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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 30 de junho de 2022

Olimpíadas Desportivas

 Realiza-se no próximo dia 17 de julho, a partir das 14h30, na antiga estação Ferroviária de Sendim, as Olimpíadas Desportivas do Concelho de Miranda do Douro.
Este evento está integrado nas Comemorações do Dia da Cidade e pretende promover os jogos tradicionais que ainda perduram nas Terras de Miranda. Para além disso, esta é também uma oportunidade de convívio para as pessoas das diversas freguesias que participam evento.
Data: 17 de julho
Hora: 14h30
Local: Antiga Estação Ferroviária de Sendim
Pago/Gratuito: Gratuito
Público alvo: Público em geral
Organização: Câmara Municipal de Miranda do Douro

Monsenhor Adelino Paes vai dar nome ao novo equipamento da Fundação Betânia

 A obra teve início há mais de uma década e está finalmente concluída. Alguns quartos já estão devidamente mobilados, assim como o refeitório, garantindo todas as condições necessárias para a sua entrada em funcionamento.


Estão concluídas as tão desejadas obras da Casa Monsenhor Adelino Paes, o novo equipamento da Fundação Betânia, Centro Apostólico de Acolhimento e Formação, em Bragança.

Moderno e muito funcional, o Centro de Acolhimento para Pessoas Idosas, possui todas as condições de conforto para garantir aos utentes um envelhecimento digno. Dispõe de 28 camas, divididas por quartos duplos, individuais e suites.

“Estamos muito orgulhosos com o resultado final. É um projeto que aguardou anos, mas finalmente está concluído, com todas e as melhores condições para cumprir a nossa missão: acolher e cuidar com máximo conforto e segurança as pessoas idosas que de nós necessitem” adianta a diretora da Fundação Betânia, Paula Pimentel.

A obra teve início há mais de uma década e está finalmente concluída. Alguns quartos já estão devidamente mobilados, assim como o refeitório, garantindo todas as condições necessárias para a sua entrada em funcionamento.

“No entanto, para conseguimos abrir a totalidade do equipamento e satisfazer as enormes necessidades que existem na nossa região, ainda falta parte do recheio e mobiliário, para equiparmos todos os quartos, nomeadamente camas articuladas, colchões anti escaras e têxteis para cama e banho” acrescenta a responsável.

A Fundação Betânia é uma instituição particular sem fins lucrativos, no concelho de Bragança, que luta diariamente para satisfazer todos os compromissos e garantir que nada falta aos utentes. Estes dois anos de pandemia, com as exigências sanitárias e o necessário reforço de pessoal, deixaram a Fundação numa situação financeira difícil.

A construção do Centro de Acolhimento para Pessoas Idosas não foi comparticipada com financeiro estatal; o mobiliário e o recheio não têm qualquer apoio, pelo que terá de ser a IPSS a suportar todo o investimento. “Por essa razão estamos a equipar o espaço aos poucos”, justifica. “Aliás, foi a falta de recursos financeiros para equipar o novo e harmonioso espaço que impediu a Betânia de abrir portas mais cedo”, acrescenta.

Estão abertas as candidaturas para a admissão de utentes. O novo equipamento vai, para já, funcionar como uma unidade privada, uma vez que ainda não existe protocolo com o Instituto de Segurança Social para comparticipação.

Paula Pimentel insiste que o espaço tem um cariz social e que “serão recebidos com o mesmo carinho e tratados com a mesma dedicação, utentes com mais ou menos recursos económicos”.

Dado o envelhecimento da população no nosso território, cada dia acentua mais a procura de respostas. A Betânia tem constatado sempre essa procura e, nesse sentido, criou esta nova estrutura residencial, desejando a sua abertura e assim poder estar, em pleno, ao serviço das famílias e da comunidade.

Este Centro de Acolhimento vai receber o nome de Casa Monsenhor Adelino, em reconhecida homenagem, total entrega, dedicação e humanismo cristão que conseguiu incutir nos serviços prestados pela Fundação Betânia, iniciada pelo Cónego Aníbal Folgado, na Diocese de Bragança-Miranda.

𝐄𝐬𝐩𝐞𝐭𝐚́𝐜𝐮𝐥𝐨 "𝐄𝐮, 𝐕𝐚𝐫𝐢𝐚𝐜̧𝐨̃𝐞𝐬"

 Dia 16 de julho, pelas 21H30, o Miniauditório de Miranda do Douro será o palco de "Eu, Variações", um espetáculo pulsante e ritmado que traduz o avassalador percurso da vida de António Variações, desde a infância à sua morte.

🎫 Entrada livre

Integrado nas Comemorações do Dia da Cidade, o Miniauditório será o palco de "Eu, Variações", um espetáculo pulsante e ritmado que traduz o avassalador percurso da vida de António Variações, desde a infância à sua morte.

Sobre o espetáculo: 
O espetáculo “Eu, Variações” assume um registo biográfico, sem pretender ser uma biografia, e musical, sem ser, verdadeiramente, um musical. O seu registo abarca ainda o contemporâneo, o teatro físico e tem laivos de comédia.
Traz a palco memórias de António Variações, o artista ímpar da música portuguesa, revivendo os 39 anos da sua história. Um espetáculo pulsante e ritmado que traduz o avassalador percurso da sua vida, desde a infância à sua morte. Propomos assim uma viagem em palco para acompanhar uma figura ímpar da música Portuguesa. 39 anos de vida retratados neste espetáculo que certamente ficará na memória de todos.
Espectáculo baseado no livro "António Variações entre Braga e Nova Iorque" de Manuela Gonzaga.

Uma produção Ali'Arte - Associação Cultural
Data: 16 de julho
Hora: 21h30
Duração: 60 min
Local: Miniauditório de Miranda do Douro
Pago/Gratuito: Gratuito
Público alvo: M/14
Organização: Câmara Municipal de Miranda do Douro

Miranda do Douro: Festa dos Pendões dá início às comemorações do 477º aniversário da cidade

 No próximo sábado, dia 2 de julho, vai celebrar-se em Miranda do Douro, a Festa dos Pendões “Pendones Alantre, La Mesma Tierra”, um desfile dos antigos estandartes identificativos das localidades, que dá início às comemorações dos 477 anos de elevação de Miranda do Douro a cidade (10 de julho de 1545).


Os pendões são estandartes retangulares, de grandes dimensões (as hastes que podem atingir 13 metros), com uma ou mais cores, que servem de distintivo de uma localidade e que geralmente encabeçam uma fileira militar ou uma procissão religiosa.

Em Miranda do Douro, a primeira festa dos pendões realizou-se em 2015, tendo nesse ano desfilado pela cidade cerca de 40 pendões, vindos das aldeias do concelho de Miranda do Douro e também da vizinha Espanha.

“Os desfiles de pendões são um espetáculo de cor, que vai embelezar a cidade da maior nobreza na celebração do seu dia maior”, assegura o município.

De acordo com o investigador, Alcides Meirinhos, da Associação da Língua e Cultura Mirandesa (ALCM), a tradição dos pendões remonta aos primórdios da nacionalidade portuguesa, ao tempo da reconquista cristã (séculos IX e X) e estes estandartes remetem para a identidade das localidades.

“Naquela época, os pendões eram símbolos identificativos das várias comunidades. Da mesma maneira que, hoje, a bandeira e o hino nacional identificam o povo português”, explicou.

Segundo o município de Miranda do Douro, a Festa dos Pendões – “Pendones Alantre, La Mesma Tierra” vai iniciar-se às 10h00 do próximo sábado, dia 2 de julho, junto ao Arquivo Municipal, seguindo-se o desfile pelas ruas da cidade.

A organização adianta que o desfile vai contar com a participação de 60 pendões vindos das aldeias do concelho de Miranda do Douro e das regiões espanholas de León, Aliste e Sayago.

“Com esta celebração, a autarquia mirandesa pretende revitalizar a tradição e uso dos pendões mirandeses que, não há muito tempo, existiam e eram orgulhosamente ostentados em todas as aldeias da Terra de Miranda, mas que, no presente, tem vindo a perder visibilidade, apesar de consubstanciarem um dos traços identitários históricos mais vincados do planalto”, informa o município.

O desfile dos pendões pelas ruas de Miranda do Douro vai concluir-se no jardim dos Frades Trinos, onde está programada uma cerimónia solene, às 12h00.

Segundo o município, os pendões existentes nos povoados de todo o território do antigo Reino de León, do qual a Terra de Miranda era parte integrante, teriam a sua origem nos pendões militares medievais que guiaram a reconquista cristã da Península Ibérica, os quais, ao perderem a sua função bélica, haveriam sido incorporados pela Igreja e integrados nos rituais religiosos e assim chegado aos nossos dias.

A festa “Pendones Alantre – La mesma Tierra” vai dar início às comemorações do 477º aniversário de elevação de Miranda do Douro a cidade (10 de julho de 1545). Para assinalar este aniversário, o município de Miranda do Douro programou uma série de atividades culturais, que vão decorrer de 2 a 17 de julho.

