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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

segunda-feira, 31 de maio de 2021

Obras de dois milhões no Mercado Municipal de Macedo aprovadas pelo Tribunal de Contas

 Os trabalhos preparatórios vão arrancar nos próximos dias e Benjamim Rodrigues espera que no verão de 2022 seja possível inaugurar o novo espaço.
As obras de reabilitação do Mercado Municipal de Macedo de Cavaleiros vão arrancar muito em breve, depois de o Tribunal de Contas ter dado parecer positivo ao contrato de adjudicação da empreitada. As obras estão avaliadas em 2 013 996,83 euros e têm um prazo de conclusão de 400 dias. “É mais um passo que damos no nosso concelho para criar mais e melhores condições aos lojistas e feirantes que apostam e acreditam em Macedo de Cavaleiros para desenvolver a sua atividade económica”, assevera o presidente da autarquia.

Benjamim Rodrigues explica que “é uma boa notícia que recebemos do Tribunal de Contas e que nos permite, por fim, avançar com uma obra fundamental para o concelho e para os lojistas e feirantes”. O autarca macedense adianta que com a concretização deste projeto “cria-se um novo perfil urbano naquela zona da cidade”. Recorde-se que em paralelo a esta empreitada, arrancou também esta semana a obra de requalificação da envolvente ao Mercado Municipal e a 2.ª fase do projeto BiCity. “Vamos ter um novo perfil urbano nesta zona da cidade, com melhores acessos, uma zona mais ajardinada e um corredor de ciclovia para que as pessoas possam utilizar um perímetro ciclável ainda maior, dado que irá ligar à ecopista da primeira fase do projeto, que já está praticamente concluída”, acrescenta o autarca macedense.

As obras de requalificação do Mercado Municipal de Macedo de Cavaleiros vão finalmente avançar depois de um primeiro procedimento concursal ter ficado deserto há cerca de meio ano. Benjamim Rodrigues explica que “com a pandemia da COVID-19, e todos os constrangimentos que a mesmo representou a nível mundial, houve um grande conjunto de matérias-primas, sobretudo de alumínios, que encareceram de forma significativa. Isso levou a que o nosso projeto encarecesse um pouco e as propostas que recebemos ficaram muito aquém do desejado”, acrescenta.

Agora, e com o visto do Tribunal de Contas, “esperamos muito em breve poder avançar com o início das obras”. “Vamos proceder à reabilitação total do espaço, com novas condições, novos materiais e mais conforto para todos os lojistas e feirantes que ali desenvolvem a sua atividade”, frisa Benjamim Rodrigues. A parte estrutural do edifício vai manter-se, mas com um reforço da engenharia e arquitetura do mercado.

“O novo espaço será atrativo e de reunião para os macedenses. Vai permitir ter outras condições como um espaço social, com um auditório e zonas de convívio, que nos permitem realizar aqui outro tipo de eventos”, conta o autarca. Benjamim Rodrigues está convicto de que “o novo Mercado Municipal de Macedo de Cavaleiros terá vários fatores atrativos para que as pessoas procurem aquele espaço para instalarem as suas lojas”.

Os trabalhos preparatórios vão arrancar nos próximos dias e Benjamim Rodrigues espera que no verão de 2022 seja possível inaugurar o novo espaço.

Altas temperaturas já atraíram banhistas ao Azibo no fim de semana

 O tempo quente este ano demorou a aparecer mas o fim de semana de altas temperaturas já atraiu alguns turistas às praias do Azibo, em Macedo de Cavaleiros, que quiseram aproveitar o calor transmontano:
“Nós somos da Maia e os nossos amigos de Matosinhos. Já conhecíamos isto, vimos na internet que ia estar bom tempo, com calor, e como gostamos de rio e natureza, decidimos vir.”

“Já fui à água mais que uma vez e está ótima. O que nos fez vir foi a natureza, a paisagem, isto é excelente.”

“O que nos atraiu foram as temperaturas e a água que é excelente. Sabíamos que ia estar bom, viemos e aproveitamos o fim de semana.

As pessoas estão a cumprir o distanciamento e nós também temos de procurar isso.”

Recordo que a época balnear abre apenas a 12 de junho e, tal como o ano passado, por força da pandemia, as praias do Azibo vão poder ter uma lotação máxima de 3300 pessoas em simultâneo.

Escrito por ONDA LIVRE

Operário ferido com gravidade após queda de quatro metros de um telhado em Outeiro

 Um operário de 44 anos sofreu ferimentos graves na sequência da queda de quatro metros de altura numa obra em Outeiro, no concelho de Bragança. “A vítima estava numa obra a fazer a cobertura num telhado, quando se deu a queda.
Ficou com uma fratura exposta num braço. É um ferido considerado grave”, adiantou Paulo Gonçalves, oficial dos Bombeiros Voluntários de Bragança que socorreram a vítima. “O operário trabalha para uma empresa de Bragança. 

Foi transportado pelos Bombeiros para o Hospital, acompanhado pelos profissionais da Viatura Médica, de Emergência e Reanimação”, explicou Paulo Gonçalves.

Glória Lopes

Iniciativa “Livros e Identidade” do município de Bragança deu voz a escritores da região

 A pandemia cancelou o Festival Literário de Bragança, mas o município não quis deixar passar a data em branco e por isso organizou a iniciativa “Livros e Identidade”
Ao longo de quatro dias vários autores brigantinos apresentaram as suas obras. O primeiro foi Alex Rodrigues com o conto infantil “A Cantarinha de Pinela”.

“A Amélia procura oferecer uma prenda diferente à sua mãe e a sua avó conta-lhe a história da cantarinha, que é um símbolo para nós, naturais de Pinela, e também para quem conhece a feira das cantarinhas, que simboliza o amor, a amizade. É uma prenda que se dá a quem se quer bem”, explicou Alex Rodrigues.

E como um bom filho a casa torna, Lídia Praça veio a Bragança apresentar a sua mais recente obra. “O Eco das Minhas Pátrias” é um livro de vivências da escritora, que retrata a singularidade da cultura lusófona.

“Fui fazendo reflexões à medida que viajava pelo mundo lusófono, que tinham muito a ver com a forma de ser e de estar no mundo em que se fala a língua portuguesa. Em todos os lugares onde em estive eu senti-me em casa”, contou Lídia Praça.

Já com um enquadramento histórico de Varge, no concelho de Bragança, surge o livro "Monge Errante", de António Pinelo Tiza. Com alguma ficção à mistura, a obra faz-nos viajar pelo século XIV.

“Tem muito enquadramento histórico. Os nomes dos abades é que são verdadeiros. Abades aqui de Castro de Avelãs eram bastantes tolerantes e tinham que manter unida a comunidade. Na obra há outros monges mais antigos, mais fundamentalistas, que não aceitavam ideias mais actualizadas”, referiu António Pinelo Tiza.

A fechar esta semana literária, foi apresentada a colectânea "Vozes de Trás-os-Montes", pela Academia de Letras de Trás-os-Montes, também organizadora do evento. Segundo a presidente da academia, Assunção Morais, a obra reúne vários estilos literários de mais de 50 escritores transmontanos.

