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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 30 de junho de 2020

Pioneiros desistem do Futsal Sénior e de vários Escalões de Formação, por falta de apoios

Os Pioneiros de Bragança não vão competir na próxima temporada no Campeonato Nacional de Futsal da 2ª Divisão de seniores masculinos nem em seniores femininos.
A informação foi avançada ao Nordeste por Ricardo Pires, presidente do clube. “Não há condições para entrar em competição com as equipas de seniores nem com alguns escalões de formação”, disse.

A falta de apoios financeiros não permite aos brigantinos competir nos vários campeonatos. A pandemia da Covid-19 veio agudizar as dificuldades financeiras do emblema violeta. “Não há apoios suficientes por parte das entidades e das empresas, estas não têm condições, devido à pandemia, para patrocinar o clube”, lamentou.

Ricardo Pires está no último ano de mandato como presidente dos Pioneiros e pondera mesmo sair antes das eleições, que vão acontecer em 2021. “Este é o meu último ano como presidente, mas a continuar a sim poderei estar de saída da direcção”.

Os Pioneiros de Bragança vão contar apenas com as equipas de formação nos escalões de petizes, traquinas e benjamins. O clube vai ter uma perda de cerca de 70 atletas.

CANTIGA


Era o amparo de sua mãe
Era um rapaz de bem
E amava como ninguém
Os seus maiores amores
E era um rapaz muito honrado
Era um nobre soldado
Sentinela nos Açores
Levava seu fardamento
Bonito todo cinzento
Que lhe ficava tão bem
A abraçar e a sorrir
Tirou antes de partir
O retrato da sua mãe

Passam dois anos no lar
Volta para sua mãe abraçar
A transbordar de alegria
Quando as vizinhas à porta lhe dizem
Que a mãe está morta sepultada há três dias
Foi num silêncio funério
Procurar ao cemitério
A campa de sua mãe
Logo amarfanhou o fato
Corre a abraçar-se ao retrato
Ao cemitério além
E o caixão desenterrou a chorar
A ele se abraçou ao corpo da mãe gelado
Disse para a mãe a sorrir:
“Está a chorar junto a ti o teu filhinho adorado”
Leva toda a madrugada a chamar pela mãe amada
No fim calou-se também
Que triste quadra aquela
De manhã deram com ele morto na campa da mãe.

RECOLHA 2005 SCMB, EURICO FERNANDES, Idade: 71.
Localização geográfica: MOFREITA – ORIGEM + 50 anos.

FICHA TÉCNICA:
Título: CANCIONEIRO TRANSMONTANO 2005
Autor do projecto: CHRYS CHRYSTELLO
Fotografia e design: LUÍS CANOTILHO
Pintura: HELENA CANOTILHO (capa e início dos capítulos)
Edição: SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE BRAGANÇA
Recolha de textos 2005: EDUARDO ALVES E SANDRA ROCHA
Recolha de textos 1985: BELARMINO AUGUSTO AFONSO
Na edição de 1985: ilustrações de José Amaro
Edição de 1985: DELEGAÇÃO DA JUNTA CENTRAL DAS CASAS DO POVO DE
BRAGANÇA, ELEUTÉRIO ALVES e NARCISO GOMES
Transcrição musical 1985: ALBERTO ANÍBAL FERREIRA
Iimpressão e acabamento: ROCHA ARTES GRÁFICAS, V. N. GAIA

BALCÃO MÓVEL | Horário de Julho

RTP - Serviço Público ou uma Porcaria de Serviço?

Que os canais de televisão privados se movam por critérios que visam apenas e tão só o lucro e as audiências para deste modo garantirem competitividade ao nível da publicidade, entendo perfeitamente. Já não entendo com a mesma facilidade que os critérios do, dito, canal público de televisão sejam exatamente os mesmos que os das televisões privadas. É que convém não esquecer que eu e todos os outros contribuintes, pagamos diretamente a subsistência da RTP.
Vem isto a propósito do, quanto a mim, deplorável programa que foi transmitido no passado domingo diretamente da cidade de Bragança. Sei que os “tempos” não ajudam nada, nadinha mesmo. Basta a ausência de assistência para tornar este tipo de eventos maçadores, desinteressantes. Esse facto, leva-me a atribuir “o devido desconto”, focando mas não nomeando, por exemplo, o desempenho que considero lamentável, de uma das convidadas…
Não vou entrar em grandes pormenores. Apenas quero referir que foi uma oportunidade perdida, talvez mais uma.
Sem questionar o mérito e a qualidade indiscutível dos “mesmos de sempre”, não será já tempo de mudar de atores? Refiro-me, obviamente, aos “de cá”. É um pouco redutor que cada vez que um canal de televisão vem (porque lhe pagam e bem) à nossa terra, os intervenientes sejam sempre os mesmos. Bem sei que somos poucos mas não haverá mais ninguém? Não haverá outras pessoas, outro tipo de atividades? E dentro das mesmas atividades não será legítimo dar oportunidade à concorrência? E há quem diga que “o sol quando nasce é para todos”. Só se for nos filmes americanos.
Adiante.
É confrangedora a qualidade dos artistas, que vêm sempre atrelados às TV´s. Os que vêm atrelados às privadas, pouco ou nada me incomodam, os que vêm atrelados ao meu “investimento, ”alto e pára o baile”!
Vamos lá sonhar!
Condição “sine qua non” para que uma autarquia apoie financeira e logisticamente, ou promova, a vinda de uma Televisão seja ela privada ou estatal:
Ponto Único: A componente recreativa terá OBRIGATORIAMENTE que ser protagonizada pelos artistas da terra, Concelho e Distrito, pela Prata da Casa. Ou, no mínimo, negociar uma percentagem de uns 75% das presenças para gente da terra. Alguém duvida que os temos em quantidade e com qualidade bem superior ao que nos oferecem na bandeja? Bastará pensarmos na qualidade que nos foi proporcionada no passado domingo dia 28 de junho de 2020, com exceção, dentro do que vi e ouvi, dos Galandum Galundaina e do Rancho Folclórico da Casa do Povo de Vilarandelo, do distrito de Vila Real.
Como se faz?
Simples!
Se as Associações Culturais, Recreativas, Desportivas e outras “dizem PRESENTE”, quando se faz a atribuição de subsídios/apoios, é porque existem e têm atividade. Certo?
As Câmaras Municipais contactam as Juntas de Freguesia. Estas, por sua vez, contactam as associações, os grupos musicais, os artistas, os cantores, os artesãos, os ranchos folclóricos, os grupos etnográficos, os atletas, as associações humanitárias, os restaurantes e similares, os clubes desportivos, os historiadores e os investigadores, os cozinheiros, os produtores e transformadores dos produtos regionais, os animadores, os pintores, os escritores, os escultores, os pensadores, as nossas enciclopédias vivas que são os nossos “Maiores”.
Alguém duvida que o Nosso Distrito, o Nosso Concelho, a Nossa Bragança tem “Matéria-prima”, mais que suficiente e de qualidade, para uma dúzia de programas?
As TV´s não concordam com o elenco proposto? Mandam-se tocar a outra Freguesia. Pensem nisso.
Áh e como os “animadores” são pagos, o dinheiro fica por cá que bem falta faz.

30 de junho de 2020

Taxistas brigantinos voltam ao trabalho enfrentando a realidade trazida pela pandemia

Os taxistas brigantinos já regressaram a actividade. Lotação reduzida para metade, uso de máscaras, gel desinfectante e álcool: esta é a nova realidade destes profissionais.
O sector sofreu quebras de 70%. Os taxistas estiveram parados durante mais de dois meses e sem salário. Foi o caso de Adelaide Duarte, a primeira mulher taxista em Bragança. “Tem sido difícil. É financeiramente difícil, por se estar três meses sem receber salário, e é muito 'stressante' estar em casa sem poder fazer nada porque não ficámos em casa por querer mas sim por obrigação”.