Assim, para além da festa inaugural dos pendões, o programa das comemorações do aniversário da cidade vai oferecer concertos, uma caminhada, espetáculos, exposições, apresentação de livros, a exibição de um filme, conferências, homenagens e outras atividades.

HA

Desafios da Digitalização no Interior

PÁSSAROS 1. Ressurreição?

 Vamos agora falar um pouco de pássaros, valeu? Pássaros, essas criaturinhas graciosas que quem diria que, a fazer fé nas proposições de Charles Darwin, são os descendentes bem-sucedidos dos feios répteis antediluvianos...

PÁSSAROS
1. Ressurreição?

 Já numa crónica que ficou para trás dei um lamiré sobre este tema, mas é bom que o desenvolva um pouco mais. 
 A palavra ‘pássaros’ tem que se lhe diga. Além do bem conhecido sentido geral, tinha no meu Trás-os-Montes um sentido restritivo. Pássaros, neste sentido restritivo, vinham a ser só aquelas aves de arribação, pequenos dentirrostros estouvados, que apareciam sobre o fim do Verão para a safra das amoras e da mosquitada, e que, por volta do dia de São Mateus, que cai a 21 de Setembro, pressentindo e temendo o frio que aí vinha, batiam asas e voltavam às terras de origem. ‘Pelo São Mateus, deixa os pássaros, que não são teus’, dizia o povo, sinalizando dessa forma o termo da época da caça com pescoceiras e costelas, que faziam neles grandes razias. Eram sobretudo tralhões, mas também mosqueiros, pardinhas, tanjasnos, papa-moscas e mais umas quantas espécies, que chegavam, engordavam e, se tivessem sorte, tornavam a partir rumo ao país de origem. Mas a verdade é que grande número deles encontrava cá a morte, esganados entre os arames das armadilhas que o rapazio armava pelas bordas dos lameiros fora, cevadas com formigas-de-asa, a que também se chamava aludas. 
 O povo engendrou mesmo uma conta curiosa a esse respeito. Segundo ele, nas suas migrações desencontradas, as andorinhas que partem encontram-se no caminho com os tralhões que chegam. E perguntam-lhes: ‘Onde ides, tralhões loucos, que ides muitos e voltais poucos?’ Ao que os tralhões respondem: ‘Donde vindes, andorinhas putas, que fostes poucas e voltais muitas?’ Humor retintamente trasmontano, como se vê. Há um certo desacerto quanto à época de migração — partida e chegada — das espécies envolvidas na conta, mas o que interessa é a realidade das matanças fini-estivais de tralhões e companhia, e da protecção quase supersticiosa de que as andorinhas gozam junto do povo trasmontano.
 Uma palavra também quanto às aludas. O nome faz-me irresistivelmente pensar que se trate de um arcaísmo, um desses particípios passados em ‘–udo’, como teúdo e manteúdo. Conheçuda cousa seja a quantos esta carta virem é fórmula muito encontradiça em forais e outros diplomas da Idade Média. A ter bom pé esta minha suposição, aluda vem a ser o mesmo que alada, isto é, dotada de asas. Um velho particípio passado que entretanto se substantivou. E na verdade é isso que as aludas são: formigas com asas. Bastante maiores do que as suas irmãs pedestres, saem em chusmas dos formigueiros logo após as primeiras chuvas de Setembro. Os rapazes apanhavam quantas podiam e metiam-nas em pequenas cabaças, juntamente com os cangos de uva com que as alimentavam, e cevavam com elas as pescoceiras, presas com crinas de cavalo, asno ou muar, à falta de melhor atilho. E aquele ébano movediço e luzidio era uma tentação fatal para os tais pássaros de que vimos falando. 
 Mas não é desses pássaros em sentido restrito que quero falar. Aliás, se falasse deles, seria para lamentar que praticamente já não os haja. Lá foram, embrulhados em pesticidas, para a região de onde se não volta mais. Quero falar, sim, de aves em geral — incluindo algumas que, à luz da taxonomia zoológica, a rigor nem pássaros são. 
 A rarefacção do mundo alado foi coisa que me inquietou durante muito tempo. Quando em férias calhava dar um passeio pelo campo — onde estavam os pássaros que na minha juventude tinha visto, bastos e conspícuos? A falta que eles faziam, com os seus gorjeios e bulício, acabrunhava-me e punha-me a antecipar com pessimismo o dia não muito longínquo em que terão desaparecido de todo.
 Porém, num domingo de Pascoela de já não me lembra bem que ano, mas que seria por finais do século passado — domingo que esteve radioso e convidava a ares amplos e andurriais da serra — descobri com surpresa e prazer, ao longo dos caminhos de Grijó, o que me pareceu ser a ressurreição da passarada. 
 Esta palavra ressurreição nada tem de intenção sacrílega, descansem os guardiões do templo. Mas quem já viu, como eu vi, aqueles mesmos campos silenciosos de morte e o céu vazio de voos, não pode deixar de exultar como se exulta diante duma verdadeira ressurreição de coisa boa que julgávamos extinta, seja ela o Filho de Deus, sejam os pássaros criaturas do mesmo Deus. Na verdade, a aleluia triunfal daquele domingo de Pascoela, nas faldas da serra de Bornes, tinha qualquer coisa do júbilo duma ressurreição, e sacrílego e blasfemo será aquele que a não entender assim. Ressurreição, sim senhor: das aves, que eu já dava por perdidas e incapazes de renascer das próprias cinzas, ao invés da sua irmã mitológica, a fénix. Parecia uma orquestra enlouquecida, em que cada executante se perdesse nas voltas da sua partitura, indiferente à partitura dos demais, uma babel de trinados que, no próprio caos, era bela, sabia bem e tranquilizava. A passarada estava de volta.
 O cuco ouvia-se ao longe, prognosticando maldosamente anos e anos de solteira a uma qualquer rapariga casadoira e insofrida que andasse entretida nas fainas da horta e caísse na asneira de lhe perguntar. Num galho de oliveira, poiso muito a seu gosto, o milharengo desfiava a sua cantilena sempre igual, muito enredada e baça, lembrando velha dona a dobar infindavelmente as suas meadas. Adiante, era um verdelhão que lançava da frança mais alta de uma árvore o seu tchrrr tu tu tu ocioso, seu modo de referir que o dia não estava mau de todo e que não valia a pena um sujeito andar com trabalhos escusados, antes apetecia catar-se do piolhinho nas raçadas de sol. O pachacim, ave mais irrequieta, acrobata sem igual (fora no trepar a festo nos troncos, que nisso quem dá cartas é a engatadeira), lá andava pendurado pelas galhas de pernas para o ar, bicando o seu insecto e tocando pratos: tchim-tchim-tchim. Do coruto de um choupo, o chinchalarraiz atirava o seu canto arrogante e cacarejado, como de perdiz rouca de tanto dar à taramela, a que outro respondia à distância. Perdido algures do interior de uma balsa, uma avezinha maviosa que não identifico nem sequer consigo enxergar, por muito que escogite, fazia malabarismos prodigiosos com a voz cristalina, toda em glissandos e trémulos, escala acima, escala abaixo, um autêntico exercício de virtuosismo. Enfim, de quando em quando, um melro saía impetuoso duma balça, a rir-se-nos na cara à gargalhada, o grande meliante, e a espargir salpicos de tinta-da-china sobre o verde dos lameiros.
 Todo um catálogo de pequenos cantores de que já esqueci os nomes, se é que algum dia os soube todos — corpos minúsculos onde parece milagre caberem vozes tão sonoras — davam graças pelo dia magnífico que estava e iam demarcando os seus domínios a malabarismos de garganta. 
 Todos estes bicos, pensei, cantavam de amor. Era altura de ajustar contas com o Eros dos bosques, de convir em acasalamentos, de fazer por perpetuar os genes. Os ornitólogos gostam de falar em territorialidade. Assim como se cada pássaro cantasse para demarcar os seus domínios, em jeito de quem diz: ‘Atenção, amigos, esta nesguinha de terra fui eu que a vi primeiro. Todas as suas ervas e bicharada miúda, todas as sementinhas que ficaram sáfaras do Inverno que passou, todos os galhos virados ao sol, tudo o que nela existe é cá do rapaz. Quem não quiser complicações nem rixas, que passe de largo’. Menos poético, sem dúvida. Mas no fundo vai dar tudo ao mesmo. O que as aves querem é afirmar-se e, afirmando-se, caçar na esparrela companheira com que, às urgências do sangue, cumpram o que o Criador lhes marcou no dia quinto da génesis: crescei e multiplicai-vos. É o que eles fazem, laboriosos, obedientes e canoros, com licença dos senhores ornitólogos.
 Eu, por mim, estava pasmado. Satisfeitíssimo, mas pasmado. Segundo todas as aparências, a passarada voltara, quando já todos limpávamos a garganta do pigarro para lhe cantar os responsos. Será que ela criou resistências aos pesticidas e ressurge gloriosa dos prenúncios de morte? Ou, melhor ainda, será que o senhor homem engendrou pesticidas menos danosos para a cadeia alimentar? Oxalá. Tanto ecologista a malhar em ferro frio, tanto cientista a provar por A+B a futura solidão do homem à face do planeta caso não arrepie caminho, tanto sinal dado pela mãe Terra de cansaço e rotura, bem pode ser que comecem enfim a dar os seus frutos no chão asséptico da consciência dos homens da bata branca.
 Já o disse muitas vezes, e repito-o hoje: o meu coração está com os ecologistas. Eles são hoje uma referência ética fundamental. E, por sorte, são abelhudos, isto é, metem o nariz em tudo, desmascaram, incomodam, são puros e duros, incorruptíveis, insubornáveis. Eles têm verdadeiramente um espírito de missão duma nobreza indiscutível: conservar a Terra habitável para os nossos filhos e netos e netos dos netos.
 Claro que os governantes não gostam nada deles, olham-nos de soslaio, como quem sabe que traz à perna um vigilante tenaz, atento e sempre disposto a denunciar os agravos feitos ao equilíbrio ambiental em nome de uma coisa a que chamam eufemisticamente progresso. E então, desesperados, dizem os governantes que os ecologistas são fundamentalistas radicais e que as coisas não são bem como eles as pintam. Pode calhar que tenham a sua migalhinha de razão. Mas, exagero por exagero, não serão eles também, governantes, excessivos? Onde não chegaria a delapidação dos recursos naturais e o atropelo do ambiente se ao exagero desenvolvimentista dos governantes se não opusesse o exagero moderador dos ecologistas? É possivelmente da dialética destes dois exageros que resulta o precário equilíbrio possível. Abençoados ecologistas, portanto. O meu coração está com eles.
 Veio tudo isto a propósito dos pássaros da serra de Bornes. Imaginem: quando saí de casa, ia a ruminar uma crónica sobre Grijó, e acabei por escrever de coisas que estão na última linha das preocupações da gente de Grijó, que anda nas hortas absorvida pelos trabalhos da rega e da reposição do cebolinho. Mas o Leitor compreenderá: as ideias são como as cerejas, puxa-se uma, saem meia dúzia agarradas pelo pé, que remédio senão comê-las. 
 Cerejas que, a propósito, não tarda que estejam maduras nos cerdeiros bravos dos caminhos da serra e sejam pretexto para novos e mais vibrantes hossanas da passarada contente. Quem me dera estar então por perto, só para ouvir!

