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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Os meus 60 anos de combate Jornalístico


OPINIÃO - Barroso da Fonte

Em 24 de Janeiro de 1953 assinei no semanário a Voz de Trás-os-Montes a minha primeira notícia. Não apareceu na primeira página, não fez a manchete dessa edição, nem sequer se adivinhava que 60 anos depois seria preciso saber com antecedência quantos caracteres uma peça jornalística deve ter. Muito menos eu conhecia os requisitos a que deve responder uma notícia digna desse nome. O «quem, quando, onde, como e porque» eram questões que nada me preocupavam para que a notícia fosse verdadeira. Do lead, dos caracteres e da correspondência contextual àquele quinteto de exigências jornalísticas, só muitos anos depois vim a saber o que eram e o que significavam. Entre o abandono do seminário de Santa Clara, os dois anos de trabalho na Barragem de Pisões, a preparação militar, os 26 meses que prestei em Angola e o regresso ao meu Pátrio Barroso, semeei em jornais e revistas, centenas de artigos de opinião, recensões sobre livros que ia lendo, poemas que ia produzindo e três livros de versos que entretanto editei, nunca tive necessidade de conhecer os nomes técnicos das artes gráficas. O que posso dizer é que o jornalismo foi, para mim, um amor à primeira vista. Como nunca fumei, preferi celebrar um pacto com a escrita. De tal modo que no dia em que não escrevesse um artigo (ainda hoje assim é) não me sentia realizado. Já lá vão 60 anos! Foi esta a maneira de servir a minha Terra e as Gentes que nela nascem, vivem e morrem.
Eduardo Aroso, no seu blogue, escreveu nos primeiros dias deste ano: «Amar Portugal é ser universal no convívio, mas não ser estrangeirado na gestão da nossa casa de muitos séculos. Amar Portugal é ser, humildemente, o braço, a boca e o gesto do Arcanjo que vela por nós. Amar Portugal é perceber que cada pesadelo no sono, no trabalho ou na sociedade, é ainda o confronto final que temos com o Adamastor». O jornalismo foi para mim, nestes 60 anos de contacto com o público, uma forma de servir a minha Pátria, de dar voz à minha Gente, de lutar contra os corruptos, denunciando os vendilhões do templo, os prepotentes e os falsários de todas as origens.
Nasci no ano em que começou a II Guerra Mundial. Portugal não entrou nela mas acabou por ser estrangulado por ela. Durante e depois. Não soube reerguer-se a tempo e preferiu  agarrar-se ao «Império» que se desmoronou vergonhosamente. Resta-nos o simbolismo da Lusofonia que o (des) acordo ortográfico, impiedosamente, veio estrangular.
A minha geração não foi «rasca», mas viveu «à rasca», porque aguentou com todos os males do século XX. Uma República que «matou» a monarquia e semeou infortúnios de toda a ordem, desde a Instituição religiosa, aos costumes e à libertinagem que dividiu para reinar. O Estado Novo trepou o republicanismo, fazendo-o através da escravatura. Saber a menos para fome a mais. Fome de pão, de cultura, de liberdade e de progresso.
Em Outubro de 1952 entrei no Seminário. A terra já não chegava para matar a fome a tanto esfomeado. Dez filhos num lar, sem qualquer apoio alheio, era destino a evitar.
Na década de cinquenta - que me lembre - só José Taboada e Alberto Machado colaboravam na imprensa regional. Bento da Cruz apareceu em 1959 com um livro de poemas a que chamou Hemopetise, com o pseudónimo de Sabiel Truta. A partir de 1963 e até hoje desenvolveu nos seus diversos livros e no Jornal que criou e dirige uma actividade denunciadora das injustiças sociais. Depois surgiu o Pe João Costa. Só na década de setenta as vozes de protesto aumentaram. Prezo-me de ter sido a voz rebelde e incómoda para o poder político dos meados do século XX. Nem durante a guerra do ultramar abrandei o ritmo. Quem duvidar leia os jornais: A Voz de Trás-os-Montes, a Voz de Chaves (dirigida pelo Capitão Alípio de Oliveira), o Notícias de Chaves, o Notícias de Trás-os-Montes (de Jaime Cancela), O Despertar (de Coimbra), o Jornal de Abrantes.
A censura mutilou muitos artigos meus. Antes e depois da revolução dos cravos fui um inconformista sistemático. Essa solidão de combatente destemido em cerca de duas décadas, em vez de ser aplaudida, foi silenciada, em favor de terceiros. E chegou a suscitar calúnias públicas algumas por parte de gente que já partiu. Talvez um dia conte essas facécias... E toda esta ingratidão por não cantar hossanas no dia 26 de Abril de 1974! Deixem-me celebrar sozinho 60 anos de combate por Trás-os-Montes e pelos Transmontanos!

Barroso da Fonte
in:jornal.netbila.net

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