Há sempre uma espécie de inquietude em mim, mas há muito que não sentia estar onde pertenço. Fez ontem um mês e 10 dias que vivo no Alentejo, e precisamente um mês que vivo numa pequena aldeia a poucos quilómetros do Redondo. Hoje, enquanto despachava uma série de recados de manhã, passeava por aquelas ruas e perguntava-me porque tive tanto medo de me afastar de Lisboa, porque tracei um raio tão próximo da minha velha vida para vir enraizar-me. Fui mal vestida - é um perigo, a pessoa cede ao conforto e descura a estética, pus roupa a lavar numa máquina industrial de rua e fui comprar 20 metros de cerca. Por toda a parte onde peço informações, as pessoas desviam-se do seu caminho para me dar indicações. Os jovens ajudam os idosos, eu icei um escadote para uma carrinha de caixa aberta e o funcionário da drogaria carregou as paletes. Onde quer que vá, tenho onde estacionar. Tudo funciona a um ritmo lento, a uma cadência humana e conversadora, em que as pessoas realmente se relacionam umas com as outras. Fui aos CTT e fiquei a saber que o senhor não era de lá, como eu não sou de cá. Fui às piscinas municipais e fiquei um bocadinho desiludida com o horário da natação livre, mas haja resiliência, retomo em breve. Comprei a rede e um chapéu de palha com uma fita às florinhas.
Passei a tarde a montar a cerca para evitar que os cães perturbem os borregos do vizinho. Estava vento, chuviscava, o cão tentava arrancar-me as luvas dos bolsos, o outro ladrava ao vento depois de saltar o muro atrás do qual tentei retê-lo. Naquelas condições, no meio dos arbustos do quintal para aceder à cerca existente, por vezes até com folhas na boca, com John Mayer a tocar no bolso do casaco e as mãos despidas, torci o arame uma e outra e outra vez. Usei o alicate, estendi a rede. Não estou habituada a trabalho físico, doía-me tudo, mas persisti até a chuva me impedir de continuar. Foi então que me ocorreu o pensamento: prefiro montar cercas no Alentejo a voltar a trabalhar num escritório em Lisboa. E é verdade. A sensação de peito cheio que tenho experimentado não tem par. A solicitude das pessoas, a verdadeira camaradagem, cooperação... Gosto de estar metida no meu canto, mas é mais fácil quando sentimos que estamos rodeados de bons corações. Nem um espirro. Nem uma lágrima. Na estrada de acesso à minha aldeia, as amendoeiras já estão em flor. Por toda a parte garças, grous, pegas, ovelhas, vacas, cavalos. A exuberância da natureza inspira-me e enche-me de calma, de uma felicidade tranquila e basilar.
Que eu encontre aqui a minha casa, porque não me imagino mais feliz noutra.
Passei a tarde a montar a cerca para evitar que os cães perturbem os borregos do vizinho. Estava vento, chuviscava, o cão tentava arrancar-me as luvas dos bolsos, o outro ladrava ao vento depois de saltar o muro atrás do qual tentei retê-lo. Naquelas condições, no meio dos arbustos do quintal para aceder à cerca existente, por vezes até com folhas na boca, com John Mayer a tocar no bolso do casaco e as mãos despidas, torci o arame uma e outra e outra vez. Usei o alicate, estendi a rede. Não estou habituada a trabalho físico, doía-me tudo, mas persisti até a chuva me impedir de continuar. Foi então que me ocorreu o pensamento: prefiro montar cercas no Alentejo a voltar a trabalhar num escritório em Lisboa. E é verdade. A sensação de peito cheio que tenho experimentado não tem par. A solicitude das pessoas, a verdadeira camaradagem, cooperação... Gosto de estar metida no meu canto, mas é mais fácil quando sentimos que estamos rodeados de bons corações. Nem um espirro. Nem uma lágrima. Na estrada de acesso à minha aldeia, as amendoeiras já estão em flor. Por toda a parte garças, grous, pegas, ovelhas, vacas, cavalos. A exuberância da natureza inspira-me e enche-me de calma, de uma felicidade tranquila e basilar.
Que eu encontre aqui a minha casa, porque não me imagino mais feliz noutra.
Sem comentários:
Enviar um comentário