(Continua.)

A M Pires Cabral

Baixo Sabor apela à reativação urgente da Secção do Municípios com Barragens da ANMP

 O presidente da Associação de Municípios do Baixo Sabor (AMBS), Eduardo Tavares, disse que hoje que é “urgente” a reativação da Secção dos Municípios com Barragens, um organismo que integra a Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP).


“Tivemos uma reunião, recentemente, com os responsáveis pela ANMP para lhe transmitir que é urgente reativar a Secção de Municípios com Barragem que integra este organismo [ANMP] e vamos continuar a insistir para que isso aconteça”, disse à Lusa o autarca do distrito de Bragança.

De acordo com Eduardo Tavares, a reativação da Secção de Municípios com Barragens da ANMP é um assunto que diz respeito a todas as autarquias que tenham centros eletroprodutores do seu território.

A Secção de Municípios com Barragem da ANMP integrava cerca de 90 autarquias de todo país até às últimas eleições autárquicas.

Contactada pela Lusa, a ANMP esclareceu que “a Secção de Municípios com Barragens existe e pode funcionar a qualquer momento, se os municípios que a integram assim o desejarem e comunicarem àquela entidade”.

Eduardo Tavares refere ainda que é preciso voltar à mesa das conversações para resolver problemas que afetam os municípios com barragem, como a criação de fundos de compensação ou melhoramento das fórmulas de pagamento aos municípios parte da EDP ou outras concessionárias.

"Aproveitamos esta reunião para transmitir à ANMP as alterações à fórmula do financiamento do Fundo Baixo Sabor (FBS) por parte da EDP e que em determinados anos poderia dar valores negativos para as quatro autarquias do Baixo Sabor”, exemplificou o também presidente da câmara de Alfândega da Fé.

O Fundo Baixo Sabor (FBS) é um instrumento financeiro que está previsto na Declaração de Impacto Ambiental (DIA) e na avaliação comparada dos aproveitamentos hidroelétricos do Alto Côa e Baixo Sabor, emitida a 15 de junho de 2004.

O FBS foi criado no âmbito da Avaliação de Impacto Ambiental do Aproveitamento Hídrico do Baixo Sabor (AHBS), com a missão de financiar iniciativas que promovam o desenvolvimento sustentável e a conservação da natureza e da biodiversidade.

No documento ficou expresso que o FBS teria um financiamento de 3% sobre a receita líquida do AHBS.

Este fundo aposta na valorização ambiental dos recursos naturais e patrimoniais da região de implantação do AHBS e áreas naturais envolventes, com particular destaque para compensação e recuperação do custo ambiental causado pela construção e operação do empreendimento hidroelétrico do Baixo Sabor.

Outras das preocupações manifestadas pelos autarcas de Torre de Moncorvo, Alfândega da Fé, Mogadouro e Macedo de Cavaleiros, que integram a AMBS, foi a falta de solidariedade da ANMP na defesa dos interesses desta associação.

“Fomos prejudicados quando a ANMP assinou um protocolo com a EDP que foi financiado com cinco milhões de euros / ano e os quatro municípios do Baixo Sabor ficaram de fora desse documento. Isto é inaceitável para o território, e isso já foi transmitido à associação de municípios”, vincou o autarca transmontano.

A albufeira do Baixo Sabor estende-se ao longo de 60 quilómetros, desde a zona da barragem até cerca de 5,6 quilómetros a jusante da confluência do rio Maçãs com o rio Sabor, ocupando áreas dos concelhos de Torre de Moncorvo, Alfândega da Fé, Mogadouro e Macedo de Cavaleiros.

UNIVERSIDADE SÉNIOR DE MOGADOURO

 Entre 01 e 29 de julho, venha conhecer os trabalhos  executados pelos alunos da nossa Universidade Sénior ao longo deste ano letivo.

Corporações de Macedo e Miranda recebem viaturas todo o terreno oferecidas pela REN

 Os Bombeiros Voluntários de Miranda do Douro e Macedo de Cavaleiros receberam carrinhas pickup da REN- Redes Energéticas Nacionais.


O apoio faz parte de uma candidatura submetida pelas corporações. O comandante dos Bombeiros de Macedo, João Venceslau, diz que há três anos que precisam desta viatura. “Esta viatura acaba por colmatar uma falha que tínhamos no nosso parque de veículos, ocasionada por um acidente que ocorreu há três anos. Acaba por ser um veículo idêntico ao que teve o acidente que por sua vez ia ao encontro das necessidades da população”, afirmou.

A pickup é utilizada na época de incêndios, mas também no inverno no apoio à população.

Não é a primeira vez que os Bombeiros de Miranda do Douro se candidatam ao apoio, mas só este ano foram seleccionados. O comandante, Luís Martins, realçou a importância desta carrinha para a corporação. “As corporações não andam a nadar em dinheiro e seria impossível a corporação neste momento despender dinheiro para comprar uma viatura deste tipo. Era uma viatura que fazia falta, sempre que o comando sai, temos de fazer o reconhecimento, tem de andar no monte e precisamos de uma viatura de todo o terreno”, sublinhou.

Desde 2009, a REN já distribuiu 60 veículos a corporações de Bombeiros e 29 a equipas de prevenção de incêndios da protecção civil. Em comunicado, a empresa informou que este ano durante toda a época de incêndios tem “seis equipas de prevenção e vigilância, disponíveis 24 horas/dia, 7 dias por semana” com equipamento que lhes permite “fazer uma primeira intervenção de combate aos focos de incêndio”.  

Escrito por Brigantia

EXPOSIÇÃO FOTOGRÁFICA "CARRAZEDA DE ANSIÃES - PAISAGENS, PATRIMÓNIO E GENTES"

 A exposição fotográfica da autoria de João Paulo Cabral e João Bernardo Cabral intitulada “Carrazeda de Ansiães – Paisagens, Património e Gentes” já se encontra em exibição.
De 27 de junho a 30 de setembro na Sala de Exibições Temporárias do Centro de Inovação Tecnológica Invoarural de Carrazeda de Ansiães (CITICA), o visitante pode viajar pelas paisagens, património físico e imaterial das gentes carrazedenses.

Pode visitar a exposição de segunda a sexta das 9h00 às 12h30 e das 13h30 às 17h00

Sábados e domingos, vistas por marcação através da Loja Interativa de Turismo (LIT).

Cruz Vermelha de Bragança com projecto para ajudar jovens na entrada no mundo do trabalho

 Ajudar os jovens a entrar no mundo do trabalho e a ter bases digitais é o objectivo do novo projecto da Cruz Vermelha de Bragança.