“Textos literários, não literários, em poesia, prosa, em textos narrativos de carácter ficcional e outros de investigação, que têm como matriz ‘Memória e Identidade transmontanas’. Esta colectânea vem no seguimento de outras já publicadas pela Academia”, explicou Assunção Morais.

Segundo a vereadora da Cultura da Câmara Municipal de Bragança, Fernanda Silva, o festival não aconteceu devido à incerteza pandémica, mas ainda assim o município quis dar voz aos autores transmontanos.

“Quisemos aqui concentrar e dar voz aos nossos autores brigantinos e áquilo que são as marcas identitárias do nosso território, a história do nosso território”, destacou.

Livros e Identidade decorreu de 26 a 29 de Maio, em Bragança e deu a conhecer várias obras de diversos escritores brigantinos.

Escrito por Brigantia
Jornalista: Ângela Pais

“Caminhos de Sirga, para resgate de poeta bissexto” é o título do novo livro de Carlos d’Abreu

 O livro compõe-se por uma nota biográfica, um prelúdio, um epílogo, adjutórios e 40 poemas originais do poeta anarquista duriense.
“Caminhos de Sirga”, para resgate de poeta bissexto é o título do novo livro de Carlos d’Abreu, surgido recentemente sobre a chancela de Caraba Ibérica. Mais um livro de conteúdo poético de um autor que tem mantido a sua produção literária dentro de um movimento luso-espanhol que concebe a liberdade como o supremo valor da humanidade.

Sobre o poeta é ele mesmo que se define ao falar de si na página introdutória deste livro, a que deu o título de “BioProémio”.

O livro compõe-se por uma nota biográfica, um prelúdio, um epílogo, adjutórios e 40 poemas originais do poeta anarquista duriense.

Título: Caminhos de Sirga,
para resgate de poeta bissexto
Autor: Carlos d’Abreu
Editora: Caraba Ibérica

Presidente da câmara de Vinhais acredita que ligação Macedo-Vinhais-Gudinha pode vir a ser uma realidade

 O presidente da Junta da Galiza esteve reunido com o primeiro-ministro português e realçou a importância da ligação transfronteiriça Macedo-Vinhais-Gudinha
Ao que apurámos, António Costa disse que iria fazer chegar este dossiê ao Ministério das Infra-estruturas.

“A Junta da Galiza disponibilizou-se para financeiramente do lado espanhol, se houver necessidade, serem eles a assumir os custos da obra, nem ser o governo de Madrid. Parece-nos que isso é um sinal muito positivo em que todos devemos acreditar”, avançou o autarca de Vinhais, Luís Fernandes.

Esta ligação permitirá ficar a cerca de 20 minutos da Estação do AVE, que em breve será inaugurada na Gudinha, facilitando o transporte de pessoas, mas também de mercadorias e a uma hora e meia de Madrid. Ter sido abordada por Alberto Feijóo mostra, para o autarca de Vinhais, a importância desta estrada.

Luís Fernandes entende que a não construção da ligação Macedo-Vinhais-Gudinha é mais uma machadada para o desenvolvimento do interior.

“Eu acredito que não fique na gaveta, porque a ficar na gaveta é mais um erro que estamos a cometer, é mais uma machadada que estamos a dar no desenvolvimento do interior e eu penso que estas ligações transfronteiriças têm que ser um meio para que estas regiões tenham outro desenvolvimento”, afirmou.

A estrada Macedo-Vinhais-Gudinha ficou de fora do Plano de Recuperação e Resiliência, mas os autarcas da região e de Espanha continuam a reivindicar a sua construção.

Escrito por Brigantia
Jornalista: Ângela Pais

domingo, 30 de maio de 2021

Acidente entre camião e mota provoca dois feridos na A4

 Um acidente entre um camião e uma mota provocou este domingo à tarde dois feridos, um deles em estado grave.

De acordo com fonte dos bombeiros, os feridos são um casal, com cerca de 55 anos, que foram transportados para o hospital de Bragança.

O acidente aconteceu na reta de Sortes.

O alerta foi dado pouco depois das 18h30.

No local estiveram 10 operacionais, apoiados por 4 veículos, para além da Viatura Médica de Emergência e Reanimação (VMER) do INEM e o Destacamento de Trânsito da GNR.

AGR

A Lenda da Pedra Encantada

Local: Horta Da Vilariça, TORRE DE MONCORVO, BRAGANÇA

Informante: Rosa Abade (F), 38 anos

Conta a gente desta terra que, há muitos anos passados, quando toda a gente era humilde e dava as mãos ao trabalho, todos os camponeses se dirigiam para à campo, para cultivar os seus terrenos. Uns plantavam batatas e feijão, outros lançavam as sementes à terra, para depois colher o centeio e o trigo. 
    Certo é que todos precisavam de agradar as terras e, para a grada ficar mais pesada, todos eles escolhiam uma pedra muito lisa e redondinha que, por magia ou coincidência, estava sempre ali à mão. Tudo isto se repetiu por muitos anos, até que um dia um moço sonhou com a pedra, isto é, sonhou que ela falava e lhe pedia que a ajudasse a voltar para a sua casa. 
    Sonhou uma vez, sonhou duas e à terceira, sempre com o mesmo sonho, dirigiu-se ao campo, agarrou a pedra e dirigiu-se com ela até junto do rio Sabor. Aí partiu-lhe os quatro cantos, que era o que no sonho lhe fora pedido, depois atirou-a ao rio. 
    Então, qual não foi os eu espanto ao ver que a pedra se transformou numa linda sereia que, seguia rio abaixo, nadando e cantando assim, com uma voz encantadora: 

— Adeus Vale da Vilariça, 
Adeus á Fraga Amarela, 
Tanto ouro, tanta prata, 
Ali fica dentro dela.

Nestes montes eu vivi 
— Como pedra encantada, 
Tantos anos adormecida 
E pela grade embalada!.

Fonte: PARAFITA, Alexandre A Mitologia dos Mouros: Lendas, Mitos, Serpentes, Tesouros

'POR TERRAS DE LEDRA', UM LIVRO SOBRE COSTUMES E TRADIÇÃO

sábado, 29 de maio de 2021

Guerra Junqueiro: "Os pequenos no bosque"

 Um dia três pequenos iam juntos para a escola, e disseram uns aos outros, que não havia nada no mundo mais aborrecido que estudar: “Vamos para o bosque que encontremos lá toda a espécie de lindos bichinhos, que não fazem outra cousa senão brincar, e nós brincaremos com eles.”

Foram logo, e passaram sem fazer caso ao pé da ativa formiga e da abelha diligente. Mas o besouro, que eles convidaram a vir patuscar, disse-lhes:

- Brincar? Preciso construir com estas ervas uma ponte nova, porque a outra já não está solida.

- Eu, disse o rato, tenho que fazer as minhas provisões para o inverno.

