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SOBRE O BLOGUE:
Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço.
A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)
(Henrique Martins)
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N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.
quarta-feira, 20 de março de 2013
Algures a Nordeste Parte Dois
Por: A.M.Pires Cabral
I
Julguei-me um dia dono dos meus passos
e, de quantos dei em solo do Nordeste,
deixei num estridente livro verde
relato tão afectuoso quanto imprudente.
Entretanto, o tempo foi cumprindo
a tarefa que lhe está confiada
de obliterar o brilho que há nas coisas,
ainda as mais baças
(antes de acabar por devorar tudo
e desse modo ele próprio perder de vez
o único préstimo que tem:
utensílio de medir a duração das coisas).
Dou hoje os mesmos passos decididos
(um pouquinho mais trôpegos, talvez)
nas ravinas da alma do Nordeste
– e eis que tudo está mudado do que foi.
II
Foi como se tivessem removido
da bússola a oitava direcção,
aquela que apontava para um norte
mais lavado.
A bússola obliterada
do seu mais fresco lado e do seu
mais fresco vento.
Campos em ruínas, infestados
de plantas ruins.
Nenhum choro, nenhum riso
de criança.
Uma angústia funda, como se
nem sequer restasse já
a mínima memória do Nordeste.
III
Ah, mas eu mantenho-me fiel.
Como um cão dormido no seu ninho,
redondo de sono,
assim eu me enrosco no Nordeste
e respiro contente o que dele ficou,
por pouco ar que seja.
António Manuel Pires Cabral, mais conhecido por A. M. Pires Cabral nasceu na freguesia de Chacim, concelho de Macedo de Cavaleiros, Trás-os-Montes, a 13 de agosto de 1941. Licenciou-se em Filologia Germânica pela Universidade de Coimbra. Foi professor do ensino secundário e atualmente é diretor do Grémio Literário de Vila Real. Tornou-se conhecido ao ganhar o Prémio Círculo de Leitores de 1983 com o romance Sancirilo (1983). É um escritor cuja matéria literária se centra essencialmente na ruralidade transmontana.
Obras: Poesia – Algures a Nordeste (poesia, 1974); Solo Arável (poesia, 1976); Trirreme (poesia, 1978); Roleta em Constantim (poesia, 1981). Teatro – O Saco de Nozes (teatro, 1982); Artes Marginais (antologia poética, Lisboa, 1998); Desta Água Beberei (poesia, Vila Real, 1999); O Livro dos Lugares e Outros Poemas (poesia, Mirandela, 2000); Como se Bosch tivesse enlouquecido (Mirandela, 2003); Douro: Pizzicato e Chula (Lisboa, 2004); Que comboio é este (Vila Real, 2005); Antes que o rio seque (poesia reunida, Lisboa, 2006); As têmporas da cinza (Lisboa, 2008); Arado (Lisboa, 2009). Ficção – Sancirilo (romance, 1983; 2.ª edição reescrita, Lisboa, 1996); O Diabo Veio ao Enterro (contos, 1985; 3.ª ed., 2010); Memórias de Caça (contos, 1987); O Homem que Vendeu a Cabeça (contos, 1987); Crónica da Casa Ardida (romance, 1992); Raquel e o Guerreiro (romance, 1995); Três Histórias Transmontanas (contos, 1998); Vilar Frio (novela, ilustrando o álbum de fotografias Portugal Terra Fria, de Georges Dussaud; Lisboa, 1997); Três Histórias Trasmontanas (contos, Vila Real, 1998); A Loba e o Rouxinol (romance, Lisboa, 2004); O Cónego (romance, Lisboa, 2007; Il Canonico, tradução italiana, Roma, 2009); O Porco de Erimanto e outras Fábulas (contos, Lisboa, 2010); Os Anjos Nus (contos, Lisboa, 2012). Crónicas – Os Arredores do Paraíso (1991); Na Província Neva (crónicas de Natal, Vila Real, 1997). Literatura infantil – Trocas e baldrocas ou Com a Natureza não se Brinca (Vila Nova de Gaia, 2007). Outras obras – O Diário de C* (Vila Real, 1995); Vila Real: Um Olhar Muito de Dentro (com fotografias de Albano da Costa Lobo, Vila Real, 2001); Douro Leituras (antologia, Régua, 2002).
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