Pedro Carvalho tem setenta anos e é taxista há mais de quarenta. Conta já ter estado na guerra em Moçambique, mas é da pandemia que tem medo. A agricultura foi uma distracção durante o confinamento e também a alternativa para não faltar comida em casa. Para além da pouca procura das pessoas viu ainda cancelado o contrato de transporte escolar com o município. “Estamos numa crise tremenda. Agora não se fazem 10/15/20 euros por dia. Concorria aos transportes públicos e raro era o ano que não conseguia. Este ano tive azar porque as escolas fecharam e fiquei sem o transporte”.

No que diz respeito aos apoios do Governo neste ramo, muitos taxistas ficaram de fora. O taxista Licínio Alho foi um deles. Sem apoios e sem salários durante dois meses conta que foi tudo menos fácil. Agora com o regresso à actividade diz ainda ganhar para as despesas. “Nunca estivemos proibidos de trabalhar, podíamos fazê-lo mas não havia clientes. Mesmo agora, há menos movimento com as fronteiras e o IPB fechados. Uma pessoa chega a estar três horas ou mais na praça sem ter um cliente. Não me posso queixar, de certa forma, porque vou ganhando para as despesas”.

O regresso à actividade era ansiado pelos taxistas brigantinos, que ficaram sem salário durante mais de dois meses. Uma crise económica e também social, provocada pela pandemia, que não poupou este sector.

Escrito por Brigantia
Jornalista: Ângela Pais

Curso Técnico Superior de Prospeção Mineral e Geotécnica em Torre de Moncorvo

Com o início previsto da atividade mineira, a conclusão com sucesso deste curso é também uma oportunidade para os futuros técnicos poderem desenvolver a sua atividade profissional, em Torre de Moncorvo.
Estão abertas as candidaturas, até dia 30 de agosto, para o curso técnico superior profissional de Prospeção Mineral e Geotécnica, do Instituto Politécnico de Bragança e que decorrerá nas instalações da Junta de Freguesia de Torre de Moncorvo com o apoio da autarquia.

Os interessados devem efetuar uma INSCRIÇÃO e consultar mais INFORMAÇÕES num portal criado para esse efeito.

Os cursos de técnicos superiores profissionais conferem um diploma de qualificação nível 5, têm a duração de 4 semestres, realizando-se o último em contexto de trabalho. Parte substancial da formação efetuada num destes cursos será creditada numa licenciatura a que o titular tenha sido admitido e com possibilidade de candidatura a bolsa de estudo.

O perfil do programa de estudos de um técnico superior de prospeção mineral e geotécnica compreende o desenvolvimento do conhecimento técnico e a qualificação profissional na área de educação e formação de Indústria Extrativa.

Com o início previsto da atividade mineira, a conclusão com sucesso deste curso é também uma oportunidade para os futuros técnicos poderem desenvolver a sua atividade profissional, em Torre de Moncorvo.

Da cidade para o campo

Dada a natureza das coisas em si mesmas, sempre que desafortunadamente uma pandemia se faz sentir, as sociedades por ela abrangidas são rachadas de alto a baixo por um raio destruidor que as abala, as modifica e por vezes, ironia das ironias, as faz avançar.

Serão coisas do diabo ou de alguém por ele, mas passados os dias malditos de horror, porque nada para nem pode parar, a humanidade sempre se adaptou, sempre sofreu e sempre ultrapassou. Umas vezes mudando alguma coisa para que tudo fique na mesma, outras, aproveitando as singulares oportunidades à mão de quem as apanhar.

Neste ano do nosso descontentamento, fomos colocados perante a nossa frágil condição quando nos julgávamos grandes e imunes em quotidianos repletos de certezas em coisa nenhuma, apesar de nos termos como senhores de todas as verdades.

Vivemos dias de desassossego. O vírus que nos pôs mudos e quedos continua à solta e à espreita, levando-os a um modo de vida antes impensável e criando em nós a sensação de que o antes foi uma verdadeira idade e de ouro e não sabíamos. Resta-nos a esperança na ponta de uma seringa que tarda, mas se não atarda.

De entre as modificações eventualmente estruturais que podemos sentir como concretas no sentido em que já com elas se vive, existe a possibilidade de ser trabalhar de longe e em qualquer canto, desde que existam ondas electromagnéticas suficientemente fortes, para desempenharem o papel de autoestradas da informação.

A modernidade com as suas coisas, levou a que muitas pessoas com saberes sólidos no seu mister, tenha dado conta de que pode trabalhar a partir do campo, de locais sem multidões, mas com muitas aptidões que podem ajudar na melhoria da qualidade de vida.

As distâncias passaram a ser medidas em tempo de percurso e não em quilómetros, quase deixou de haver o longe, tudo ficou ao pé. Profissionais que trazem o escritório dentro duma mochila, mostram-se encantados e disponíveis para se fixarem no campo, sem que isso implique cortar a ligação com a cidade.

Existem todas as condições para que a sua vida decorra com um pé lá e com outro pé cá. Será bom para o campo e para a cidade. Será ótimo para o planeta que fica menos intoxicado com fumo dos canos de escape dos automóveis e do barulho dos aviões repletos de gente com pressa de ter pressa.

Não se sabe bem se estes novos habitantes no campo, serão uma mera mancha na paisagem, ou se farão parte integrante das comunidades em que se fixem. Pode até haver um tempo em que se sintam asfixiados pela pequenez de certos horizontes e em que se sintam surdos com o som do silêncio.

O futuro a Deus pertence, como diziam os antigos. No entanto, cabe aos que estão no presente, vislumbrar e aproveitar a oportunidade que pode advir deste novo contexto nunca sonhado e nunca desejado. Ver os lírios no campo é maravilhoso, mas não chega.

Pode nem parecer, mas pouco falta para que tudo isto seja passado na voragem dos dias da História. Cabe aos do campo mostrar aos da cidade que valem a pena a mudança. Só assim as gerações mais novas que despontam no campo, sentirão que afinal o campo também pode ser cidade com lantejoulas e luzes da ribalta.
Manuel Igreja

Moncorvenses protestam retirada de busto de Campos Monteiro e preço da água

Há alguma indignação entre a população de Torre de Moncorvo relativamente à forma como a autarquia estará a tratar algumas questões do município.
Em causa está a retirada do busto em homenagem a Abílio Campos Monteiro, escritor, jornalista, médico e político, natural daquele concelho. O monumento, que se encontrava em frente aos Paços do Concelho, terá sido dali retirado por decisão da autarquia mas há diversas pessoas que dizem que o povo devia ter sido consultado. As pessoas lamentam não saber o porquê da retirada e dizem não saber onde o busto está ou onde será colocado. “A câmara é que fez isto é porque tinha ordens de superiores, mas não sei a certeza. Admirei-me terem-na retirado”, explicou Abílio Pimentel. “Só soube que a tinham retirado mas não tive conhecimento que o iam fazer. Fazem o que querem e lhes apetece”, disse Cassiano Trindade. “Foi retirado do sítio onde estava sem se ouvir a população, sem ir à Assembleia Municipal e sem ir a reunião do executivo. Isto foi uma obra que não custou nada ao erário público, foram as pessoas que se cotizaram para pôr a estátua, e o senhor presidente, como tem a maioria, faz o que quer”, referiu Manuel Sota. Já segundo Abílio Branco tratou-se de um assunto tratado “entre eles” mas “ficou mal” porque “deviam ter consultado o povo”. “Dizem que foi para restaurar e penso que irá uns metros mais para a frente”, explicou ainda. “A população de Moncorvo foi quem os pôs na câmara e eles não consultam ninguém”, sublinhou José Esperto.