- Eu, disse dali a pomba, tenho muitas cousas que levar para o meu ninho.

- Eu, disse a lebre, gostava bem de me ir divertir com vocês, mas ainda hoje não lavei o meu focinho. Antes de mais nada, tenho que fazer a minha toilete.

E tu, lindo regato, disseram os pequenos desertores, que passas o tempo a saltar e a tagarelar, também não queres brincar connosco?

- Estes pequenos são tolos, disse o regato. Como? Vocês então imaginam que eu não tenho que fazer? De noite ou de dia, não descanso nem um momento. Tenho que dar de beber aos homens e aos animais, às colinas, aos vales, aos campos e aos jardins. Tenho que apagar os incêndios, tenho que fazer mover as forjas, os moinhos, as serralherias. Nem hoje acabara, se lhes quisesse contar o que tenho que fazer. Não posso perder um instante. Adeus, adeus. Estou com muita pressa.

Os pequenos, desconcertados, puseram-se a olhar para o ar, e viram um pintassilgo, em cima de um ramo.

- Olha! tu, que não tens nada que fazer, queres brincar connosco?

- Nada que fazer? vocês estão a mangar comigo, disse o pintassilgo. Todo o dia tenho que apanhar moscas para comer. Tenho além disso que tomar parte no concerto dos passarinhos, tenho que alegrar o operário com o meu chilrear, e tenho que adormecer as crianças com uma outra cantiga, que à noite e de madrugada celebre a bondade do Criador. Ide-vos embora, preguiçosos, ide cumprir o vosso dever, e não tornem a vir incomodar os habitantes das florestas, que cada um tem a sua tarefa a desempenhar.

Os pequenos aproveitaram a lição, e compreenderam que o prazer só é legítimo, quando é a recompensa do trabalho.

Fonte:
Guerra Junqueiro: "Contos para a Infância", Publicado originalmente em 1877.

Suspenso

Por: Manuel Amaro Mendonça
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")

— Vai-te depressa, é o meu marido!

A frase chegou-me ao cérebro em uníssono com o som característico de uma chave a ser introduzida numa fechadura.

Saltei na cama, atordoado e fiquei sentado a olhá-la, um pouco incrédulo.

Ela fitou-me com os seus olhos azuis. Duas pérolas refulgentes na obra de arte que era o rosto emoldurado pelo cabelo encaracolado escuro.

Por uns instantes, uns segundos apenas, gelamos, um frente ao outro, soerguidos na cama onde há tão pouco tempo havíamos dado largas à paixão. Os seus peitos alvos e fartos, de mamilos quase invisíveis de tão rosados, subiam e desciam nervosamente, acompanhando o respirar entrecortado.

— Depressa! — O tom sussurrado e suplicante, trouxe-me de volta à realidade em simultâneo com o ruído de passos pesados no corredor.

— Disseste-me que ele não vinha hoje! — Protestei, recolhendo as roupas de cima da poltrona que havia aos pés da cama. Dei graças pelos meus hábitos de, mesmo enlouquecido pelo desejo, amontoar a roupa toda no mesmo sítio.

— Deve ter trocado o serviço, que queres que te faça? — O sussurro irritado insistia na urgência.

— Não seria melhor acabar com isto de uma vez? — Engoli em seco.

— Estás cansado de viver? — A retórica foi suficientemente elucidativa.

Os passos chegaram junto porta do quarto e o manípulo rodou devagar. Escondi-me na casa de banho onde sabia que existia uma saída para o corredor e vesti-me rapidamente, no escuro, enquanto espreitava pela frincha da porta. Na penumbra do quarto, consegui divisar o marido; cerca de um metro e noventa de homem, cabelo cortado à escovinha, envergando o uniforme da PSP e ainda com a arma e o cassetete suspensos da cintura.

— Que porra de situação. — Lamentei-me calçando o segundo sapato e observando-o a espreitar a jovem esposa, que se fingia adormecida.

Esgueirei-me para o corredor às escuras e em passos largos e silenciosos, encaminhei-me para a porta de saída do apartamento. Uma manada de cavalos enlouquecidos corria desenfreadamente no meu peito, enquanto tentava, sem sucesso, abrir a porta que fora fechada com a chave.

Conseguia escutar murmúrios do quarto. Devia estar a tentar “acordá-la” para fazer aquilo que tinha feito comigo nas últimas horas… Porque diabos haveria de voltar tão cedo?

Em vão, apalpei no topo da credencia pelas chaves que me permitiriam sair daquela situação…

Os murmúrios terminaram de repente e o corredor iluminou-se com a luz proveniente da casa de banho que eu acabara de abandonar.

Corri para sala e olhei em volta; aquela divisão que conhecia tão bem, onde cada maple e cadeira tinha uma recordação agradável, em busca de um sítio para me esconder. A única coisa que me pareceu mais adequada foi o sofá; com um salto acrobático, consegui literalmente mergulhar para a parte traseira, comprimindo-me o mais que pude entre a parede e as costas.

O som de passos a entrar na sala… a televisão começou a funcionar… o ruído do cinturão a ser pousado na mesa de apoio e um peso brutal caiu sobre o sofá, esmagando-me ainda mais. Quase não consegui suster um gemido.

Deixei-me ficar, naquela posição tremendamente incómoda, enquanto ouvia a sessão de zapping a decorrer. Ao fim do que me pareceu uma eternidade, levantou-se novamente, dando descanso às minhas dilaceradas costelas e ouvi os passos que se dirigiam à cozinha.

Aproveitei a oportunidade e corri para a varanda, cuja porta abri muito devagar e passei para o exterior… não consegui tornar a encostar a corrediça, que me pareceu ficar presa em qualquer coisa.

Corria uma aragem fria do fim do verão… o céu sem estrelas era providencial e espreitei para a rua… quatro andares abaixo. Lembrei-me naquela altura que, de futuro, deveria incluir, como requisitos na minha lista de escolhas femininas, aquelas que vivessem no rés-do-chão, vá lá, no máximo primeiro andar… e que os maridos não fossem polícias, ou qualquer tipo de agente que incluísse armas.

Eu estava a ficar gelado rapidamente. Na sala, o homem retomara o zapping e de repente, olhou na minha direção, para a porta mal fechada, de onde devia estar a sentir corrente de ar. Ergueu-se e começou a experimentar a corrediça para verificar porque encravava, vi a sua perna sair para a varanda e era óbvio que teria de passar à próxima e ainda mais assustadora tática de esconderijo: debrucei-me sobre a balaustrada e fiquei suspenso no vazio, agarrado aos ferros.

O coração parecia querer saltar-me pela boca. Sentia o corpo todo tremer descontroladamente, sabendo que não aguentaria muito tempo assim. Abaixo de mim, ligeiramente desalinhada de uma eventual trajetória descendente, via a varanda do terceiro piso… conseguira saltar para ali? E depois para a seguinte? Dei graças por não haver ninguém na rua.

