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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

ANO NOVO

Por: Fernando Calado
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)
- Bom ano! 
Abro a janela…mais frio… um dia igual a tantos outros, sem nada de novo…nem o sorriso da rapariga que se vestia de lavado… e penteava, à porta, o longo cabelo. Sentia-se no ar o cheiro a perfume TABÚ de contrabando, comprado nas aldeias raianas. Os rapazes já não vestem a samarra, nem falam em cabeças de gado, nem em alqueires de trigo que se adivinham fartos para o ano novo. Já não há beijos de novidade à beira da fonte… nem as mulheres passam grávidas escondendo o ventre de futuro e esperança, no longo xaile.
A minha vizinha continua agarrada ao cajado, mancando e gemendo: - Valha-me Deus, valha me Deus!... há mais de uma semana que a galinha poedeira deixou de pôr… não sei o que se passa!
Um homem velho esqueceu-se de recolher a lenha. Nem o diabo faz arder esta lenha molhada…nem o diabo! Treme de frio… de longas ausências… só a mulher que já morreu espreita ao canto da memória… mas o lume continua apagado!
Sofro as ausências dos que estão doentes… foram para o Lar… e os rebanhos escasseiam… as casas caem…os xailes não aquecem… três crianças jogam à bola na cerca da escola!
…de certo não há ano novo… um dia igual a tantos outros… tão frio… embora solarengo, com o pressentimento que os homens de Lisboa continuam a mandar em tudo e não conhecem um arado…uma relha…uma samarra…um xaile velho… uma pita que deixou de pôr… nem a lenha molhada que não arde…e continuarão a dizer do alto da sua proa de estufa e ignorância que todos temos que ser solidários…Mas só para alguns continua a haver o ar condicionado, os carros de luxo… as subvenções… as festanças… os almoços… os fados e guitarradas… as visitas de representação ao fim do mundo…e continuam as irrevogáveis mordomias.
…não se agonie vizinha a pita logo… logo põe… então homem de Deus, como se esqueceu de recolher a lenha!
… um homem sem uma mulher não é ninguém! Quando a minha era viva havia sempre lenha…caldo… e uma camisa lavada…caem-me no peito as lágrimas mais honradas da longa noite transmontana!
… a esperança do Ano Novo que está para vir!
Bom dia!

Fernando Calado nasceu em 1951, em Milhão, Bragança. É licenciado em Filosofia pela Universidade do Porto e foi professor de Filosofia na Escola Secundária Abade de Baçal em Bragança. Curriculares do doutoramento na Universidade de Valladolid. Foi ainda professor na Escola Superior de Saúde de Bragança e no Instituto Jean Piaget de Macedo de Cavaleiros. Exerceu os cargos de Delegado dos Assuntos Consulares, Coordenador do Centro da Área Educativa e de Diretor do Centro de Formação Profissional do IEFP em Bragança. 
Publicou com assiduidade artigos de opinião e literários em vários Jornais. Foi diretor da revista cultural e etnográfica “Amigos de Bragança”.

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