Carla Alves, atual diretora regional, defendeu que o plano de Camilo de Mendonça mantém bastante atualidade. "Nestas nossas pequeninas explorações depois há dificuldades no acesso aos mercados. Estão muito pulverizadas. Foi isso que ele tentou fazer com este projecto: ajudar os pequenos produtores, ensinar-lhe a produzir e depois ajudá-los no escoamento. Esse tem sido outro grande problema e continua a ser. Muitos dos nossos produtores não produzem mais porque têm medo de depois não conseguir vender. Não precisamos de muitos mais planos nem de inventar nada. Precisamos de pôr em marcha este plano que está tão bem estruturado".
Natural do concelho de Alfândega da Fé o engenheiro agrónomo, político e dirigente cooperativo foi uma personalidade marcante no sector agrícola e industrial do século XX, tendo sido mentor e impulsionador dos grandes projectos nos anos 60 na região, como o Complexo Agro-industrial do Cachão, um conjunto de barragens e constituição de cooperativas. Um trabalho destacado por Manuel Cardoso, o penúltimo director regional de Agricultura e Pescas do Norte. "Impulsionou o estabelecimento de muitas cooperativas. Quando falamos no Cachão é uma forma redutora de nos referirmos àquilo que era o pensamento do engenheiro Camilo de Mendonça. Havia pessoas que pensavam que aquilo era megalómano. O futuro veio demonstrar que o Cachão de megalómano não tinha nada e que tinha inovação. Tinha exactamente aquilo que hoje em dia andamos à procura. Todas as estratégias que hoje pensamos faziam parte da marca 'Nordeste' que na altura se instituiu".
Apostar na valorização da qualidade dos produtos e na sua promoção é fundamental segundo Carlos Guerra. "O que se produz aqui é bom, sobretudo em qualidade. As associações, a Direcção Regional, o politécnico de Bragança e a UTAD têm uma política de controlo sobre a qualidade do que se produz, que, de facto, é a melhor garantia para passarmos à fase seguinte que é a tal fabulosa operação de marketing que precisamos para pôr isto no mercado".
Segundo o ex-director regional de Agricultura, António Ramalho, depois do declínio, o Complexo do Cachão não foi recuperado nos últimos anos devido ao centralismo. "Nós podemos fazer muitos planos regionais mas quem manda é Lisboa. Os programas são nacionais, não têm uma visão ajustada aos territórios".
Jorge Azevedo Considera que o Cachão pode ter um papel como laboratório para a agricultura do futuro na região. "O Cachão devia ser um laboratório de aplicação de todas estas tecnologias. Não só da agricultura de precisão como da zootecnia de precisão. Devia ser uma escola de extensionistas".
O ciclo de conferências começou ontem e decorre até dia 23 de Julho em vários concelhos transmontanos para debater o passado, presente e futuro da região, o setor agrícola, agropecuário, hídrico e os desafios das novas tecnologias e alterações climáticas.
Na sexta-feira, as comemorações do centenário de Camilo de Mendonça contarão com a presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
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