Escutei o ruído do isqueiro e a longa baforada que se seguiu… as mãos começavam a doer… se eu o enfrentasse, ele contentar-se-ia com uns socos ou… o mais certo era atirar-me da varanda ou dar-me um tiro… choraminguei silenciosamente a minha estupidez por me ter arrastado para aquela situação.

Estava a achar que não aguentava muito mais, quando vi o morrão do cigarro a voar para a rua, numa trajetória que me pareceu eterna, até ressaltar em pequenas faúlhas no asfalto. A porta da varanda fechou-se.

Tentei regressar à placa salvadora, mas os meus braços não tinham força para erguer o peso do corpo. Com os pés, tateei freneticamente em busca de algo que me apoiasse um pouco e facilitasse a tarefa. Os dedos estavam a fraquejar e iriam falhar a todo o momento. Olhei de novo a varanda abaixo de mim. Tinha de ser! Baloucei-me e larguei os ferros, lançando-me no vazio. Falhei a balaustrada abaixo de mim por uns milímetros e com os braços agitando freneticamente numa vã tentativa de  me agarrar, entrei numa queda silenciosa e interminável.

Saltei na cama, sufocado e encharcado em suor.

Manuel Amaro Mendonça
nasceu em Janeiro de 1965, na cidade de São Mamede de Infesta, concelho de Matosinhos, a "Terra de Horizonte e Mar".
É autor dos livros "Terras de Xisto e Outras Histórias" (Agosto 2015), "Lágrimas no Rio" (Abril 2016), "Daqueles Além Marão" (Abril 2017) e "Entre o Preto e o Branco" (2020), todos editados pela CreateSpace e distribuídos pela Amazon.
Foi reconhecido em quatro concursos de escrita e os seus textos já foram selecionados para duas dezenas de antologias de contos, de diversas editoras.
Outros trabalhos estão em projeto e sairão em breve. Siga as últimas novidades AQUI.

HORAS PERDIDAS

Por: Maria da Conceição Marques
(colaboradora do "Memórias...e outras coisas...")

Nas horas cansadas e perdidas, quando o sol se esconde, quando a lua chora e as estrelas deixam de brilhar. 
Quando o vento, guarda silêncio em lençóis de veludo.
Quando as águas ficam estagnadas nos juncos.
Quando o céu escurece e a distância aumenta. 
Numa dissecação interior, necessito vomitar o orgulho, engolir modéstia e humildade, para amaciar as horas perdidas e encontrar a paz!
Devagarinho, entro no mar da vida, num barquinho de esperança e fico á espera da maré vaza, que me traga dias melhores, búzios cheios de alegria, conchas com perolas de paz.  
Adentro-me na água estagnada.
Uma gaivota olha a barcaça e sorri. 
Pergunto-lhe se viu a felicidade
Ela responde. Não sei onde anda. 
Hoje, ainda não a vi.

Maria da Conceição Marques
, natural e residente em Bragança.
Desde cedo comecei a escrever, mas o lugar de esposa e mãe ocupou a minha vida.
Os meus manuscritos ao longo de muitos anos, foram-se perdendo no tempo, entre várias circunstâncias da vida e algumas mudanças de habitação.

NASCEM-ME FLORES NOS PÉS

Por: Maria da Conceição Marques
(colaboradora do "Memórias...e outras coisas...")

De alma limpa e serena, de espirito leve e tranquilo, nascem-me flores nos pés!
Deambulo por cruzes e encruzilhadas, caminhos velhos e estradas.
Desfio contos e sonhos pelo caminho, em mares e lagos de romantismo.
Esqueço, bocas mentirosas e as flores nascem-me nos pés, como beijos rubros e sequiosos, em lábios fechados.
Hidranjas e malmequeres, rosas vermelhas que mesmo desfolhadas, perfumam o pó da rua, onde cruelmente foram jogadas.
Tenho no coração, um berço de fantasia, decorado com lírios e sedas raras, onde escondo a cabeça. Brinco de faz de conta, embalo a criança que ali adormeceu.
Os olhos enchem-se de sonhos vagos, asas e bicos de passarinhos. 
Duas lágrimas, deslizam lentamente, devagar, muito devagarinho.
Nascem-me flores nos pés.

Maria da Conceição Marques
, natural e residente em Bragança.
Desde cedo comecei a escrever, mas o lugar de esposa e mãe ocupou a minha vida.
Os meus manuscritos ao longo de muitos anos, foram-se perdendo no tempo, entre várias circunstâncias da vida e algumas mudanças de habitação.

Eu e tu não somos dois

Por: Fernando Calado
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)

Às vezes ainda te encontro menino triste na alvura do teu fato domingueiro, com a cegonha e a raposa bordadas na disputa das papas de milho, guardadas na magia da fábula em ânfora elegante e estreita.
Às vezes ainda te encontro, pois tu moras dentro do meu coração e somos um só e ouço-te rir na alegria de estrear as meias novas de renda, e ainda te adivinho os olhos grandes presos no encantamento do voo dos pássaros, ou no mergulho certeiro da rã que se deleitava ao sol no poço da nossa horta.
Às vezes sinto-te. Tanto… nas lágrimas quentes vertidas noite fora, pela morte da gatinha branca que tragicamente passou na hora errada na estrada estreita.
Às vezes ainda engulo as lágrimas… e ouço a tia Sara, para todo o sempre, a dizer:
- quando já se viu um garoto a chorar por uma gata…que até metia nojo!
Nunca percebi… como a gatinha branca de neve… a mais bonita do mundo, podia meter nojo!
… não choro pela gata… choro porque me queimei no lume!
E então encontro-te… estoicamente… a meter as mãos no lume… sem sentir nenhuma dor, para puder chorar copiosamente e para todo o sempre pela gatinha branca… a mais bonita! Tanto!
Encontro-te sempre nas minhas alegrias… e muito mais nas grandes perdas… olhos grandes… lágrimas muitas.
Encontro-te, claramente, na ternura e alegria do pintainho desenhado, pela irmã mais velha, em papel costaneira… mas quando virava o papel, tragicamente, o pintainho desaparecia como perda maior e sofrida. Mas tudo pode ter remédio quando o sonho é maior… e pacientemente a irmã desenhou outro pintainho igual do outro lado da folha… e assim o pintainho ficou para sempre e não crescia, na tranquilidade dum sono tão feliz.
Fazes-me falta menino triste… para poder chorar demoradamente quando estou triste… e para rir sem parar, como quando o pai regressava da feira com chocolates com pratas de todas as cores como as cores dos sonhos!
Pego-te pela mão meu menino e levo-te comigo para todo o sempre!
Estamos a envelhecer ao mesmo tempo!...
… que saudades… e tão breve é o caminho!


Fernando Calado
nasceu em 1951, em Milhão, Bragança. É licenciado em Filosofia pela Universidade do Porto e foi professor de Filosofia na Escola Secundária Abade de Baçal em Bragança. Curriculares do doutoramento na Universidade de Valladolid. Foi ainda professor na Escola Superior de Saúde de Bragança e no Instituto Jean Piaget de Macedo de Cavaleiros. Exerceu os cargos de Delegado dos Assuntos Consulares, Coordenador do Centro da Área Educativa e de Diretor do Centro de Formação Profissional do IEFP em Bragança. 
Publicou com assiduidade artigos de opinião e literários em vários Jornais. Foi diretor da revista cultural e etnográfica “Amigos de Bragança”.