Além disso, também há queixas no que respeita à água. Há facturas que, em muitos casos, mais que duplicou o valor a pagar. Algumas pessoas criticam o facto de o município ter aderido, em Novembro de 2019, à empresa multimunicipal Águas do Interior Norte, acreditando ser esse o motivo da inflação dos custos. Neste caso, os moncorvenses também consideram que deviam ter sido ouvidos. “Tenho ouvido falar que a água fica cara mas não sei a certeza”, explicou Abílio Pimentel. “É voz corrente que há pessoas que pagam duas ou três vezes mais o valor que pagavam antigamente. Fico assim um bocadinho absorto de saber que foi entregue a uma companhia... porquê?”, questionou Manuel Sota. “Não sei explicar isso porque ainda não fiz o pagamento. Puseram editais a explicar que iam passar a água para uma empresa particular mas não foi grande coisa fazer isso sem consultar o povo que era para sabermos se seria para melhor ou para pior”, lamentou Abílio Branco. “Aumenta sem sabermos porque. A população quer fazer uma abaixo assinado por causa disso e eu vou assinar”, assinalou José Esperto.

Estes e outros assuntos têm sido comentados na página de facebook “Movimento de Moncorvenses”. De acordo com uma das criadoras, Fátima Gonçalves, têm-se ali debatido problemas mais graves como o facto de o município não ter facultado material informático aos alunos que não conseguiam acompanhar as aulas à distância. “Uma criança que é pobre não tem direito de assistir às aulas. Só conseguimos um tablet, infelizmente. A algumas mães, a escola mandava, para o telemóvel, os emails com os trabalhos para os filhos fazerem. Nesse sentido, a Junta de Freguesia de Torre de Moncorvo começou a fornecer fotocópias, a quem fosse pedir, e é surreal fornecer fotocópias a uma criança para fazer trabalhos acerca de uma aula a que nem assistiu”.

Perante o cenário e a interação que tem com as pessoas através da página, Fátima Gonçalves considera que o povo não é ouvido nem consultado. “Falta a opinião das pessoas, ninguém a ouve. As pessoas têm algum problema e têm de tentar encontra o senhor presidente para tentar falar com ele. O movimento surgiu por tanta falta de desinformação que há em Moncorvo”.

Sobre o busto, o presidente da câmara de Torre de Moncorvo, Nuno Gonçalves, informou de que falaria quando a escultura fosse novamente inaugurada. No que toca aos outros assuntos, Nuno Gonçalves disse que hoje seriam dados os esclarecimentos necessários através do vice-presidente do município, Vítor Moreira.

Escrito por Brigantia
Jornalista: Carina Alves

segunda-feira, 29 de junho de 2020

UM APAIXONADO CORAÇÃO

Por: Maria da Conceição Marques
(colaboradora do "Memórias...e outras coisas...")


Vejo céus encobertos,
desenhando sonhos na minha ausência.
Os olhos cegos de poemas,
sufocam lágrimas.
Engolem tristezas.
Diluem palavras soltas,
No vendaval da vida.
Num canto de ilusão,
Correm rios de esperança.
Desaguam mágoas,
Em barcos naufragados.
Nas águas turbulentas
Agarro um coração.
Está doente de raiva,
Carregado de ódio,
Isento de vida e amor.
Não faz mal,
Sigo a minha intuição.
Pode ter muitos defeitos,
Cicatrizes e pecados.
Nada disso importa,
O necessário é moldá-lo com carinho
Transformá-lo em amor
Dar-lhe a eterna absolvição.
Que pulse, doce e levemente
Que ganhe, brilho, cheiro e cor
Que seja apenas e tão-somente
um apaixonado coração

Maria da Conceição Marques, natural e residente em Bragança.
Desde cedo comecei a escrever, mas o lugar de esposa e mãe ocupou a minha vida.
Os meus manuscritos ao longo de muitos anos, foram-se perdendo no tempo, entre várias circunstâncias da vida e algumas mudanças de habitação.

Participei nas colectâneas:
POEMA-ME
POETAS DE HOJE
SONS DE POETAS
A LAGOA E A POESIA
A LAGOA O MAR E EU
PALAVRAS DE VELUDO
APENAS SAUDADE
UM GRITO À POBREZA
CONTAS-ME UMA HISTÓRIA
RETRATO DE MIM.
ECLÉTICA I
ECLÉTICA II
5 SENTIDOS
REUNIR ESCRITAS É POSSÍVEL – Projecto da Academia de Letras Infanto-Juvenil de São Bento do Sul, Estado de Santa Catarina
Livros editados:
-O ROSEIRAL DOS SENTIDOS
-SUSPIROS LUNARES
-DELÍRIOS DE UMA PAIXÃO
-ENTRE CÉU E O MAR
-UMA ETERNA MARGARIDA

Festividades em Honra de Santo Estevão (PARADA) Portugal 2019

Pinhovelo (Portugal) 2019.

Praia da Ponte de Soeira de Vinhais recebeu cerimónia de hastear de bandeira de qualidade ouro da Quercus

A praia da Ponte de Soeira em Vinhais foi este ano a escolhida pela Quercus para a cerimónia oficial do hastear da bandeira de qualidade de ouro da água.
Uma das razões para esta escolha foi a tentativa de promover as praias fluviais do interior, em particular nesta fase de desconfinamento, como afirmou a presidente da Direção Nacional da Quercus, Paula Nunes da Silva.

“Queríamos valorizar um pouco as praias do interior na fase pós-confinamento, também porque o concelho de Vinhais tem um excelente património ecológico e natural e depois teve três distinções, foi na região o concelho com mais distinções na área de qualidade de ouro”, afirmou.

Em Vinhais, receberam ainda bandeira de ouro, que distingue a qualidade excelente da água, as praias da ponte da Ranca e da ponte de Frades. Nas três a distinção repete-se há vários anos. O presidente da Câmara Municipal de Vinhais, Luís Fernandes, também acredita que este galardão ajuda a valorizar a praia fluvial, em particular nesta altura de pandemia.

“É uma forma de valorizar estes espaços e um factor de atractividade para trazer mais pessoas a este espaço. É uma zona muito frequentada quer por pessoas do nosso concelho quer do de Bragança e este ano, fruto da pandemia e da procura que há cada vez mais do interior, provavelmente ainda passarão por aqui mais”, afirmou.

A praia da ponte de Soeira vai ser alvo de uma intervenção de melhoramento, que deve começar depois do Verão.

A nível nacional há 386 praias distinguidas com a bandeira de ouro e 50 são fluviais.

No distrito também as praias da Ribeira e da Fraga da Pegada no Azibo, concelho de Macedo de Cavaleiros, vão ter esta bandeira hasteada. 

Escrito por Brigantia
Jornalista: Olga Telo Cordeiro

in ilo tempore

Não resisti. Tenho mesmo de escrever contra o que me irrita na TV… quando eu era mais novo não havia aquecimento global e as tempestades não tinham essas mariquices de nomes masculinos e femininos. Não se falava de ecologia, nem de aquecimento global, buracos do ozono, degelo ou outras coisas que ora inventaram, mas parece quando se abre a TV que é a primeira vez que chove, que os rios transbordam, que as areias da praia desaparecem…

No meu tempo, era normal no outono, inverno e primavera, chover muito, nevar bastante nos locais habituais, e haver dias a fio sem se vislumbrar o astro-rei. Nos campos usavam-se chancas ou galochas, nas cidades botas e gabardinas (os velhos Macintosh, diriam os ingleses), a luz falhava frequentemente, havia trovoadas, árvores caíam, rios transbordavam, pessoas morriam afogadas… lembro-me de  imensas inundações no Porto, em Miragaia e na Ribeira do Douro. Também havia frio, por vezes, muito frio, havia um irradiador lá em casa mas os meus avós usavam as braseiras na aldeia, não havia energias limpas ou sujas, aliás, na aldeia nem água canalizada, nem esgotos nem eletricidade que isso eram modas depois de 1970.

