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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Bacalhau - À conversa para conhecer o Gadus Morhua



Nasce nas águas frias e longínquas dos grandes bancos do Atlântico Norte e é rei na mesa dos portugueses. De Norte a Sul do país o adorado bacalhau torna-se verdadeiro soberano pelo Natal com o consumo a subir quase 30%. Mesa farta para as bacalhoeiras, guardiãs da tradição de venda do bom bacalhau. Fomos ao encontro de algumas na baixa pombalina de Lisboa.
Na Praça da Figueira, Fernando Nunes espreita o movimento da rua num momento de descanso. A «Antiga Casa do Bacalhau», com mais de 150 anos, é a sua paixão há cerca de 25 anos. «Quando o senhor que cá estava empregado se reformou vim aqui para a Praça da Figueira substituí-lo», conta.
O quarto de século ligado ao Gadus Morhua, nome científico a que responde o bacalhau, deu a Nunes sabedoria na hora de aconselhar o cliente. «O bacalhau tem de ter uma cor amarelada, ‘loiro’ da cor do grão», comenta, enquanto fatia mais umas postas. Por dia a casa do bacalhau chega a vender 500 quilos do «fiel amigo», como o proprietário gosta de o tratar.
A casa enche-se e saímos com a promessa de voltar mais tarde. Caminhamos pela simetria das ruas da Baixa de Lisboa em direcção à Rua do Arsenal. No século XIX nesta artéria da cidade já fervilhava o comércio de bacalhau. Vem de longe a tradição bacalhoeira em Portugal com a pesca a apontar para as frias águas do Atlântico Norte, lar do «verdadeiro» bacalhau, o Gadus Morhua.
Uma pesca que, em parte, vai alimentar uma indústria que em Portugal encontra longa tradição. É na região de Aveiro que ainda se encontram as maiores indústrias de cura e transformação deste produto. O país tem mesmo um processo de cura característico. Entende-se por «Bacalhau de Cura Tradicional Portuguesa», o bacalhau bem salgado e seco que foi previamente submetido a um processo de salga livre, seguido de um processo de maturação próprio e específico, segundo o site Produtos Tradicionais de Qualidade na Região Centro, do Ministério da Agricultura.
Estamos à porta d´«O Rei dos Bacalhaus» na Rua do Arsenal. O nome chama a atenção. O cheiro intenso não engana. Fernando Dias é bacalhoeiro há tanto tempo quanto o nosso anterior interlocutor. A escolha de uma profissão na juventude não foi difícil: «O que me levou há 25 anos a abraçar esta actividade foi o facto de ser um negócio de família», diz.
A bacalhoeira emprega duas pessoas, mas a concorrência dos grandes supermercados dificulta a sobrevivência. O segredo está em ter o cliente como um amigo, conquistando a sua fidelidade. Fernando Dias conta: «Este tipo de comércio tem outra atenção para com o cliente. A determinada altura já não é cliente mas sim um amigo. Há uma fidelidade».
O proprietário d´ «O Rei dos Bacalhaus» dá exemplo desta ligação entre comerciante e cliente: «Vem muita gente procurar saber como se cozinha. O ano passado tivemos alguns livros de receitas que dávamos a alguns estrangeiros, temos o cuidado de informar».
A lista de clientes é diversificada, aparecem mesmo alguns jovens, mas Fernando Dias acredita que não são mais porque «não sabem cozinhar e porque o bacalhau para sair bem requer algum tempo».
A ligação de Portugal ao bacalhau tornou-se tão forte ao longo dos séculos que até mesmo na linguagem recorremos ao bacalhau para passar mensagens. Os ditados e expressões populares recorrendo ao peixe são recorrentes. Recordemos que quando se quer afirmar que há imensas alternativas para resolver um problema se diz: «Há trezentas maneiras de fazer o bacalhau»; para descrever uma pessoa magra dizemos: «Está seco que nem um bacalhau» e, entre outras, para identificar um odor intenso a maresia comentamos: «Cheira a bacalhau».
Encontramo-nos novamente na Praça da Figueira, a «Antiga Casa do Bacalhau» de Fernando Nunes continua de portas abertas. Além do bacalhau, a posta, a cara, a língua e o bucho desta iguaria, Fernando Nunes vende também alguns acompanhamentos como o feijão e o grão.
O bacalhoeiro da Praça da Figueira comenta que «quando o bacalhau cá chega tem uma duração média de um ano, sendo conservado em câmaras frigoríficas, entre dois a sete graus». Fernando Nunes confessa que os anos nesta actividade não lhe retiraram a vontade de comer e diz mesmo: «Como bacalhau o mais possível isto é uma paixão».
Aproveitamos a confissão para pedir alguns conselhos sobre a confecção. «A preparação depende da espessura do bacalhau. Um bacalhau, um pouco mais grosso, deve estar de molho pelo menos 24 horas. A água deve ser mudada umas quatro vezes. Os bacalhaus maiores devem estar de molho pelo menos dois a três dias», afirma.
Depois deste processo de dessalga, muitas são as formas de apresentar o bacalhau. A imaginação nacional serve-o cozido, frito, desfiado à Brás e com natas. Existem ainda os pastéis de bacalhau e as pataniscas com o mesmo nome. Para rematar, Fernando Nunes sugere para acompanhar «um bom vinho tinto leve».
Notoriamente contente por partilhar o seu saber, Fernando Nunes remata a conversa com um lamento: «A juventude não gosta muito de bacalhau e as casas deste género têm tendência a acabar porque as pessoas não querem trabalhar neste tipo de loja, onde a roupa fica a cheirar a peixe todos os dias. Depois, temos os problemas das grandes superfícies que vendem mais barato mas não tem qualidade».


in:cafeportugal.net

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