Viagem às raízes

Foto: Minha mãe, América Augusta.
Muitos foram os nomes de terras, que minha mãe lançava ao ar, conhecidos da infância, memórias que manteve, bem vivas, toda a vida. Contava-nos que tinha nascido no Pádua Freixo, Aguieiras, Mirandela, e que assim que um irmão estivesse para nascer, era mote para ir para casa dos avós maternos em Gestosa da Lomba, Vinhais. Adorava ir para lá. Recebia mimos de todos e a liberdade era outra. Falava-me em parentes espalhados por todas as aldeias das redondezas. Era uma beleza escutá-la a nomear tios e tias, primos e primas que tinha em Vilar Douro, Vilar Seco da Lomba, Guadramil, São Jomil, Nuzedo de Baixo, Soutilha, Casario, Ervideira, Sonim, Vale de Janeiro, Vale das Fontes, Lebução, Vilartão… E eu viajando ao som de nomes tão sonantes quanto desconhecidos, num doce encantamento até à sua infância, ansiosa por saber mais e mais sobre tão numerosa família.

As histórias que ouvia, numa atenção mais do que redobrada, transportavam-me para sítios fantásticos onde a imagética, funcionando num ápice, acabava por incorporar novos elementos dando-lhe singulares matizes.

Minha mãe nasceu a 16 de Dezembro de 1926, tendo recebido por nome próprio América. Este singular nome, além de a tornar distinta, foi também alvo de muitas graças. Meu avô, Cândido, na época da segunda Guerra Mundial metia-se com o vizinho da frente:

- António! Não se apoquente, homem! A guerra está ganha. Eu tenho a América; e vossemecê, a Vitória. – risada pegada no povo. O que é que havia de ter dado na cabeça destes vizinhos para porem estes nomes às filhas?!

Homem de posses, meu avô, ocupava-se de gerir as terras e os trabalhadores. Gabava-se de nunca ter tocado numa enxada. Em jovem - viajou para o Brasil, onde casou -, e, para seu desgosto, enviuvou no parto do filho. Casou de novo, com a cunhada, e o triste fado repetiu-se, enviuvou no parto da filha. Pegou em meus tios, José e Júlia, e regressou a Portugal.

Um homem, viúvo, com duas crianças pela mão, condoía qualquer coração. A família vendo-o em tão difícil condição…

A doce avó Alcina, que mal conheci, era de Gestosa de Lomba e prima direita de meu avô.

Reuniram-se as famílias e meus bisavôs decidiram casá-los, não só pela condição de meu avô, mas, também, para manterem o património da família.

Após o casamento foram viver para o Pádua Freixo, Aguieiras.

Os filhos foram nascendo e alguns morrendo, em pequenos, tendo chegado onze a adultos. Minha avó teve gémeos em três partos.

Nenhum filho, homem ou mulher, foi à escola por iniciativa do pai, apesar de meu avô ser instruído, mas era tacanho. Os filhos serviam-lhe para trabalhar no campo; e as meninas, para ajudar a mãe nos cuidados da casa. Alguns estudaram em adultos.  

Aos domingos ia para a taberna jogar à batota. Enquanto se conservava sóbrio, ganhava. Era vê-lo de sorriso malandro e olhar emproado a bater cartas. Os compinchas, sabendo da fraqueza que tinha com o vinho, ofereciam rodadas, e ele lambia-se limpando os beiços às costas da mão. Chegou a perder terras, juntas de bois e o que mais apetecesse aos camaradas de jogo.

Minha tia Maria era a mais velha do terceiro casamento e minha mãe vinha a seguir. Eram inseparáveis. Onde pisasse uma… estava a sombra da outra. No dizer de minha mãe, a tia Maria tinha a doença do sono - adormecia em qualquer lado.

Próximo da hora de almoço, minha avó pediu-lhes que pegassem no burro e fossem levar o comer aos homens, que andavam a trabalhar no campo. A tia montou-se no burro e pôs a giga com o almoço à frente; minha mãe seguia a pé, com as rédeas pela mão. Pouco depois, já a tia dormia com a cabeça ao pendurão. Malandra até não poder mais, eis do que se lembrou minha mãe: cortou uma haste de silva e chegou-a à traseira do burro. A festa estava armada! Mas que grande desatino de pinotes e zurros! O almoço fora para os diabos; a tia voou para o chão, permanecendo num pranto de muita dor e aflição de uma mão; e minha mãe agarrada à barriga de tamanha risa. O resultado da brincadeira foi além disto. A tia ficara com o dedo mindinho, da mão esquerda, partido. Havia que ir com ela ao endireita.

Muitos anos volvidos, visitei esta tia em São Paulo, Brasil. Mantínhamos contacto próximo, que se tinha intensificado após a morte de minha mãe. Lembrei-me da história do burro e resolvi pedir à tia que me contasse tudo. A história era verdadeira e para confirmação mostrou-me o dedo com uma curvatura, por não ter curado bem.

Que tia tão doce! Fui abençoada com beijos, abraços e muitos mimos. Fez uma feijoada e para começo pôs-me a beber uma caipirinha de deitar fogo pelos olhos!

Contou-me que minha mãe, em garota, era endiabrada, e foi desfiando histórias. Que tinha um jeito muito próprio de se afirmar, a pontos de derreter o avô Cândido. No entanto, sempre lhe vira um grande e generoso coração.

Antes de servir a ceia, a avó Alcina, pediu à minha mãe para ir buscar um jarro de vinho à adega - ficava por baixo da zona de habitação, bem ao pé dos arrumos e da loja do burro. E o que é que havia de ter dado na cabeça, à garota?! Pôs-se debaixo da pipa a provar o vinho. Dando pela demora, mandou lá minha tia Maria a ver o que é que se passava. Lá estava ela... ao pé das pipas... zonza... sem se endireitar nas pernas... a fala entaramelada... 

Texto:
Ⓒ Teresa do Amparo Ferreira, 28-05-2021

Inaugurada carreira de tiro em Macedo depois de quase quatro anos desactivada

 Depois quase quatro anos inactiva, a carreira de tiro, em Castelãos, Macedo de Cavaleiros foi inaugurada esta sexta-feira


Em 2017 um incêndio destruiu praticamente toda a estrutura e só agora está pronta para a realização de treinos das autoridades. Até aqui os militares tinham que se deslocar para fora do distrito para fazerem treinos de tiro.

“São projectos que são analisados, têm que voltar a ser analisados e, por vezes, não cumprem estritamente as necessidades deste tipo de infra-estrutura. Têm que ser analistas não só do município, mas também do ministério e são processos muito demorosos”, explicou o autarca de Macedo, Benjamim Rodrigues.

