Na abertura deste primeiro encontro, que decorreu no miniauditório, a presidente do município de Miranda do Douro, Helena Barril desafiou os vários intervenientes – oMovimento Cultural da Terra de Miranda (MCTM), a FRAUGA – Associação para o Desenvolvimento Integrado de Picote, a Associação de língua e Cultura Mirandesas e a associação Galandum Galundaina – e outras personalidades a indicarem medidas concretas para revitalizar o mirandês.
“É o primeiro conselho geral dedicado à língua mirandesa e tem como objetivo escutarmo-nos uns aos outros, para assim definir um plano estratégico conjunto para a defesa e promoção do mirandês”, justificou.
Como exemplo de uma medida concreta para a promoção da cultura e língua mirandesas, a autarca de Miranda do Douro informou que estão e decorrer negociações entre o município e a empresa Cafés Delta, para divulgar a região através dos pacotes de açúcar, com imagens da região e mensagens escritas em mirandês.
Ao longo da tarde em Miranda do Douro foram abordadas várias dimensões afetas à língua mirandesa, como a atual situação do mirandês, o valor cultural e económico da língua, o ensino do mirandês no ensino superior, a comunicação em mirandês no quotidiano, entre outros âmbitos.
Sobre o atual estado do mirandês, foi invocado um estudo da Universidade de Vigo, que conclui que atualmente existem 3500 pessoas que conhecem e língua, mas apenas 1500 a falam regularmente. E esta realidade é ainda mais preocupante, perante o ininterrupto despovoamento das aldeias do concelho de Miranda do Douro.
O presidente da Associação da Língua e Cultura Mirandesas (ALCM), Alfredo Cameirão destacou que o mirandês é uma marca identitária da região, à semelhança da Capa d’Honras Mirandesa.
“Sem investimento, a língua não sobrevive e não se desenvolve. Atualmente, o número de professores de mirandês é insuficiente para a transmissão e ensino da língua”, alertou.
Por sua vez, o secretário da FRAUGA – Associação para o Desenvolvimento Integrado de Picote, o professor António Bárbolo Alves, sublinhou as bases científicas da língua mirandesa.
“O mirandês começou a ser estudado há mais de 100 anos. E esta língua é o corpo da cultura da Terra de Miranda, nas suas várias expressões, como são a música, as danças dos pauliteiros, os rituais de solstício de inverno, os ditos e dezideiros. Por isso, é determinante preservar a língua mirandesa”, explicou.
Paulo Meirinhos, dos Galandum Galundaina, falou da experiência do grupo musical, cujos concertos e trabalhos discográficos são cantados em mirandês.
“A nossa missão é cantar e recriar memórias em mirandês. E através da música conseguimos divulgar a língua a milhares de pessoas”, partilhou.
Em representação do Movimento Cultural da Terra de Miranda (MCMT), José Maria Pires, criticou a “falta de vontade política” para defender e promover a língua e relembrou o trabalho realizado por António Maria Mourinho, Júlio Meirinhos e Amadeu Ferreira.
“A língua e a cultura mirandesas são as principais atrações turísticas da Terra de Miranda. Por isso, felicito a iniciativa do município de Miranda do Douro em criar este conselho e assim juntar os intervenientes na preservação e divulgação deste valioso património cultural”, disse.
No âmbito da cultura, a diretora do Museu da Terra de Miranda, Celina Pinto, avançou que aquando da reabertura do remodelado museu, prevista para o primeiro trimestre deste ano, os funcionários do museu vão acolher os visitantes em língua mirandesa.
Também a pintora, Balbina Mendes, referiu que na inauguração das suas exposições faz questão de que a língua mirandesa seja ouvida, na declamação de poemas ou através da música.
Para assegurar a transmissão da língua, o historiador, António Rodrigues Mourinho sublinhou a importância da família na partilha deste legado linguístico aos mais novos.
Como forma de aproveitar o potencial turístico e económico da língua e cultura mirandesas, o presidente da FRAUGA, Jorge Lourenço, sugeriu a criação de um programa turístico “passaporte”, para convidar pessoas a conhecer a Terra de Miranda.
Para conferir mais notoriedade e qualidade aos setores da restauração e do comércio local, sublinhou-se a mais valia que seria o recurso e apresentação em língua mirandesa, no acolhimento ao público, nas ementas e nos produtos e serviços.
No âmbito do ensino da disciplina de Língua e Cultura Mirandesas, o diretor do Agrupamento de Escolas de Miranda do Douro, o professor António Santos, indicou que atualmente 80% dos alunos frequentam a disciplina.
“Atualmente a disciplina de Língua e Cultura Mirandesa é opcional, mas seria de equacionar a obrigatoriedade desta disciplina no programa curricular”, avançou.
Nos momentos finais deste primeiro Conselho Geral para a Língua Mirandesa, o presidente d Assembleia Municipal de Miranda do Douro, Óscar Afonso, participou por videoconferência e criticou a inoperância do atual governo em atribuir os apoios financeiros prometidos para a criação do Instituto da Língua Mirandesa.
“Quando o IMI das barragens for pago ao município de Miranda do Douro, uma parte desse valor será destinado à defesa e promoção da língua”, adiantou.
Os trabalhos deste primeiro Conselho Geral para a Língua Mirandesa encerraram com uma síntese feita pela presidente do município de Miranda do Douro, que agradeceu a participação dos intervenientes e as propostas apresentadas para a definição do Plano Estratégico.