O presidente da Câmara de Mogadouro anunciou hoje à Lusa a construção de um heliporto, num investimento de cerca de 130 mil euros para servir helicópteros da emergência médica e de combate a incêndios de modelos ligeiros e pesados.
"Já tivemos várias conversações com a Autoridade Nacional de Aviação Civil (ANAC) no sentido de escolher o melhor local para a construção do heliporto, tendo-se chegado à conclusão que o aeródromo municipal seria o mais indicado. Este equipamento será construído apenas com recurso a fundos próprios da autarquia", explicou Francisco Guimarães.
Segundo o autarca, ao longo dos anos o concelho tem sentido a necessidade de ter um heliporto para o transporte de emergência médica ou uma base para helicópteros de combate a incêndios, dado o concelho ser dotado de uma grande mancha florestal.
"Esperamos ter este equipamento em funcionamento até ao final do ano para assim servir a população do Planalto Mirandês, já que em Mogadouro existe um Serviço de Urgência Básica que serve concelhos como Miranda do Douro e Freixo de Espada à Cinta", concretizou Francisco Guimarães.
O Aeródromo Municipal de Mogadouro (AMM), no distrito de Bragança, é dotado de uma pista asfaltada de 1.270 metros com 23 metros de largura, um corredor de segurança e um hangar para parquear aeronaves onde é possível aterrarem vários tipos de aeronaves ultraligeiras, ligeiras e pesadas, tais como aviões de transporte militar.
O AMM entrou ao serviço em agosto de 2005, sendo considerado pela autarquia "como um dos principais ativos do concelho" dada a sua localização, a seis quilómetros da vila transmontana e nas proximidades da Estada Nacional 219 (EN219).
Segundo o autarca de Mogadouro, a ANAC já deu autorização para que o heliporto esteja em "funcionamento 24 horas por dia".
"Havia a necessidade de dar um outro aproveitamento ao AMM que não fossem só as atividades aeronáuticas de lazer e turismo", vincou o responsável.
Outro dos investimentos a realizar será a iluminação da pista do aeródromo para poder receber aeronaves no período noturno, sejam de emergência ou de lazer.
in:diariodetrasosmontes.com
C/Agência Lusa
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Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço.
A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)
(Henrique Martins)
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quarta-feira, 31 de julho de 2019
Helena Gonçalves representa a Associação de Basquetebol de Bragança no europeu sub-20 feminino
Helena Gonçalves foi escolhida pela Federação Portuguesa de Basquetebol para ser chefe de comitiva da Selecção Nacional feminina, no Campeonato da Europa Divisão A de sub-20.
A presidente da Associação de Basquetebol de Bragança já está na República Checa com a equipa das quinas. Portugal integra o grupo A juntamente com a Sérvia, Espanha e Letónia.
O europeu começa no sábado, dia 3, e termina no dia 11 Agosto. O primeiro jogo da formação lusa é com a Espanha.
Escrito por Brigantia
A presidente da Associação de Basquetebol de Bragança já está na República Checa com a equipa das quinas. Portugal integra o grupo A juntamente com a Sérvia, Espanha e Letónia.
O europeu começa no sábado, dia 3, e termina no dia 11 Agosto. O primeiro jogo da formação lusa é com a Espanha.
Escrito por Brigantia
Freguesias de Mirandela obrigadas a pagar taxa de saneamento e resíduos para manter gestão da água
As quatro uniões de freguesia do concelho de Mirandela que ainda são responsáveis pelo sistema de água em baixa, vão continuar a cobrar o consumo de água aos habitantes, mas passam a ser obrigadas a aplicar as taxas de saneamento e de recolha do lixo.
É uma das condições plasmadas no protocolo a estabelecer com a câmara de Mirandela, aprovado em reunião extraordinária da Assembleia Municipal.
No concelho de Mirandela, o Município está a gerir o sistema de água, em baixa, sendo responsável pelo envio mensal, aos habitantes de 26 freguesias, das faturas relativas ao consumo de água e das taxas de saneamento e recolha de lixo.
No entanto, há quatro uniões de freguesia que nunca quiseram integrar este sistema, alegando que todos os gastos inerentes à colocação dos sistemas de captação de água foram da responsabilidade das juntas, pelo que consideram justo que sejam elas a cobrar o respetivo consumo.
Estão nesta situação, a União de Freguesias de Barcel, Marmelos e Valverde da Gestosa, a de Avantos e Romeu, a do Franco e Vila Boa e também a União de Freguesias de Avidagos, Navalho e Pereira, onde não são cobradas as taxas de saneamento e da recolha do lixo.
Já em 2015, a ERSAR - entidade reguladora dos serviços de água e resíduos – avançou com um despacho onde obrigava todos os municípios a ficar com a gestão das águas em baixa, concedendo um período de cinco anos para que as freguesias que ainda detinham o sistema fizessem a entrega voluntária aos municípios. O que não aconteceu em quatro uniões de freguesia.
Agora, um novo despacho da ERSAR, vem reforçar essa obrigatoriedade, e regularizar essa situação, com efeitos a partir de janeiro de 2020. No entanto, deixa em aberto a hipótese de os Municípios delegarem nas freguesias a gestão da água, desde que se responsabilizem pela sua qualidade perante a ERSAR, mas têm de introduzir na fatura as taxas de saneamento e de resíduos.
Aproveitando essa exceção, o executivo liderado por Júlia Rodrigues avançou com um protocolo que prevê entregar às referidas uniões de freguesia a gestão da água, até ao início de 2022. “Vai coincidir com o final dos mandatos, na câmara e nas juntas de freguesia, e só depois ser, possivelmente, feita a internalização desses serviços na autarquia, dado que elas cumprem todos os parâmetros exigidos pela ERSAR para poderem manter a gestão, salvaguardando a questão das taxas de saneamento e resíduos”, justifica a autarca socialista
O protocolo foi aprovado na Assembleia Municipal extraordinária, da passada sexta-feira, sendo que, para a presidente da câmara de Mirandela, tratava-se de “uma situação injusta que agora fica regularizada”.
O presidente da União de Freguesias do Franco e Vila Boa considera que este protocolo vem clarificar a situação. “Só fazemos o protocolo porque a Lei nos obriga a fazê-lo e desta forma podemos continuar a gerir a água como sempre o fizemos até aqui”, diz Paulo Pontes, sublinhando que nunca se opôs a que o Município cobrasse as taxas de saneamento e de resíduos.
O autarca admite que esta medida pode implicar um aumento na fatura da água aos seus fregueses. “De facto, poderá haver alguma mexida, mas isso é uma questão que vamos analisar e tentar negociar”, acrescenta.
A partir de janeiro de 2020, as quatro uniões de freguesia do concelho de Mirandela que ainda detêm a gestão da água vão passar a incluir na fatura as taxas de saneamento e de resíduos, como de resto já acontece nas restantes 26 freguesias.
Será assim, até 2022. Depois, caberá aos futuros autarcas eleitos decidir como será daí em diante.
Rádio Terra Quente
É uma das condições plasmadas no protocolo a estabelecer com a câmara de Mirandela, aprovado em reunião extraordinária da Assembleia Municipal.
No concelho de Mirandela, o Município está a gerir o sistema de água, em baixa, sendo responsável pelo envio mensal, aos habitantes de 26 freguesias, das faturas relativas ao consumo de água e das taxas de saneamento e recolha de lixo.
No entanto, há quatro uniões de freguesia que nunca quiseram integrar este sistema, alegando que todos os gastos inerentes à colocação dos sistemas de captação de água foram da responsabilidade das juntas, pelo que consideram justo que sejam elas a cobrar o respetivo consumo.
Estão nesta situação, a União de Freguesias de Barcel, Marmelos e Valverde da Gestosa, a de Avantos e Romeu, a do Franco e Vila Boa e também a União de Freguesias de Avidagos, Navalho e Pereira, onde não são cobradas as taxas de saneamento e da recolha do lixo.
Já em 2015, a ERSAR - entidade reguladora dos serviços de água e resíduos – avançou com um despacho onde obrigava todos os municípios a ficar com a gestão das águas em baixa, concedendo um período de cinco anos para que as freguesias que ainda detinham o sistema fizessem a entrega voluntária aos municípios. O que não aconteceu em quatro uniões de freguesia.
Agora, um novo despacho da ERSAR, vem reforçar essa obrigatoriedade, e regularizar essa situação, com efeitos a partir de janeiro de 2020. No entanto, deixa em aberto a hipótese de os Municípios delegarem nas freguesias a gestão da água, desde que se responsabilizem pela sua qualidade perante a ERSAR, mas têm de introduzir na fatura as taxas de saneamento e de resíduos.
Aproveitando essa exceção, o executivo liderado por Júlia Rodrigues avançou com um protocolo que prevê entregar às referidas uniões de freguesia a gestão da água, até ao início de 2022. “Vai coincidir com o final dos mandatos, na câmara e nas juntas de freguesia, e só depois ser, possivelmente, feita a internalização desses serviços na autarquia, dado que elas cumprem todos os parâmetros exigidos pela ERSAR para poderem manter a gestão, salvaguardando a questão das taxas de saneamento e resíduos”, justifica a autarca socialista
O protocolo foi aprovado na Assembleia Municipal extraordinária, da passada sexta-feira, sendo que, para a presidente da câmara de Mirandela, tratava-se de “uma situação injusta que agora fica regularizada”.
O presidente da União de Freguesias do Franco e Vila Boa considera que este protocolo vem clarificar a situação. “Só fazemos o protocolo porque a Lei nos obriga a fazê-lo e desta forma podemos continuar a gerir a água como sempre o fizemos até aqui”, diz Paulo Pontes, sublinhando que nunca se opôs a que o Município cobrasse as taxas de saneamento e de resíduos.
O autarca admite que esta medida pode implicar um aumento na fatura da água aos seus fregueses. “De facto, poderá haver alguma mexida, mas isso é uma questão que vamos analisar e tentar negociar”, acrescenta.
A partir de janeiro de 2020, as quatro uniões de freguesia do concelho de Mirandela que ainda detêm a gestão da água vão passar a incluir na fatura as taxas de saneamento e de resíduos, como de resto já acontece nas restantes 26 freguesias.
Será assim, até 2022. Depois, caberá aos futuros autarcas eleitos decidir como será daí em diante.
Rádio Terra Quente
Músico rende-se a Bragança e dedica álbum ao “Reino Maravilhoso”
Chama-se Rei Marte e é o mais recente projecto a solo de Simão Reis.
Com 28 anos, deixou há mais de dez a Trofa, a cidade que o viu nascer e rendeu-se a Bragança, que o acolheu e seduziu. É à cidade e a toda esta região que dedica o “Reino Maravilhoso”, álbum que é fruto deste Rei Marte. Simão tem ainda outros três projectos a solo, integra a banda Raiva Rosa e escreve para Yvette Band, grupo do qual também já fez parte. Segundo conta são as várias ideias que tem que o fazem criar ainda mais.
“Só em Bragança é que o céu fica vermelho e cor-de-rosa quando o sol se está a pôr. Isso é das coisas mais bonitas que já vi, só aqui é que há estas pequeninas coisas”, conta.
Além do single, com o mesmo nome que o álbum, podem ainda ouvir-se “Marta”, “Não Pensei Muito” e “Porquê Rei Marte?”. Um trabalho que pretende mostrar que é nesta cidade que está bem.
Simão Reis pretende, de alguma forma, tocar as pessoas e mostrar que o que canta é comum tanto a ele quanto a quem o ouve.
“Deixar as pessoas a chorar ou a sorrir. É isso que a música dos outros me faz. Quero que tenham a noção que estou a viver um sentimento que elas também passam”, explicou o músico.
Simão Reis tem 28 anos, veio para Bragança estudar música, curso que não chegou a acabar por se ter envolvido em diversos projectos musicais. Os Ornatos Violeta servem-lhe de inspiração. Manuel Cruz, vocalista desta banda, é quem mais admira em termos de composição. O projecto Rei Marte materializou-se apenas este mês.
Escrito por Brigantia
Jornalista: Carina Alves
Com 28 anos, deixou há mais de dez a Trofa, a cidade que o viu nascer e rendeu-se a Bragança, que o acolheu e seduziu. É à cidade e a toda esta região que dedica o “Reino Maravilhoso”, álbum que é fruto deste Rei Marte. Simão tem ainda outros três projectos a solo, integra a banda Raiva Rosa e escreve para Yvette Band, grupo do qual também já fez parte. Segundo conta são as várias ideias que tem que o fazem criar ainda mais.