As obras já estavam terminadas há mais de meio ano, mas não correspondiam às exigências pedidas e, por isso, foi necessário melhorar a empreitada.

Na cerimónia de inauguração esteve presente o ministro da Administração Interna a quem Benjamim Rodrigues fez alguns pedidos, nomeadamente a construção de uma Base de Apoio Logístico, já que os bombeiros deslocalizados, para o combate a incêndios, ficam instalados no Clube Académico de Macedo.

“Isto será um processo a dar continuidade e certamente iremos ter oportunidade de candidatar essa BAL, uma infra-estrutura que serve todo o território”.

A carreira de tiro foi criada em 2009 e em 2017 foi alvo de incêndio, tendo ficado desactivada até aos dias de hoje. A requalificação ficou a cargo do Ministério da Administração Interna, num investimento de cerca de 98 mil euros. O ministro Eduardo Cabrita não quis prestar declarações aos jornalistas.

Escrito por Brigantia
Jornalista: Ângela Pais

Gambúsia: Este peixe invasor veio para combater a malária e ficou em Portugal

 No âmbito de uma série sobre espécies aquáticas invasoras, Filipe Ribeiro, investigador do MARE – Centro de Ciências do Mar e do Ambiente na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, ligado ao projecto LIFE Invasaqua, explica tudo o que precisamos de saber sobre este peixe que já tem uma longa história em território português.

Macho de gambúsia (em cima) e fêmea da mesma espécie (em baixo). Foto: Filipe Ribeiro

Que espécie é esta?

Este peixe de pequenas dimensões não atinge mais do que sete centímetros, mas geralmente tem um tamanho de três a quatro centímetros. Pertence à família dos Guppies e apresenta uma barbatana caudal redonda e tons azulados na barriga; as fêmeas têm uma mancha preta no abdómen. Os machos são mais pequenos e têm uma barbatana anal prolongada, que serve de órgão copulador.

É uma espécie originária da parte leste da América do Norte, tendo sido introduzida em todos os continentes – sobretudo para o combate à malária no início do século XX, mas também por motivos ornamentais.

Geralmente, a gambúsia não vive mais do que 15 meses, mas reproduz-se logo após quatro a seis semanas de vida. Costuma reproduzir-se entre abril e agosto.

E como chegou a Portugal?

Há cerca de 100 anos esta espécie era introduzida para o combate à malária, através da sua potencial predação sobre as larvas do mosquito transmissor desta doença.

A primeira ocorrência em território português já tem 90 anos: data de 1931, quando a espécie foi detetada em Benavente. Segundo reza a história, um dos diretores da Estação Antimalárica de Benavente enviou para o Aquário Vasco da Gama uns exemplares para identificação de uns “peixes vulgares nas valas” da região.

Após uma expedição no local, descobriu-se que esta espécie era a Gambusia holbrooki e estava amplamente espalhada pelos rios ali da zona. Também se reconheciam as suas capacidades antimaláricas, uma vez que comeria as larvas aquáticas do mosquito transmissor da malária.

A sua proveniência terá sido de Espanha, uma vez que a espécie tinha sido introduzida num pequeno lago em Cáceres em 1921. Não sabemos muito bem qual terá sido o mecanismo de dispersão: a introdução directa desde Cáceres em Portugal ou se se foi dispersando pelo Rio Tejo ao longo da década seguinte, até ser encontrada em território nacional. Depois, durante o século XX, a gambúsia foi dispersada pelo país todo, quer oficialmente, quer pelas pessoas de forma descontrolada.

Onde é que está presente no nosso país?

Pode ser encontrada em todo o território nacional, sobretudo nas margens dos rios ou nas barragens. São peixes que nadam em pequenos cardumes, relativamente cabeçudos, e conseguem-se ver bem duas manchas na cabeça que correspondem aos olhos. Mas esta é uma espécie que se encontra apenas em rios com águas mais paradas, é raro ocorrer em rios de montanha.

Foto: Wiki Commons

Mas qual é o problema com a gambúsia?

A introdução deste pequeno peixe teve como objetivo controlar a malária através da predação das larvas de mosquito. Entretanto a doença acabou por desaparecer devido à aplicação de pesticidas e também à melhoria da rede de esgotos nas vilas e aldeias. Mas esta espécie, que permaneceu no país, é altamente agressiva.

Por um lado, porque ataca os peixes que se encontram nos habitats mais lênticos – ambientes de águas de pouca movimentação como lagos ou charcos – e pode afastá-los para áreas menos apropriadas à sua sobrevivência. Para além de serem ótimas competidoras por espaço, as gambúsias são muito vorazes, comendo muito eficazmente o alimento, e são de uma forma geral insaciáveis. Tudo isto faz com que alguns dos peixes nativos, sobretudo os juvenis, tenham menor sobrevivência.

Por outro lado, alimenta-se preferencialmente de zooplâncton – animais microscópios que vivem na coluna de água – o que reduz a abundância deste nos rios e barragens. Como o zooplâncton controla a biomassa de fitoplâncton (algas), a maior predação exercida pela gambúsia tem como consequência a diminuição do zooplâncton e uma perda da qualidade da água das barragens e rios devido ao aumento de fitoplâncton. Com frequência, aliás, isto faz com que a água das barragens se torne verde.

Há medidas possíveis para controlar ou erradicar as populações desta espécie? 

Não é possível erradicar as populações de gambúsia por vários motivos: têm uma elevada fecundidade, são tolerantes a uma grande variedade de condições ambientais e também oportunistas em relação à disponibilidade de alimentos. Por isso, a melhor forma de evitar os impactos deste invasor é mesmo prevenir a sua introdução em sistemas aquáticos onde ainda não ocorre – como acontece também na amêijoa-japonesa, por exemplo.

Outro facto que impede a erradicação da espécie é que está hoje amplamente espalhada por todo o território português, sendo extremamente abundante nalguns locais. Até pode ser possível controlar as populações de gambúsia, mas isso terá de ser realizado a nível local e requer um esforço continuado.  

Então, que cuidados podemos ter ?

O importante é que as pessoas deixem de introduzir esta espécie nos poços e nos lagos que têm em casa. É preferível que não o façam, uma vez que isso pode contribuir para a sua dispersão para as ribeiras e rios mais próximos.

Fêmea de gambúsia. Foto: Robert Aguilar, Smithsonian Environmental Research Center

E qual é a situação noutros sítios do mundo onde é invasora?

A gambúsia é reconhecida a nível mundial como uma das espécies mais indesejadas e invasoras. Na Austrália, é considerada uma das espécies que tem mais impacto nos ecossistemas. E em Espanha, nas zonas estuarinas, é uma das espécies responsáveis pelo declínio de duas espécies endémicas que aí existem. 