Lembro-me bem das molhas na ida para o liceu que era bem demorada. Quando não apanhava um elétrico n.º 8 na Rua do Campo Lindo, ou um n.º 7 ou 7/ (ler sete com traço) na Rua de Vale Formoso, ia sozinho a pé até à Rua da Constituição (12 minutos) apanhando depois outro carro elétrico da linha 20 até à Praça do Marquês de Pombal (uns dez minutos mais) e aí tomava o n.º 15 até Silva Tapada ou 15/ Antas que me levava mesmo até ao Bonfim, só tendo de fazer uns 200 metros a pé até ao Liceu Alexandre Herculano na Avenida Camilo, sem abrigo de caleiras apanhando toda a chuva que caísse.. De elétrico a viagem demorava, em média, uma hora, se não houvesse atrasos e a coordenação de horários fosse esmerada, o que por vezes, era complicado.

As tempestades que mais me assustavam eram as trovoadas secas nas aldeias no verão.  Lembrava-me, e nunca me esqueceria, das trovoadas fortes em pleno verão durante as quais todos íamos para debaixo das camas, embrulhados em cobertores de papa, a rezar a Santa Bárbara a pedir que os trovões ribombantes passassem. Muitas eram trovoadas secas e essas eram as mais perigosas, tanto mais que a Casa do Alto no Sendim da Ribeira (Alfandega da Fé) era o ponto mais alto da aldeia e o ressoar dos trovões ecoava como um temível castigo divino por sobre a nossa cabeça de pecadores... por outro lado, quando a trovoada era mais longe lá para os lados de Espanha, à noite, valia a pena ver o espetáculo dos raios a caírem em toda a volta do fértil vale. Ali, naquela casa era um espanto ver as inúmeras trovoadas à noite, quando estavam mais longe. Indescritível lembrança que guardo com olhos adolescentes. Já na casa da Eucísia (Alfandega da Fé) ou no Azinhoso (Mogadouro), as trovoadas metiam menos medo e não eram tão vistosas.

Para quem não sabe, o Sendim da Ribeira fica num buraco, no fundo dum vale, e em volta havia, para sul: os Cerejais, Ferradosa, Parada; para leste Vilar Chão e a norte, Vale Pereiro, Saldonha, e para oeste Gouveia e Sendim da Serra. Ora todas estas terrinhas eram na altura servidas por estradas secundárias, municipais ou caminhos de terra batida, mas os montes circundantes tinham as estradas de acesso a Alfândega da Fé, a Macedo e a Mogadouro, pelo que era espantoso ver (de hora a hora na melhor das hipóteses, que o movimento era pouco na década de 60) pequenas luzes dos tremeluzentes faróis amarelados de viaturas a atravessarem os montes, por entre os relâmpagos que iluminavam todo o vale. Memorável. Essas imagens ficaram para sempre guardadas na memória. Há fotografias destas que não estando registados em negativo ou em papel, jamais esmorecem ou amarelecem na memória de cada um.

Foi nessa década de 1960 que se instalaram alguns postos de PBX nas aldeias, um sistema elaborado de cavilhas com doze extensões a ligarem essas pequenas centrais às pessoas mais importantes. Os meus tios-avós que viviam no Sendim da Ribeira com os primos (dois dos quais vim a reencontrar décadas mais tarde, aqui nos Açores onde se radicaram em 1960 e em 1975) tinham uma venda ou loja na qual estava instalado o Posto Telefónico da Anglo-Portuguesa de Telecomunicações ou ATP[1]. O Posto Telefónico ATP137 era o único contacto com a civilização. As aldeias, tantas das vezes isoladas durante os nevões de inverno, sempre avessas a qualquer mudança ou modernice não acolhiam bem o telefone e daí só haver meia dúzia de linhas ligadas, em toda a área do Sendim da Ribeira. Era importante para quem tinha um aparelho daqueles em casa, com a sua manivela a dar e a dar, não esperar muito por alguém no Posto para atender. O saudoso PBX era de cavilhas. Estas tinham que se colocar na ranhura. Quando uma chamada entrava na central, a tampinha caía e era só enfiar as cavilhas de dois fios nas ranhuras cujas tampas tinham caído. Depois, havia uns auscultadores de baquelite preta, bem pesados, com microfone através dos quais se perguntava a quem telefonava para onde queria ligar, qual o número, etc.

Entretanto trocavam-se dois dedos de conversa enquanto se discava a marcação individual do número pedido, para a Central Telefónica (Regional ou Nacional) a que o Posto pertencia. Quando, por fim, o interlocutor respondia trocavam-se as cavilhas e as pessoas podiam finalmente falar. O período da manhã era muito calmo e quase sem chamadas, depois aumentava ligeiramente até à hora de jantar, depois do qual raras vezes tocava a campainha. Para um jovem como eu, era um entretenimento delicioso controlar esta forma de comunicação e saber simultaneamente tudo o que se passava, quem falava com quem, ao mesmo tempo que me permitia ir conhecendo “virtualmente” a meia dúzia de pessoas que habitavam nas redondezas. Este sistema de telefone permitia transmitir mensagens, notícias e outros avisos numa era em que os rádios mais potentes captavam emissões espanholas e mal as portuguesas, a televisão ainda não chegara àquelas paragens, e a luz elétrica ainda era uma miragem. Aliás a TV espanhola chegou décadas antes da portuguesa. Os jornais chegavam atrasados pois apesar de usarem os comboios diários da Linha do Douro e suas ramificações, não havia depois carreiras de camionagem regulares para os sítios mais interiores e muito menos para aldeias sem estrada como eram então as aldeias da família: a Eucísia, o Azinhoso ou o Sendim da Ribeira.  No inverno, muitas vezes, ficavam isolados pois a estrada de terra batida ficava intransitável. O mundo podia acabar que só viriam a saber bastante mais tarde. Ainda hoje me apetece viver em sítios assim. 

Doutra coisa estava, porém, certo: jamais esqueceria o cheiro a carvão e as fagulhas que saltavam da locomotiva nas muitas viagens que fiz de comboio do Porto a Trás-os-Montes. Do Porto ao Tua e depois no ramal da Linha do Tua em direção a Bragança tínhamos de sair, creio que na base da Serra de Bornes em Grijó (terra do Professor Adriano Moreira), antes de chegar a Macedo de Cavaleiros. O troço entre Mirandela e Bragança foi encerrado definitivamente no dia 15 de dezembro de 1991.