A delegação tem agora disponível uma plataforma online, chamada +Competências, e vai começar a recrutar utilizadores junto das escolas. O presidente da Cruz Vermelha de Bragança, Duarte Soares, explica que os participantes terão acesso a formações durante quatro semanas que ajudarão na procura de emprego:

“Estamos a falar de ‘soft skills’ competências informais, que muitas vezes são desvalorizadas pelas instituições que nos dão a formação mais técnica, mas que depois no mercado de trabalho são muito importantes até ao nível do acesso ao mercado de trabalho, nas próprias entrevistas, falamos de questões como a auto-confiança, a capacidade de resolução de problemas”, explica.

Inicialmente serão recrutados jovens do ensino secundário e mais tarde do ensino superior. Mas quem quiser aderir à plataforma, basta contactar a Cruz Vermelha de Bragança.

A Cruz Vermelha de Bragança é a primeira delegação a implementar a plataforma online. Vai recrutar cerca de 300 jovens nos próximos meses de parcerias já estabelecidas com os agrupamentos escolares do distrito.

Escrito por Brigantia
Foto: CV Bragança
Jornalista: Ângela Pais

quarta-feira, 29 de junho de 2022

Mirandela recebe este fim de semana a XXIV Concentração Motard

 As mais belas máquinas e os amantes dos veículos de duas rodas juntam-se de 01 a 03 de julho no Parque Dr. José Gama.
No tradicional passeio noturno que percorre as ruas da Cidade Jardim, a realizar no dia 2 de julho, pelas 22:30h, a partida do desfile será feita na Av. Princesa do Tua (junto ao Santuário de N. Sra. do Amparo) e seguirá pela Ponte Velha. 

Aquando o regresso ao recinto da Concentração, por motivo das restrições preventivas aplicadas à circulação na Ponte Eng.º Machado Vaz, esta será atravessada por grupos de 50 veículos.

Movimento ‘Terra de Miranda’ ameaça com tribunal

ARQUEÓLOGA CONSIDERA QUE PARQUE EÓLICO DE MIRANDELA PODE TRAVAR CANDIDATURA A PATRIMÓNIO MUNDIAL DA HUMANIDADE (UNESCO) DAS PINTURAS DA SERRA DOS PASSOS/SANTA COMBA ENGLOBADAS EM MAIS 3 NÚCLEOS DE ESPANHA

 Maria de Jesus Sanches, uma das maiores referências da arqueologia, em Portugal, considera que a instalação do parque eólico na Serra dos Passos/Santa Comba, no concelho de Mirandela, pode comprometer uma possível candidatura a Património Mundial da Humanidade da UNESCO das pinturas pré-históricas existentes naquela área que alguns investigadores e arqueólogos estavam a pensar avançar num contexto mais abrangente em conjunto com mais três núcleos na vizinha Espanha.


A arqueóloga coordenadora da equipa que descobriu as várias figuras pintadas nos abrigos da serra dos Passos/Santa Comba, faz questão de ressalvar que a instalação do parque eólico, “tal como está formulado, não coloca em perigo os painéis conhecidos, ou seja, sob o ponto de vista da investigação, o parque não é um óbice, não destrói nada”, afirma.

No entanto, Maria de Jesus Sanches adianta que, há cerca de dois anos, “alguns investigadores estão a trabalhar no inventário para uma candidatura a património da humanidade da UNESCO de um conjunto de quatro núcleos”, um deles da serra dos Passos/Santa Comba, o único em Portugal que concentra cerca de meia centena de abrigos com pinturas do período da pré-história (do Neolítico e do Calcolítico).

Aqui sim, Maria de Jesus Sanches não tem dúvidas que o parque eólico vem deitar por terra essa possibilidade. “O núcleo da Serra de Passos/Santa Comba é o mais ocidental de outros três de Castilha e Leon, que são o de Las Batuecas, o El Duraton e o El Balonsadero e o objetivo era ser uma candidatura conjunta como aconteceu com a pintura esquemática da área mediterrânea, classificada em 1998. Sob este ponto de vista, o parque eólico impede que o conjunto seja tido como um todo”, reconhece.

A arqueóloga acrescenta que o núcleo da serra dos Passos/Santa Comba era de extrema importância para o sucesso da candidatura à UNESCO. “A parte mais importante é que os abrigos pintados correspondem a uma ocupação humana no local, com o buraco da pala, os povoados e até dois castros, ou seja, é uma referência para as comunidades que ao longo de toda a história viveram ali à volta e na própria serra, pelo que não se pode partir uma unidade aos bocados com pinturas do lado nascente, sul e do poente e no centro um parque”, refere.

Maria de Jesus Sanches deixa entender que há várias atividades que são feitas com regularidade na serra que podem vir a ser prejudicadas com a instalação do parque eólico. “Há a presença física na serra que tem um dos maiores centros de escalada, de geocaching, de parapente e de caminhadas”, lembra.

A arqueóloga revela ainda que Direção Regional de Cultura, que é a Tutela do Património Cultural, em função do trabalho realizado até 2014, “achou pertinente propor o alargamento da área classificada e, por outro lado, continuámos a nossa investigação, de modo que a área proposta na altura para classificação já não engloba toda a realidade conhecida até ao presente. E nessa medida estávamos a finalizar os documentos para novo alargamento, que abrangeria toda a Serra pois a condição cimeira para que um Património Cultural Material seja classificado pela Unesco é que esteja classificado nos seus países de origem”, conclui.

CÂMARA DESCONHECE CANDIDATURA

Confrontada com estas declarações, a presidente da câmara de Mirandela reitera que o património classificado fica salvaguardado com a instalação do parque eólico e que não tinha conhecimento oficial de qualquer candidatura a património mundial da Humanidade da UNESCO. “Desde 1986 que há várias investigações na serra e até agora nunca foi sequer mencionada a questão da candidatura da UNESCO. O que foi dito nas recentes jornadas de arqueologia aos investigadores e arqueólogos é que houvesse essa participação ao nosso PDM porque sob o ponto de vista jurídico a câmara municipal tem de cumprir o que está preconizado no PDM e em outros instrumentos de gestão territorial e estamos sempre reféns daquilo que está protegido e efetivamente o valor patrimonial que foi classificado e que está em vias de classificação está protegido. Relativamente à candidatura, pelo que me dizem os serviços municipais é que nunca houve essa pretensão”

A autarca acrescenta que existem opiniões muito divergentes sobre esta questão da compatibilidade das pinturas da serra com a instalação do parque eólico. “Por exemplo em Foz Coa, efetivamente não era compatível porque as gravuras ficavam debaixo de água, mas neste caso, há opiniões divergentes naquilo que é a compatibilidade de usos múltiplos da serra, quer para fins de atividades desportivas, quer para fins turísticos. Por exemplo, a escalada que segundo dizem tem condições ótimas na serra, mas que é muito perigosa para as pinturas e portanto há atividades que estão neste momento a acontecer que são ainda mais violentas para aquilo que é o nosso património”, conclui.

A instalação do parque eólico de Mirandela na Serra dos Passos/Santa Comba continua a ser alvo de diversas reações

Artigo escrito por Fernando Pires
(jornalista)

IV Convívio Motorizadas Antigas

Cultura & Ensino | Orquestra Sinfónica ESPROARTE encerra estágio com a pianista Maria Barreira

 O concerto tem data marcada para o próximo dia 30 de junho, pelas 21 horas, no Centro Cultural de Mirandela e a entrada é livre.

🎼 Programa

Cármen Suite n°1 de George Bizet.
Concerto para piano e orquestra em Lá menor op. 16 de E. Grieg 
Maria Barreira, piano
OSE - Orquesta Sinfonica ESPROARTE
Gustavo Delgado, maestro

"Verão em Carrazeda"

 O Município de Carrazeda de Ansiães informa que estão abertas as inscrições para a Mostra de Produtos Regionais inserida na atividade "Verão em Carrazeda".
Pode ter acesso às Normas de Participação e Ficha de Inscrição na página institucional do Município de Carrazeda de Ansiães ou AQUI.

𝗘𝘀𝗽𝗲𝘁𝗮́𝗰𝘂𝗹𝗼 𝗱𝗲 𝗔𝗽𝗿𝗲𝘀𝗲𝗻𝘁𝗮𝗰̧𝗮̃𝗼 𝗱𝗮 𝗘𝘀𝗰𝗼𝗹𝗮 𝗠𝘂𝗻𝗶𝗰𝗶𝗽𝗮𝗹 𝗦𝗮𝗯𝗼𝗿 𝗔𝗿𝘁𝗲𝘀

Os patifes

Tenho para mim que se eu mencionar aquele patife que você caro leitor ou leitora conhece, logo cada qual identificará alguém que assim considera. Por entre os muitos que conhecemos só de nome ou pessoalmente, há sempre alguém em que se coloque tão indesejável etiqueta.

Está nos livros. Quer dizer, assim como também está que qualquer um de nós é suscetível de assim ser tido por alguém e algures com razão ou sem razão, pois isto das opiniões, é como dizia o outro, cada qual tem a sua e se a quiser dar tem toda essa liberdade desde que não abuse.

No entanto, e seja como for, é certo e sabido que hoje em dia, o sentimento mais geral é que o mundo está cheio de patifes e que chove nele como na rua, pois chegamos a um ponto em que se perdeu a noção do que é certo e do que é errado, dando-se até o caso de somente existir vergonha quando as patifarias são colocadas ao léu.