“Só em Bragança é que o céu fica vermelho e cor-de-rosa quando o sol se está a pôr. Isso é das coisas mais bonitas que já vi, só aqui é que há estas pequeninas coisas”, conta.
Além do single, com o mesmo nome que o álbum, podem ainda ouvir-se “Marta”, “Não Pensei Muito” e “Porquê Rei Marte?”. Um trabalho que pretende mostrar que é nesta cidade que está bem.
Simão Reis pretende, de alguma forma, tocar as pessoas e mostrar que o que canta é comum tanto a ele quanto a quem o ouve.
“Deixar as pessoas a chorar ou a sorrir. É isso que a música dos outros me faz. Quero que tenham a noção que estou a viver um sentimento que elas também passam”, explicou o músico.
Simão Reis tem 28 anos, veio para Bragança estudar música, curso que não chegou a acabar por se ter envolvido em diversos projectos musicais. Os Ornatos Violeta servem-lhe de inspiração. Manuel Cruz, vocalista desta banda, é quem mais admira em termos de composição. O projecto Rei Marte materializou-se apenas este mês.
Escrito por Brigantia
Jornalista: Carina Alves
Circuito automóvel panorâmico dos Lagos do Sabor propõe a turistas "navegar nas montanhas"
Navegar na montanha é a proposta do circuito automóvel panorâmico dos Lagos do Sabor.Navegar na montanha é a proposta do circuito automóvel panorâmico dos Lagos do Sabor.
Para promover a visitação da região e da paisagem que resultou da construção da barragem do baixo Sabor os municípios abrangidos pela albufeira criaram um circuito à volta dos lagos artificiais, como adianta Vítor Sobral da Associação de Município do Baixo Sabor. “Permite que todos os turistas e munícipes possam visitar e contemplar os lagos e navegar na montanha, por um circuito circular de mais de 220 quilómetros que passa pelos quatro municípios e que permite ter uma visão diferente sobre o espelho de água e os diferentes lagos: o lago do Cilhades em Torre de Moncorvo, o lago dos Santuários em Alfândega da Fé, o lago do Medal em Mogadouro e as Fragas do Sabor em Macedo de Cavaleiros, que complementam com o Geoparque Terras de Cavaleiros”, explicou.
O mapa turístico, com vários pontos de interesse e de visitação assinalados, está quase pronto e o circuito poderá ser percorrido dentro de um mês. “Estamos a terminar a fase da sinalética, em Setembro estaremos com o circuito aberto, já com o mapa com todos os pontos de referência, quer turísticos, gastronómicos ou indicações de dormida. O mapa tem vários códigos QR que permitem ao turista consultar no telemóvel informações sobre o que vão visitar e cria uma autonomia de visitação diferente”, afirmou.
Para promoção deste território vai ainda ser apresentado o documentário Lagos do Sabor e vídeos promocionais com mascotes de cada um dos quatro municípios.
No âmbito deste projecto de circuito automóvel panorâmico dos Lagos do Sabor foram ainda criados vários miradouros ao longo dos lagos artificiais.
Escrito por Brigantia
Foto: AMBS
Jornalista: Olga Telo Cordeiro
Para promover a visitação da região e da paisagem que resultou da construção da barragem do baixo Sabor os municípios abrangidos pela albufeira criaram um circuito à volta dos lagos artificiais, como adianta Vítor Sobral da Associação de Município do Baixo Sabor. “Permite que todos os turistas e munícipes possam visitar e contemplar os lagos e navegar na montanha, por um circuito circular de mais de 220 quilómetros que passa pelos quatro municípios e que permite ter uma visão diferente sobre o espelho de água e os diferentes lagos: o lago do Cilhades em Torre de Moncorvo, o lago dos Santuários em Alfândega da Fé, o lago do Medal em Mogadouro e as Fragas do Sabor em Macedo de Cavaleiros, que complementam com o Geoparque Terras de Cavaleiros”, explicou.
O mapa turístico, com vários pontos de interesse e de visitação assinalados, está quase pronto e o circuito poderá ser percorrido dentro de um mês. “Estamos a terminar a fase da sinalética, em Setembro estaremos com o circuito aberto, já com o mapa com todos os pontos de referência, quer turísticos, gastronómicos ou indicações de dormida. O mapa tem vários códigos QR que permitem ao turista consultar no telemóvel informações sobre o que vão visitar e cria uma autonomia de visitação diferente”, afirmou.
Para promoção deste território vai ainda ser apresentado o documentário Lagos do Sabor e vídeos promocionais com mascotes de cada um dos quatro municípios.
No âmbito deste projecto de circuito automóvel panorâmico dos Lagos do Sabor foram ainda criados vários miradouros ao longo dos lagos artificiais.
Escrito por Brigantia
Foto: AMBS
Jornalista: Olga Telo Cordeiro
Alunos do IPB têm dificuldade em arranjar alojamento na cidade
Os estudantes do Instituto Politécnico de Bragança têm tido cada vez mais dificuldade em conseguir arrendar casa.
O número de alunos na cidade tem vindo a crescer e, por isso, a oferta já não é suficiente para tanta procura.
“Tive um pouco de dificuldade, porque as casas estavam sempre ocupadas, tinham poucas casas, era mesmo difícil encontrar alguém que quisesse alugar a sua casa”, disse Ébora Almeida, estudante do IPB há 10 meses.
Estamos no final de Julho e segundo Eugénia Batista, agente imobiliária, já não há casas para arrendar aos estudantes que vêm em Setembro.
“Estamos no mês de Julho e, neste momento, se me perguntar se lhe consigo encontrar um T3 na zona do IPB para arrendar, eu digo-lhe que não. Temos tudo arrendado. Como os meninos, o ano passado, sentiram uma grande falta de casas, deixaram as casas arrendadas, ou seja, continuaram a pagar os meses de férias”, disse.
Orlando Rodrigues, presidente do IPB, diz que a falta de alojamento na cidade já afastou estudantes da instituição e acrescenta que estão a ser tomados medidas para ultrapassar o problema.
“Estamos a dialogar com as empresas locais, para perceber se é possível estabelecer parcerias para aumentar a oferta de alojamento na cidade. Vamos procurar dialogar também com a Câmara Municipal, no sentido de melhorar os transportes urbanos e facilitar, sobretudo, o acesso directo ao IPB”, referiu Orlando Rodrigues.
Devido à pouca oferta de casas para arrendar em Bragança, o preço das rendas tem também subido bastante, nos últimos anos.
Escrito por Brigantia
Jornalista: Ângela Pais
O número de alunos na cidade tem vindo a crescer e, por isso, a oferta já não é suficiente para tanta procura.
“Tive um pouco de dificuldade, porque as casas estavam sempre ocupadas, tinham poucas casas, era mesmo difícil encontrar alguém que quisesse alugar a sua casa”, disse Ébora Almeida, estudante do IPB há 10 meses.
Estamos no final de Julho e segundo Eugénia Batista, agente imobiliária, já não há casas para arrendar aos estudantes que vêm em Setembro.
“Estamos no mês de Julho e, neste momento, se me perguntar se lhe consigo encontrar um T3 na zona do IPB para arrendar, eu digo-lhe que não. Temos tudo arrendado. Como os meninos, o ano passado, sentiram uma grande falta de casas, deixaram as casas arrendadas, ou seja, continuaram a pagar os meses de férias”, disse.
Orlando Rodrigues, presidente do IPB, diz que a falta de alojamento na cidade já afastou estudantes da instituição e acrescenta que estão a ser tomados medidas para ultrapassar o problema.
“Estamos a dialogar com as empresas locais, para perceber se é possível estabelecer parcerias para aumentar a oferta de alojamento na cidade. Vamos procurar dialogar também com a Câmara Municipal, no sentido de melhorar os transportes urbanos e facilitar, sobretudo, o acesso directo ao IPB”, referiu Orlando Rodrigues.
Devido à pouca oferta de casas para arrendar em Bragança, o preço das rendas tem também subido bastante, nos últimos anos.
Escrito por Brigantia
Jornalista: Ângela Pais
Praia da Fraga da Pegada (Albufeira do Azibo) eleita como “Praia do Ano”
A Praia da Fraga da Pegada, na albufeira do Azibo, Macedo de Cavalerios, foi eleita como “Praia do Ano”.
Este galardão foi atribuído pelo Guia das Praias Fluviais, num concurso promovido anualmente que distingue as melhores zonas de banhos no Interior de Portugal. A votação decorreu no facebook e no site das praiasfluviais.pt.
O segundo lugar neste leque de praias do ano foi atribuído à Praia Fluvial de Santa Luzia, em Pampilhosa da Serra e o terceiro lugar foi arrecadado pela Praia Fluvial de Monsaraz, em Reguengos de Monsaraz.
O selo de praia revelação 2018 foi para a Praia Fluvial de Mourão.
A Praia da Fraga da Pegada, com bandeira azul há 16 anos consecutivos, é também considerada como “praia + acessível” e “qualidade de ouro”.
A concurso estiveram mais de 80 praias, de Norte a Sul do País.
Escrito por ONDA LIVRE
Este galardão foi atribuído pelo Guia das Praias Fluviais, num concurso promovido anualmente que distingue as melhores zonas de banhos no Interior de Portugal. A votação decorreu no facebook e no site das praiasfluviais.pt.
O segundo lugar neste leque de praias do ano foi atribuído à Praia Fluvial de Santa Luzia, em Pampilhosa da Serra e o terceiro lugar foi arrecadado pela Praia Fluvial de Monsaraz, em Reguengos de Monsaraz.
O selo de praia revelação 2018 foi para a Praia Fluvial de Mourão.
A Praia da Fraga da Pegada, com bandeira azul há 16 anos consecutivos, é também considerada como “praia + acessível” e “qualidade de ouro”.
A concurso estiveram mais de 80 praias, de Norte a Sul do País.
Escrito por ONDA LIVRE
terça-feira, 30 de julho de 2019
Gavetas onde se guardam pedaços de vida
Dele, pouco ou nada me lembro. Ao longo da vida trabalhei uma memória que de tanto voltar a ela, tornei-a verdadeira. Teria eu três ou quatro anos. Ao seu colo, passeava pelo jardim da sua casa no Bairro da Estação. Nas minhas pequenas mãos, um raio de Sol fazia cintilar uma moeda que ele me tinha dado. Foi desse gesto, do colo e da moeda, que estará lá por casa numa daquelas gavetas onde se guardam pedaços de vida, foi desse gesto que alimentei a tal memória. Da segurança dos seus braços, pude ver as primeiras cerejas de cerdeiro de cima e sentir o ar enroseirado que pairava no seu jardim. Do meu avô Mário Péricles, lembro-me que trazia chapéu e que me falava baixinho sempre que eu apontava para os pardais que nos queriam comer as cerejas. O meu avô Mário Péricles, em 1938 abriu uma Livraria em Bragança que esteve aberta 66 anos.
O resto da memória construiu-se ao longo dos anos. Em muitos dias, tantos que foram anos, que foram décadas. Nos dias em que fazia da Rua Direita o meu recreio de brincar. Nos dias em que ouvia as conversas dos mais velhos nas tertúlias de fim de tarde lá na Livraria. Nos dias à volta da mesa de família quando uma das suas filhas, minha mãe, falava do meu avô Péricles com aquele carinho que só os filhos sentem. Naqueles outros dias, tantos, em que o Sr. Vasconcelos me dizia vezes sem conta que o meu avô era um bom homem, como já não havia, dizia ele. Nos dias em que correndo o nosso mundo transmontano, ouvi testemunhos que realçavam a importância do voto de confiança naqueles que procuravam Bragança para estudar permitindo que se pagasse quando fosse possível: quando se vendesse a castanha, a azeitona ou a amêndoa. Era o tempo das relações de confiança na nobre gente de parcos recursos mas de enormes qualidades. Foi assim de 1938 até 2004. Poderia dizer que foram muitos, mas não digo, porque não foram. Deveriam ter sido mais. Passaram 12 anos desde o seu encerramento. Tem sido um luto difícil. Durante vários anos guardei essa memória numa das tais gavetas, onde se guardam os pedaços de vida. Hoje tudo é tão efémero e volátil que me conforta abrir algumas gavetas de saudade. Desde sempre me lembro de entrar na Livraria e sentir aquele cheiro característico a papel velho, impresso. Ao transpor as velhas portas verdes, entrava-se numa espécie de Babilónia, numa confusão com sentido, mas também se entrava numa espécie de “Porta de Deus” no sentido que ali se encontravam mundos novos, todos os mundos e muita gente boa, a que estava mas sobretudo, a que entrava. Na boa senda do comércio tradicional, recebia-se com gosto e sabia-se o nome de toda a gente. Os métodos de venda não eram os mais agressivos e na verdade muita da clientela procurava apenas dois dedos de conversa.