É esse passado mítico que os modernos governantes me roubaram, violando as recordações da minha juventude, as memórias perdidas e isso jamais lhes perdoarei. Cambada de novos-ricos, ignorantes e alarves. Todos tentamos salvar a linha do Tua, que é minha e de todos os que amam esta região, única no mundo. É o nosso património que eles dilapidam e para quê? Para agora ser anunciada em dezembro 2019 a venda dessas barragens todas pela EDP aos franceses e outros… (de nada serviram os abaixo-assinados e petições, filmes, idas à Assembleia da República). A voragem capitalista da EDP e dos interesses das barragens tudo soterraram nesta venda premeditada do país a retalho…

E com ou sem barragens, as inundações vão continuar e serão piores, pois os patos bravos continuam a tapar as linhas de água e construir em cima delas…

(adaptado e atualizado, de ChrónicAçores uma circum-navegação vol. 1 2009) 
Chrys Chrystello, Jornalista, Membro Honorário Vitalício nº 297713 [Australian Journalists' Association] MEEA]. Para o Diário dos Açores (desde 2018) Diário de Trás-os-Montes (desde 2005) e Tribuna das Ilhas (desde 2019)

[1] [a que se seguira (1968) a TLP (Telefones de Lisboa e Porto) e em 1994 passaria de Telecomunicações de Lisboa e Porto a PT Comunicações]

Chrys Chrystello

Demissão em bloco da direção dos bombeiros de Mirandela

Está decidido. Os sete membros da direção da Associação dos Bombeiros Voluntários de Mirandela consideram que não estão reunidas as condições para continuar à frente dos destinos da associação e vão renunciar aos cargos, seis meses depois de terem tomado posse de um mandato que só terminava no final de 2022.
Foto: Canal N
O primeiro a fazê-lo foi mesmo Marcelo Lago. O presidente da direção entregou a carta de demissão ao Presidente da Assembleia-Geral, Artur Assis, na noite do passado sábado, um dia depois de 51 voluntários do quadro ativo terem apelado, em carta aberta, à saída de Marcelo Lago, caso contrário garantiam que iriam pedir, individualmente, a inatividade. Alegam que as polémicas das últimas semanas estão a manchar o bom nome da associação e dos seus bombeiros e acusam o presidente da direção de tomar decisões que só têm contribuído para aumentar o descontentamento do corpo ativo que culminaram, no processo que classificam de “atabalhoado” da escolha de um novo comandante com um currículo que consideram “questionável”.

No mesmo dia, o presidente e o vice-presidente do Conselho Fiscal apresentaram a renúncia dos cargos, alegando desconforto pelo momento sensível dos bombeiros e por entenderem que deveria ter existido uma resposta adequada, por parte do presidente da direção.

Durante o dia de sábado, alguns voluntários estiveram mesmo em vigília em frente ao quartel aguardando uma decisão da direção. Nessa mesma noite, Marcelo Lago entregou a carta de demissão, confirmou o presidente da Assembleia-Geral.

A decisão da demissão em bloco da direção só ainda não é oficial, porque ao longo desta segunda-feira é que os restantes membros da direção vão entregar, por escrito, ao presidente da Mesa da Assembleia-Geral da Associação, os seus pedidos de renúncia.

Ao que apuramos, já terá ficado definida a calendarização do novo processo eleitoral para os novos órgãos sociais da associação. O prazo para entrega de listas vai decorrer até 9 de julho e o ato eleitoral acontecerá no dia 24 do mesmo mês. Até lá, a direção vai manter-se em gestão.

Entretanto, esta demissão também trava o processo de nomeação do novo comandante da corporação, iniciado a semana passada. Henrique Teixeira, antigo comandante dos bombeiros de Melo, no distrito da Guarda, tinha sido a escolha de Marcelo Lago, mas, mediante este clima interno na corporação o próprio comandante indigitado enviou uma carta à direção declinando o convite por não ter condições para exercer o cargo.

Sendo assim, será a nova direção que for eleita a 24 de julho que irá conduzir este processo, até lá, Luís Carlos Soares continua como comandante em regime de substituição, tal como já acontece desde o dia 1 de junho.

Buscas da PJ incendiaram clima de tensão interna
É o culminar de quatro meses de intensas polémicas no seio da associação, que se intensificaram no último mês.
Tudo começou mo início do mês de março, quando a PJ fez buscas no quartel dos Bombeiros Voluntários de Mirandela, numa operação inspetiva despoletada no âmbito de um inquérito após uma denúncia anónima que acusava o presidente da direção daquela associação, da autoria de diversas práticas, alegadamente, ilícitas, que, a confirmarem-se, poderiam indiciar um crime de natureza patrimonial.

As operações de busca também aconteceram na Câmara Municipal de Mirandela para recolha de documentos, nomeadamente de deliberações do executivo municipal, atas e verbas atribuídas à corporação de bombeiros.

Os inspetores da PJ também estiveram nas instalações do parque de campismo de Mirandela, onde a associação de bombeiros possui um restaurante, que foi construído durante os quatro anos em que a gestão daquele equipamento turístico esteve a seu cargo, no âmbito de um protocolo estabelecido com o Município, em 2015, entretanto denunciado pelo atual executivo, em 2019.

Até ao momento, ainda ninguém foi constituído arguido.
Já no final de maio, aconteceu a demissão do comandante da corporação, Edgar Trigo, que exerceu aquelas funções desde janeiro de 2013.
Luís Carlos Soares seria, de acordo com a legislação em vigor, o único elemento do corpo de bombeiros que poderia assumir o cargo durante este período de transição, até que a direção liderada por Marcelo Lago decidisse quem seria a nova equipa de comando da corporação.

Esta legitimidade de Luís Carlos Soares está ligada ao facto de ser o bombeiro mais graduado do corpo ativo com cerca de 20 anos de serviço.
O enfermeiro do INEM de 36 anos já fazia parte do comando, mas terminou a comissão de serviço em outubro de 2019, “em litígio com os procedimentos internos do presidente da direção”. Desde então, manteve-se como oficial de bombeiro.

15 dias depois, Luís Soares denunciou que os bombeiros voluntários de Mirandela eram o único corpo ativo do distrito de Bragança que não tinham uma equipa de combate aos incêndios florestais, conforme o plano de operações de socorro distrital.

Em comunicado, revelou que esta situação acontecia desde o dia 3 de junho, altura em que a equipa terá sido “suspensa pelo comando distrital de Bragança, por não estar de acordo com o regulamento em vigor para sua efetivação”. Situação confirmada pelo próprio Comando Distrital de Operações de Socorro (CDOS) de Bragança.
Na semana passa, no mesmo dia em que a direção da associação acordou a indigitação de Henrique Teixeira para novo comandante do corpo ativo daquela corporação, Luís Soares dirigiu uma carta aberta a todos os órgãos sociais da associação dos bombeiros, corpo ativo e restantes entidades “com dever de cooperação e ou fiscalização”, onde colocava em causa a gestão de Marcelo Lago nos últimos anos, revelando “um conjunto de comportamentos na área da gestão financeira, que os órgãos próprios da associação e entidades de relevante interesse, se devem questionar e escrutinar caso assim o entendam”, podia ler-se.

Luís Carlos colocou perto de duas dezenas de questões que “devem merecer uma reflexão e resposta”.

No dia 26 de junho, em carta aberta 51 voluntários do quadro ativo apelaram à saída de Marcelo Lago, caso contrário garantiam que iriam pedir, individualmente, a inatividade. No mesmo dia, José António Ferreira, presidente do Conselho Fiscal da Associação dos Bombeiros Voluntários de Mirandela, e Jorge Lopes, Vice-Presidente, anunciaram a renúncia aos cargos.

No dia seguinte, Marcelo Lago pediu a demissão de presidente da direção dos bombeiros depois de 19 anos à frente daquela associação.
O antigo presidente da câmara de Mirandela, entre 1976 e 1989, tinha sido reeleito, em dezembro do ano passado, para um mandato de mais três anos.

Fernando Pires

Sanidade animal vai ser apoiada a 100% no concelho de Macedo de Cavaleiros

Os custos com a sanidade animal obrigatória de bovinos, ovinos e caprinos dos produtores do concelho de Macedo de Cavaleiros vão passar a ser suportados a 100% pela câmara municipal.
A garantia foi deixada pelo presidente, Benjamim Rodrigues, na reunião de assembleia municipal de sexta-feira:

“Iremos recompensar os agricultores pelo menos com os custos da sanidade animal.

As pessoas têm o direito de passar pelo Gabinete de Empreendedorismo e Desenvolvimento Rural (EDRU) e solicitar a compensação por esses gastos que têm com os animais.”