Uma curiosidade…

O nome em inglês da família Poeciliidae é ‘Mosquitofishes’ (peixes-mosquito) e é a reboque deste nome que a gambúsia é hoje conhecida em inglês como ‘Mosquitofish’. Aliás, foi introduzida em inúmeros países para o suposto controlo da larva aquática do mosquito transmissor da malária. Mas foi realizado um estudo no Baixo Mondego, em que se avaliaram as preferências alimentares da gambúsia, e verificou-se que esta espécie de facto alimenta-se preferencialmente de zooplâncton. Só ocasionalmente é que se alimenta de larvas de mosquito.

… e ainda outra curiosidade

É comum verem-se gambúsias a predarem os ninhos de perca-sol (Lepomis gibbosus), que é outra espécie invasora. Estes peixes formam dois cardumes e atacam o ninho de forma cooperativa: um cardume serve de engodo para as percas-sol o perseguirem, deixando o ninho sem proteção para o outro cardume. Depois os progenitores de perca-sol apercebem-se e vão afugentar o outro cardume, deixando espaço para o primeiro cardume de gambúsias atacar o ninho. 

Filipe Ribeiro

População de linces-ibéricos atinge máximo histórico e ultrapassa os 1.000 animais

 O número total de exemplares em Portugal e Espanha ascende a 1.111, entre indivíduos adultos ou subadultos e as crias nascidas em 2020, revelou hoje o Ministério espanhol para a Transição Ecológica e Desafio Demográfico (MITECO).


O Grupo de Trabalho do Lince, coordenado pelo MITECO, revelou no seu último relatório o melhor balanço dos últimos 20 anos sobre o estado das populações ibéricas desta espécie de felino Em Perigo de extinção.

Lince-ibérico. Foto: MITECO

Fruto dos esforços conjuntos de conservação do lince-ibérico nos últimos anos, o estudo mostra que a população de Lynx pardinus em Portugal e Espanha alcançou um total de 1.111 exemplares recenseados nos dois países, segundo dados de 2020.

Este número é o máximo registado desde que começaram os programas de monitorização da espécie. Um sucesso, se pensarmos que em 2002 apenas foram encontrados menos de 100 animais. Para o MITECO, este é um dos programas de conservação de felinos com maior sucesso em todo o mundo.

“Para um responsável de biodiversidade, uma das maiores alegrias que pode receber é uma notícia como a que acabamos de saber”, comentou, em comunicado, Teresa Ribera, ministra espanhola para a Transição Ecológica e Desafio Demográfico. “Temos tido imensa sorte em poder juntar o melhor em termos de esforço administrativo e conhecimento para poder alcançar este número, que superou as expectativas iniciais.”

Lince-ibérico. Foto: MITECO

O Grupo de Trabalho do Lince Ibérico compilou os dados de seguimento de 2020, obtidos pelas entidades ambientais dos dois países, e constatou que foi um bom ano para a evolução populacional da espécie, com um aumento de 30% em relação ao censo de 2019.

“Esta curva demográfica permite-nos ser optimistas e esboça cenários que afastam o grande felino ibérico do risco crítico de extinção”, comenta o ministério.

Ainda assim, os peritos pedem prudência e insistem na necessidade de manter os esforços e programas de conservação, uma vez que a espécie não está fora de perigo e continua legalmente a ser considerada Em Perigo de extinção.

Em Portugal vivem 140 linces, todos na área do Vale do Guadiana. Este número corresponde a 12,5% do total de exemplares registados durante 2020.

Desses 140 linces, 80 são adultos e imaturos (entre os quais 26 fêmeas reprodutoras ou territoriais) e 60 são crias.

Lince-ibérico. Foto: MITECO

A maioria dos linces (87,5%) vive em cinco núcleos da Andaluzia – onde ocorre mais de metade da população de Espanha -, em Castela-La Mancha (com um terço dos linces) e Extremadura (com 141 exemplares).

No total existem 14 núcleos com presença estável de lince em toda a Península Ibérica, um dos quais em Portugal (Vale do Guadiana). Os mais importantes são os da Serra Morena (com 603 linces), Montes de Toledo (145), Vale do Guadiana (140) e Matachel (131).

Em 2020 foram registados 414 nascimentos, de 239 fêmeas reprodutoras. A produtividade global – ou seja, o número de crias nascidas por fêmea reprodutora ou territorial – foi em média de 1,7. Em Portugal esse valor foi mais elevado, de 2,3.

“Além das medidas de gestão do habitat e de protecção dos linces face a ameaças, o programa de conservação ex situ do lince-ibérico teve um papel chave para alcançar estes números”, sublinha o MITECO.

Este programa – onde Portugal participa activamente através do Centro Nacional de Reprodução do Lince-ibérico (CNRLI), em Silves – engloba os trabalhos de reprodução em cativeiro e reintrodução de animais em cinco centros.

Desde que em 2011 começaram as primeiras soltas de linces na natureza, de animais nascidos em cativeiro, até 2021, foram reintroduzidos 305 exemplares. “Igualmente importante é que é elevada a sobrevivência e aclimatação dos animais reintroduzidos em todas as áreas de reintrodução seleccionadas.”

Helena Geraldes

Rota dos Petiscos regressa de 1 a 30 de junho com 25 estabelecimentos aderentes

 À imagem de cada espaço está associado, para além do petisco, um pequeno vídeo de boas vindas do próprio comerciante, bem como coordenadas GPS e outra informação relevante.


Face ao sucesso alcançado em 2020 a Associação Comercial, Industrial e Serviços de Bragança (ACISB) decidiu promover novamente a Rota dos Petiscos “Petisq’Aqui”, tendo este ano envolvido 25 estabelecimentos comerciais.

Pelo valor fixo de 5€ os aderentes disponibilizam ao cliente um petisco acompanhado por uma bebida. O propósito da ACISB é promover dinâmicas na cidade que incentivem os consumidores a circular e a consumir nos cafés e restaurantes, com segurança e confiança.

Cada restaurante aderente vai estar identificado com um cartaz alusivo à iniciativa, que dispõe, para além da identificação da casa comercial e do petisco, de um QR Code, com a indicação “Siga a Rota”, que remete para um mapa interativo onde estão sinalizados e devidamente identificados cada um dos estabelecimentos que integram o Petisq’Aqui.

À imagem de cada espaço está associado, para além do petisco, um pequeno vídeo de boas vindas do próprio comerciante, bem como coordenadas GPS e outra informação relevante.

A ACISB entendeu recorrer à tecnologia para facilitar o acesso à informação à comunidade, com o detalhe que necessita, sem fazer uso de material impresso, ou outros materiais menos recomendáveis em tempo de pandemia.

Esta iniciativa quer também promover o regresso da comunidade ao comércio e ao convívio e partilha de momentos com amigos, sem deixar de cumprir as orientações de controlo da COVID-19.

Para os comerciantes é mais uma possibilidade de se promoverem e também de renovarem a oferta, criando petiscos que só por si sejam capazes de atrair novos clientes e chegar a novos públicos e assim, mais facilmente, conseguirem recuperar dos graves prejuízos que o contexto pandémico lhes tem vindo a causar desde março de 2020.

Apesar de ter um período de duração definido, de 1 a 30 de junho, os comerciantes podem continuar com a iniciativa pelo tempo que entenderem.