Até aí, qualquer patife o pode ser pavoneando a sua magnificência vaidosamente exibida sob a forma de luxo, mesmo que a maioria saiba que a vida não pode ser feita e vivida com atitudes ao nível do lixo. Tudo se desculpa, tudo se finge, desde que as patifarias não afetem e não cerquem o redor individual e os interesses mais imediatos.

O resto são cantigas sem moral e sem costumes. O problema, é que infelizmente parece que as modas tendem a virar usos mesmo com muitos abusos. Por isso é que vai esbatendo a fronteira concreta entre o certo e o errado e se vai perdendo a noção entre a verdade e a mentira, entre o que é certo e o que é errado.

Voltando aos patifes. Como disse, há aqueles que estão mesmo ao virar das esquinas dos nossos quotidianos nas ruas da nossa cidade, vila ou aldeia, e há aqueles que estão longe, com quem nunca nos cruzamos nem no trânsito, mas que são os que mais influenciam o nosso modo de vida.

Nisto, permitam que vos diga que são muitos e estão em toda a parte com muito engenho e com muita arte. Por isso, devido a eles, é que o mundo está prestes a tombar e mesma a desconchavar-se. Espero estar engando, começamos a ter razões para ficarmos pálidos e com as almas caiadas de negro.

Vai-se-nos esmorecendo a esperança num mundo cada vez melhor como nos prometeram e como podia perfeitamente ser. Condições quase absolutas e objetivas não faltam. Cria-se cada vez mais riqueza a toda a hora, existe suporte, mas o problema são os patifes travestidos de gente séria e de visão alargada.

No decurso das últimas décadas fomos incautos. Permitimos que os patifes ascendessem e reluzissem. Deixamos que nos tomassem por lorpas quando eles se disseram iguais a nós e se mostraram preocupados com o nosso bem, ainda que no fundo soubéssemos não se importavam nem importam com o nosso mal.

Agora estamos nisto. Na Rússia o patife maior entre os patifes, acende o lume mesmo ao lado do barril da pólvora que pode mandar tudo pró maneta e apavora a seu bel-prazer. Na América o patife mor com cabelo alaranjado, espalha o seu rasto e leva milhões numa viagem mental até ao tempo dos índios e dos cobóis.

Veremos como diz o cego. Mas quanto aquilo dos patifes. Deixe que lhe diga a si que chegou até aqui no seu ler, que de modo algum acho que o é, porque se o fosse, digo eu, me abandonava lá mais atrás. Para aí no meio. Caso me ache digno, dê-me a mão e vamos em frente.

Os patifes jamais vencerão.

Manuel Igreja

Alfândega da Fé prepara-se para recorrer a regadio para garantir água à população

 A água armazenada para regadio está a ser analisada como solução para garantir o abastecimento, durante o verão, à população de Alfândega da Fé, no distrito de Bragança, disse hoje o presidente da Câmara.


Em declarações à Lusa, o autarca Eduardo Tavares assegurou que a campanha agrícola tem a rega assegurada e que será precisamente o reserva para regadio que ajudará a resolver a “situação bastante complicada” que se perspetiva em relação ao abastecimento da população de parte deste concelho do distrito de Bragança.

O mês de julho será decisivo para a tomada de decisões, mas o município coloca já a possibilidade de ir buscar água à barragem de regadio da Estevainha para suprir as faltas na barragem de Sambade que serve para abastecimento humano.

“Podemos ter que transportar água da Estevainha para Sambade ou até instalar uma ETA (Estação de Tratamento de Água) móvel na barragem da Estevainha para fornecer água tratada a uma parte do nosso concelho”, concretizou.

O autarca explicou à Lusa que “as Águas de Portugal também estão a fazer as suas projeções, estão a avaliar custos” e que o município está “a aguardar que saiam algumas medidas por parte do Ministério do Ambiente” para “ter dinheiro para estas medidas que vão ter que ser implementadas”.

“Esta sim é uma dificuldade, uma preocupação ainda maior, neste momento, que a utilização para rega e, nessa medida, obviamente estamos preocupados e estamos também a trabalhar com as Águas de Portugal, com as entidades oficiais, no sentido de salvaguardar o abastecimento humano”, salientou.

O município está, entretanto, como disse o autarca, a tentar “sensibilizar a população, os agricultores” para a necessidade de “poupar água, regar menos, usar melhor a água, de forma mais eficiente”.

“Para ver se conseguimos ultrapassar este verão e aguardar que as condições climatéricas também melhorem e que, no próximo outono/inverno, tenhamos chuva e água em quantidade para repor os volumes armazenados nas barragens”, acrescentou.

A barragem que se assume como a solução para os problemas causados no abastecimento humano, a da Estevainha, “não está bem, está longe da sua capacidade máxima”, como referiu o presidente da Câmara, ressalvando, contudo, que tem água armazenada para assegurar o regadio.

“Olhando ao cenário da região e de outros regiões e de outros perímetros de rega, podemos dizer que temos água para esta campanha, obviamente tem que haver aqui cautelas, tem que haver aqui um plano de contingência que já temos vindo a trabalhar com a associação local para a sua implementação e já tivemos algumas ações”, vincou.

O perímetro de rega deste aproveitamento hidroagrícola abrange pomares de cereja e outros frutos, amendoais, olivais e hortícolas e foi reabilitado em 2012, com resultados que Eduardo Tavares destacou.

“Deu uma eficiência, uma sustentabilidade muito grande à rede de rega e felizmente que conseguimos, por isso, ser mais resilientes à seca, e este ano, apesar das dificuldades, prevemos ter água para a campanha toda”, declarou.

O Governo reconheceu na segunda-feira oficialmente a existência de uma situação de seca severa e extrema agrometeorológica em todo o continente, “o que consubstancia um fenómeno climático adverso, com repercussões negativas na atividade agrícola”.

Em despacho publicado na segunda-feira em Diário da República, citam-se os dados de monitorização agrometeorológica e hidrológica para se dizer que a situação de seca no continente, após ligeira melhoria nos meses de março e abril, “voltou a apresentar um agravamento significativo nos meses de maio e junho de 2022 com consequentes impactos negativos na atividade agrícola”.

Portugal continental estava em maio com cerca de 97,1% do território na classe de seca severa e 1,4% na classe de seca extrema. “Esta situação sofreu um agravamento na 1.ª quinzena de junho com a totalidade do território continental em situação de seca severa ou extrema”, diz-se no documento.

Vimioso: Gisela João vai cantar na igreja matriz

 No próximo dia 9 de julho, a Igreja matriz de Vimioso vai ser o palco do concerto da fadista, Gisela João, um evento que faz parte do “Festival Improvável” promovido pela comunidade intermunicipal Terras de Trás-os-Montes (CIM-TT), com os objetivos de divulgar o património cultural dos nove municípios que a integram e promover o turismo na região.


A partir de 8 de julho, os municípios de Mogadouro, Vimioso, Bragança, Mirandela, Miranda do Douro, Alfândega da Fé, Macedo de Cavaleiros, Vinhais e Vila Flor vão ser palcos de concertos e de outras atividades culturais, com o propósito de destacar o património aí existente e promover o turismo nos nove municípios que integram a Comunidade Intermunicipal – Terras de Trás-os-Montes (CIM-TT).

O festival vai iniciar-se no dia 8 de julho, com a atuação de Miguel Moura, no largo do Convento de São Francisco, em Mogadouro.

No dia 9 de julho é a vez de Vimioso acolher o “Festival Improvável Terras de Trás-os-Montes, às 20h00, com a visita teatral à Igreja matriz de Vimioso. No decorrer desta visita guiada o público poderá conhecer um pouco mais da história do templo do século XVII. Finalizada a visita segue-se o “Espetáculo Bitocas com a comunidade local”. E o grande destaque do festival em Vimioso é o concerto da fadista, Gisela João, às 21h30.

Nos dias seguintes, o festival prossegue em Bragança (dia 15 de julho), Mirandela (22 de julho), até chegar a Miranda do Douro, no dia 23 de julho.

Na cidade de Miranda do Douro, está agendada uma visita à Concatedral, seguida do espetáculo “Coração nas mãos”, com a comunidade local. Às 21h30, vai realizar-se o concerto do grupo “Cais do Sodré Funk Connection”.

O festival “Improvável Terras de Trás-os-Montes” é uma iniciativa da CIM-TT e é co-financiado pelo programa Norte 2020 e UE, através do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional.

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POR TERRAS DE CAVALEIROS AS PAISAGENS TAMBÉM CONTAM HISTÓRIAS

 O concelho tem três selos da UNESCO, um atribuído ao Geopark Terras de Cavaleiros, outro aos Caretos de Podence e o terceiro é garantido enquanto parte integrante da Reserva da Biosfera da Meseta Ibérica. É o concelho do distrito mais recente, mas nem por isso com menos história e com testemunhos geológicos únicos, sendo possível ver rochas da crosta marítima à superfície


Uma autêntica imagem de marca do concelho, o Azibo tem a única praia sete maravilhas de Portugal a norte do Tejo, a praia da Ribeira. Tanto esta como a praia da Fraga da Pegada ostentam há vários anos bandeira azul. A zona balnear fluvial atrai cada vez mais pessoas, o que se notou em particular durante a pandemia.

