Por: Humberto Pinho da Silva
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
Vagueava num Centro Comercial, em domingo soalheiro, quando fui intercetado por sujeito, baixo e magro, que me bateu amigavelmente no ombro, e me disse de fisionomia risonha:
- "Não me conhece? Trabalhamos na mesma empresa, embora em secções diferentes...Não se recorda de mim?"
Confesso, de início não descortinei, mas ao longo da conversa verifiquei quem era.
Contou-me que tinha oitenta e oito anos, e andava doente. Vivia sozinho. Os filhos apartaram-se, após o casamento.
-" Tenho uma filha que me visita e cuida de mim. É casada, mas não se esquece de me telefonar..."
Louvou as meninas, dizendo-me: "- Digam o que disserem, elas são bem diferentes dos rapazes. Eles casando-se, levam sua vida, e nem se lembram dos pais. Elas, são carinhosas, são ternas...são mães!"
Disse-me que trabalhara duramente para lhes dar um curso superior." - Agora é fácil estudar, mas no nosso tempo, tudo era pago, e ganhava-se pouco."
- "A única que não se licenciou, foi minha filha. Casou. Não está tão bem como os irmãos, mas graças a Deus, vive desafogadamente.
-"Dei-lhes um curso. Estão bem de vida. Vão passar férias ao estrangeiro. Agora, o mais velho, foi com a família ao Brasil. Já visitou o Japão, a Grécia e já foi passar um mês aos Estados Unidos..."
- "Trabalhei muito. Tive dois empregos – como continuo, na empresa, e vendia produtos de papelaria, como caixeiro-viajante. Foi duro, mas consegui ter dois doutores!...
- "O que me custa é viver sozinho. Receio cair doente e não ter ninguém para cuidar de mim.
- " Minha filha, coitada! A vida não lhe permite estar comigo, mas se lhe fosse possível...é menina, é mãe!..."
Despedi-me a pensar – com filhos ou sem, o futuro dos pais é ficarem sempre sozinhos.
Humberto Pinho da Silva nasceu em Vila Nova de Gaia, Portugal, a 13 de Novembro de 1944. Frequentou o liceu Alexandre Herculano e o ICP (actual, Instituto Superior de Contabilidade e Administração). Em 1964 publicou, no semanário diocesano de Bragança, o primeiro conto, apadrinhado pelo Prof. Doutor Videira Pires. Tem colaboração espalhada pela imprensa portuguesa, brasileira, alemã, argentina, canadiana e USA. Foi redactor do jornal: “NG” e é o coordenador do Blogue luso-brasileiro "PAZ".
Sem comentários:
Enviar um comentário