Quem ali entrava perdia-se numa imensidão de lombadas alinhadas verticalmente, num suave caos que convidava à descoberta. Os livros, aos milhares, aguardavam que um olhar mais atento se fixasse nos seus títulos ou nas suas capas mais ou menos atrativas. Sem nada poderem fazer, aguardavam a sua vez de poderem ser folheados, de se entregarem nas mãos do leitor que os elegera.
O resto era vida. Era o chegar das encomendas muito bem embrulhadas em papel ferro. Era o carteiro de muitos anos que se justificava se não houvesse correspondência para entregar. Era a cabeleireira mais afoita a perguntar se já tinha vindo a Crónica Feminina, a Maria ou, pelo Natal, a Eva. Era o estudante menos empenhado à procura dos auxiliares das obras obrigatórias. Era a professora primária que considerava a sugestão da D. Celeste. Era o senhor da agência que comprava o papel azul de 25 linhas, o papel e os valores selados, numa lógica muito certinha de fazer as coisas. Era o cabo da GNR que vinha levantar a encomenda do economato. Era um corrupio de gente de todos os quadrantes e credos.
Mas o sangue da Livraria jorrava dos seus clientes leitores. Era ali que se oxigenavam lendo a Coleção Vampiro e os casos complexos de Agatha Christie dos Livros do Brasil; As obras de Eça, de Virgílio Ferreira, de Camilo Castelo Branco, de Fernando Pessoa, de Sophia de Mello Breyner Andressen, de Florbela Espanca, de Miguel Torga; Todos os poetas da Assírio & Alvim; A Banda Desenhada da Meribérica; Os vinte e tal volumes da Luso Brasileira da Verbo Editora; A nossa história contada por Oliveira Marques ou José Mattoso; A coleção toda do nosso Saramago, Prémio Nobel; Aqueles que não gostávamos de vender como as entrevistas ao ditador, a cartilha ideológica do nazi sanguinário e ainda o Grande Livro de S. Cipriano que alguns compravam para fazer mal ao vizinho ou à amante do marido; Os romances de cordel de Corín Tellado e aquela Coleção Azul da Romano Torres para as aspirantes a nubentes, ofegantes e desejosas…
Numa outra gaveta, há também espaço para recordar os viajantes que traziam as novidades e sotaques de outras paragens e que faziam centenas de quilómetros em estradas cheias de curvas e sem túneis só para fornecerem a Mário Péricles de Bragança. Traziam no mostruário as últimas levadas à estampa da Dom Quixote, das Publicações Europa-América, da Verbo, das Edições 70, dos Livros do Brasil, da Almedina de Coimbra e da Figueirinhas ou dos Livros Horizonte. Traziam Pessoa da Ática Editora. Traziam Florbela Espanca da Bertrand Editora.
Nas estantes da Livraria Mário Péricles também havia as letras de outras línguas, de outros olhares e pensares. Havia Isabel Allende, Hemingway, Kafka, Milan Kundera, Mário Vargas Llosa, Gabriel Garcia Marquez, Umberto Eco…
Havia tudo. Quase tudo. Se não houvesse, o Sr. Luís escrevia um bilhete postal com uma letra pequenina, letra de poeta, para pedir à editora. Mais tarde dizia-se ao cliente:
- Chega para a semana; Deve estar para chegar ou penso que esteja esgotado. – Mas chegava, sempre chegava.
Os anos passaram e a história da Livraria fez o seu caminho marcando várias gerações, banhando-as de letras, muitas letras. A sua maior marca não será mensurável, essa estará gravada de forma indelével no carácter daqueles que beberam na sua nascente, não o precioso líquido indispensável à vida, mas a não menos dispensável sabedoria que se colhe nas relações humanas de quem gosta, compra e lê um bom livro.
Rui Machado
O resto da memória construiu-se ao longo dos anos. Em muitos dias, tantos que foram anos, que foram décadas. Nos dias em que fazia da Rua Direita o meu recreio de brincar. Nos dias em que ouvia as conversas dos mais velhos nas tertúlias de fim de tarde lá na Livraria. Nos dias à volta da mesa de família quando uma das suas filhas, minha mãe, falava do meu avô Péricles com aquele carinho que só os filhos sentem. Naqueles outros dias, tantos, em que o Sr. Vasconcelos me dizia vezes sem conta que o meu avô era um bom homem, como já não havia, dizia ele. Nos dias em que correndo o nosso mundo transmontano, ouvi testemunhos que realçavam a importância do voto de confiança naqueles que procuravam Bragança para estudar permitindo que se pagasse quando fosse possível: quando se vendesse a castanha, a azeitona ou a amêndoa. Era o tempo das relações de confiança na nobre gente de parcos recursos mas de enormes qualidades. Foi assim de 1938 até 2004. Poderia dizer que foram muitos, mas não digo, porque não foram. Deveriam ter sido mais. Passaram 12 anos desde o seu encerramento. Tem sido um luto difícil. Durante vários anos guardei essa memória numa das tais gavetas, onde se guardam os pedaços de vida. Hoje tudo é tão efémero e volátil que me conforta abrir algumas gavetas de saudade. Desde sempre me lembro de entrar na Livraria e sentir aquele cheiro característico a papel velho, impresso. Ao transpor as velhas portas verdes, entrava-se numa espécie de Babilónia, numa confusão com sentido, mas também se entrava numa espécie de “Porta de Deus” no sentido que ali se encontravam mundos novos, todos os mundos e muita gente boa, a que estava mas sobretudo, a que entrava. Na boa senda do comércio tradicional, recebia-se com gosto e sabia-se o nome de toda a gente. Os métodos de venda não eram os mais agressivos e na verdade muita da clientela procurava apenas dois dedos de conversa.
Quem ali entrava perdia-se numa imensidão de lombadas alinhadas verticalmente, num suave caos que convidava à descoberta. Os livros, aos milhares, aguardavam que um olhar mais atento se fixasse nos seus títulos ou nas suas capas mais ou menos atrativas. Sem nada poderem fazer, aguardavam a sua vez de poderem ser folheados, de se entregarem nas mãos do leitor que os elegera.
O resto era vida. Era o chegar das encomendas muito bem embrulhadas em papel ferro. Era o carteiro de muitos anos que se justificava se não houvesse correspondência para entregar. Era a cabeleireira mais afoita a perguntar se já tinha vindo a Crónica Feminina, a Maria ou, pelo Natal, a Eva. Era o estudante menos empenhado à procura dos auxiliares das obras obrigatórias. Era a professora primária que considerava a sugestão da D. Celeste. Era o senhor da agência que comprava o papel azul de 25 linhas, o papel e os valores selados, numa lógica muito certinha de fazer as coisas. Era o cabo da GNR que vinha levantar a encomenda do economato. Era um corrupio de gente de todos os quadrantes e credos.
Mas o sangue da Livraria jorrava dos seus clientes leitores. Era ali que se oxigenavam lendo a Coleção Vampiro e os casos complexos de Agatha Christie dos Livros do Brasil; As obras de Eça, de Virgílio Ferreira, de Camilo Castelo Branco, de Fernando Pessoa, de Sophia de Mello Breyner Andressen, de Florbela Espanca, de Miguel Torga; Todos os poetas da Assírio & Alvim; A Banda Desenhada da Meribérica; Os vinte e tal volumes da Luso Brasileira da Verbo Editora; A nossa história contada por Oliveira Marques ou José Mattoso; A coleção toda do nosso Saramago, Prémio Nobel; Aqueles que não gostávamos de vender como as entrevistas ao ditador, a cartilha ideológica do nazi sanguinário e ainda o Grande Livro de S. Cipriano que alguns compravam para fazer mal ao vizinho ou à amante do marido; Os romances de cordel de Corín Tellado e aquela Coleção Azul da Romano Torres para as aspirantes a nubentes, ofegantes e desejosas…
Numa outra gaveta, há também espaço para recordar os viajantes que traziam as novidades e sotaques de outras paragens e que faziam centenas de quilómetros em estradas cheias de curvas e sem túneis só para fornecerem a Mário Péricles de Bragança. Traziam no mostruário as últimas levadas à estampa da Dom Quixote, das Publicações Europa-América, da Verbo, das Edições 70, dos Livros do Brasil, da Almedina de Coimbra e da Figueirinhas ou dos Livros Horizonte. Traziam Pessoa da Ática Editora. Traziam Florbela Espanca da Bertrand Editora.
Nas estantes da Livraria Mário Péricles também havia as letras de outras línguas, de outros olhares e pensares. Havia Isabel Allende, Hemingway, Kafka, Milan Kundera, Mário Vargas Llosa, Gabriel Garcia Marquez, Umberto Eco…
Havia tudo. Quase tudo. Se não houvesse, o Sr. Luís escrevia um bilhete postal com uma letra pequenina, letra de poeta, para pedir à editora. Mais tarde dizia-se ao cliente:
- Chega para a semana; Deve estar para chegar ou penso que esteja esgotado. – Mas chegava, sempre chegava.
Os anos passaram e a história da Livraria fez o seu caminho marcando várias gerações, banhando-as de letras, muitas letras. A sua maior marca não será mensurável, essa estará gravada de forma indelével no carácter daqueles que beberam na sua nascente, não o precioso líquido indispensável à vida, mas a não menos dispensável sabedoria que se colhe nas relações humanas de quem gosta, compra e lê um bom livro.
Rui Machado
A indústria da seda em exposição
O Centro de Inovação Tecnológica INOVARURAL de Carrazeda de Ansiães, no distrito de Bragança, recebe, a partir sexta-feira, a exposição “Quando as Periferias São Centro – A Indústria da Tecelagem e das Sedas”.
Trata-se de uma exposição documental e etnográfica com base na produção da seda e a indústria da tecelagem, na época de auge da exploração durante os séculos XVIII e XIX na região de Trás-os-Montes, concretamente no distrito de Bragança.
Esta mostra é da autoria do Museu do Abade de Baçal de Bragança que, com o acervo próprio e de alguns particulares, revela, pela primeira vez algumas peças e convida a um percurso pelas diversas fases da produção da seda, desde os produtores, aos usos civis e religiosos.
A exposição estará patente até 31 de outubro, em Carrazeda de Ansiães.
in:diariodetrasosmontes.com
C/Agência Lusa
Trata-se de uma exposição documental e etnográfica com base na produção da seda e a indústria da tecelagem, na época de auge da exploração durante os séculos XVIII e XIX na região de Trás-os-Montes, concretamente no distrito de Bragança.
Esta mostra é da autoria do Museu do Abade de Baçal de Bragança que, com o acervo próprio e de alguns particulares, revela, pela primeira vez algumas peças e convida a um percurso pelas diversas fases da produção da seda, desde os produtores, aos usos civis e religiosos.
A exposição estará patente até 31 de outubro, em Carrazeda de Ansiães.
in:diariodetrasosmontes.com
C/Agência Lusa
OS ERROS DE JEAN-JACQUES
Nunca li uma única linha de rousseau. Há muita coisa para ler e o tempo não dá para tudo. No entanto já tropecei nele vezes sem conta e parto do princípio que tenha mesmo dito que as pessoas nascem boazinhas, algo que contradizia o conceito de pecado original até então aceite, e depois se estragam no convívio com a sociedade (quer dizer, com as outras pessoas). Não se podendo avaliar ninguém sem saber o contexto em que afirmou o que afirmou, arrisco ainda assim um pequeno comentário a essa ideia, à primeira vista inocente, mas que quanto a mim tem feito estragos no mundo de há duzentos e cinquenta anos a esta parte.
É certo que do seu ponto de vista, adotado depois pelas esquerdas, o indivíduo é considerado corrompido. Mas não tem que se preocupar, pois a culpa cabe inteirinha aos outros indivíduos. Alguém sugeriu que não existe coisa tão idiota que não possa ser dita por um filósofo, o que me parece ter sido o caso. Se fôssemos paridos em estado de natural bondade e depois nos metessem à força no meio de seres alienígenas que, tendo em vista uma experiência científica qualquer, nos arrastassem aos caminhos do mal para ver o efeito, até se poderia aceitar essa teoria a que poderíamos chamar “das más companhias”. Que também se justificaria no caso de haver duas humanidades, uma malévola que formasse os grupos e as instituições e outra que se limitasse a deambular passivamente dentro deles.