Tem também servido de plataforma para a criação de novos negócios. António Teixeira aproveitou o espelho de água e há três anos criou a empresa Azibo Solar Boat, que proporciona passeios de barco. “Conseguimos mostrar a paisagem natural da albufeira do Azibo e temos vários programas, como passeio com mergulho, que permite saltar do barco para a água, muito apetecível para famílias e crianças. Também temos o sunset, depois do passeio ficamos, na hora do pôr do sol, à espera que termine o dia”, explica.

A actividade recreativa permite dar a conhecer a barragem de outra forma. “As pessoas ficam surpreendidas, com a beleza da albufeira. Porque por norma ficam logo nas praias, a principal atracção, e com os nossos passeios conseguem chegar a sítios onde normalmente não chegariam e vamos mesmo a lugares que por terra não há possibilidade de conhecer”, refere o empresário.

Apesar de pessoas da região terem a curiosidade de fazer o passeio de barco, no Verão a maioria dos visitantes é de fora, em maior número do litoral, grande Porto, Minho e Centro. Já nos últimos dois anos começaram a chegar também de outros pontos. “Foi a grande mudança que notei em relação a antes da pandemia, ter mais gente do Sul, não me apercebi de mais gente, mas sim de outros sítios que normalmente não vinha”, referiu.

Mais pessoas preferem fazer férias no interior, mas António Teixeira considera que o clique se deu com a pandemia, já que “as pessoas não viajavam para fora e vieram descobrir outras regiões, como o interior e nomeadamente o Azibo” e espera que esta tendência se possa manter.

As embarcações são amigas do ambiente, já que são movidas a painéis solares, acumulando energia nas baterias, que faz andar os barcos, de forma a respeitar a área protegida.

Este ano pela primeira vez, foi hasteada a Bandeira da Rede de Estações Náuticas de Portugal no Azibo, coordenada pelo Fórum Oceano.

Caretos: de tradição em risco a Património Imaterial da Humanidade

Outro dos ex-libris do concelho é o Entrudo Chocalheiro e os Caretos de Podence, reconhecidos em 2019 pela UNESCO com Património Cultural e Imaterial da Humanidade.

É uma das tradições mais reconhecidas entre as festividades de Inverno de Trás-os-Montes. No domingo Gordo e na terça-feira de Carnaval, as figuras, representações diabólicas, saem à rua desde épocas que se perdem no tempo, com fatos feitos a partir de mantas de lã e com franjas coloridas, máscaras vermelhas e agitam freneticamente os chocalhos à cintura, com os quais chocalham as raparigas.

A distinção desta festa tradicional trouxe mais reconhecimento e foi ainda possível comemorar em Março de 2020 o carnaval na aldeia, que contou até com a presença do Presidente da República.

A partir daí, com o confinamento e restrições da pandemia, a associação Associação Grupo de Caretos de Podence virou-se para a localidade, com a pintura de vários murais, para tornar a aldeia mais colorida de Portugal. “Em vez de chocalharmos de Norte a Sul do país, em 2020 e 2021, foi a marca que quisemos deixar. Há muita gente a visitar Podence, neste momento, é das aldeias mais visitadas no Norte de Portugal, e isso talvez tenha sido o selo que a UNESCO nos deu”, sublinha António Carneiro, presidente da associação.

Este é o exemplo de uma tradição que esteve em risco de desaparecer e que foi revitalizada e potenciada. Antes do 25 de Abril dois factores fizeram com que “a tradição estivesse quase morta ou moribunda”: a emigração de jovens e a guerra colonial. O próprio antigo regime “não via com bons olhos estes rituais”. Mas depois da realização do filme documental “As máscaras”, de Noémia Delgado, em 1976, em que também surgem os Caretos de Podence, “houve uma outra dinâmica com mais jovens a interessar-se pela tradição”, reconhece António Carneiro, que entende que o que também contribui para esta revitalização são as saídas dos caretos, “não só no Carnaval, mas noutras alturas, fazem animações em qualquer parte do mundo, desde a Colômbia até Macau e toda a Europa, os jovens aproveitam os rituais, mas dá para fazer lazer”.

Um dos papéis da associação foi manter a matriz dos trajes, que ainda continuam a ser feitos nas colchas antigas, definindo as três cores são características: vermelho, verde e amarelo. “Num determinado período já havia muitas cores, azul, cor-de-rosa, mantivemos as três cores, que eram as originais e hoje em dia são reconhecidas em qualquer parte do mundo”, afirma.

Actualmente, o núcleo do Grupo de Caretos são mais de 20 pessoas, mas no Carnaval há cerca de 100 mascarados em Podence, incluindo os emigrantes que fazem questão de vir todos os anos.

A associação pretende dar sustentabilidade à tradição e mantê-la dentro da sua identidade, assim como procurar mais apoios em termos de infraestruturas para a aldeia, que todos os anos recebe milhares de pessoas. “No último Entrudo, que se fez de forma mais aberta, houve muitos visitantes de várias partes do mundo, desde os EUA, até ao Japão e à China, para o Carnaval que é autêntico e genuíno”, recorda, por isso uma das soluções propostas é receber em Podence o Pavilhão de Portugal na Expo Dubai, para receber com melhores condições os visitantes, mas também criar um museu da máscara que englobasse todas as festividades com máscara de Portugal e da própria Europa. “A pretensão está em cima da mesa, mas há 5 municípios interessados em recebê-lo”, refere.

O Umbigo do Mundo num Geopark

O primeiro selo da UNESCO para o concelho chegou em Setembro de 2014, com o reconhecimento do Geopark Terras de Cavaleiros.

O património geológico único, que permite percorrer milhões de anos na história da Terra, aliada às tradições e gentes, garantiram o reconhecimento. E desde aí, há quase 8 anos, tem despertado interesse de geólogos e estudiosos da área. “Temos mais universidades e escolas a procurarem-nos. A procura científica é muito grande, temos uma visibilidade internacional que o símbolo UNESCO nos concede. Também notamos que existe uma procura específica sobre o geoturismo, pessoas que vêm para procurar praticar actividades de geoturismo, querem ver os nossos geossítios, perceber a nossa geologia”, afirmou Antónia Morais, coordenadora executiva Geopark.

Há mesmo várias solicitações de alunos de universidade nacionais e estrangeiras para fazer estágios, teses de mestrado e até “um aluno de uma universidade holandesa que vem em Agosto iniciar uma tese de doutoramento sobre geoturismo”.

O ponto central do geoparque, que corresponde à área administrativa do concelho de Macedo de Cavaleiros, é o maciço de Morais, que conta uma história de um fenómeno geológico que aconteceu há mais ou menos 300 milhões de anos, na formação do supercontinente Pangeia, do choque de todos os continentes, que deixou à superfície rochas oceânicas que deviam estar a dezenas de metros de profundidade. Aqui podemos levar à letra as palavras de Miguel Torga, quando fala do “oceano megalítico” e do “mar de pedras”, ao descrever o Reino Maravilhoso. “O oceano foi comprimido e obrigado a subir para uma crosta continental, empurrado até Trás-os-Montes. Por norma o oceano é destruído em zonas de subducção, porque as rochas que constituem o oceano são mais densas”, afirma Pedro Peixoto, geólogo do Geopark. Foi o que aconteceu à maior parte, que desapareceu para o interior da terra, “mas uma pequena porção escapou e foi empurrada para cima de outro continente”, sendo que o choque continuou e obrigou uma porção do outro continente a, por sua vez, também subir para cima deste oceano.

O resultado é visível no Maciço de Morais, que inclui “testemunhos geológicos de dois continentes diferentes e de um oceano”. O fenómeno pouco vulgar, que aconteceu numa mão cheia de locais no mundo, permite ver estas rochas que deveriam estar situadas no interior da crosta oceânica.

Mesmo com os vários ciclos geológicos que a terra já travessou “é extremamente raro” encontrar esta riqueza geológica. “É como se fizéssemos um corte numa crosta oceânica ou continental e conseguimos ver, à superfície, todas as camadas que existem, evidenciadas em geossítios. Há poucos sítios no mundo onde conseguimos ver num pequeno espaço, como o Maciço de Morais, amostras de dois continentes e um oceano, daí a raridade”, destaca ainda o geólogo.

É mesmo apelidado de umbigo do mundo, expressão usada por um geólogo, já que na carta geológica destaca-se um ponto redondo que parece um umbigo, na zona do Monte de Morais, que é onde se concentra a maior parte das rochas exóticas que não deveriam estar à superfície.

Dos 43 geossítios (o último foi recentemente validado) os quatro principais, de relevância internacional, são a descontinuidade de Conrad e Moho, os Gnaisses de Lagoa, o Carreamento de Limãos e o Carreamento da Foz do Azibo. “Até neste aspecto a riqueza geológica é de salientar”, assinala. Já que se é verdade que o geoparque não é só geologia, mas também biodiversidade, património cultural e histórico, muitos municípios têm plantas, animais, igrejas e gastronomia características, “mas a geologia não se pode criar”. “Há territórios que gostariam de ser geoparque e não podem olhar para um afloramento e dizer que é de relevância internacional e nós temos quatro, para ver a raridade”, destaca.

