu ex-camarada de armas, Alferes Miliciano Luís Carolino, médico aposentado, a viver em Lisboa.
Foi ele que me encaminhou este grito de revolta que em nome da crise, alguns tubarões, retiram a quem mais precisa. Ora vejam: «Há hoje necessidade de separar o trigo do jóio quanto ao que nos chega a casa por internet. Desta vez é o meu camarada da Companhia de Caçadores 769, alferes miliciano como eu, no norte de Angola que me alerta sobre correspondência que a Caixa Geral de Depósitos está a enviar aos seus clientes mais modestos. Uma circular que deveria fazer corar de vergonha os administradores daquela instituição bancária.
A carta começa, como mandam as boas regras de marketing, por reafirmar o empenho do Banco em oferecer aos seus clientes as melhores condições de preço qualidade em toda a gama de prestação de serviços, incluindo no que respeita a despesas de manutenção nas contas à ordem. As palavras de circunstância não chegam sequer a suscitar qualquer tipo de ilusões, dado que após novo parágrafo sobre racionalização e eficiência da gestão de contas, o cliente é confrontado com a informação de que, para continuar a usufruir da isenção da comissão de despesas de manutenção, terá de ter em cada trimestre um saldo médio superior a EUR 1000, ter crédito de vencimento ou ter aplicações financeiras associadas à respetiva conta.
Ora sucede que muitas contas da CGD, designadamente de pensionistas e reformados, são abertas por imposição legal.
É o caso de um reformado por invalidez e quase septuagenário, que sobrevive com uma pensão de 243,45 euros, que para ter direito ao piedoso subsídio diário de 7,57 (sete euros e cinquenta e sete cêntimos!) foi forçado a abrir conta na CGD por determinação expressa da Segurança Social para receber a reforma.
Como se compreendem, casos como este - e muitos são os portugueses que vivem abaixo ou no limiar da pobreza - não podem preencher os requisitos impostos pela CGD e tão pouco dar-se ao luxo de pagar despesas de manutenção de uma conta que foram constrangidos a abrir para acolher a sua miséria. O mais escandaloso é que seja justamente uma instituição bancária que ano após ano apresenta lucros fabulosos e que aposenta os seus administradores, mesmo quando efémeros, com «obscenas» pensões a vir exigir a quem mal consegue sobreviver que contribua para engordar os seus lautos proventos.
É sem dúvida uma situação ridícula e vergonhosa, como lhe chama um nosso leitor. Mas as palavras sabem a pouco quando se trata de denunciar tamanha indignidade. Esta é a face brutal do capitalismo selvagem que nos servem sob a capa da democracia, em que até a esmola paga taxa.
Sem respeito pela dignidade humana e sem qualquer resquício de decência, com o único objetivo de acumular mais e mais lucros, eis os administradores de sucesso». Vivemos quase todos com a corda na garganta. Os mais «reguilas» safam-se porque se infiltram nos lugares de mando e de comando. Alguns têm o poder de fazer leis à medida do seu estômago. Outros têm o poder de aplicar essas leis. Mas quando lhes são nocivas, ameaçam que vão recorrer para os tribunais, onde alguns pontificam. Uns ameaçam com a justiça porque o estatuto obriga os cidadãos pobres a pagar as custas. Mas outros têm direito a que sejam os serviços que tutelam, a pagar essas custas. Lembram-se do caso de Fátima Felgueiras?
Outra infâmia da CGD: Já em 2012, um casal teve de transferir de uma conta pessoal solidária, para outra conta, igualmente do casal, uma verba de 1.750 euros para saldar uma dívida à Segurança Social. Teve que preencher uma declaração a esclarecer para que fins era aquela transferência.
Ora a transferência fez-se na mesma instituição, de uma conta do casal para outra conta do casal. E teve de pagar 7,50 euros pela transferência. Nem no tempo da «outra senhora» a bufaria era tão cruel.
Como foi possível a Oliveira e Costa e a tantos, transferir milhões sem que declarassem o destino?
in:jornal.netbila.net
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