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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite, Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sábado, 22 de fevereiro de 2025

Chapéu de palha

Há sempre uma espécie de inquietude em mim, mas há muito que não sentia estar onde pertenço. Fez ontem um mês e 10 dias que vivo no Alentejo, e precisamente um mês que vivo numa pequena aldeia a poucos quilómetros do Redondo. Hoje, enquanto despachava uma série de recados de manhã, passeava por aquelas ruas e perguntava-me porque tive tanto medo de me afastar de Lisboa, porque tracei um raio tão próximo da minha velha vida para vir enraizar-me. Fui mal vestida - é um perigo, a pessoa cede ao conforto e descura a estética, pus roupa a lavar numa máquina industrial de rua e fui comprar 20 metros de cerca. Por toda a parte onde peço informações, as pessoas desviam-se do seu caminho para me dar indicações. Os jovens ajudam os idosos, eu icei um escadote para uma carrinha de caixa aberta e o funcionário da drogaria carregou as paletes. Onde quer que vá, tenho onde estacionar. Tudo funciona a um ritmo lento, a uma cadência humana e conversadora, em que as pessoas realmente se relacionam umas com as outras. Fui aos CTT e fiquei a saber que o senhor não era de lá, como eu não sou de cá. Fui às piscinas municipais e fiquei um bocadinho desiludida com o horário da natação livre, mas haja resiliência, retomo em breve. Comprei a rede e um chapéu de palha com uma fita às florinhas.
Passei a tarde a montar a cerca para evitar que os cães perturbem os borregos do vizinho. Estava vento, chuviscava, o cão tentava arrancar-me as luvas dos bolsos, o outro ladrava ao vento depois de saltar o muro atrás do qual tentei retê-lo. Naquelas condições, no meio dos arbustos do quintal para aceder à cerca existente, por vezes até com folhas na boca, com John Mayer a tocar no bolso do casaco e as mãos despidas, torci o arame uma e outra e outra vez. Usei o alicate, estendi a rede. Não estou habituada a trabalho físico, doía-me tudo, mas persisti até a chuva me impedir de continuar. Foi então que me ocorreu o pensamento: prefiro montar cercas no Alentejo a voltar a trabalhar num escritório em Lisboa. E é verdade. A sensação de peito cheio que tenho experimentado não tem par. A solicitude das pessoas, a verdadeira camaradagem, cooperação... Gosto de estar metida no meu canto, mas é mais fácil quando sentimos que estamos rodeados de bons corações. Nem um espirro. Nem uma lágrima. Na estrada de acesso à minha aldeia, as amendoeiras já estão em flor. Por toda a parte garças, grous, pegas, ovelhas, vacas, cavalos. A exuberância da natureza inspira-me e enche-me de calma, de uma felicidade tranquila e basilar. 
Que eu encontre aqui a minha casa, porque não me imagino mais feliz noutra.

celiacloureiro

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