Além de saídas de campo mais específicas para universidades, com programas educativos, o Geopark Terras de Cavaleiros disponibiliza actividades organizadas, como caminhadas interpretadas, com descrição desde a geologia, à biologia, ao património edificado, cultural e material. Inicialmente promovidas em exclusivo pelo Geopark, há agora muitos empreendedores turísticos que se estão a implementar no território. “Para nós era espectacular que um dia o Geopark não tivesse de ter esta acção proactiva, que os nossos parceiros estivessem no território a trabalhar sozinhos”, sublinha Antónia Morais.

Neste momento, são já os 11 operadores turísticos instalados no território que têm esse papel, depois de terem recebido formação.

Actualmente, o concelho tem 24 percursos pedestres homologados espalhados por todo o território, cinco deles na zona do Azibo.

Concelho recente mas com muita história

“Apesar de ser o concelho do distrito mais jovem, é o que tem mais história”, quem o diz é o investigador Rui Rendeiro Sousa.

Só em 1853, Macedo de Cavaleiros foi elevado a concelho, curiosamente ainda como aldeia, substituindo os anteriores de Cortiços e Chacim, no entanto, o actual território chegou a ter seis concelhos e foi parte integrante de mais. “Uma terra que é o resultado de 11 concelhos medievais (entre eles Bragança, Torre de Dona Chama, Mirandela ou Castro Vicente), é uma terra que obrigatoriamente tem que ter história”, afirma, o que contraria a ideia que muitas vezes existe.

“A história deste concelho é tão grande que o melhor exemplo que tenho para isso é que é possível escrever a história isolada de cada uma das 30 freguesias e cheia de personagens impressionantes”, aponta ainda o investigador, que está a fazer esse trabalho.

Outro exemplo da importância histórica é o facto de, no século XVI, Macedo ter sido constituída como comenda da Ordem de Cristo, sendo a mais rica do distrito e uma das mais ricas do país. “Não podemos falar de uma terra sem história, quando há 500 anos foi criada aqui a maior comenda da Ordem de Cristo da região”, aponta.

O concelho tem ainda metade dos documentos mais antigos do distrito, referentes ao século XII. “O documento mais antigo que temos a mencionar uma povoação no distrito de Bragança é de 1110 e referente a Bornes, mas temos também em 1128 Lamalonga, em 1196 Chacim, em 1186 Sezulfe e Cernadela. A grande maioria das povoações que hoje existem aqui já tinham documentação no século XII”, diz, acrescentando que “ isso não é comum a qualquer outro concelho, apesar de haver referências também antigas a outras povoações”, sublinha.

Macedo chegou também a ter as 4 maiores abadias do distrito e uma reitoria da qual dependiam 13 outras aldeias, incluindo uma vila, Vale de Prados.

A história é visível no património, particularmente religioso, tendo “a maior rota de barroco em todo o Norte” segundo o Eixo Atlântico. Três dos exemplos são as igrejas do século XVIII de Lamalonga, Vilarinho de Agrochão e Podence, imóveis de interesse público, havendo outros exemplos de templos deste período de destaque, como as igrejas de Vinhas ou de São Pedro, em Macedo de Cavaleiros, que apesar de ser do século XVII, teve grandes obras do período Barroco.

O investigador admite, ainda assim, que “não há grande monumentalidade nesta terra” e “a pouca que há também vai ser sendo destruída”, já que havia ali “cinco solares e agora já só subsistem dois”, sendo um dos mais antigos em todo o distrito o Solar Morgado de Oliveira, de 1674, situado no centro da cidade.

Macedo foi também berço de personagens muito relevantes na história nacional. Um deles era Martim Gonçalves de Macedo, descendente dos Bragançãos, que foi escudeiro do rei D. João I. “É aquele personagem que estava no sítio certo à hora certa”, afirma Rui Rendeiro Sousa, para quem houve personalidades na família que foram muito mais importantes, mas admite que Martim Gonçalves de Macedo “é um herói nacional”, isto porque enquanto escudeiro do regente ao trono, futuro D. João I, evitou a sua morte, em 1385, na Batalha de Aljubarrota, impedindo o ataque de um cavaleiro espanhol, Álvaro de Sandoval.

Logo a seguir o rei fez-lhe uma série de doações e também mudou o brasão dos Macedo, que é azul e com estrelas, tendo-lhe acrescentado o braço com a maça.

O túmulo de Martim Gonçalves de Macedo está no Mosteiro da Batalha ao lado do túmulo de D. João I, mas pode ter sido colocado à posteriori.

Outra das importantes figuras do concelho foi Nuno Martins de Chacim, que foi aio de D. Dinis e se destacou na história, não só regional, como nacional, já que entre 1261 até 1284 “era quem mandava nisto”, enquanto meirinho mor do reino, que era o equivalente as actual ministro da Administração Interna.

Macedo também contou com a presença de judeus, o que é sinal que as terras são dinâmicas. Há pelo menos quatro povoações, Chacim, Bornes, Cortiços e Macedo, que tiveram muitos processos na inquisição e há mais duas que também têm alguns processos.

Real Filatório de Chacim

O território era também um grande produtor de seda, já que em Chacim havia uma Real Fábrica da Seda, sendo que em Portugal só havia apenas duas e a outra era em Lisboa.

Nos séculos XVIII e XIX, 80 a 90% da população vivia da seda, que dava um grande rendimento. “Nos dois meses, em que trabalhavam a seda, duas mulheres ganhavam 20 mil réis, o que demorava três ou quatro anos a ganhar na agricultura”, afirma Rui Rendeiro Sousa.

Hoje em dia não há grande memória desta fábrica de sedas, restando apenas as ruínas do real filatório.

Segundo Luís Claudino, historiador que trabalha na rede museus do concelho, Chacim, tal como outras áreas de Trás-os-Montes, teria já uma tradição de amoreiras e cultura da seda. “Em 1787, chegam os Arnaut, a convite do conde de Linhares, serão apresentados à rainha D. Maria I, para criar na região uma fábrica de sedas. Vão até Montalegre, Chaves e Chacim e encantam-se com as amoreiras de Chacim, ao ponto de criarem ali a sua fábrica. Introduzem o método piamontese, diferente do tradicional português, que vemos, por exemplo, em Freixo”, refere.

Ali era feito de tudo, desde a produção do bicho da seda até ao fio, depois também passando pela própria produção de peças e tintoria.

Apesar do impacto económico elevado, o declínio surgiu devido a algumas crises pessoais e à fuga da família real para o Brasil, com o conde de Linhares, o que condicionou a protecção aos Arnaut, que seriam depois alvos fáceis para a concorrência. O factor crucial para a decadência do filatório, segundo o historiador, está relacionado com a doença das amoreiras, que dita o fim da produção de seda no século XIX.

O edifício, segundo relatos de populares, terá sofrido um grande incêndio e por isso há “tanta falta de alguns vestígios, como o próprio moinho piamontese, que era a grande inovação da fábrica, que seria um moinho de três andares”. Em Chacim há um centro interpretativo “com a cronologia da fábrica, alguns vestígios, nomeadamente em vidro e ferro, como os pesos, a explicação da evolução do bicho-da-seda e uma réplica de como seria o filatório e a casa dos casulos na época”.

Banreses, aldeia abandonada

Situada na margem direita do rio Azibo, muito perto do santuário de Santo Ambrósio, no território de Vale da Porca, a aldeia de Banreses é agora apenas um conjunto de ruínas de casas, moinhos e uma ponte.

Aconteceu ali o mesmo que a muitas aldeias no distrito e desapareceu, no caso devido a uma epidemia de tifo, que dizimou quase completamente a população. “Nessa altura (finais do século XIX), havia uma urna única, o chamado esquifo. Quando alguém morria ia nessa urna para a igreja, onde as pessoas eram enterradas, e o caixão servia para o próximo. Supõe-se, isso são histórias, que lavavam esse caixão numa fonte na aldeia e que a partir daí se disseminou o tifo, que começou a dizimar a população, as pessoas começaram a ter medo e a aldeia foi abandonada”, conta Rui Rendeiro Sousa.

A terra de nome estranho, teve o primeiro registo há 760 anos, existia como paróquia chamada inicialmente Venrezes. “Quase seguramente que houve muito próximo um povoado da idade do ferro e romano e suponho que Banrezes seja uma derivação de adoradores de Vénus”, acrescenta.

A aldeia durou pelo menos o século XII ou XIII e acabaria por desaparecer já no século XX. Actualmente já não há originários de Banreses, só descendentes.

Economia com base na agricultura

No concelho o sector agrícola é o predominante, mas os serviços e o comércio também são representativos e, em menor escala, a indústria está também em crescimento, assentando, no entanto, essencialmente na vertente agrícola, com destaque para os frutos secos, a castanha e o azeite.

