(colaborador do Memórias...e outras coisas...)
O cartaz, nos principais eixos rodoviários de acesso à vila, bem como a página oficial do município e os vários vídeos promocionais, não deixavam qualquer dúvida: 365 dias à sua espera! Por isso, quando um dos diretores da Gulbenkian (o decano da direção daquela Fundação) perguntou se havia alguma altura preferencial para visitar os excecionais frescos da Ermida da Senhora da Teixeira, a resposta foi óbvia: Não. Qualquer um dos 365 dias do ano é um bom dia. Contudo, como o seguro morreu de velho, o meu amigo pediu que confirmasse.
Visitando a página municipal na internet, lá estava, claro e explícito, o convite para visitar o ermitério da freguesia da Açoreira. “Para mais informações, contactar a LIT (Loja Interativa de Turismo) – esta inexplicável obsessão com as siglas! Se se optar pelo link associado é-se, inexplicavelmente, dirigido para uma página reservada a utentes!!! Se se escolher diretamente no menu somos brindados com duas (uma já era demais) imagens publicitando o enlatado que dá pelo nome de “Feira Medieval”, mas nada acrescenta à informação já publicitada.
Contudo!
– Não se preocupe. Pelo sim pelo não, como estou a chegar a Moncorvo, eu mesmo me dirijo ao centro de turismo.
Pensava, erradamente, tratar-se de mero formalismo. Não. Não é possível visitar a Senhora da Teixeira. Porquê? A responsável não sabia. Sabia apenas que tais visitas só se faziam com a autorização explícita do senhor presidente da Câmara!!! Essa agora! Uma família vinha de Lisboa, propositadamente, para poder desfrutar da contemplação desta fabulosa obra de arte. Ah... Podem visitar outros museus. O do Castelo, por exemplo. O do Castelo? O que tem o Museu do Castelo, para além dos vários achados, valiosos, sem dúvida, e devidamente expostos e promovidos com a conhecida parafernália audiovisual tão conhecida e divulgada por inúmeras instalações interativas por esse mundo de Deus? Ninguém duvida da qualidade nem da importância local e regional do equipamento mas, ao contrário dos frescos da Senhora da Teixeira, nada em si poderia justificar uma vinda de Lisboa, com esse propósito. Insisti com a importância de proporcionar a visita ao templo da Açoreira e continuei a levar como resposta que para isso teria de obter o salvo-conduto presidencial, enquanto que, para visitar o museu, ali ao lado, inserido nas muralhas...
– O castelo, não!
Pois, então, teria de me dirigir diretamente à Câmara (à Câmara? Qual o papel então da Loja de Turismo? – Informar... como estava a fazer).
– Deve dirigir-se, na Câmara, ao Gabinete do Presidente
– A sério? Não haverá engano?
– Não. A menos que...
– A menos que...?
Já estava por tudo. A menos que conseguisse encontrar quem pudesse identificar o paradeiro das chaves da singular capela. Seria mais fácil se optasse por uma visita ao Museu do Castelo!
Felizmente o concelho não se confina aos Paços Municipais e os amigos verdadeiros são inexcedíveis. A família lisboeta extasiou-se na Açoreira e vai voltar a Moncorvo, brevemente. Para ir à Adeganha, complementar o seu já vasto conhecimento de arte, para revisitar, com tempo, a monumental Igreja Matriz e também para se deliciar, de novo, com a excelsa gastronomia. E não. Não visitará o museu do Castelo!
Colaborador regular de jornais e revistas do nordeste, (Voz do Nordeste, Mensageiro de Bragança, MAS, Nordeste e CEPIHS) publicou Cravo na Boca (Teatro), Pedra Flor (Poesia) e A Morte de Germano Trancoso (Romance) tendo sido coautor nas seguintes antologias; Terra de Duas Línguas I e II; 40 Poetas Transmontanos de Hoje; Liderança, Desenvolvimento Empresarial; Gestão de Talentos (a editar brevemente).
Foi Administrador Delegado da Associação de Municípios da Terra Quente Transmontana, vereador na Câmara e Presidente da Assembleia Municipal de Torre de Moncorvo.
Foi vice-presidente da Academia de Letras de Trás-os-Montes.
É Diretor-Adjunto na Fundação Calouste Gulbenkian, Gestor de Ciência e Consultor do Conselho de Administração na Fundação Champalimaud.
É membro da Direção do PEN Clube Português.
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