Neste momento já existe uma comparticipação, mas cobre apenas 50% desses custos. A participação na totalidade ainda não tem data certa para entrar em vigor, mas, segundo o autarca, será instituída “logo que possam fazê-lo legalmente”.

A medida já tinha sido sugerida pelo deputado Manuel Mico, da bancada do PS, e por Nuno Morais, da do PSD.

Ainda na reunião de sexta-feira, o deputado socialista Henrique Palma também se pronunciou sobre a sanidade animal, defendendo que as comparticipações deveriam ser asseguradas pela CIM Terras de Trás-os-Montes, abrangendo o território:

“Penso que este apoio poderia e deveria ser, no futuro, dado pela CIM-TTM.

Este é um problema de grande parte dos concelho do distrito pois todos têm efetivos pecuários, embora uns mais que outros.

Esta seria uma forma daquele organismo apoiar e fomentar as produções das nossas raças autóctones.

Este deveria ser um dos principais objetivos da CIM, quer no setor animal como no vegetal/florestal, como é o caso da vespa da galha do castanheiro, porque estes problemas sanitários são transversais a todos os concelhos do distrito.”

No concelho de Macedo existem 421 explorações de bovinos e pequenos ruminantes, com um total de 20798 animais, o que representa uma despesa global com a sanidade obrigatória de 44 323€.

Escrito por ONDA LIVRE

Sete arguidos acusados pela morte de Giovani Rodrigues

O estudante foi violentamente agredido em Bragança e acabou por morrer no hospital. Existe um oitavo arguido que está apenas acusado de favorecimento pessoal.
O Ministério Público acusou de homicídio sete dos oito arguidos no caso Giovani, em Bragança, enquanto ao oitavo elemento atribui o crime de favorecimento por alegadamente ter escondido a arma do crime, foi hoje revelado.

A acusação foi divulgada hoje pela Procuradoria-Geral Distrital do Porto e consta de um despacho de 23 de junho do Ministério Público de Bragança, responsável pela investigação do caso que culminou na morte do estudante Giovani Rodrigues, em dezembro de 2019.

O despacho do Ministério Público saiu meio ano depois dos factos e a acusação recai sobre os oito detidos pela Polícia Judiciária (PJ), todos do concelho de Bragança, três dos quais encontram-se em prisão preventiva e quatro em casa com pulseira eletrónica.

O Ministério Público deduziu acusação contra cada um de sete dos suspeitos pela "prática de um crime de homicídio qualificado agravado, sendo um na forma consumada e três na forma tentada".

A acusação entende que estes suspeitos agrediram Giovani e também os três amigos cabo-verdianos que o acompanhavam na noite dos factos.

A dois destes arguidos, o Ministério Público imputa-lhes ainda "a prática de um crime de detenção de arma proibida".

O oitavo arguido é acusado do crime de "favorecimento pessoal" por alegadamente "ter escondido, a pedido de um arguido, o pau com moca utilizado para a prática dos factos".

O Ministério Público considerou que na noite de 21 de dezembro de 2019, entre as 02:30 e as 03:15, num estabelecimento de bar sito na cidade de Bragança, um dos arguidos e outro indivíduo que o acompanhava se desentenderam com os quatro jovens cabo-verdianos.

Na base do desentendimento, segundo a acusação, estará o facto de os arguidos "suporem que estes jovens estavam a assediar as suas namoradas, o que deu origem a uma escaramuça sanada pelos encarregados da segurança do dito estabelecimento".

A versão do Ministério Público prossegue indicando que, já no exterior, os quatro jovens cabo-verdianos "se dirigiram de novo ao referido indivíduo e à sua namorada, com estes se travando de razões, o que motivou que ao local acorressem quatro dos arguidos, que se envolveram com os jovens em agressões recíprocas".

Mais indiciou o Ministério Público que "pretendendo evitar as agressões, os quatro jovens fugiram do local a correr, vindo a ser intercetados por um outro arguido que lhes desferiu várias pancadas com um pau com uma moca numa das extremidades".

De acordo com a acusação, "entretanto chegaram ao local aqueles quatro arguidos e ainda outros dois, um destes munido de uma soqueira metálica, tendo então, os sete, atuado concertadamente, agredindo os quatro jovens com pontapés, murros e pancadas desferidas com paus e com a soqueira".

O Ministério Público apurou que três dos jovens cabo-verdianos fugiram, "mas um deles (Giovani) foi rodeado pelos sete arguidos, sendo então agredido por todos, nomeadamente na cabeça, com mais murros e pontapés, pancadas com paus, a parte metálica de um cinto e uma soqueira, acabando prostrado no chão".

O Ministério Público entende que "este jovem veio a sofrer lesões derivadas destas agressões que lhe provocaram a morte, ocorrida dez dias mais tarde" e que "era propósito dos arguidos que sucedesse o mesmo aos outros três, o que só não veio a acontecer por razões alheias à sua vontade".

O estudante cabo-verdiano Giovani Rodrigues foi encontrado sozinho caído numa rua em Bragança a 21 de dezembro e acabou por morrer 10 dias depois, num hospital do Porto.

A morte do jovem, que tinha chegado à região há pouco mais de um mês para estudar na escola de Mirandela do Instituto Politécnico de Bragança (IPB), motivou reações institucionais de Portugal e Cabo Verde.

Os apelos à Justiça e à não violência traduziram-se também em marchas de homenagem ao jovem cabo-verdiano, a 11 de janeiro.

Tanto as autoridades policiais como judiciais vincaram "não ter sido apurado qualquer indício no sentido de os factos praticados pelos arguidos terem sido determinados por ódio racial ou gerado pela cor, origem étnica ou nacionalidade das vítimas".

Pandemia abre novas oportunidades ao turismo no Interior

A crise pandémica está a ser encarada como uma oportunidade para a promoção do turismo no interior.
Em Bragança, a natureza é o principal ativo para atrair clientes em unidades de Glamping ou do espaço rural.
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Alforjica 2020

Por esta altura, os sócios, padrinhos e madrinhas dos Burros de Miranda já devem ter nas mãos a Alforjica 2020, o nosso boletim de informação anual, este ano dedicado aos serviços dos ecossistemas e à proteção da biodiversidade.
Refletindo o seu crescimento como organização de conservação da natureza e da biodiversidade, em 2019 a AEPGA participou na execução de vários projetos que são abordados neste número. A criação de uma micro-reserva nos vales dos rios Maçãs, Sabor e Angueira, o projeto TerRa, que pretender dar a conhecer o Planalto Transmontano através das suas raças autóctones, o impacto da herbivoria e pisoteio dos asininos em áreas de risco de incêndio florestal, o incremento da biodiversidade nos centros que gere são alguns dos temas tratados. Uma entrevista ao biólogo Paulo Pereira, o plano reprodutivo anual, o protocolo de alimentação dos burrancos órfãos, a história do nascimento do Principezinho, alguns apontamentos sobre os burros da Campanha de Apadrinhamento e o habitual calendário de atividades completam o boletim, que este ano já vai na sua 13ª edição.

Se ainda não é sócio, padrinho ou madrinha e não teve a oportunidade de folhear este exemplar, pode agora descarrega-lo em formato pdf AQUI.

A Festa de São Gonçalo de Outeiro

Cumprida anualmente no primeiro sábado que imediatamente se sucede ao dia de Ano Novo, a Festa de São Gonçalo de Outeiro congrega o labor e o empenho coletivo de dez mordomos que são os responsáveis por toda a logística relativa à manutenção desta ancestral tradição, cujas origens ainda não estão historicamente fixadas, mas que se pensa remontarem ao século XVIII.
Outeiro é uma pequena povoação que fica à margem imediata da estrada que liga Bragança a Miranda do Douro, bem próximo e em antecedência da vila de Argozelo, uma outra localidade cuja história está marcada pela influência dos Judeus. 