Segundo o presidente da Associação Comercial, Industrial e Serviços de Macedo de Cavaleiros, Paulo Moreira, há já quem aposte na valorização dos productos do sector primário, tendo a própria Cooperativa de Macedo de Cavaleiros esse papel, assim como algumas empresas locais.

No que diz respeito aos sectores dos serviços e o comércio “têm sido afectados pela escassez de mão-de-obra, em especial qualificada, e, ao mesmo tempo, pelos os custos crescentes nos combustíveis e outras matérias-primas”, afirma o responsável.

Apesar disso, Paulo Moreira olha para o momento actual com algum optimismo. “Por norma, os grandes centros sofrem primeiro, o interior é desfavorecido e despovoado e vai sentir mais lentamente a chegada desta crise”, acredita. Mas admite que “a estrutura comercial vai acabar por sofrer directa ou indirectamente” e “os consumos não essenciais serão um grande problema, num sector já fragilizado, após restrições à lotação do espaços, encerramentos e produtos que não foram escoados durante a pandemia”.

A construção civil é um dos sectores que está já a ser afectado, com o aumento de custos. “De uma semana para a seguinte os preços alteram, não dão uma estabilidade económica ao próprio construtor nem ao cliente e também a escassez de mão-de-obra faz aumentar o custo dos trabalhos, porque havendo menos gente a obra demora mais tempo”, explicou

Uma das empresas que, apesar da pandemia e da crise, tem vindo a crescer é a Green September. Situada desde há três anos na zona industrial, começou por se dedicar à comercialização de castanha em instalações menores na última década. “Como, entretanto, passámos para a primeira transformação, a nível industrial, das castanhas, tivemos de reunir espaço e condições para esse trabalho”, explica o proprietário, Ricardo Trovisco. Além da calibragem e embalamento do fruto seco, têm em vista avançar para a segunda transformação, que implica descasque do fruto.

Para já, e para rentabilizar as instalações e o resto do ano, bem como alguns dos postos de trabalho existentes nos quatro meses da campanha das castanhas, alargaram a laboração a outros trabalhos ligados ao sector agrícola. “Começámos com os viveiros, que permite já ter cerca de 12 a 13 pessoas o ano todo ocupadas”, explica. A empresa tem três pólos de estufas no concelho e mais 2 pólos fora, um em Espanha e outro em Coimbra, para produção de outras plantas que aqui não é possível. No armazém é feita a recolha, selecção, o embalamento e os envios para todo o país.

Entretanto, há dois meses, avançaram para a comercialização de frutos vermelhos, que são ali recebidos de todo o país, preparados, congelados, embalados e despachados, tendo como destino a indústria de transformação. “Aí tivemos de dobrar os postos de trabalhos, de 12 para 24”, refere.

“A maior parte das vendas de plantas são para dentro do país, 90% e o foco principal acabam por ser os frutos secos, porque foi com eles que trabalhámos mais cedo. Na região as plantas que mais se produzem são cada vez mais amendoeiras, castanheiros, apesar de as vendas terem diminuído um pouco por causa de pragas e doenças. Mas aparecem novas culturas que se começam a implementar muito bem onde secaram os castanheiros, como as aveleiras, e ainda fazemos um número significativo de oliveiras” refere. Já no que diz respeito à castanha e aos frutos vermelhos são vendidos quase na totalidade para o estrangeiro. O investimento foi feito gradualmente mas chegou aos 2 milhões de euros.

“Aziborne Extreme”: um evento diferenciador de promoção do concelho

O evento está marcado para dia 3 de Setembro, em Macedo de Cavaleiros. A iniciativa reúne quatro modalidades desportivas praticadas em dois espaços de excelência, a Albufeira do Azibo e a Serra de Bornes

O “Aziborne Extreme” regressa este ano. A segunda edição do evento está agendada para o dia 3 de Setembro, em Macedo de Cavaleiros, e desta vez tem cariz competitivo.

Como o próprio nome indica, a iniciativa vai decorrer na Albufeira do Azibo e na Serra de Bornes, dois ex-líbris do concelho macedense.

A primeira edição realizou-se em 2019, de forma experimental, e a forte adesão das equipas garantiu, desde logo, a continuidade da prova. No entanto, a covid-19 obrigou o município a adiar o evento desportivo.

Este ano, a segunda edição traz novidades. “Vamos ter quatro modalidades. Tirámos o skate e vamos ter o atletismo, a canoagem, o BTT e o parapente. Estas são modalidades que se praticam no nosso concelho. Cada equipa tem quatro elementos e ganha quem chegar primeiro à meta. Sendo que haverá prémios parciais por modalidade”, explicou Rui Vilarinho, vice-presidente do Município de Macedo de Cavaleiros.

A escolha das modalidades foi estratégica, pois o objectivo é potenciar os espaços naturais do concelho e que permitem a prática dos quatros desportos. “A canoagem é uma modalidade de excelência muito praticada no Azibo e ainda mais condições teremos quando terminarmos o Centro Náutico, o parapente é cada vez mais procurado através do BôAr Parapente Clube, no atletismo começámos de uma forma humilde e já somos campeões nacionais através do Clube Atlético e depois o BTT que tem cada vez mais adeptos em Macedo”, acrescentou o também vereador do desporto.

O “Aziborne Extreme” não é uma novidade a nível europeu, pois na Áustria realiza-se um evento muito semelhante, mas em Portugal o Município de Macedo de Cavaleiros é pioneiro na promoção da actividade.

Rui Vilarinho acredita que o “Aziborne Extreme” tem todas as condições para crescer, para “se tornar um evento diferenciador” e com impacto na economia local. “Isto é um evento para crescer. É só um dia, mas vai ter um impacto enorme na economia local. Vamos divulgar o evento em Portugal e fora. O desporto é uma alavanca para a economia, tudo que tem a ver com as dinâmicas ligadas ao turismo, turismo desportivo, e acreditamos que vai ser um sucesso”, afirmou.

Esta segunda edição tem vertente competitiva e há prémios monetários no valor total de cinco mil euros.

As equipas, portuguesas e estrangeiras, participam com quatro elementos cada, em estafeta. As provas têm um certo grau de dificuldade. “Para já o que posso dizer é que o atletismo terá mais de 10 quilómetros, a canoagem estão a fazer um teste para definir, o BTT terá cerca de 50 km e o parapente vai sair da serra de Borges com final no estádio Municipal”, explicou.

O “Aziborne Extreme” destina-se a atletas com espírito de aventura e de trabalho de equipa, não há idade mínima e as equipas nesta segunda edição podem ser mistas.

A primeira edição, e 2019, contou com cerca de 50 participantes. Este ano, o Município de Macedo de Cavaleiros acredita que o número vai duplicar.

Susana Madureira

O presidente

Nome: Benjamim do Nascimento Pereira Rodrigues
Idade: 59 anos
Tempo de mandato: 4 anos e meio
Profissão: Médico Ortopedista.

Porque decidiu dedicar-se à política?

Pela motivação da causa pública e pelo espírito de missão no sentido de capacitar o nosso concelho para enfrentar o futuro de forma positiva e inovadora, suplantando os desafios que se nos colocam!
Nomeadamente na área financeira, com equilíbrio, boas contas, transparência e pagando aos fornecedores a tempo e horas.
Queremos revitalizar o concelho, rejuvenesce-lo e proporcionar aos nossos seniores conforto, proteção social e melhor saúde.
Na essência queremos um concelho atractivo, competências em todas as áreas e acima de tudo refletindo felicidade.

Como é ser Presidente da Câmara Municipal de Macedo de Cavaleiros?

É muito desafiante. Sempre enfrentando muitas dificuldades, principalmente com o abastecimento e com o desperdício de água. Cerca de um quarto do orçamento está relacionado com este grave problema.
Temos um trabalho de requalificação de redes interminável, precisamos de muitas ações de sensibilização e consciencialização dos munícipes para o facto de que é fundamental um comportamento cívico responsável, evitando desperdício.
Existem problemas sociais sérios todos os dias, nomeadamente situações de idosos isolados e solitários.
Assegurar condições de acesso à saúde nas freguesias é para nós também uma prioridade.
A educação, a industrialização, o turismo e a modernização ocupam também o nosso dia a dia.

Quais são os maiores desafios como autarca?

Primeiro, equilíbrio financeiro com boas contas e transparência. Só com saúde financeira podemos fazer investimento e tornar o município atrativo e sustentável.
Ainda na sustentabilidade social e económica, o investimento e desenvolvimento da zona empresarial e zona oficinal no sentido de a tornar atrativa e moderna.
Apostar no Turismo natural, no turismo gastronómico, cultural e de aventura, criando novos modelos de marketing e atractividade, trabalhando com o Turismo Porto e Norte na proximidade e com outros parceiros, em rede.
Queremos apostar na educação, competências diferenciadas, transformação digital, inovação nas potencialidades endógenas e dinamização cultural de todo o concelho.
Queremos afirmar a nossa identidade, a nossa genuinidade e o nosso regionalismo.

Jornalista: Olga Telo Cordeiro