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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira..
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

domingo, 21 de abril de 2013

Cláudio Carneiro autor transmontano de garantia certificada


Em véspera de completar 82 anos de vida, Cláudio Amílcar Carneiro que nasceu em Chacim (Macedo de Cavaleiros) e que entre 1955 e 1957, prestou serviço militar em Goa e Mormugão, (na Índia Portuguesa) acaba de publicar o livro da sua vida, com o título supra. Tem 504 páginas, numa bem conseguida edição da Chiado Editora e representa um esforço intelectual digno do maior apreço por advir de um Transmontano que não teve tempo de ser menino, por serem sete irmãos e terem todos que ser pastores e obreiros da terra árida do nordeste Transmontano. Teve que completar a escola primária durante a preparação militar, em Bragança. E, anos depois de regressar ao velho continente, já marido e pai, conseguiu concluir o ensino secundário e matricular-se em direito na Universidade de Lisboa. Como poeta escreveu dois livros: Relíquias do Nordeste Transmontano e Serra de Bornes, Chacim e Balsamão. Dois títulos de ficção e viagem: Pelo Nordeste de Trás-os-Montes e Reminiscências de Olvido e Vivências Inesquecíveis (Biografia). Foi co-autor de dois volumes da antologia nacional Poetas de Sempre (III e IV). Tem mais seis títulos em fila espera, em prosa e verso; e, desde os tempos da Índia Portuguesa até hoje, mantém colaboração em diversas publicações regionais e nacionais.
Altino Moreira Cardoso, outro autor Duriense, escreveu o prefácio e resume estas 500 páginas em poucas mas sugestivas palavras: «Se me fosse lícito colocar este livro de Cláudio Carneiro, lado a lado com a simbologia de Saramago, dar-lhe-ia o subtítulo de Ensaio sobre a Lucidez. A narrativa comenta os últimos oitenta anos de Portugal utilizando como pivô a biografia de uma Padre (Adriano Botelho) que paroquiou  diversos anos na área da grande Lisboa. Ao seu jeito coloquial, com fundas raízes rurais transmontanas, Cláudio Carneiro apresenta o drama recorrente de um país enganado, quer em ditadura quer em democracia, por espertalhões político-militares e sempre com um inteligente toque irónico, sempre atento, informado e crítico».
Este Sacerdote cujo nome real foi Adriano da Silva Pereira Botelho, terá nascido e sido baptizado em 14  de Outubro de 1908. Frequentou a Escola Primária em Cascais. Já órfão de pai e mãe entrou no Seminário de Santarém  e foi ordenado sacerdote em Março de 1931 pelo então D. Manuel Gonçalves Cerejeira, que veio a ser Patriarca de Lisboa. O padre Adriano celebrou a Missa Nova em 5 de Abril seguinte e permaneceu nesse Seminário até 1935, como professor e prefeito. Seguiram-se alguns anos como pároco de sucessivas freguesias: Mafra e Alcainça, Sobral de Abelheira, S. Domingos da Rana e Carcavelos. Em 1940  foi transferido para a freguesia de S. Pedro de Alcântara, onde começou a ser vigiado e perseguido pela dureza das suas homilias a favor dos pobres. Foram  dramáticos os cerca de vinte anos que aí passou. A polícia política do Estado Novo acabou por desterrá-lo para a Patagónia, em 1961, de onde regressou em 1963. Cláudio Carneiro desenvolve, sempre em linguagem cristã e pedagogicamente irrepreensível, estes cerca de 80 anos de vida de um pároco de aldeia. A igreja e o clero foram os alvos da fúria que atolou o século. O enredo do padre Adriano que Cláudio Carneiro elegeu para desenvolver a sociologia da implantação da república, foi comum a tantos outros padres que por todo o país  foram perseguidos, exilados, maltratados. Qualquer  historiador que deseje, um século depois, raciocinar sobre o drama do país e da sua população, terá de concluir que foram sempre os pobres, os indefesos e os inocentes que tanto no republicanismo e no chamado fascismo, como já na depauperada democracia, as vítimas da sociedade portuguesa do século XX. O republicanismo fecundou o fascismo e ambos foram perniciosos à sociedade portuguesa. Ao lado dos pobres prosperaram os ricos. Os prepotentes humilharam, espezinharam e torturaram as classes sem capacidade de reacção. Foram tempos de guerra, interna e externa cujos objectivos conduziram ao actual estado em que nos encontramos. Este meio milhar de páginas, bem escritas, bem estruturadas e argumentadas, catapultam o seu autor para o topo das melhores obras de interpretação social de um tempo para esquecer. A realidade de hoje é a síntese dos males de um século. De um império resta uma nesga de solo que já não satisfaz a gregos nem a troianos e que a todos atormenta pelo futuro dos nossos descendentes. Cláudio Carneiro nunca perdeu a noção dos valores morais. Sobretudo da Família e da Religião. Ao contrário de alguns aventureiros que enchem as estantes com feno e palha tensa, ensina esses laureados de todas as enxurradas e festins, a escrever, a pensar e a agir, como bom chefe de família, como bom cidadão e como agente cultural que brilha no firmamento da cidadania em que muitos falam e bem poucos cumprem.
Parabéns ao Prosador e ao Poeta que abre esta monumental obra com nove deliciosos poemas dedicados à Família e aos Amigos, como aperitivos para o banquete do ensaísmo que desenvolve em coerência com os princípios morais, cívicos e  antropológicos.

Barroso da Fonte
in:jornal.netbila.com

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