Em Outeiro não há referências a qualquer comunidade judaica, mas no morro que se desenvolve sobranceiramente na direção nascente dos dois principais núcleos do atual povoamento ergueu-se, pelo menos até meados do séc. XVIII, um importante castelo cujas origens se fixam no período medieval. 

O interesse e a importância histórica de Outeiro não reside apenas no seu castelo, outrora designado como o Castelo de Outeiro de Miranda. Quem passar na antiga estrada de ligação 218-2, vai deparar-se com um majestoso templo, a Basílica de Santo Cristo, a única basílica portuguesa situada em espaço rural. 

Mas a aldeia de Outeiro tem muito mais para mostrar e oferecer ao caminheiro ou viajante que se disponha a descobrir estas terras recônditas e belas que se desenvolvem numa faixa territorial fronteiriça do interior transmontano. 

Uma das tradições deste povo com maior interesse é a Festa de São Gonçalo, uma manifestação do solísticio que na região se designa como o “Ciclo das Festas de Inverno”. Cumprida anualmente no primeiro sábado que imediatamente se sucede ao dia de Ano Novo, o acontecimento congrega o labor e o empenho coletivo de dez mordomos que são os responsáveis por toda a logística relativa à manutenção desta ancestral tradição, cujas origens ainda não estão historicamente fixadas, mas que se pensa remontarem ao século XVIII.
O culto a São Gonçalo começa por ser a primeira curiosidade neste período de comemorações regionais onde prevalece, sobretudo, a figura de Santo Estevão e as festas relacionadas com o Reis e com o Carnaval. Esta será, portanto, uma primeira mas desafiadora incógnita em qualquer proposta de investigação que pretenda obter algum esclarecimento sobre as origens desta tradição que, à semelhança de tantas outras que ocorrem no concelho de Bragança e por todo o território do Nordeste Transmontano, mistura, de forma extraordinariamente humana, o sagrado e o profano. 

São Gonçalo (1187-1262), foi um santo que viveu em território português e sobre o qual existe o consenso geral de ser um excelente pregador dominicano que acabou por se instalar junto às margens do rio Tâmega, onde atualmente se ergue a Igreja e o Convento de São Gonçalo, em Amarante, para a partir daí pregar o evangelho. 

Ao que parece, a sua missão pregadora obteve um sucesso à escala permitida pela época e o seu posterior culto, após a beatificação, paulatinamente se espalhou por todo o Norte de Portugal e mesmo pelos domínios ultramarinos detidos por Portugal, de que foram exemplos a índia e o Brasil. Além do epíteto de “Santo Casamenteiro”, as orações a São Gonçalo revelam, sobretudo, a procura da cura, o controlo das calamidades naturais, a proteção dos condenados, a proteção da miséria, a recuperação de bens perdidos e a interferência divina para afastar os perigos e dar saúde aos anciãos. 

Como chegou o culto de São Gonçalo até Outeiro não se sabe muito bem, apenas se constata que a evocação deste santo é feita num período de festa revigoradora, de uma festa ritual que enfatiza o renascimento cíclico dos elementos congregadores e protetores das comunidades rurais do Nordeste Transmontano, onde os símbolos cristãos e profanos, assim como a música tradicional, tocada por gaita-de-foles, flauta pastoril, tamboril ou bombo, se misturam ordenadamente num processo gradual de comemoração em que quase sempre o pão emerge como o elemento centralizador e de destaque. Esse mesmo pão que no caso de Outeiro surge em forma de rosca ou mesmo de santo, em declarada evocação dos símbolos solares e divinos. 
Ramiro Romão
Conta-se, conta-nos o Sr. Ramiro Romão, um dos mordomos da Festa de São Gonçalo de Outeiro, que o culto deste santo e a construção da pequena capela que o acolhe e que se ergue timidamente mesmo em frente à majestosa basílica, começou devido a uma peste que quase dizimou toda a “criação” da aldeia. 

A LENDA FUNDADORA
Ramiro Romão, mordomo da festa, fala-nos sobre a lenda relativa ao culto de São Gonçalo. 
“Reza a lenda”, recorda-nos Ramiro Romão, que a devoção da população de Outeiro a São Gonçalo remonta aos inícios do Século XVIII. “Por essa altura terá havido aqui um surto de peste, muito usual nesses tempos, e uma vez que não havia tratamentos como há hoje, o povo da altura resolveu, em honra de S. Gonçalo, construir uma capela para que a peste fosse extinta. E, como de facto, isso aconteceu. Foi o milagre de São Gonçalo e passado pouco tempo os animais ficaram todos a salvo, ou seja, a peste desapareceu completamente e a partir de então a festa começou-se a realizar sempre no dia 10 de janeiro que é o dia de São Gonçalo”. 

Desta forma, explicada pela lenda, a população de Outeiro começou a celebrar a festa anual em honra de São Gonçalo, tendo posteriormente associado a essa celebração a tradição do "Charolo", num quadro festivo em que se percebe patente os diferentes momentos da festa tradicional transmontana, estando totalmente incorporados os momentos sagrados, como a liturgia cristã ou a procissão, e os momentos mais profanos, como a confeção das roscas e do charolo, o peditório, o leilão, a “Dança da Rosca” ou a “Pondorcada”.
O CULTO DO PÃO
Tudo começa nos dois dias anteriores ao sábado da festa com a confeção das roscas e a organização dos ramos e do “charolo”. Num salão da junta de freguesia local, equipado propositadamente para esse efeito com forno e amassadeira, os mordomos deitam mãos à cansativa tarefa. Mais de duzentas roscas vão ser amassadas, levedadas e cozidas. Depois de douradas e apetitosas ao olhar são colocadas em acolchoado adorno numa estrutura em forma de andor a que chamam “charolo”. 
Ana Quintas
ROSCAS FEITAS COM AMOR
Ana Quintas, mordoma da festa, explica-nos como são feitas as roscas 
Ana Quintas, mordoma da festa, explica-nos como são feitas as roscas. “ Logo de manhã os mordomos dirigem-se para o forno da aldeia e cada um faz a sua tarefa. É necessário sumo de laranja, peneirar a farinha, bater os ovos, fermento, manteiga, água e muito amor. Mistura-se tudo e amassa-se. Depois de misturados todos os ingredientes, a massa fica a repousar durante duas horas e meia. Posteriormente cortam-se pedaços de massa à medida pretendida e no entretanto vai-se acendendo o fogo". 

Simultaneamente vai-se batendo mais ovos para pincelar as roscas depois de serem moldadas em forma de sol ou em forma de um boneco que pretende a representação do São Gonçalo. Não raro, alguns dos pães de configuração antropomórfica representam também pares de namorados acompanhados de placas com iniciais de nomes para que a bênção do santo recaísse sobre eles. 

Noutros tempos, que é o mesmo que dizer há cerca de cinco ou seis décadas atrás, essas representações, e também as placas em pão com a primeira letra do nome das raparigas, eram as mais “mandadas” nas arrematações do leilão de sábado à tarde. 
Maria Helena Geraldes
AS LETRAS DOS NAMORADOS
“O charolo era a mocidade solteira que o fazia". Maria Helena Geraldes explica a festa do antigamente 
Maria Helena Geraldes, mulher já idosa e uma profunda conhecedora da tradição, conta-nos que “quando era nova” o “charolo” era feito só por jovens solteiros, quatro rapazes e quatro raparigas, mas a onda de emigração que se fez sentir sobre região “levou-nos a mocidade toda e tivemos que nos adaptar”. Naquele tempo, retoma a conversa a Srª Maria, “o charolo era a mocidade solteira que o fazia, porque são os rapazes solteiros que levam o charolo. Fazíamos também muito boneco em pão e a rosca tal e qual como é agora. E fazíamos umas placas com as nossas letras iniciais do nome. Aquelas que tinham namorado, os namorados queriam comprar essas placas, os outros rapazes que o sabiam puxavam, porque isto é leiloado, um mandava e outro mandava, que era para fazer pagar muito ao namorado pelo nome da namorada”. 

