Soldado Milhões ao centro na primeira fila
Promovida pela sua neta, Leonídia Milhões, e por um grupo de amigos, está a correr na «net» uma petição para preservar a memória e a casa do «Herói Milhões». Se fosse em países em que a gente tem uma visão mais larga e profunda, esfregavam as mãos de contentes. Os espanhóis, quando não têm melhor, pegam num simples pinheiro e criam uma lenda à sua volta para promover o turismo cultural e ambiental. Nós temos as lendas construídas de carne e osso, de sangue e lágrimas e quase tudo fazemos para as apagar em rios de indiferença e de incultura. Somos uns invejosos! Não percebemos que o progresso e o desenvolvimento também se constroem com pequenos passos. Esta campanha de assinaturas e de petição é uma iniciativa louvável. Mas, não se pode ficar só por aqui, devia criar-se a «Associação de Amigos do Herói Milhões» e pôr alguém com dinamismo à frente do movimento que seja empreendedor.
Um segundo passo será implicar o Município de Murça e o seu Presidente. Como homem de cultura e de acção, João Luís Fernandes não vira a cara a desafios. Não acredito que se deixe influenciar por gente de visão mesquinha. E a criação da «Casa-Museu Herói Milhões» (alavancada pela memória da terra), estou em crer que deverá avançar. Pode começar-se pelo levantamento do seu espólio documental, dos objectos de uma casa rural do seu tempo e do material em suporte electrónico. Ao fazer-se esta recolha está também a preservar-se a «Memória das Terras de Murça». Aparecia assim o Herói Milhões como motivo principal, mas a Casa-Museu teria mais leituras. A casa do Aníbal Augusto Milhais, seria restaurada e ampliada. Depois criava-se um circuito turístico-gastronómico tradicional, que contemplaria os miradouros, a Adega da Porca, o «Azeite de Murça» as especialidades de pastelaria de Murça e o património cultural da vila. O Herói Milhões e Murça merecem que se atire uma pedrada para o charco da indiferença e do esquecimento, do empobrecimento e do despovoamento de terras tão férteis e estrategicamente situadas junto à A4. O Aníbal Milhais, no dia 9 de Agosto de 1918, foi um homem com muita sorte a par de grande coragem, conseguindo levar sempre a melhor sobre os alemães que se lhe deparavam pela frente. Antes, já tinha salvo de afogamento um oficial do exército escocês e no dia 13 terá retirado uma criança presa nos escombros duma casa. Ficamos à espera de boas novas para bem da memória e da história de Murça e de Portugal, escrita na batalha de La Lys pelo único soldado raso distinguido com a mais alta condecoração do país: A Ordem da Torre e Espada do Valor, Lealdade e Mérito. Tive a dita de estar junto ao Herói Milhões na manhã do 10 de Junho de 1967, em frente à igreja dos Clérigos, em Vila Real, trazia um fato domingueiro escuro e um vistoso colar de onde pendia a medalha da bravura e da coragem.
Jorge Lage
in:jornal.netbila.net
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