Por: Humberto Pinho da Silva
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
Nasci durante a segunda Grande Guerra. Nesse recuado tempo, escasseavam, alimentos e dinheiro.
Só os meninos da classe-média e rica, estudavam, e nem todos. Os filhos de operários e trabalhadores agrícolas, começavam a obrar muito cedo. Muitos consideravam ser inútil estudar: roubavam braços para equilibrar o orçamento familiar.
Havia muito respeito aos pais e professores; melhor diria: muito medo. A mãe, à mais leve falta, ralhava, e bom era se não vinha bofetada e chinelada; e bico calado, porque se o pai soubesse, pior era ainda.
Na escola, a professora, batia, se não se soubesse a tabuada na ponta da língua, ou se houvesse erro no ditado; e não eram palmadas, mas com a palmatória ou régua, já que a primeira era proibida na sala de aula.
A cana comprida e nodosa, trabalhava tanto no quadro negro, como na cabeça e orelhas dos petizes.
No liceu não se batia, mas reprovava-se, sem dó. Não havia aulas de recuperação. Quem não fosse capaz, dizia-se: " É melhor ires trabalhar!..."
Muitos apareciam na escola primária, descalços. Alguns, por necessidade; outros, por hábito. Considerava-se "luxo" disponível....
Apenas os filhos dos abastados, iam para a escola de carro. A maioria ia a pé ou de transporte publico.
Na minha adolescência não havia: TV, escadas rolantes, computadores, nem telemóveis, e os gravadores, que existiam, eram de bobine. Nessa época, eu, desconhecia o iogurte, embora já existisse.
Não se podia falar de política, nem chegar a casa depois da meia-noite; isso para rapazes, porque meninas, nem isso.
Era a geração do parece mal. Tudo parecia mal, menos o "mestre" bater nos aprendizes...
A geração desenrasca foi para a guerra. Não se discute se era justa ou não, mas levou vidas e deixou marcas, que nunca foram reparadas.
Com a Revolução dos Cravos, chegou a liberdade para uns, e a prisão para outros; mas transformou mentalidades e abriu horizontes... Com ela, nasceu a geração rasca ou à rasca.
Geração supra protegida, que discute com os progenitores e professores; tem boas mesadas; frequenta discotecas, impõe vontades, e não sabe sofrer, porque nunca sofreu.
Estudou de graça ou quase, depara facilidades, até ao momento em que necessita de enfrentar a vida: casar e formar família.
Geração que vive, em regra, no lar paterno, casa tarde, tem poucos filhos e espera auxílio familiar e estatal.
Uns, refugiam-se no estudo, por não terem trabalho; outro, porque querem emprego, mas não trabalho.
Reconheço que a geração rasca ou à rasca, não deve ser condenada. Pelo contrário. Os culpados foram os que não a souberam educar, e a mimaram demasiadamente. Somos todos culpados, porque, na melhor das intenções, quisemos dar-lhes um futuro melhor, e agora todos sofremos por os ver: sem futuro, sem esperanças, sem ambições, sem saberem para que lhes serviu tantos anos de estudo.
Só os meninos da classe-média e rica, estudavam, e nem todos. Os filhos de operários e trabalhadores agrícolas, começavam a obrar muito cedo. Muitos consideravam ser inútil estudar: roubavam braços para equilibrar o orçamento familiar.
Havia muito respeito aos pais e professores; melhor diria: muito medo. A mãe, à mais leve falta, ralhava, e bom era se não vinha bofetada e chinelada; e bico calado, porque se o pai soubesse, pior era ainda.
Na escola, a professora, batia, se não se soubesse a tabuada na ponta da língua, ou se houvesse erro no ditado; e não eram palmadas, mas com a palmatória ou régua, já que a primeira era proibida na sala de aula.
A cana comprida e nodosa, trabalhava tanto no quadro negro, como na cabeça e orelhas dos petizes.
No liceu não se batia, mas reprovava-se, sem dó. Não havia aulas de recuperação. Quem não fosse capaz, dizia-se: " É melhor ires trabalhar!..."
Muitos apareciam na escola primária, descalços. Alguns, por necessidade; outros, por hábito. Considerava-se "luxo" disponível....
Apenas os filhos dos abastados, iam para a escola de carro. A maioria ia a pé ou de transporte publico.
Na minha adolescência não havia: TV, escadas rolantes, computadores, nem telemóveis, e os gravadores, que existiam, eram de bobine. Nessa época, eu, desconhecia o iogurte, embora já existisse.
Não se podia falar de política, nem chegar a casa depois da meia-noite; isso para rapazes, porque meninas, nem isso.
Era a geração do parece mal. Tudo parecia mal, menos o "mestre" bater nos aprendizes...
A geração desenrasca foi para a guerra. Não se discute se era justa ou não, mas levou vidas e deixou marcas, que nunca foram reparadas.
Com a Revolução dos Cravos, chegou a liberdade para uns, e a prisão para outros; mas transformou mentalidades e abriu horizontes... Com ela, nasceu a geração rasca ou à rasca.
Geração supra protegida, que discute com os progenitores e professores; tem boas mesadas; frequenta discotecas, impõe vontades, e não sabe sofrer, porque nunca sofreu.
Estudou de graça ou quase, depara facilidades, até ao momento em que necessita de enfrentar a vida: casar e formar família.
Geração que vive, em regra, no lar paterno, casa tarde, tem poucos filhos e espera auxílio familiar e estatal.
Uns, refugiam-se no estudo, por não terem trabalho; outro, porque querem emprego, mas não trabalho.
Reconheço que a geração rasca ou à rasca, não deve ser condenada. Pelo contrário. Os culpados foram os que não a souberam educar, e a mimaram demasiadamente. Somos todos culpados, porque, na melhor das intenções, quisemos dar-lhes um futuro melhor, e agora todos sofremos por os ver: sem futuro, sem esperanças, sem ambições, sem saberem para que lhes serviu tantos anos de estudo.
Humberto Pinho da Silva nasceu em Vila Nova de Gaia, Portugal, a 13 de Novembro de 1944. Frequentou o liceu Alexandre Herculano e o ICP (actual, Instituto Superior de Contabilidade e Administração). Em 1964 publicou, no semanário diocesano de Bragança, o primeiro conto, apadrinhado pelo Prof. Doutor Videira Pires. Tem colaboração espalhada pela imprensa portuguesa, brasileira, alemã, argentina, canadiana e USA. Foi redactor do jornal: “NG” e é o coordenador do Blogue luso-brasileiro "PAZ".
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