Ora nem uma nem outra destas suposições é verdadeira. O suíço não reparou que a sociedade (os grupos) não existe como coisa concreta. O que existe são pessoas singulares que, embora de algum modo ligadas a outras, não deixam de ser as mesmíssimas pessoas, únicas entidades que possuem consciência, razão, vontade e capacidade de ação pela qual respondem. É inegável que aqueles a quem nos juntamos nos podem influenciar, e de que maneira. Basta pensar que muitas vezes a imbecilidade dos ajuntamentos é muito superior à soma das imbecilidades individuais, o mesmo se podendo dizer da sua capacidade de praticar o bem. Mas nós também os influenciamos a eles: se é certo que uma víbora que caia numa família ou numa repartição pode ter o mesmo efeito que uma maçã podre numa cesta, também se sabe que há no mundo almas que têm o condão de o mudar para melhor, não só agindo sozinhas como fazendo-o até muitas vezes contra tudo e contra todos.
Como membro de um grupo e companhia dos restantes membros, influencio e sou influenciado, beneficio e sou beneficiado, corrompo e sou corrompido. Para os outros, o outro sou eu. Tenho um papel em tudo o que acontece. Ajudo a fazer a sociedade que me faz. A história da pescadinha de rabo na boca, o dilema do ovo e da galinha. De forma que dividir a humanidade em duas categorias, uma constituída pelas pessoas singulares, inocentes, e outra pelos grupos, a origem do mal que se instalaria nelas, é um absurdo que me faz lembrar os filmes do faroeste – índios maus e cobóis bons; a desculpa dos miúdos que fazem traquinices – não fui eu, foi aquele; os pais dos miúdos justificando as ditas traquinices – as más companhias; ou, acrescentaria eu, a síndrome da vista cansada – ver bem ao longe e mal ao perto.
Esta distorção infantil que consiste em vermo-nos sistematicamente como vítimas dos outros foi assentando na mente coletiva pelas décadas afora antes de triunfar nos tempos que correm, acarinhada pelas esquerdas e pelo estado, explorada até à náusea pelos meios de comunicação. Basta dizer que quase não há hoje quem não derrame abundantes lamúrias por dá cá aquela palha e não entoe a canção do desgraçadinho quando se depara com câmaras de tv, um tique já quase tão natural como respirar.
Enorme obstáculo ao autoconhecimento (e ao conhecimento em geral), a vitimização é também por isso inversamente proporcional à responsabilidade, e também por isso muito nociva. Desde que começou a proliferar, há de haver meio século mais coisa menos coisa, vamos já com duas gerações avessas a regras e deveres, ética e civicamente deficitárias, mas que se choram. O mal está disseminado, pelo que me limito a exemplificar com algo que me toca de perto e incomoda imenso: nas escolas públicas há cada vez mais meninos que se conduzem como selvagenzinhos; do ponto de vista deles e dos papás a culpa é dos professores (cá está, da sociedade…), uns incompetentes que “não os conseguem controlar”.
Eduardo Pires
in:jornalnordeste.com
É certo que do seu ponto de vista, adotado depois pelas esquerdas, o indivíduo é considerado corrompido. Mas não tem que se preocupar, pois a culpa cabe inteirinha aos outros indivíduos. Alguém sugeriu que não existe coisa tão idiota que não possa ser dita por um filósofo, o que me parece ter sido o caso. Se fôssemos paridos em estado de natural bondade e depois nos metessem à força no meio de seres alienígenas que, tendo em vista uma experiência científica qualquer, nos arrastassem aos caminhos do mal para ver o efeito, até se poderia aceitar essa teoria a que poderíamos chamar “das más companhias”. Que também se justificaria no caso de haver duas humanidades, uma malévola que formasse os grupos e as instituições e outra que se limitasse a deambular passivamente dentro deles.
Ora nem uma nem outra destas suposições é verdadeira. O suíço não reparou que a sociedade (os grupos) não existe como coisa concreta. O que existe são pessoas singulares que, embora de algum modo ligadas a outras, não deixam de ser as mesmíssimas pessoas, únicas entidades que possuem consciência, razão, vontade e capacidade de ação pela qual respondem. É inegável que aqueles a quem nos juntamos nos podem influenciar, e de que maneira. Basta pensar que muitas vezes a imbecilidade dos ajuntamentos é muito superior à soma das imbecilidades individuais, o mesmo se podendo dizer da sua capacidade de praticar o bem. Mas nós também os influenciamos a eles: se é certo que uma víbora que caia numa família ou numa repartição pode ter o mesmo efeito que uma maçã podre numa cesta, também se sabe que há no mundo almas que têm o condão de o mudar para melhor, não só agindo sozinhas como fazendo-o até muitas vezes contra tudo e contra todos.
Como membro de um grupo e companhia dos restantes membros, influencio e sou influenciado, beneficio e sou beneficiado, corrompo e sou corrompido. Para os outros, o outro sou eu. Tenho um papel em tudo o que acontece. Ajudo a fazer a sociedade que me faz. A história da pescadinha de rabo na boca, o dilema do ovo e da galinha. De forma que dividir a humanidade em duas categorias, uma constituída pelas pessoas singulares, inocentes, e outra pelos grupos, a origem do mal que se instalaria nelas, é um absurdo que me faz lembrar os filmes do faroeste – índios maus e cobóis bons; a desculpa dos miúdos que fazem traquinices – não fui eu, foi aquele; os pais dos miúdos justificando as ditas traquinices – as más companhias; ou, acrescentaria eu, a síndrome da vista cansada – ver bem ao longe e mal ao perto.
Esta distorção infantil que consiste em vermo-nos sistematicamente como vítimas dos outros foi assentando na mente coletiva pelas décadas afora antes de triunfar nos tempos que correm, acarinhada pelas esquerdas e pelo estado, explorada até à náusea pelos meios de comunicação. Basta dizer que quase não há hoje quem não derrame abundantes lamúrias por dá cá aquela palha e não entoe a canção do desgraçadinho quando se depara com câmaras de tv, um tique já quase tão natural como respirar.
Enorme obstáculo ao autoconhecimento (e ao conhecimento em geral), a vitimização é também por isso inversamente proporcional à responsabilidade, e também por isso muito nociva. Desde que começou a proliferar, há de haver meio século mais coisa menos coisa, vamos já com duas gerações avessas a regras e deveres, ética e civicamente deficitárias, mas que se choram. O mal está disseminado, pelo que me limito a exemplificar com algo que me toca de perto e incomoda imenso: nas escolas públicas há cada vez mais meninos que se conduzem como selvagenzinhos; do ponto de vista deles e dos papás a culpa é dos professores (cá está, da sociedade…), uns incompetentes que “não os conseguem controlar”.
Eduardo Pires
in:jornalnordeste.com
FANTASIA E REALIDADE SOBRE AS CEGONHAS
Como estão os leitores da página do Tio João?
O mês de Julho está a findar e fazendo o balanço, ao nível de temperaturas, tivemos algumas vagas de calor, a que chamamos “vagas loucas”. Com este calor vieram também as trovoadas uma vez por semana. Todos sabemos que a “santa esquecida”, a Santa Bárbara, é a protectora contra as trovoadas e só nesses momentos é evocada. Como diz o nosso povo há muito tempo, “só nos lembramos de Santa Bárbara quando troveja”.
A tia Ilda, de Macedo do Mato (Bragança), disse-nos que quando a trovoada ataca a sua terra, coloca a pá do pão à entrada da porta de casa e dessa forma se tem “livrado” de tristezas. É um hábito que vem do tempo da sua mãe.
Quem se tem queixado muito do calor são os nossos emigrantes, particularmente os que estão em Paris, porque, na semana passada,por lá, o calor bateu todos os recordes com temperaturas máximas inéditas.
Nestes dias, não passa pela cabeça de ninguém o estado de espírito dos emigrantes, que já têm tanta “fome” da sua terra. O ponteiro das saudades está no vermelho. Embora alguns já venham várias vezes por ano, o Verão continua a ser a época mais ambicionada porque é altura de festas, casamentos e baptizados. Também há alguns que aproveitam para verem como vão as obras de construção das suas casas.
Nesta altura são muitos os que estão a fazer a viagem para Portugal e nos dizem que o carro para cá até parece que vem sozinho, tal é a vontade de chegarem. Que venham devagar para chegarem depressa e que o S. Cristóvão, comemorado no dia 25 de Julho, lhes dê uma boa viagem. O dia 25 também é dedicado a S. Tiago e muitos já foram à vinha a provar o bago.
Na sexta-feira, dia 26, festejou-se o dia dos avós, o dia dedicado a Santa Ana e S. Joaquim, avós do Menino Jesus. Cada vez mais os netos vêm de férias mais cedo que os pais para junto dos seus avós, como é o caso da tia Lurdes Marrão, de Laviados (Bragança), que tem alegrado estes dias com a presença dos seus netos (na foto).
Esteve de parabéns na última semana a tia Claudina Dominguinhos, de S. Martinho (Miranda do Douro), que completou um século de vida. É bom constatarmos que cada vez é mais frequente haver quem chegue aos 100 anos de vida. Também festejaram as Bodas de Ouro Matrimoniais o tio Manuel Braz e a tia Maria da Luz, de Outeiro (Bragança). Outros aniversariantes foram o tio Hilário Morais (68) e a sua filha Ana Bela (40), de Nuzedo de Cima (Vinhais), que fizeram anos no mesmo dia, a Verónica Barros (26) e o Martim (6), de Estorãos (Valpaços); a Inês Isabel (16), de Rio Frio (Bragança); a Bruna Alexandra (18), de Víduedo (Bragança).
Que para o ano os possam festejar novamente connosco.
Esta semana vamos falar da cegonha branca, que regressa todos os anos à nossa região e que está envolta em lendas populares.
As cegonhas são aves migratórias e normalmente voltam ao mesmo lugar todos os anos. A sua chegada geralmente coincide com a entrada da Primavera, a época considerada da fertilidade.
A tia Ana Maria, de Vale de Lamas (Bragança), disse-nos que este ano avistou cegonhas logo em fins de Janeiro.
As cegonhas fazem o ninho em cima de árvores ou edifícios, torres ou campanários, mas porque sujavam muito as igrejas, em algumas localidades, como Gimonde (Bragança), construíram-lhes estruturas artificiais para que não nidifiquem nos campanários e torres de igrejas. Também escolhem árvores para os seus ninhos, que incluem uma grande variedade de espécies como choupos, pinheiros, eucaliptos ou freixos. Na construção do ninho, as cegonhas utilizam diversos materiais, como sendo galhos, folhas e até resíduos produzidos pelo homem.
Segundo nos contou a tia Maria da Glória, a nossa pastora de Vilar Seco (Vimioso), as cegonhas podem ter três ou até quatro ovos, mas só ficam com uma ou duas crias no máximo, pois “atiram com as outras do ninho”. Também nos contou que as cegonhas são amigas do agricultor, porque ajudam a eliminar a bicharada de que se alimentam: ratos, sapos, cobras, lagartos ou rãs. Por isso é tão comum verem-se atrás dos tractores quando as terras são lavradas.
Nos arredores da cidade de Bragança há algumas localidades onde se podem ver muitas cegonhas, nomeadamente em Baçal, Fontes Barrosas, Gimonde, Vale de Lamas, ou na veiga de Gostei.
Quando crianças, todos ouvimos dizer que quem trazia os bebés de Paris eram as cegonhas. Pode haver outras lendas, mas a tia Lurdes Marinho, de Bragança, emigrada em Paris, contou-nos uma, que tem a ver com o facto de as cegonhas migrarem para uma área habitacional perto de Paris, onde um casal construiu o ninho na chaminé de uma casa. A dona dessa casa estava de esperanças e por coincidência o nascimento do bebé aconteceu ao mesmo tempo que a chegada das cegonhas. Espalhou-se a lenda de que foram as cegonhas que trouxeram o bebé de Paris. A verdade é que durante muito tempo, quando os filhos perguntavam de onde vinham os bebés, era esta a explicação que os pais nos davam.
Esta lenda também influenciou outros propósitos, muito deles com fins comerciais. É vulgar os bolos de baptizado terem uma cegonha com uma fralda pendurada no bico com um bebé dentro.
Tio João
in:jornalnordeste.com
O mês de Julho está a findar e fazendo o balanço, ao nível de temperaturas, tivemos algumas vagas de calor, a que chamamos “vagas loucas”. Com este calor vieram também as trovoadas uma vez por semana. Todos sabemos que a “santa esquecida”, a Santa Bárbara, é a protectora contra as trovoadas e só nesses momentos é evocada. Como diz o nosso povo há muito tempo, “só nos lembramos de Santa Bárbara quando troveja”.
A tia Ilda, de Macedo do Mato (Bragança), disse-nos que quando a trovoada ataca a sua terra, coloca a pá do pão à entrada da porta de casa e dessa forma se tem “livrado” de tristezas. É um hábito que vem do tempo da sua mãe.