Estabelecimentos aderentes:

1. Restaurante O Restaurador
2. Taberna do Tio Artur – Bem Falado
3. Café Couto
4. Pastelaria Torre de Princesa
5. Lost Corner
6. O Nosso Café
7. Café Ibérico
8. JP Rock Bar
9. Tasca do Gandil
10. Keb by Cheers
11. Taberna do Javali
12. Restaurante Sport
13. Quinta das Queimadas
14. Kafé Kopus Bar
15. Confeitaria A3
16. O Copinhos
17. Goal Keeper
18. Restaurante Emiclau
19. Tasca Noz
20. Bar Brigantia Ecopark
21. Felix Bar
22. Quinta do lagar
23. Taberna Londrina
24. Pastelaria Florida
25. O cantinho

sexta-feira, 28 de maio de 2021

Capotamento faz dois feridos na N215 em Chacim

 O capotamento de uma viatura ligeira fez ao início da noite desta sexta-feira dois feridos na estrada N215, na aldeia de Chacim, em Macedo de Cavaleiros.
Ao que apuramos, trata-se de dois homens de 75 e 50 anos, tendo um deles ficado ferido com média gravidade e o outro foi ligeiro.

Ambos foram transportados para o Hospital de Bragança.

O alerta foi dado pouco depois das 20h e para o local foram acionados 11 operacionais, apoiados por quatro viaturas.

Escrito por ONDA LIVRE

Guerra Junqueiro: "O Chapelinho Encarnado"

 Era uma vez uma rapariguinha muito bonita e cheia de bondade, a quem sua mãe e sua avó adoravam extremosamente. A boa da avozinha, que passava o tempo a imaginar o que poderia agradar à neta, deu-lhe um dia um chapéu de veludo vermelho. A pequenita andava tão contente com o seu chapéu novo, que já não queria pôr outro, e começaram a chamar-lhe a menina do chapelinho encarnado.

A mãe e a avó moravam em duas casas separadas por uma floresta de meia légua de comprido. Uma manhã a mãe disse à pequenita:

- Tua avó está doente, e não pôde vir ver-nos. Eu fiz estes doces, vai levar-lhes tu esta garrafa de vinho. Toma cuidado não quebres a garrafa, não andes a correr, vai devagarinho e volta logo.

- Sim, mamã, respondeu ela, hei de fazer tudo como deseja.

Atou o seu avental, meteu num cestinho a garrafa e os doces, e pôs-se a caminho. No meio da floresta um lobo aproximou-se dela. A pequenita, que nunca vira lobos, olhou para ele sem medo algum.

- Bons dias, chapelinho encarnado.

- Bons dias, meu senhor, respondeu delicadamente a pequena.

- Onde vais tão cedo?

- A casa da minha avó que está doente.

- E levas-lhe alguma cousa?

- Levo, sim senhor; levo-lhe uns bolos e uma garrafa de vinho para lhe dar forças.

Dize-me onde mora a tua, avó, que também a quero ir ver.

- É perto, aqui no fim da floresta. Há ao pé uns carvalhos muito grandes, e no jardim há muitas nozes.

- Ah! tu é que és uma bela noz, disse consigo o lobo. Como eu gostava de te comer. Depois continuou em voz alta: - Olha, que bonitas árvores e que lindos passarinhos. Como é bom passear nas florestas, e então que quantidade de plantas medicinais que se encontram!

- O senhor, é com certeza um medico, respondeu a inocente pequenita, visto que conhece as ervas medicinais. Talvez me pudesse indicar alguma que fizesse bem a minha avó.

- Com certeza, minha filha, olha, aqui está uma, e esta também, e aquela. Mas todas as plantas que o lobo indicava, eram plantas venenosas. A pobre criança, queria-as apanhar para as levar a sua avó.

- Adeus, meu lindo chapelinho encarnado, estimei muito conhecer-te. Com grande pena minha, tenho de te deixar para ir ver um doente.

E pôs-se a correr em direção da casa da avó, enquanto que a pequerrucha se entretinha em apanhar as plantas que ele tinha indicado.

Quando o lobo chegou à porta da velha, achou-a fechada e bateu, mas a avó não se podia levantar da cama, e perguntou: Quem está aí?

- É o chapelinho encarnado, respondeu o lobo imitando a voz da pequerrucha. A mamã manda-te bolos e uma garrafa de vinho.

- Procura debaixo da porta disse a avó, que encontrarás a chave.

Encontrou-a, abriu a porta, engoliu de uma bocada a pobre velha inteira, e depois, vestindo o fato que ela costumava usar, deitou-se na cama.

Pouco depois entrou a pequenita, assustada e admirada de encontrar a porta aberta, porque sabia o cuidado com que a avó a costumava ter fechada.

O lobo tinha posto uma touca na cabeça, que lhe escondia uma parte do focinho, mas o que lhe ficava descoberto era horrível.

- Ai! avozinha, disse a criança, porque tens tu as orelhas tão grandes?

- É para te ouvir melhor, minha filha.

- E porque estás com uns olhos tão grandes?

- É para te ver melhor.

- E para que estás com os braços tão grandes?

- É para te poder abraçar melhor.

- E Jesus! para que tens hoje uma boca tão grande e uns dentes tão agudos?

- É para te comer melhor. A estas palavras o lobo arremessou-se à pobre pequena, e engoliu-a. Como estava repleto, adormeceu, e começou a ressonar muito alto. Um caçador que passava por acaso, perto da casa, e que ouviu aquele barulho, disse consigo: A pobre velha está com um pesadelo, está pior talvez, vou ver se precisa de alguma cousa. Entra, e vê o lobo estendido na cama.

- Olá, meu menino, diz ele: há muito tempo que te procuro.

Armou a sua espingarda, mas parando logo: Não, disse ele, não vejo a dona da casa. Talvez o lobo a engolisse viva. E em lugar de matar o animal com uma bala, pegou na sua faca de mato, e abriu-lhe cuidadosamente a barriga. Apareceu logo o chapelinho encarnado e saltou para o chão, gritando:

- Ai! que sítio medonho onde eu estive fechada!

A avó saiu também contentíssima por ver outra vez a luz do dia.

O lobo continuava a dormir profundamente, e o caçador meteu-lhe então duas grandes pedras na barriga, coseu tudo, e escondeu-se com a avó e a neta para verem o que se ia passar.

Decorrido um instante o lobo acordou, e como tinha sede, levantou-se para ir beber ao lago. Ao andar ouvia as pedras baterem uma na outra, e não podia compreender o que aquilo era; com o peso, caiu no lago, e afogou-se.

O caçador tirou-lhe a pele, comeu os bolos e bebeu o vinho com a velha e a sua neta. A velha sentia-se remoçar, e o chapelinho encarnado prometeu não tornar a passar na floresta, quando sua mãe lh'o proibisse.

Fonte:
Guerra Junqueiro: "Contos para a Infância", Publicado originalmente em 1877.