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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite, Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

A GERAÇÃO DESENRASCA

Por: Humberto Pinho da Silva 
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")

Nasci durante a segunda Grande Guerra. Nesse recuado tempo, escasseavam, alimentos e dinheiro.
Só os meninos da classe-média e rica, estudavam, e nem todos. Os filhos de operários e trabalhadores agrícolas, começavam a obrar muito cedo. Muitos consideravam ser inútil estudar: roubavam braços para equilibrar o orçamento familiar.
Havia muito respeito aos pais e professores; melhor diria: muito medo. A mãe, à mais leve falta, ralhava, e bom era se não vinha bofetada e chinelada; e bico calado, porque se o pai soubesse, pior era ainda.
Na escola, a professora, batia, se não se soubesse a tabuada na ponta da língua, ou se houvesse erro no ditado; e não eram palmadas, mas com a palmatória ou régua, já que a primeira era proibida na sala de aula.
A cana comprida e nodosa, trabalhava tanto no quadro negro, como na cabeça e orelhas dos petizes.
No liceu não se batia, mas reprovava-se, sem dó. Não havia aulas de recuperação. Quem não fosse capaz, dizia-se: " É melhor ires trabalhar!..."
Muitos apareciam na escola primária, descalços. Alguns, por necessidade; outros, por hábito. Considerava-se "luxo" disponível....
Apenas os filhos dos abastados, iam para a escola de carro. A maioria ia a pé ou de transporte publico.
Na minha adolescência não havia: TV, escadas rolantes, computadores, nem telemóveis, e os gravadores, que existiam, eram de bobine. Nessa época, eu, desconhecia o iogurte, embora já existisse.
Não se podia falar de política, nem chegar a casa depois da meia-noite; isso para rapazes, porque meninas, nem isso.
Era a geração do parece mal. Tudo parecia mal, menos o "mestre" bater nos aprendizes...
A geração desenrasca foi para a guerra. Não se discute se era justa ou não, mas levou vidas e deixou marcas, que nunca foram reparadas.
Com a Revolução dos Cravos, chegou a liberdade para uns, e a prisão para outros; mas transformou mentalidades e abriu horizontes... Com ela, nasceu a geração rasca ou à rasca.
Geração supra protegida, que discute com os progenitores e professores; tem boas mesadas; frequenta discotecas, impõe vontades, e não sabe sofrer, porque nunca sofreu.
Estudou de graça ou quase, depara facilidades, até ao momento em que necessita de enfrentar a vida: casar e formar família.
Geração que vive, em regra, no lar paterno, casa tarde, tem poucos filhos e espera auxílio familiar e estatal.
Uns, refugiam-se no estudo, por não terem trabalho; outro, porque querem emprego, mas não trabalho.
Reconheço que a geração rasca ou à rasca, não deve ser condenada. Pelo contrário. Os culpados foram os que não a souberam educar, e a mimaram demasiadamente. Somos todos culpados, porque, na melhor das intenções, quisemos dar-lhes um futuro melhor, e agora todos sofremos por os ver: sem futuro, sem esperanças, sem ambições, sem saberem para que lhes serviu tantos anos de estudo.


Humberto Pinho da Silva
nasceu em Vila Nova de Gaia, Portugal, a 13 de Novembro de 1944. Frequentou o liceu Alexandre Herculano e o ICP (actual, Instituto Superior de Contabilidade e Administração). Em 1964 publicou, no semanário diocesano de Bragança, o primeiro conto, apadrinhado pelo Prof. Doutor Videira Pires. Tem colaboração espalhada pela imprensa portuguesa, brasileira, alemã, argentina, canadiana e USA. Foi redactor do jornal: “NG” e é o coordenador do Blogue luso-brasileiro "PAZ".

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