Quem se tem queixado muito do calor são os nossos emigrantes, particularmente os que estão em Paris, porque, na semana passada,por lá, o calor bateu todos os recordes com temperaturas máximas inéditas.
Nestes dias, não passa pela cabeça de ninguém o estado de espírito dos emigrantes, que já têm tanta “fome” da sua terra. O ponteiro das saudades está no vermelho. Embora alguns já venham várias vezes por ano, o Verão continua a ser a época mais ambicionada porque é altura de festas, casamentos e baptizados. Também há alguns que aproveitam para verem como vão as obras de construção das suas casas.
Nesta altura são muitos os que estão a fazer a viagem para Portugal e nos dizem que o carro para cá até parece que vem sozinho, tal é a vontade de chegarem. Que venham devagar para chegarem depressa e que o S. Cristóvão, comemorado no dia 25 de Julho, lhes dê uma boa viagem. O dia 25 também é dedicado a S. Tiago e muitos já foram à vinha a provar o bago.
Na sexta-feira, dia 26, festejou-se o dia dos avós, o dia dedicado a Santa Ana e S. Joaquim, avós do Menino Jesus. Cada vez mais os netos vêm de férias mais cedo que os pais para junto dos seus avós, como é o caso da tia Lurdes Marrão, de Laviados (Bragança), que tem alegrado estes dias com a presença dos seus netos (na foto).
Esteve de parabéns na última semana a tia Claudina Dominguinhos, de S. Martinho (Miranda do Douro), que completou um século de vida. É bom constatarmos que cada vez é mais frequente haver quem chegue aos 100 anos de vida. Também festejaram as Bodas de Ouro Matrimoniais o tio Manuel Braz e a tia Maria da Luz, de Outeiro (Bragança). Outros aniversariantes foram o tio Hilário Morais (68) e a sua filha Ana Bela (40), de Nuzedo de Cima (Vinhais), que fizeram anos no mesmo dia, a Verónica Barros (26) e o Martim (6), de Estorãos (Valpaços); a Inês Isabel (16), de Rio Frio (Bragança); a Bruna Alexandra (18), de Víduedo (Bragança).
Que para o ano os possam festejar novamente connosco.
Esta semana vamos falar da cegonha branca, que regressa todos os anos à nossa região e que está envolta em lendas populares.
As cegonhas são aves migratórias e normalmente voltam ao mesmo lugar todos os anos. A sua chegada geralmente coincide com a entrada da Primavera, a época considerada da fertilidade.
A tia Ana Maria, de Vale de Lamas (Bragança), disse-nos que este ano avistou cegonhas logo em fins de Janeiro.
As cegonhas fazem o ninho em cima de árvores ou edifícios, torres ou campanários, mas porque sujavam muito as igrejas, em algumas localidades, como Gimonde (Bragança), construíram-lhes estruturas artificiais para que não nidifiquem nos campanários e torres de igrejas. Também escolhem árvores para os seus ninhos, que incluem uma grande variedade de espécies como choupos, pinheiros, eucaliptos ou freixos. Na construção do ninho, as cegonhas utilizam diversos materiais, como sendo galhos, folhas e até resíduos produzidos pelo homem.
Segundo nos contou a tia Maria da Glória, a nossa pastora de Vilar Seco (Vimioso), as cegonhas podem ter três ou até quatro ovos, mas só ficam com uma ou duas crias no máximo, pois “atiram com as outras do ninho”. Também nos contou que as cegonhas são amigas do agricultor, porque ajudam a eliminar a bicharada de que se alimentam: ratos, sapos, cobras, lagartos ou rãs. Por isso é tão comum verem-se atrás dos tractores quando as terras são lavradas.
Nos arredores da cidade de Bragança há algumas localidades onde se podem ver muitas cegonhas, nomeadamente em Baçal, Fontes Barrosas, Gimonde, Vale de Lamas, ou na veiga de Gostei.
Quando crianças, todos ouvimos dizer que quem trazia os bebés de Paris eram as cegonhas. Pode haver outras lendas, mas a tia Lurdes Marinho, de Bragança, emigrada em Paris, contou-nos uma, que tem a ver com o facto de as cegonhas migrarem para uma área habitacional perto de Paris, onde um casal construiu o ninho na chaminé de uma casa. A dona dessa casa estava de esperanças e por coincidência o nascimento do bebé aconteceu ao mesmo tempo que a chegada das cegonhas. Espalhou-se a lenda de que foram as cegonhas que trouxeram o bebé de Paris. A verdade é que durante muito tempo, quando os filhos perguntavam de onde vinham os bebés, era esta a explicação que os pais nos davam.
Esta lenda também influenciou outros propósitos, muito deles com fins comerciais. É vulgar os bolos de baptizado terem uma cegonha com uma fralda pendurada no bico com um bebé dentro.
Tio João
in:jornalnordeste.com
PORTUGAL NAS ROTAS DE GULLIVER
Jonathan Swift garantiu celebrada memória com o seu olhar sarcástico sobre a sociedade do seu tempo, nos fins do século XVIII, quando se vivia num verdadeiro caldo histórico, mistura de utopias a realizar logo ali com as inevitáveis expressões de soberba, inveja, preguiça e cobardia que não têm dado mostras de definhar neste mundo.
O seu personagem Gulliver é protagonista de viagens a territórios exóticos, artifício literário para reflectir sobre questões do mundo real. A primeira viagem foi a Lilliput, onde tudo era pequeno, corpo e alma das criaturas, governadas por imperador mesquinho, dado a crueldades para impor uma ordem que emanava das suas caprichosas convicções.
Uma das leis mais intrigantes determinava o lado certo para partir um ovo, norma que esteve na origem de um conflito latente, depois ostensivo, violento e sanguinário, levando o próprio Gulliver a fugir a sete pés antes que fosse cumprida uma sentença que o tornaria cego.
É interessante imaginar hoje uma nova viagem de Gulliver, desta vez ao nosso país, onde se tropeça na pequenez por todo o lado, não na física, porque as últimas décadas fizeram crescer as criaturas, mas nessoutra diminuta alma, que não cresce com papas, bolos, hotdogs e hamburgers. Curiosamente o designativo latino para pequeno é parvo.
Podemos estar num caminho perigoso quando nos confrontamos com frenesins ululantes de grupos fanatizados a exigir mais e mais regras, proibições, aumentos de penas máximas e humilhações públicas se não veem satisfeitos os seus desígnios, muitas vezes a imitar as festas da santa inquisição e com ânimo de participar em lapidações à maneira da que foi descrita nos Evangelhos, no episódio de Maria Madalena, afinal práticas de todos os dias por esses mundos fantásticos das diversas arábias, que continuam a castigar com pau e pedra quaisquer assomos de liberdade.
No Portugal de 2019 não faltaria inspiração ao escritor irlandês. Desde logo a tremenda ousadia do tratamento discriminatório das criaturas do reino, umas impantes de direitos, outras infestadas de desgraças, aquelas tratadas com luvas de seda, estas com botas cardadas a pisar os calos da miséria e do abandono. Enquanto pelas lisboas tudo vai um mar de rosas, um cidadão de Penhas Juntas, para se deslocar à sede de concelho (Vinhais), só o poderá fazer uma vez por semana, precisa de marcar o táxi colectivo e terá que desembolsar três a cinco euros na ida e outros tantos na volta.
Entretanto alguns iluminados dedicam-se a parir novíssimos direitos, manipulando a benevolência geral e rapidamente se arrogam a condição de novos profetas, hirsutos, rubicundos, apontando a unhaca em todas as direcções. Elegeram as beatas dos cigarros como o maior pecado do universo, mas não se preocupam com a trampa espalhada por todo o lado, que prejudica a convivência urbana e favorece a pestilência, porque entendem, eles e os seu apaniguados, os animais de estimação como brinquedos de sangue quente.
Valia a pena encher-lhes as ruas das capitais com vacas indianas para que pudessem sentir os efeitos desse primeiríssimo pecado que é a soberba.
Teófilo Vaz
in:jornalnordeste.com
O seu personagem Gulliver é protagonista de viagens a territórios exóticos, artifício literário para reflectir sobre questões do mundo real. A primeira viagem foi a Lilliput, onde tudo era pequeno, corpo e alma das criaturas, governadas por imperador mesquinho, dado a crueldades para impor uma ordem que emanava das suas caprichosas convicções.
Uma das leis mais intrigantes determinava o lado certo para partir um ovo, norma que esteve na origem de um conflito latente, depois ostensivo, violento e sanguinário, levando o próprio Gulliver a fugir a sete pés antes que fosse cumprida uma sentença que o tornaria cego.
É interessante imaginar hoje uma nova viagem de Gulliver, desta vez ao nosso país, onde se tropeça na pequenez por todo o lado, não na física, porque as últimas décadas fizeram crescer as criaturas, mas nessoutra diminuta alma, que não cresce com papas, bolos, hotdogs e hamburgers. Curiosamente o designativo latino para pequeno é parvo.
Podemos estar num caminho perigoso quando nos confrontamos com frenesins ululantes de grupos fanatizados a exigir mais e mais regras, proibições, aumentos de penas máximas e humilhações públicas se não veem satisfeitos os seus desígnios, muitas vezes a imitar as festas da santa inquisição e com ânimo de participar em lapidações à maneira da que foi descrita nos Evangelhos, no episódio de Maria Madalena, afinal práticas de todos os dias por esses mundos fantásticos das diversas arábias, que continuam a castigar com pau e pedra quaisquer assomos de liberdade.
No Portugal de 2019 não faltaria inspiração ao escritor irlandês. Desde logo a tremenda ousadia do tratamento discriminatório das criaturas do reino, umas impantes de direitos, outras infestadas de desgraças, aquelas tratadas com luvas de seda, estas com botas cardadas a pisar os calos da miséria e do abandono. Enquanto pelas lisboas tudo vai um mar de rosas, um cidadão de Penhas Juntas, para se deslocar à sede de concelho (Vinhais), só o poderá fazer uma vez por semana, precisa de marcar o táxi colectivo e terá que desembolsar três a cinco euros na ida e outros tantos na volta.
Entretanto alguns iluminados dedicam-se a parir novíssimos direitos, manipulando a benevolência geral e rapidamente se arrogam a condição de novos profetas, hirsutos, rubicundos, apontando a unhaca em todas as direcções. Elegeram as beatas dos cigarros como o maior pecado do universo, mas não se preocupam com a trampa espalhada por todo o lado, que prejudica a convivência urbana e favorece a pestilência, porque entendem, eles e os seu apaniguados, os animais de estimação como brinquedos de sangue quente.
Valia a pena encher-lhes as ruas das capitais com vacas indianas para que pudessem sentir os efeitos desse primeiríssimo pecado que é a soberba.
Teófilo Vaz
in:jornalnordeste.com
Secretário de Estado das Comunidades esclarece apoios para regresso de emigrantes em Vimioso
A convite da Rede Atalaia, o secretário de Estado das Comunidades Portuguesas foi ontem a Vimioso explicar o novo plano do governo de apoio ao regresso de emigrantes.
O Programa Regressar entrou em vigor há cerca de uma semana e prevê apoios que podem chegar a 6500 euros aos portugueses que querem voltar a Portugal, entre o incentivo à mobilidade “para os custos da viagem de regresso, importação de bens e reconhecimento de equivalências e competências escolares”, o eixo fiscal e da empregabilidade, que define que quem regresse “em 2019 e 2020 apenas pagarão 50% sobre o rendimento durante 5 anos”, que se junta a um outro estatuto fiscal, já em vigor, do “residente fiscal não habitual”, que isenta do pagamento de impostos durante 10 anos os cidadãos em idade de aposentação, que regressam. O terceiro eixo é o de investimento e vai ajudar a financiar projectos que tenham origem na diáspora e que sejam realizados em Portugal, esclareceu José Luís Carneiro. Este terceiro aspecto está a ser concluído pelo ministério da Economia, mas estará disponível dentro de dias.
Na plateia no auditório do Parque de Natureza e Aventura, o PINTA, estiveram vários emigrantes que levantaram preocupações com a burocracia e perdas no valor das pensões dos países de acolhimento. O Secretário de Estado considera que há “falta de informação” dos emigrantes que “estão fora do país durante muito tempo e afastados da sua administração pública”, por isso aconselha a que contactem o gabinete de apoio ao emigrante, como o que existe no município de Vimioso. No entanto, assegura que foram tomadas “medidas que permitem atenuar essas dificuldades”.
