Hoje, Quarta-feira de Cinzas, as ruas de Bragança tornam-se palco de uma tradição única. A Morte, o Diabo e a Censura ganham vida e saem à rua para “perseguir” as pessoas. Embora a origem desta prática não seja clara, acredita-se que remonta à época medieval, segundo contou o investigador António Tiza.
“A atuação da morte na missa de quarta-feira de cinzas e depois, numa procissão, que acontecia logo a seguir à missa, a morte tomava parte nessa procissão, ameaçando as pessoas com a gadanha. Já nessa altura havia a personagem do diabo, que acompanhava a morte. Depois surgiu a outra figura, que é a censura, penso que é mais recente. Mas a morte e o diabo têm, provavelmente, origem medieval. Na parte da tarde, a morte e o diabo saíam à rua e faziam toda a espécie de tropelias ao ponto de a polícia ser chamada para manter a ordem”, explicou.
Atualmente, esta tradição já não é violenta e não passa de uma encenação. Ainda assim, a morte, o diabo e a censura vão andar por Bragança a castigar as raparigas com cintos.
A quarta-feira de cinzas marca o arranque da quaresma e o término de um intenso e colorido Carnaval que atraiu milhares de pessoas ao nordeste transmontano.
Multidões de vários pontos do país e até do mundo foram até Podence conhecer os caretos, Património Imaterial desde 2019. As cores da aldeia, graças à arte urbana pintada nas paredes das casas, e a gastronomia também não passaram ao lado. Para muitos, foi a primeira vez que viram os famosos mascarados, com fatos de lã às cores, a correr pelas ruas e a chocalhar as mulheres. Mas prometem que não será a última:
“Sou de Marco de Canaveses, vim de fim de semana e aproveitei para ver os caretos. É a primeira vez, sim”, contou uma visitante.
Esta tradição milenar esteve em risco de se perder, mas foi reavivada. O Entrudo Chocalheiro começou no sábado e terminou, ontem, com a queima do careto gigante. Segundo António Carneiro, presidente da Associação de Caretos de Podence, mais de 50 mil pessoas passaram por esta pequena aldeia transmonta nestes quatro dias:
“Quatro dias de muita folia, muitos visitantes, milhares. O Entrudo Chocalheiro é o maior evento de Trás-os-Montes. Consegue atrair visitantes de norte e sul do país, de Espanha, de todo o mundo e acho que nos dá mais força para continuar. Nem a chuva, nem o vento, nem a neve fez com que as pessoas se afastassem, principalmente domingo. Acho que é para continuar e precisamos de mais apoios a nível de infraestruturas”, disse.
Ontem o Carnaval também se comemorou em Vila Boa, Vinhais, com a visita às oficinas dos artesãos e às adegas e com o desfile de caretos, que terminou com a queima do entrudo. À noite não faltaram os casamentos.
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