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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira..
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

quarta-feira, 20 de março de 2013

Algures a Nordeste Parte Dois


Por: A.M.Pires Cabral
I
Julguei-me um dia dono dos meus passos
e, de quantos dei em solo do Nordeste,
deixei num estridente livro verde
relato tão afectuoso quanto imprudente.

Entretanto, o tempo foi cumprindo
a tarefa que lhe está confiada
de obliterar o brilho que há nas coisas,
ainda as mais baças

(antes de acabar por devorar tudo
e desse modo ele próprio perder de vez
o único préstimo que tem:
utensílio de medir a duração das coisas).

Dou hoje os mesmos passos decididos
(um pouquinho mais trôpegos, talvez)
nas ravinas da alma do Nordeste
– e eis que tudo está mudado do que foi.

II
Foi como se tivessem removido
da bússola a oitava direcção,
aquela que apontava para um norte
mais lavado.

A bússola obliterada
do seu mais fresco lado e do seu
mais fresco vento.

Campos em ruínas, infestados
de plantas ruins.

Nenhum choro, nenhum riso
de criança.

Uma angústia funda, como se
nem sequer restasse já
a mínima memória do Nordeste.

III
Ah, mas eu mantenho-me fiel.

Como um cão dormido no seu ninho,
redondo de sono,

assim eu me enrosco no Nordeste
e respiro contente o que dele ficou,
por pouco ar que seja.


António Manuel Pires Cabral, mais conhecido por A. M. Pires Cabral nasceu na freguesia de Chacim, concelho de Macedo de Cavaleiros, Trás-os-Montes, a 13 de agosto de 1941. Licenciou-se em Filologia Germânica pela Universidade de Coimbra. Foi professor do ensino secundário e atualmente é diretor do Grémio Literário de Vila Real. Tornou-se conhecido ao ganhar o Prémio Círculo de Leitores de 1983 com o romance Sancirilo (1983). É um escritor cuja matéria literária se centra essencialmente na ruralidade transmontana.
Obras: Poesia – Algures a Nordeste (poesia, 1974); Solo Arável (poesia, 1976); Trirreme (poesia, 1978); Roleta em Constantim (poesia, 1981). Teatro – O Saco de Nozes (teatro, 1982); Artes Marginais (antologia poética, Lisboa, 1998); Desta Água Beberei (poesia, Vila Real, 1999); O Livro dos Lugares e Outros Poemas (poesia, Mirandela, 2000); Como se Bosch tivesse enlouquecido (Mirandela, 2003); Douro: Pizzicato e Chula (Lisboa, 2004); Que comboio é este (Vila Real, 2005); Antes que o rio seque (poesia reunida, Lisboa, 2006); As têmporas da cinza (Lisboa, 2008); Arado (Lisboa, 2009). Ficção – Sancirilo (romance, 1983; 2.ª edição reescrita, Lisboa, 1996); O Diabo Veio ao Enterro (contos, 1985; 3.ª ed., 2010); Memórias de Caça (contos, 1987); O Homem que Vendeu a Cabeça (contos, 1987); Crónica da Casa Ardida (romance, 1992); Raquel e o Guerreiro (romance, 1995); Três Histórias Transmontanas (contos, 1998); Vilar Frio (novela, ilustrando o álbum de fotografias Portugal Terra Fria, de Georges Dussaud; Lisboa, 1997); Três Histórias Trasmontanas (contos, Vila Real, 1998); A Loba e o Rouxinol (romance, Lisboa, 2004); O Cónego (romance, Lisboa, 2007; Il Canonico, tradução italiana, Roma, 2009); O Porco de Erimanto e outras Fábulas (contos, Lisboa, 2010); Os Anjos Nus (contos, Lisboa, 2012). Crónicas – Os Arredores do Paraíso (1991); Na Província Neva (crónicas de Natal, Vila Real, 1997). Literatura infantil – Trocas e baldrocas ou Com a Natureza não se Brinca (Vila Nova de Gaia, 2007). Outras obras – O Diário de C* (Vila Real, 1995); Vila Real: Um Olhar Muito de Dentro (com fotografias de Albano da Costa Lobo, Vila Real, 2001); Douro Leituras (antologia, Régua, 2002).

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