O gabinete de apoio ao emigrante, do município de Vimioso, tem recebido muitas solicitações de apoio ligadas precisamente às reformas, como referiu o presidente do município, Jorge Fidalgo. “Há muita gente a procurar o gabinete de apoio ao emigrante, desde que foi criado em 2007 já tivemos 1200 processos, fundamentalmente tem a ver com a problemática das pensões de emigrantes que regressam e pedem a pensão cá”, afirma.
Jorge Fidalgo adiantou ainda que Vimioso já tem recebido procura por parte de alguns luso-descendentes com origens no concelho que se interessam pelas potencialidades da terra de origem de pais e avós.
Escrito por Brigantia
Jornalista: Olga Telo Cordeiro
O Programa Regressar entrou em vigor há cerca de uma semana e prevê apoios que podem chegar a 6500 euros aos portugueses que querem voltar a Portugal, entre o incentivo à mobilidade “para os custos da viagem de regresso, importação de bens e reconhecimento de equivalências e competências escolares”, o eixo fiscal e da empregabilidade, que define que quem regresse “em 2019 e 2020 apenas pagarão 50% sobre o rendimento durante 5 anos”, que se junta a um outro estatuto fiscal, já em vigor, do “residente fiscal não habitual”, que isenta do pagamento de impostos durante 10 anos os cidadãos em idade de aposentação, que regressam. O terceiro eixo é o de investimento e vai ajudar a financiar projectos que tenham origem na diáspora e que sejam realizados em Portugal, esclareceu José Luís Carneiro. Este terceiro aspecto está a ser concluído pelo ministério da Economia, mas estará disponível dentro de dias.
Na plateia no auditório do Parque de Natureza e Aventura, o PINTA, estiveram vários emigrantes que levantaram preocupações com a burocracia e perdas no valor das pensões dos países de acolhimento. O Secretário de Estado considera que há “falta de informação” dos emigrantes que “estão fora do país durante muito tempo e afastados da sua administração pública”, por isso aconselha a que contactem o gabinete de apoio ao emigrante, como o que existe no município de Vimioso. No entanto, assegura que foram tomadas “medidas que permitem atenuar essas dificuldades”.
O gabinete de apoio ao emigrante, do município de Vimioso, tem recebido muitas solicitações de apoio ligadas precisamente às reformas, como referiu o presidente do município, Jorge Fidalgo. “Há muita gente a procurar o gabinete de apoio ao emigrante, desde que foi criado em 2007 já tivemos 1200 processos, fundamentalmente tem a ver com a problemática das pensões de emigrantes que regressam e pedem a pensão cá”, afirma.
Jorge Fidalgo adiantou ainda que Vimioso já tem recebido procura por parte de alguns luso-descendentes com origens no concelho que se interessam pelas potencialidades da terra de origem de pais e avós.
Escrito por Brigantia
Jornalista: Olga Telo Cordeiro
Centro de Valorização do Burro de Miranda em Atenor inaugurado
O Centro de Valorização do Burro de Miranda, em Atenor, no concelho de Miranda do Douro, foi inaugurado, passados 15 anos da sua construção.
Miguel Nóvoa, presidente da Associação para o Estudo e Protecção do Gado Asinino, explica que era a altura certa para inaugurar as instalações onde se pretende dar a conhecer esta raça autóctone.
“É muito voltado para a sustentabilidade ambiental e queremos mostrar aos agricultores que é possível fazer uma agricultura mais amiga do ambiente e mais em sintonia com a natureza”, explicou Miguel Nóvoa, presidente da AEPGA.
A inauguração aconteceu a par do Projecto “Conecta-te”, que contou, ao longo do fim-de-semana, com várias actividades como oficinas, piqueniques no lameiro, exposições, histórias e caminhadas na natureza com os burros.
Noutros tempos, o burro de Miranda era também dado a conhecer através do festival L Gueiteiro. Este ano a associação deixou de fazer parte do festival e criou este projecto. Miguel Nóvoa explica que é altura de olhar para outros problemas.
“As tradições têm que se adaptar aos tempos modernos e em 2003 fazia muito sentido alertar para a preservação dos burros e dos gaiteiros mas novas missões agora se encontram ao destino e quer um quer outro estão no bom caminho”, adiantou. “Talvez seja tempo de falarmos da desertificação humana e da perda de valores associados ao mundo rural”, acrescentou Miguel Nóvoa.
O centro conta com 50 exemplares, dos quais 25 fêmeas reprodutoras. No país há perto de 700 exemplares do burro de Miranda.
Escrito por Brigantia
Jornalista: Carina Alves
Miguel Nóvoa, presidente da Associação para o Estudo e Protecção do Gado Asinino, explica que era a altura certa para inaugurar as instalações onde se pretende dar a conhecer esta raça autóctone.
“É muito voltado para a sustentabilidade ambiental e queremos mostrar aos agricultores que é possível fazer uma agricultura mais amiga do ambiente e mais em sintonia com a natureza”, explicou Miguel Nóvoa, presidente da AEPGA.
A inauguração aconteceu a par do Projecto “Conecta-te”, que contou, ao longo do fim-de-semana, com várias actividades como oficinas, piqueniques no lameiro, exposições, histórias e caminhadas na natureza com os burros.
Noutros tempos, o burro de Miranda era também dado a conhecer através do festival L Gueiteiro. Este ano a associação deixou de fazer parte do festival e criou este projecto. Miguel Nóvoa explica que é altura de olhar para outros problemas.
“As tradições têm que se adaptar aos tempos modernos e em 2003 fazia muito sentido alertar para a preservação dos burros e dos gaiteiros mas novas missões agora se encontram ao destino e quer um quer outro estão no bom caminho”, adiantou. “Talvez seja tempo de falarmos da desertificação humana e da perda de valores associados ao mundo rural”, acrescentou Miguel Nóvoa.
O centro conta com 50 exemplares, dos quais 25 fêmeas reprodutoras. No país há perto de 700 exemplares do burro de Miranda.
Escrito por Brigantia
Jornalista: Carina Alves
IPB integra consórcio internacional de ciência dirigido a países de língua portuguesa
O Instituto Politécnico de Bragança faz parte do consórcio do Centro de Ciência LP – Centro Internacional para a Formação Avançada em Ciências Fundamentais de Cientistas oriundos dos Países de Língua Portuguesa.
Este centro UNESCO de Categoria 2 é composto por dois consórcios internacionais de investigação e doutoramento, que integra Escolas de Ciências Agrárias, da qual o IPB faz parte, e Escolas de Engenharia. O objectivo do projecto passa por desenvolver a investigação científica em países de Língua Portuguesa, explica Orlando Rodrigues, presidente do IPB
“Tem como objectivo capacitar cientistas nos países de Língua Portuguesa, no sentido de desenvolver a ciência e a capacidade científica nesses países”, explicou Orlando Rodrigues, presidente do IPB
20 Bolsas de doutoramento vão ser atribuídas pelo consórcio das Ciências Agrárias, e cinco vão ser dadas ao politécnico de Bragança. A formação de alunos, oriundos de países de Língua portuguesa, na área da ciência tem sido um trabalho feito pelo politécnico.
“O Instituto Politécnico de Bragança tem feito um esforço muito grande na cooperação e no desenvolvimento desses países. Temos formado muita gente, muito dos líderes dos quadros actuais desses países passaram já por aqui”, destacou Orlando Rodrigues.
O Centro de Ciência LP deriva de uma proposta apresentada pelo Governo Português à UNESCO em Junho de 2009.
Escrito por Brigantia
Jornalista: Ângela Pais
Este centro UNESCO de Categoria 2 é composto por dois consórcios internacionais de investigação e doutoramento, que integra Escolas de Ciências Agrárias, da qual o IPB faz parte, e Escolas de Engenharia. O objectivo do projecto passa por desenvolver a investigação científica em países de Língua Portuguesa, explica Orlando Rodrigues, presidente do IPB
“Tem como objectivo capacitar cientistas nos países de Língua Portuguesa, no sentido de desenvolver a ciência e a capacidade científica nesses países”, explicou Orlando Rodrigues, presidente do IPB
20 Bolsas de doutoramento vão ser atribuídas pelo consórcio das Ciências Agrárias, e cinco vão ser dadas ao politécnico de Bragança. A formação de alunos, oriundos de países de Língua portuguesa, na área da ciência tem sido um trabalho feito pelo politécnico.
“O Instituto Politécnico de Bragança tem feito um esforço muito grande na cooperação e no desenvolvimento desses países. Temos formado muita gente, muito dos líderes dos quadros actuais desses países passaram já por aqui”, destacou Orlando Rodrigues.
O Centro de Ciência LP deriva de uma proposta apresentada pelo Governo Português à UNESCO em Junho de 2009.
Escrito por Brigantia
Jornalista: Ângela Pais
Associação de Municípios quer criar Rota dos Frescos do Sabor
Os quatro concelhos que integram a Associação de Municípios do Baixo Sabor vão candidatar a fundos comunitários a Rota dos Frescos do Sabor.
O projecto supramunicipal propõe reunir património religioso dos concelhos de Alfândega da Fé, Macedo de Cavaleiros, Mogadouro e Torre de Moncorvo, nomeadamente 17 igrejas e capelas, a intervencionar para recuperar as pinturas murais a frescos, com um investimento previsto de cerca de 1,5 milhões de euros, e inclui ainda a criação de um centro interpretativo em Macedo de Cavaleiros.
Vítor Sobral da AMBS explica que a aposta se prende com as potencialidades nesta área que há na região. “Todo o Norte tem uma potencialidade imensa em termos de pintura mural de frescos, o objectivo é começar pelos quatro municípios, mas pode estender-se ao restante território do distrito e mesmo posteriormente a todo o norte e as regiões vizinhas em Espanha. “A AMBS está ciente que os frescos são uma temática que, aliada a outras como os lagos do Sabor, pode trazer pessoas ao território, estancar o despovoamento e garantir alguma dinâmica económica”, afirma o responsável. Para além destes objectivo, a AMBS propôs ainda ao Politécnico de Bragança a criação de uma pós graduação na área da gestão e comunicação turística.
O projecto foi apresentado, na aldeia de Felgueiras, Alfândega da Fé, à secretária de Estado do Turismo, Ana Mendes Godinho, que destacou a importância de manter abertos os templos para poderem ser visitados, sugerindo que fosse introduzido um sistema tecnológico que permita aos visitantes, através de um cartão ou um código QR no telemóvel, entrar nos espaços.
“Cada vez mais, a inovação é não só uma forma de mudarmos a acessibilidade ao património, esse foi o repto que deixei, pensarmos em soluções tecnológicas que permitam aceder a espaços que muitas vezes estão fechados e que até nem se sabe quem tem as chaves para entrar. A autenticidade destes recursos culturais leva as pessoas a quererem descobrir o território, mas é preciso que o território esteja preparado para os receber”, salientou a governante.
O presidente da entidade de Turismo Porto e Norte de Portugal, Luís Pedro Martins, considera que os projectos diferenciadores são o que é preciso “para poder atrair mais turistas para o território, não chega ter a paisagem que é fabulosa e que em Trás-os-Montes é esmagadora, a gastronomia e os vinhos, temos de adicionar conteúdos”, já que a região só capta 2,5% dos 4,3 milhões que a região recebe.
No mesmo dia, foi ainda apresentada a ideia de transformar Felgueiras, actualmente com 9 habitantes, numa aldeia das artes. O projecto é de João Andrade Silva e António Franchini, e foram já compradas cinco casas devolutas para serem reabilitadas e ser criado um polo onde poderão ser desenvolvidas artísticas, de pintores, escultores ou escritores.
Projecto para criação de aldeia das artes foi também apresentado em Felgueiras, que já recebeu apoio comunitário no âmbito do programa Valorizar, “Felgueiras – Aldeia da Biosfera”.
Escrito por Brigantia
Jornalista: Olga Telo Cordeiro
O projecto supramunicipal propõe reunir património religioso dos concelhos de Alfândega da Fé, Macedo de Cavaleiros, Mogadouro e Torre de Moncorvo, nomeadamente 17 igrejas e capelas, a intervencionar para recuperar as pinturas murais a frescos, com um investimento previsto de cerca de 1,5 milhões de euros, e inclui ainda a criação de um centro interpretativo em Macedo de Cavaleiros.
Vítor Sobral da AMBS explica que a aposta se prende com as potencialidades nesta área que há na região. “Todo o Norte tem uma potencialidade imensa em termos de pintura mural de frescos, o objectivo é começar pelos quatro municípios, mas pode estender-se ao restante território do distrito e mesmo posteriormente a todo o norte e as regiões vizinhas em Espanha. “A AMBS está ciente que os frescos são uma temática que, aliada a outras como os lagos do Sabor, pode trazer pessoas ao território, estancar o despovoamento e garantir alguma dinâmica económica”, afirma o responsável. Para além destes objectivo, a AMBS propôs ainda ao Politécnico de Bragança a criação de uma pós graduação na área da gestão e comunicação turística.
