A falta de mão-de-obra qualificada e indiferenciada é um problema para muitos negócios em Bragança. Dina Mesquita é proprietária de um restaurante e com o Verão já a decorrer, o aumento da procura pode ser um problema, visto que não consegue encontrar mão-de-obra qualificada. “Não há mão-de-obra especializada, especialmente para a cozinha. A formação de cozinha, neste momento, não existe aqui em Bragança. A escola mais perto que tínhamos era a Escola de Turismo de Mirandela, que foi fechada, e não há pessoas com qualificações. Um estudante de uma escola de cozinha não vem para o interior. As escolas mais perto é Lamego e Porto e abriram muitos restaurantes nessa zona, absorvendo a mão-de-obra”.
Uma pescadinha de rabo na boca, já que a falta de funcionários não permite aceitar mais trabalho ou então faz atrasar o serviço. “As pessoas não se mantêm nos postos de trabalho. Estão sempre a entrar e a sair, o que para nós é bastante complicado. Muitas vezes leva a que não tenhamos a capacidade de trabalho que tínhamos antigamente porque não temos mão-de-obra”.
Neste restaurante, a cozinha está a cargo do pai de Dina Mesquita e, por isso, o futuro do negócio começa a ser uma incerteza. “É uma das coisas que ponho em causa hoje em dia: continuar com a restauração”.
Na construção civil, o cenário é idêntico. Pedro Nogueiro é gerente de uma empresa em Bragança e também se queixa da falta de pessoas formadas. Este é um problema que se arrasta ao longo dos anos, mas que é cada vez mais grave. “A mão-de-obra qualificada está praticamente a desaparecer. Se precisar de contratar um carpinteiro ou picheleiro, pessoas com alguma qualificação na nossa área, não temos, não existe. O que é preocupante é que não vejo as entidades nem sequer a existir”.
A empresa está no activo há cerca de 50 anos e dedica-se essencialmente a obras públicas. Com a falta de funcionários, muitos trabalhos são rejeitados. E se assim continuar o negócio pode mesmo acabar. “Nós, a gerência, temos falado, várias vezes, nesse aspecto, às vezes, em jeito de desabafo, dizemos que, a prazo, vamos ter que fechar. Como é que vamos executar as obras se não temos mão-de-obra?”
Dinis Crisóstomo também é proprietário de uma empresa de construção civil e ainda realização de estradas. Acredita que por ser um trabalho duro os mais novos não têm interesse pela construção civil. A empresa chegou a ter 120 empregados, neste momento tem 40. “Antigamente tínhamos duas equipas de espalhamento de massas betuminosas. Só tínhamos duas máquinas de tapete, neste momento temos seis ou sete e só temos uma equipa a espalhar. Se houvesse pessoal podíamos fazer mais trabalho”.
Na agricultura a situação repete-se. Manuel Malhão trabalha com máquinas agrícolas e quando quer encontrar jovens para estes trabalhos, não consegue. “Não há um jovem que queira trabalhar com uma retro escavadora ou com um tractor. Hoje em dia não se arranja. A agricultura também não dá muito. Quem trabalhar por conta própria tem despesas muito altas. O gasóleo está caro. Não há muita gente que queira trabalhar na agricultura e um trabalho duro”.
Negócios que estão abertos há décadas e que podem estar em causa pela falta de mão-de-obra qualificada e indiferenciada.
Segundo dados do Centro de Emprego de Bragança, em Maio deste ano havia três mil setecentas e quarenta e quatro pessoas desempregadas na sua área de abrangência, ou seja, nos nove municípios da Comunidade Intermunicipal das Terras de Trás-os-Montes. O ano passado, no mesmo período, havia mais 310 desempregados. Já em Maio de 2019, antes da pandemia, havia três mil quinhentos e noventa e dois, ou seja, menos 152 que este ano.
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