sexta-feira, 23 de julho de 2021

Trilhos e lobos para descobrir no Norte de Portugal

 Habita ainda hoje o imaginário popular com as mais variadas lendas e mitos. O lobo, animal fantástico, amado e temido em igual proporção, serve de inspiração a estes caminhos de descoberta de serras, montes, ravinas e abismos onde se cruzam diversas outras histórias de encantar.


O Parque Natural de Montesinho espalha-se por 75 mil hectares e 90 aldeias, habituadas a conviver com o Lobo Ibérico, que neste território tem uma das mais estáveis comunidades. Um equilíbrio sempre harmonioso para o qual muito contribuem corços, veados e javalis, que aqui também habitam em abundância e são presas favoritas do lobo ibérico. E, é precisamente nestes povoados que se torna mais fácil imaginar toda a mística que ao longo dos séculos ditou a relação entre humano e animal. Quase ouvimos o seu uivo entre urzes, giestas, bosques de carvalhos-negrais e soutos de castanheiros antigos.

Cansado da história do lobo mau, apaixonado por Montesinho e pelas condições únicas de coexistência entre homem e lobo que se vivem neste território, o biólogo Duarte Cadete mudou-se de Lisboa para fundar em 2015 a Dear Wolf (Tel. 939676600), sediada em Rio de Onor. Além de investigar e monitorizar as alcateias da região também dá formação e organiza passeios onde se aprende a respeitar espécie e o território que habita. Caminhar por onde o lobo passa, ver a paisagem pelos olhos do animal e contextualizá-lo no seu habitat é o objetivo destes trilhos interpretativos e pedagógicos (desde €40), ao amanhecer, ao anoitecer ou durante um fim de semana inteiro. “Mais do que avistar lobos, a ideia é conhecer o contexto, o território e valorizar as relações ecológicas ancestrais”, explica. Partilha-se com os visitantes a paixão e o conhecimento dando a conhecer “as boas relações entre homem e lobo, que aqui nunca deixou de existir”, envolvendo cultura e comunidades locais além de outras espécies, determinantes para o equilíbrio do ecossistema do lobo e garante desta harmonia rara: o corso, o veado e o javali.

Rio de Onor

Especialista em experiências na Natureza que passam pela interpretação da terra, dos animais e território envolvente, a pé e de bicicleta, a Anda D’I (Tel. 935355633), com sede em Bragança, organiza “A hora do lobo”, acompanhada por biólogos especializados que pode ser desenhada à medida para a sua família ou grupo. Um dos mais recentes trilhos criados para explorar os encantos do parque natural arranca na aldeia de Rio de Onor. Descubra porquê durante 7 km de um caminho a revelar as particularidades da proximidade com Espanha, à curta distância de um rio, as casinhas de xisto equilibradas na paisagem, as janelas e varandas floridas. A vertente comunitária com a vizinha Rihonor de Castilla ainda se manifesta na partilha do forno, forja, tanques e moinhos de cá e lá da fronteira e no dialecto rionorês. O percurso, acessível, atravessa a aldeia passando pela Igreja Matriz, o Moinho de Água e Forja Comunitários, aventurando-se até às margens do rio Onor, onde pode deslumbrar-se com a longevidade de um Carvalho Negral Centenário – imaginando quantos lobos por aqui já terão desfrutado da frescura noturna, e a imponente Fraga do Rio Onor. Partida – e chegada – são junto ao Parque de Campismo. Saindo da aldeia em direção a Aveleda, quase no final do caminho, encontra o snack-bar O Careto. Serve petiscos e pratos confecionados em forno a lenha com ingredientes de produção própria.

Percursos Anda D’I - Diana Guerra | Contramapa

Trilhos matreiros

Outra possibilidade para explorar a pé começa em Montesinho, de onde partem dois caminhos: um em direção a França, aldeia onde encontra uma agradável praia fluvial com parque de merendas perfeito para relaxar depois da caminhada. É também aqui que vive o Centro Hípico de França (Tel. 273919031) onde pode agendar passeios a cavalo pela serra (desde €20), com monitor e, sempre que possível, travessias no Rio Sabor. O segundo percurso encaminha-se até à Barragem da Serra Serrada, no alto da montanha. Quando o cansaço vencer, às portas do Parque Natural e sem televisão, nos Bétula Studios (a partir de €80), cabe à natureza servir de cenário ao descanso num dos estúdios T1, dois deles com mezaninne para as crianças. A título de boas-vindas é oferecido um cesto bem recheado de produtos locais, como o mel e as compotas caseiras.

Com seis hectares, o Parque Biológico de Vinhais (Tel. 273771040) é uma “montra” do Parque Natural de Montesinho, concentrando a fauna e flora mais conhecidas que pode observar no centro interpretativo (€2,50). Aproveite os bungalows e pod’s para usufruir dos percursos pedestres e dos passeios de burro ou bicicleta.

Parque Biológico de Vinhais


Ana Fonseca

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