O projecto foi apresentado, na aldeia de Felgueiras, Alfândega da Fé, à secretária de Estado do Turismo, Ana Mendes Godinho, que destacou a importância de manter abertos os templos para poderem ser visitados, sugerindo que fosse introduzido um sistema tecnológico que permita aos visitantes, através de um cartão ou um código QR no telemóvel, entrar nos espaços.
“Cada vez mais, a inovação é não só uma forma de mudarmos a acessibilidade ao património, esse foi o repto que deixei, pensarmos em soluções tecnológicas que permitam aceder a espaços que muitas vezes estão fechados e que até nem se sabe quem tem as chaves para entrar. A autenticidade destes recursos culturais leva as pessoas a quererem descobrir o território, mas é preciso que o território esteja preparado para os receber”, salientou a governante.
O presidente da entidade de Turismo Porto e Norte de Portugal, Luís Pedro Martins, considera que os projectos diferenciadores são o que é preciso “para poder atrair mais turistas para o território, não chega ter a paisagem que é fabulosa e que em Trás-os-Montes é esmagadora, a gastronomia e os vinhos, temos de adicionar conteúdos”, já que a região só capta 2,5% dos 4,3 milhões que a região recebe.
No mesmo dia, foi ainda apresentada a ideia de transformar Felgueiras, actualmente com 9 habitantes, numa aldeia das artes. O projecto é de João Andrade Silva e António Franchini, e foram já compradas cinco casas devolutas para serem reabilitadas e ser criado um polo onde poderão ser desenvolvidas artísticas, de pintores, escultores ou escritores.
Projecto para criação de aldeia das artes foi também apresentado em Felgueiras, que já recebeu apoio comunitário no âmbito do programa Valorizar, “Felgueiras – Aldeia da Biosfera”.
Escrito por Brigantia
Jornalista: Olga Telo Cordeiro
segunda-feira, 29 de julho de 2019
“Lasciatemi cantare”
Os degraus da escadaria da Escola da Cadela desapareciam debaixo dos nossos pés. Para ser mais rápida a descida saltávamos lanços de três ou quatro degraus.
Conseguíamos todos, menos o Serafim:
- Despacha-te pote de grelos! O Cabeças ainda nos apanha e lá se vai a festa.
O Cabeças era o contínuo que a esta hora, de certeza, já tinha sido chamado e informado que estes três bardinos tinham fugido da sala de aula. Aproveitamos quando o Sonecas, o professor do bigode farfalhudo, o de Matemática, explicava uma equação no quadro preto. A matéria não era fácil, a nossa vontade era pouca e o maldito do bigode tornava-lhe a voz pastosa, quase impercetível. Ninguém o entendia. Quer dizer, o Fonseca entendia, tinha de entender, caso contrário o pai dava-lhe com o cinto e chamava-lhe inútil.
- Mas quais foram? - perguntou o Cabeças.
- Os do costume: O Berto, o Toni e o Serafim - retorquiu o Sonecas.
-Olha esses! Acha que vale a pena a correria?
-Pergunte lá em cima.
Lá em cima era o Diretivo. Estava lá o Sr. Eng.º Veigas, que não gostava de ser incomodado. Estava sempre a ler papeis, decretos e a assinar folhas. O Cabeças já não estava para estas andanças, andar aos mandiletes deste e daquele.
- Sorte de vida a minha, tivesse eu ido para a Guarda e já estava reformado. Razão tinha o meu pai!
Enquanto subia as escadas que o levavam ao último andar, resmungava com ele próprio. Chegado ao gabinete do Sr. Eng.º Veigas, que não gostava de ser incomodado, o pobre do funcionário estava um caco. As pernas? Bambas. As mãos? Trémulas. Suava em bica. A voz, embargada, pois já sabia que vinha tempestade. Sempre que se interrompia o Sr. Eng.º Veigas, que não gostava de ser incomodado, era um problema. O Eng.º era um homenzarrão, metia respeito. Quando o distraíam dos seus afazeres, primeiro olhava muito sério fitando os prevaricadores. Depois arregalava os olhos de tal maneira que muita da canalha que lá entrava, ia seca mas saía molhada. De seguida, dependia da ocorrência. Se o assunto fosse sério, endireitava as costas, adotava uma voz grave e dava a ordem adequada, soletrando espaçadamente as palavras. Se a questão fosse de lana-caprina, desatava num berreiro, perdigotando e vociferando impropérios. O Cabeças ganhou coragem e bateu à porta:
- Sim?!
- Desculpe incomod…
- O que se passa? Não vê que estou ocupado?
- Desculpe Sr. Eng.º, foram três lafraus do 8.º C que fugiram da aula de Matemática.
- Ai sim? Diga-me lá, sua real cavalgadura, o que faz aí especado? Trate de os apanhar e traga-os aqui que eu cuido deles.
O Cabeças saiu do gabinete a dizer mal da vida e do Sr. Eng.º Veigas, que não gostava de ser incomodado.
- Cavalgadura é o senhor seu pai porque o senhor não passa de um asno encartado. Pensou mas não o disse. Era o dizes.
- Que vá ele atrás deles! E foi varrer o Bloco C para desanuviar. Aproveitou e vingou-se nas contínuas do corredor:
- Toca a levantar esses rabos. O Ministério não vos paga para fazer renda.
Voltando aos três fugitivos. Depois da fuga bem sucedida dirigimo-nos para os carrinhos de choque. O Serafim, pote de grelos, era o do dinheiro. O pai era médico, não lhe faltava nada.
- Anda, vai lá comprar fichas para nós. - sugeriu o Berto.
- Deixa o rapaz, eu tenho aqui dinheiro.
Salvei-o mais uma vez. Valia-lhe sempre e ainda mais quando os outros gozavam com o Serafim. Tinha pena dele. Ajudava-o nas aulas de física, a de correr, não a das fórmulas, e escolhia-o sempre para a minha equipa na altura da escolha dos parceiros. Ninguém queria o Serafim. Era anafado e tinha pouco jeito para a bola. Ia para a baliza e ficava todo contente.
Serafim não quis andar, preferiu ir comprar farturas. O Berto e eu, metemo-nos num carrinho vermelho e mal tocou a buzina, desatamos aos encontrões e espetanços.
- Olha ali, olha ali, àquelas duas - gritava o Berto.
Eu conduzia, como mais velho, cabia-me a missão de passar tangentes ao carro das duas raparigas, bem engraçadas, por sinal. A experiência com o trator lá em Coelhoso, ajudava, não era bem a mesma coisa, mas ajudava. Das colunas da instalação sonora, saía o êxito do vencedor do Festival de São Remo: Lasciatemi Cantare, com la chitarra in mano, lasciatemi cantare, sono l`italiano…
- Eh pá! O Toto Cutugno! Elas é que gostam disto. Ainda outro dia, no Baile de Finalistas do Liceu, a dançar com a Amélia, até pingava o teto, uma maravilha!
- Só dizes asneiras. A Amélia não é para o teu bico. Merece melhor…
- É para o teu, queres ver? Já cá canta.
Não gostei do que ouvi mas não valorizei, o Berto não passava dum bazofias.
No embalo do Toto Cutugno, lá metemos conversa com as duas raparigas. A Rosa e a Adélia. Eram de Rossas e tinham faltado às aulas para irem à Feira das Cantarinhas.
- Calha bem, nós também!
Repentinamente entusiasmado, o Berto insinuava-se. O Toto das colunas insistia que o deixassem cantar.
- Canta para aí italiano dum raio, ninguém te tapa a boca!
Riram todos e seguiram Av. João da Cruz abaixo. O Berto com a Rosa, mais desinibida e eu com a Adélia, envergonhada, sem dizer nada. De repente, lembrei-me do Serafim. Ao longe, ainda o avistei na barraca das farturas. Vivia oprimido pelo pai que queria que ele fosse médico, seguisse a tradição familiar há várias gerações. Ele não queria, detestava. A atenção dele virava-se toda para os desenhos que fazia no decorrer das aulas. Vivia angustiado pelas boas notas que era obrigado a tirar… Aliviava-se na comida, isolando-se.
Lá seguimos entre alguidares e ferragachos de cobre, alfaias para amanhar a terra, flores e outras plantas, toalhas, roupas e brinquedos. Não faltavam os tremoços da Celeste e o Sr. Leal a vender sorvetes ao pé do Florida. A Rua Direita cheia de couves, cebolo e tomates para plantar. Na Praça da Sé, um vendedor da banha da cobra, vendia um apetrecho para espremer o sumo das laranjas. Espetava aquilo nas laranjas e nunca mais parava de sair sumo. Depois da demonstração era um ver se te avias a despachar a engenhoca, notas de vinte, de cinquenta e até de cem escudos. Um regalo! Também na Praça da Sé, junto à Casa dos Acessórios, havia um homenzinho que gravava o nome das pessoas em copos. Encostado ao Pelourinho, um velhote gritava:
- Olha o Seringador, o verdadeiro! Comprem, comprem. Navalhas e chocalhos, comprem, comprem!
Em redor, havia um pouco de tudo. As Cantarinhas de Pinela já tinham acabado, só havia das outras, mais industriais que parece que vinham de Barcelos. Havia também os Pretinhos fálicos, com a protuberância rosada que fazia corar as raparigas. E havia aqueles pucarinhos que se enchiam de água e imitavam o som dos passarinhos. E havia cães de louça que parece que seguiam a gente com o olhar. E havia tudo. Havia sobretudo muita gente que nesse dia abalava das aldeias rumo à cidade. As autoridades vigilantes aos amigos do alheio que se aproveitavam dos mais incautos. E havia os comerciantes que se zangavam porque os feirantes lhes tapavam as montras. E havia os fiscais de blocos na mão…
Pelo caminho, perdemos as raparigas. Tinham ficado na barraca dos ciganos a ver cuecas. Com o entusiasmo, nem demos por elas.
As ruas estavam cheias de gente, subimos a Almirante Reis a custo. No largo dos Correios encontramos o Serafim sentado num banco, comia as primeiras cerejas do ano, entrançadas numa varinha.
- Ainda estão verdes, não prestam - reclamou o Berto.
- Não comas, ninguém te ofereceu - atirou de imediato o Serafim. - E devíamos voltar para a escola, já é hora. O Soneca já deu pela nossa falta.
Os amigos concordaram:
- Já deu e já chamou o Cabeças. Duns calduços do Eng.º Veigas, não nos livramos.
Ao contrário da vinda, os passos eram agora lentos. Os degraus foram pisados um por um, com paragens pelo meio, suspirando, adivinhando as mãos ásperas do diretor a puxar-lhes as orelhas e sabe-se lá que mais. O Berto ainda quis fumar um cigarro mas não tinha lume. O Serafim ainda papou uns rebuçados. Eu, eu já estava farto da situação. Peguei nas pernas e fui direitinho ao gabinete do diretor. Bati à porta e pedi licença.
- Entra! - Resmungou o Sr. Eng.º Veigas, que não gostava de ser incomodado.
Enchi-me de coragem e lá fui dizendo que a culpa era minha, tinha sido eu a desafiá-los. Ao Berto chamara-lhe cagão e ao Serafim falei-lhe das farturas. Assim tinha sido. Depois de algum silêncio, demasiado silencioso, ouviram-se estaladas que ecoavam pelos corredores do bloco C. Doeram. O Serafim chorava e o Berto estava capaz de subir ao gabinete para socorrer o amigo.
- Deixa! Não te metas. - era o Cabeças que segurava o Berto. - O vosso amigo é dos valentes. Eu trato dele, ide para a aula.
E foram. Cabisbaixos percorreram o corredor interminável do Bloco C.
Nas paredes, o Acácio amava a Soraia e um coração flechado unia os amores do Serafim com a Rosa. O Sonecas disse que a aula terminara. Os alunos saíram direitinhos. O Sr. Eng.º Veigas, incomodara-se mas continuara a ler decretos e a assinar papeis. E o Cabeças…lamentava a sua sorte mas no fundo sabia que não era homem para reprimir os seus lafraus. Afinal de contas, tinha sido um bom gandim e os pardais querem-se a voar.
Rui Machado
Conseguíamos todos, menos o Serafim:
- Despacha-te pote de grelos! O Cabeças ainda nos apanha e lá se vai a festa.