Agora são os mordomos, quase todos de idade avançada, que preparam os ramos e enfeitam o “charolo”. Logo que cozidas, as roscas são disposta num longo corrimão de mesas, “para descansar”. Em toda esta azáfama, que roda integralmente à volta do pão - de um pão que aqui surge como símbolo de ligação ao trabalho e à terra e com um manifesto significado religioso -, não há tempo para descansar. Tudo tem que ser feito de modo a que o pão que resulta de um intenso esforço e labor, o pão que se partilha entre os homens e se oferece ao “Senhor”, seja a dignificação de quem o preparou. Por isso coloca-se toda a entrega na composição daquele andor piramidal que deverá sair para a rua recheado de roscas e encimado por cinco ramos coroadores, onde prolifera a doçaria caseira, guloseimas, frutos secos e também algum fumeiro.

A tarde de sexta chegou ao fim. E enquanto se dá aqui e ali um ou outro retoque no "charolo" e se ultimam os ramos, o brilho nos olhos dos mordomos da Festa de São Gonçalo de Outeiro alumia já a noite espessa que num instante se instalou.
O SÁBADO DA FESTA
Logo bem cedo, pelo romper da manhã de sábado, um grupo de rapazes e mordomos acompanhados de gaita-de-foles, tamboril e bombo percorrem as ruas da aldeia num peditório para a festa. No outro bairro, um grupo de homens transporta o “charolo” da casa da Junta de Freguesia para a basílica de Santo Cristo , onde é colocado como um autêntico andor para fazer parte da Eucaristia em honra de São Gonçalo, celebrada por volta das 10:30 horas. Um pouco antes começam a chegar os filhos de Outeiro que por razões profissionais ou quaisquer outras habitam na cidade de Bragança. O grande templo da aldeia, húmido e frio, já guarda lá dentro o “charolo” e dentro em pouco vai acolher o calor e a fé da gente que neste sábado de janeiro vai venerar São Gonçalo. 
Zulmira da Purificação
A FESTA EM VERSO
Zulmira da Purificação Rodrigues construiu em verso todos as fases da Festa de São Gonçalo 
Após a celebração da missa, segue-se a cerimónia da procissão religiosa que é também acompanhada por música tradicional adequada à situação, onde se faz notar, mais uma vez, o som de gaita-de-foles, da caixa e do bombo. Nesta procissão, que sai da basílica para contornar a pequena capela, o “charolo” segue à frente, logo seguido do andor de são Gonçalo. O percurso é curto, fazendo-se quase sempre em território adjacente ao largo da basílica, mas tendo como ponto referencial a capelinha do santo cultuado. Depois do retorno feito ao interior do templo maior, o andor das roscas seguirá para o largo fronteiro ao edifício da Junta de freguesia, onde a festa haverá de ser retomada logo que todos os comensais repastem o almoço típico do dia de São Gonçalo. 
Sendo assim, e porque está a chegar a 1 hora da tarde, coloquemos a atenção na mesa da D. Maria do Céu para onde fomos convidados pelo seu filho António Carlos Bernardo. O Sr. Manuel Bernardo, que é o chefe de família, apressa-se a informar-nos que tudo ali é “caseiro”, até o bagaço que provámos em forma de aperitivo para comprovar a sua qualidade. Entretanto, e num ambiente de agradável conviviabilidade, foi chegando o butelo, as "cascas" de feijão, os chouriços, a orelheira, os chispes, as batatas e os restantes legumes. Degustámos com gosto este almoço típico de evocação do dia, que regámos regaladamente com um saboroso vinho de uns "pés de vinha" cultivados na encosta do castelo; um tinto produzido sem quaisquer aditivos e com uma graduação superior a doze graus. Informam-nos durante a conversa que esta é a refeição que está presente em todas as casas de Outeiro, por ser a gastronomia típica e da tradição do dia de São Gonçalo. 
Ao entrar da tarde já a gaita-de-foles e a batida do bombos se ouvem junto ao edifício da junta de freguesia, onde vão decorrer todas as “celebrações” profanas. Crianças, jovens e adultos de todas as idades e condições começam agora a juntar-se no largo fronteiro ao edifício público, bebem café no bar da junta e confraternizam entre si. Não tarda, homens e mulheres vão alinhar-se em duas filas, eles com uma rosca erguida ao céu e elas com os braços no ar. A “dança das roscas” é uma das mais interessantes manifestações rituais de exposição do pão que existem na região. Poder-se-á dizer que é mesmo única na aparente expressividade lúdica, embora pareça envolver um conjunto de gestos e formalidades imbuídas de um valor simbólico com significação própria de ritual. 

A “dança das roscas” tem como som de fundo a melodia tradicional da gaita-de-foles. Os homens e as mulheres organizam-se em duas filas tão compridas quanto o número de atores que nelas queiram participar. De um lado os homens, do outro as mulheres. O bailado arranca em movimento e cadência, os homens expõem as roscas ao sol e as mulheres dançam de braços erguidos a abanar. Cada fila avança no sentido da outra. Os rostos e os corpos aproximam-se. Depois, num movimento rápido, viram-se de costas, tocam-se rabo com rabo, e troca-se a posição da fila dos homens e da fila das mulheres. A dança repete-se com os mesmos gestos, uma, duas, três, quatro, tantas vezes quanto a duração da música o permitir, até terminar em contagiosa alegria. 

Após duas ou três danças, cumpre-se a tradição. Agora são as roscas dançadas pela mão dos homens que vão ser partilhadas entre os presentes. Cortam-se grossas fatias e distribuem-se por todos os que aí se encontram. Essa é a altura de partilhar; a altura da comunhão profana do pão entre homens, mulheres e crianças. 

O resto da tarde está reservada ao leilão. As roscas, uma a uma, vão ser vendidas pela maior licitação. O “charolo” encontra-se encostado à parede da junta de freguesia e de lá começa a ser retirado, pouco a pouco, todo o pão. Cinco euros, dez euros, quinze euros e por aí a adiante até a rosca ser entregue à melhor oferta. Este ano não há placas com as iniciais do nome das raparigas e não há rapazes a “mandarem” mais para fazer inflacionar a placa da rapariga amada. Se calhar também já não há namorados em Outeiro como havia antigamente, como no tempo em que era solteira a Srª Maria Helena Geraldes. Mas a figura do São Gonçalo ainda está presente no leilão, surgindo ainda alguns bonecos de pão que são quase sempre os mais "mandados". 
O presidente da Junta de Freguesia, César Garrido, que acompanha a festa de perto, explica-nos que o dinheiro obtido com o leilão reverterá integralmente para a confraria e também para ajudar a pagar os custos da festa, porque uma festa como esta tem despesas que necessitam de ser saldadas. 

A tarde já vai adiantada em Outeiro. Está na hora de entregar a responsabilidade da manutenção da tradição no próximo ano. Novamente os gaiteiros vão percorrer as ruas. As novas nomeações obedecem a uma organização que respeita a estruturação urbana da aldeia. Os próximos mordomos sairão das casas que se sucedem às casas dos mordomos que acabaram a missão. Mais uma vez o ambiente festivo se instala, um significativo número de pessoas, gaiteiros e restantes músicos param em frente das casas do novos nomeados. Toca-se, come-se, bebe-se muito, dão-se abraços e muitos vivas. Quando a noite cair é a pondorcada que reina. É nessa altura que a festa atinge o auge do profano e num excesso de tudo, dança-se, dança-se, dança-se.

António Luís Pereira