Continuamos neste túnel sem saber quando dele iremos sair. Há quem diga que só vamos a ”santos”, que significa que ainda só vamos a meio, mas continuamos todos os dias à espera de uma luzinha ao fundo do túnel. A nossa missão é ficar em casa e a missão de outros é heroica, a de todos aqueles que trabalham para nos defender deste flagelo. O tio Manuel Moura, de Borbela (Vila Real), o nosso caixeiro viajante do amor e da amizade, agora não telefona, disse-nos que nunca teve tanto vagar para fazer tanta coisa. Diariamente quando me desloco pelo caminho único que faço actualmente (casa/rádio) não vejo uma alma, nem um carro, nem sinto o ladrar de um cão, ouço somente o chilrear dos passarinhos, parece que o caminho é só meu. Confesso que já começo a ter saudades dos meus colegas da madrugada.
O nosso espaço radiofónico continua muito concorrido, pois as pessoas têm fome de companhia. Constato que o programa nunca foi tão ouvido e participado, agora, em especial, pelos emigrantes em Madrid e em Paris, que relatam a sua experiência de quarentena para sossegar os pais que cá estão a ouvi-los.
Chegámos ao final do 3º mês do ano vinte vinte, estamos já com dez dias de Primavera, que para os nossos lados entrou chorona e a ralhar. Tivemos alguma chuva e trovoada, embora não se sinta muito frio, as lareiras não param de trabalhar, sendo também uma boa companhia.
Os tios e tias lá vão trabalhando nos seus “escritórios” da terra, ao lado de casa. As tiazinhas, para não lhes render tanto o tempo, voltam a dedicar-se às rendas e bordados, outros vão mexendo nas gavetas, onde guardam tesouros e relíquias, que são as fotografias do antigamente, pois recordar é viver! É o que tem feito a nossa protagonista desta edição.
Palmira da Conceição dos Santos, nasceu em 18 janeiro de 1961 na aldeia de Grijó de Parada (Bragança). Embora ainda seja nova, não teve uma infância fácil, pois era a irmã mais velha de oito irmãos. Como ela nos disse, fez de irmã, pai e mãe ao mesmo tempo. “O meu pai era mineiro a minha mãe trabalhava com o meu avô na agricultura e eu comecei logo de novinha a trabalhar”. Os irmãos mais velhos é que se encarregavam de lavar, arrumar a casa e fazer as coisas no campo, pois andavam a ganhar umas jeirinhas onde podiam. “Eu tenho boas recordações da minha infância, o meu pai era um homem com H grande. Lembro-me daquela mão grande no meu ombro e às refeições, onde não havia a fartura que há hoje, ele deixáva-nos a melhor parte”. Frequentou a escola primária da sua aldeia e recorda que eram 48 alunos. “Éramos felizes à nossa maneira, muito mais felizes que agora. Fiz a quarta classe e aos 14 anos já andava com uma junta de vacas. Em 1978 fui para França ganhar dinheiro para mandar para meus pais, para ajudar a criar os meus irmãos. Em 81, regressei e casei com o tio Joaquim e fruto desse casamento tive duas filhas.
Quando casámos compramos um rebanho, que temos mantido até hoje. Já há 38 anos que ando atrás de umas ovelhas, também temos umas hortinhas onde fabricamos um pouquinho de tudo, e lá nos vamos entretendo. Mas nestes dias tenho-me refugiado mais no meu baú de recordações, onde guardo as fotografias de alguns momentos marcantes das nossas vidas. Recordando o passado, esqueço este mau momento”.
Depois de conhecer um pouquinho da vida da tia Palmira pastora, aqui ficam os aniversariantes desta semana. Maria Marcos (74) e Eugénio Henrique (86), Fradizela (Mirandela); Marlene Morais (26), Milhão (Bragança); Luís Correia(57), de Mós (Bragança), residente em Bremen (Alemanha); Gina Salazar(60), Bragança; Carlos Silva (51), Vinhais; Maria da perna gorda (73), Castelãos (Macedo de Cavaleiros); Humberto Rodrigues (51), Sampaio (Mogadouro); e os irmãos gémeos Diogo e Daniel Eira Velha (17), de Cernadela (Macedo de Cavaleiros); Julieta Cavaleiro (82), Paradinha de Outeiro (Bragança).
Que o nosso ministro dos parabéns lhes os volte a cantar para o ano.
Saúde a todos!
Tio João