O Cabeças era o contínuo que a esta hora, de certeza, já tinha sido chamado e informado que estes três bardinos tinham fugido da sala de aula. Aproveitamos quando o Sonecas, o professor do bigode farfalhudo, o de Matemática, explicava uma equação no quadro preto. A matéria não era fácil, a nossa vontade era pouca e o maldito do bigode tornava-lhe a voz pastosa, quase impercetível. Ninguém o entendia. Quer dizer, o Fonseca entendia, tinha de entender, caso contrário o pai dava-lhe com o cinto e chamava-lhe inútil.
- Mas quais foram? - perguntou o Cabeças.
- Os do costume: O Berto, o Toni e o Serafim - retorquiu o Sonecas.
-Olha esses! Acha que vale a pena a correria?
-Pergunte lá em cima.
Lá em cima era o Diretivo. Estava lá o Sr. Eng.º Veigas, que não gostava de ser incomodado. Estava sempre a ler papeis, decretos e a assinar folhas. O Cabeças já não estava para estas andanças, andar aos mandiletes deste e daquele.
- Sorte de vida a minha, tivesse eu ido para a Guarda e já estava reformado. Razão tinha o meu pai!
Enquanto subia as escadas que o levavam ao último andar, resmungava com ele próprio. Chegado ao gabinete do Sr. Eng.º Veigas, que não gostava de ser incomodado, o pobre do funcionário estava um caco. As pernas? Bambas. As mãos? Trémulas. Suava em bica. A voz, embargada, pois já sabia que vinha tempestade. Sempre que se interrompia o Sr. Eng.º Veigas, que não gostava de ser incomodado, era um problema. O Eng.º era um homenzarrão, metia respeito. Quando o distraíam dos seus afazeres, primeiro olhava muito sério fitando os prevaricadores. Depois arregalava os olhos de tal maneira que muita da canalha que lá entrava, ia seca mas saía molhada. De seguida, dependia da ocorrência. Se o assunto fosse sério, endireitava as costas, adotava uma voz grave e dava a ordem adequada, soletrando espaçadamente as palavras. Se a questão fosse de lana-caprina, desatava num berreiro, perdigotando e vociferando impropérios. O Cabeças ganhou coragem e bateu à porta:
- Sim?!
- Desculpe incomod…
- O que se passa? Não vê que estou ocupado?
- Desculpe Sr. Eng.º, foram três lafraus do 8.º C que fugiram da aula de Matemática.
- Ai sim? Diga-me lá, sua real cavalgadura, o que faz aí especado? Trate de os apanhar e traga-os aqui que eu cuido deles.
O Cabeças saiu do gabinete a dizer mal da vida e do Sr. Eng.º Veigas, que não gostava de ser incomodado.
- Cavalgadura é o senhor seu pai porque o senhor não passa de um asno encartado. Pensou mas não o disse. Era o dizes.
- Que vá ele atrás deles! E foi varrer o Bloco C para desanuviar. Aproveitou e vingou-se nas contínuas do corredor:
- Toca a levantar esses rabos. O Ministério não vos paga para fazer renda.
Voltando aos três fugitivos. Depois da fuga bem sucedida dirigimo-nos para os carrinhos de choque. O Serafim, pote de grelos, era o do dinheiro. O pai era médico, não lhe faltava nada.
- Anda, vai lá comprar fichas para nós. - sugeriu o Berto.
- Deixa o rapaz, eu tenho aqui dinheiro.
Salvei-o mais uma vez. Valia-lhe sempre e ainda mais quando os outros gozavam com o Serafim. Tinha pena dele. Ajudava-o nas aulas de física, a de correr, não a das fórmulas, e escolhia-o sempre para a minha equipa na altura da escolha dos parceiros. Ninguém queria o Serafim. Era anafado e tinha pouco jeito para a bola. Ia para a baliza e ficava todo contente.
Serafim não quis andar, preferiu ir comprar farturas. O Berto e eu, metemo-nos num carrinho vermelho e mal tocou a buzina, desatamos aos encontrões e espetanços.
- Olha ali, olha ali, àquelas duas - gritava o Berto.
Eu conduzia, como mais velho, cabia-me a missão de passar tangentes ao carro das duas raparigas, bem engraçadas, por sinal. A experiência com o trator lá em Coelhoso, ajudava, não era bem a mesma coisa, mas ajudava. Das colunas da instalação sonora, saía o êxito do vencedor do Festival de São Remo: Lasciatemi Cantare, com la chitarra in mano, lasciatemi cantare, sono l`italiano…
- Eh pá! O Toto Cutugno! Elas é que gostam disto. Ainda outro dia, no Baile de Finalistas do Liceu, a dançar com a Amélia, até pingava o teto, uma maravilha!
- Só dizes asneiras. A Amélia não é para o teu bico. Merece melhor…
- É para o teu, queres ver? Já cá canta.
Não gostei do que ouvi mas não valorizei, o Berto não passava dum bazofias.
No embalo do Toto Cutugno, lá metemos conversa com as duas raparigas. A Rosa e a Adélia. Eram de Rossas e tinham faltado às aulas para irem à Feira das Cantarinhas.
- Calha bem, nós também!
Repentinamente entusiasmado, o Berto insinuava-se. O Toto das colunas insistia que o deixassem cantar.
- Canta para aí italiano dum raio, ninguém te tapa a boca!
Riram todos e seguiram Av. João da Cruz abaixo. O Berto com a Rosa, mais desinibida e eu com a Adélia, envergonhada, sem dizer nada. De repente, lembrei-me do Serafim. Ao longe, ainda o avistei na barraca das farturas. Vivia oprimido pelo pai que queria que ele fosse médico, seguisse a tradição familiar há várias gerações. Ele não queria, detestava. A atenção dele virava-se toda para os desenhos que fazia no decorrer das aulas. Vivia angustiado pelas boas notas que era obrigado a tirar… Aliviava-se na comida, isolando-se.
Lá seguimos entre alguidares e ferragachos de cobre, alfaias para amanhar a terra, flores e outras plantas, toalhas, roupas e brinquedos. Não faltavam os tremoços da Celeste e o Sr. Leal a vender sorvetes ao pé do Florida. A Rua Direita cheia de couves, cebolo e tomates para plantar. Na Praça da Sé, um vendedor da banha da cobra, vendia um apetrecho para espremer o sumo das laranjas. Espetava aquilo nas laranjas e nunca mais parava de sair sumo. Depois da demonstração era um ver se te avias a despachar a engenhoca, notas de vinte, de cinquenta e até de cem escudos. Um regalo! Também na Praça da Sé, junto à Casa dos Acessórios, havia um homenzinho que gravava o nome das pessoas em copos. Encostado ao Pelourinho, um velhote gritava:
- Olha o Seringador, o verdadeiro! Comprem, comprem. Navalhas e chocalhos, comprem, comprem!
Em redor, havia um pouco de tudo. As Cantarinhas de Pinela já tinham acabado, só havia das outras, mais industriais que parece que vinham de Barcelos. Havia também os Pretinhos fálicos, com a protuberância rosada que fazia corar as raparigas. E havia aqueles pucarinhos que se enchiam de água e imitavam o som dos passarinhos. E havia cães de louça que parece que seguiam a gente com o olhar. E havia tudo. Havia sobretudo muita gente que nesse dia abalava das aldeias rumo à cidade. As autoridades vigilantes aos amigos do alheio que se aproveitavam dos mais incautos. E havia os comerciantes que se zangavam porque os feirantes lhes tapavam as montras. E havia os fiscais de blocos na mão…
Pelo caminho, perdemos as raparigas. Tinham ficado na barraca dos ciganos a ver cuecas. Com o entusiasmo, nem demos por elas.
As ruas estavam cheias de gente, subimos a Almirante Reis a custo. No largo dos Correios encontramos o Serafim sentado num banco, comia as primeiras cerejas do ano, entrançadas numa varinha.
- Ainda estão verdes, não prestam - reclamou o Berto.
- Não comas, ninguém te ofereceu - atirou de imediato o Serafim. - E devíamos voltar para a escola, já é hora. O Soneca já deu pela nossa falta.
Os amigos concordaram:
- Já deu e já chamou o Cabeças. Duns calduços do Eng.º Veigas, não nos livramos.
Ao contrário da vinda, os passos eram agora lentos. Os degraus foram pisados um por um, com paragens pelo meio, suspirando, adivinhando as mãos ásperas do diretor a puxar-lhes as orelhas e sabe-se lá que mais. O Berto ainda quis fumar um cigarro mas não tinha lume. O Serafim ainda papou uns rebuçados. Eu, eu já estava farto da situação. Peguei nas pernas e fui direitinho ao gabinete do diretor. Bati à porta e pedi licença.
- Entra! - Resmungou o Sr. Eng.º Veigas, que não gostava de ser incomodado.
Enchi-me de coragem e lá fui dizendo que a culpa era minha, tinha sido eu a desafiá-los. Ao Berto chamara-lhe cagão e ao Serafim falei-lhe das farturas. Assim tinha sido. Depois de algum silêncio, demasiado silencioso, ouviram-se estaladas que ecoavam pelos corredores do bloco C. Doeram. O Serafim chorava e o Berto estava capaz de subir ao gabinete para socorrer o amigo.
- Deixa! Não te metas. - era o Cabeças que segurava o Berto. - O vosso amigo é dos valentes. Eu trato dele, ide para a aula.
E foram. Cabisbaixos percorreram o corredor interminável do Bloco C.
Nas paredes, o Acácio amava a Soraia e um coração flechado unia os amores do Serafim com a Rosa. O Sonecas disse que a aula terminara. Os alunos saíram direitinhos. O Sr. Eng.º Veigas, incomodara-se mas continuara a ler decretos e a assinar papeis. E o Cabeças…lamentava a sua sorte mas no fundo sabia que não era homem para reprimir os seus lafraus. Afinal de contas, tinha sido um bom gandim e os pardais querem-se a voar.
Rui Machado
“Bragança. Das Origens à Revolução Liberal de 1820” conquista prémio internacional de design gráfico
O livro “Bragança. Das Origens à Revolução Liberal de 1820”, editado pelo Município de Bragança aquando da comemoração dos 555 anos, a 20 de fevereiro de 2019, foi premiado pela Graphis em Nova Iorque.
Desenhado pelo estúdio OOF Design e com coordenação de Fernando Sousa, a obra foi distinguida, no dia 25 de julho, em Nova Iorque, com um prémio Graphis. Atribuídos anualmente desde 1952, os galardões premeiam os melhores projetos de design, fotografia, ilustração e publicidade de todo o mundo. A categoria “Design Annual” integra a competição da Graphis que premeia anualmente trabalhos reveladores de especial talento na categoria de design gráfico. O projeto de design inspira-se no modo de navegação numa página web, sendo facilitada através de um índice lateral e da hierarquia com que os conteúdos estão organizados.
Em termos de conteúdo, o livro trata da história do concelho de Bragança desde os seus primórdios pré-históricos até à Revolução Liberal de 1820, sendo resultante de um trabalho conjunto entre o Município de Bragança e o Centro de Investigação CEPESE – Centro de Estudos da População, Economia e Sociedade. Cumprindo todos os critérios hierárquicos de uma publicação científica, o livro é, ainda, um objeto com um grande valor simbólico para os transmontanos. Ilustrado com quase 500 fotografias e documentos históricos, a publicação transforma-se álbum que revela o território e o seu património em todo o seu esplendor.
Município de Bragança
Desenhado pelo estúdio OOF Design e com coordenação de Fernando Sousa, a obra foi distinguida, no dia 25 de julho, em Nova Iorque, com um prémio Graphis. Atribuídos anualmente desde 1952, os galardões premeiam os melhores projetos de design, fotografia, ilustração e publicidade de todo o mundo. A categoria “Design Annual” integra a competição da Graphis que premeia anualmente trabalhos reveladores de especial talento na categoria de design gráfico. O projeto de design inspira-se no modo de navegação numa página web, sendo facilitada através de um índice lateral e da hierarquia com que os conteúdos estão organizados.
Em termos de conteúdo, o livro trata da história do concelho de Bragança desde os seus primórdios pré-históricos até à Revolução Liberal de 1820, sendo resultante de um trabalho conjunto entre o Município de Bragança e o Centro de Investigação CEPESE – Centro de Estudos da População, Economia e Sociedade. Cumprindo todos os critérios hierárquicos de uma publicação científica, o livro é, ainda, um objeto com um grande valor simbólico para os transmontanos. Ilustrado com quase 500 fotografias e documentos históricos, a publicação transforma-se álbum que revela o território e o seu património em todo o seu esplendor.
Município de Bragança
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