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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

O Tua, a EDP e o tio da América

OPINIÃO
Henrique Pereira dos Santos
As medidas compensatórias da barragem de Foz Tua aproximam-se de uma lista de pedidos ao tio rico da América.

No dia 24 de Setembro de 2013 foi criado o Parque Natural Regional do Vale do Tua. A criação desta área protegida não decorre da vontade de conservar valores ou de encontrar o melhor mecanismo institucional para a gestão de uma paisagem considerada excepcional.


Pela página da Agência para o Desenvolvimento Regional do Vale do Tua, que junta os municípios de Alijó, Carrazeda de Ansiães, Mirandela, Murça, Vila Flor e a EDP, ficamos a saber ao que vêm os promotores da área protegida: “Este parque surge de um acordo entre a ADRVT e o ICNF que garantiu que cerca de três quartos da dotação da EDP para o Fundo da Biodiversidade, no âmbito do Aproveitamento Hidroeléctrico de Foz Tua, sejam canalizados para a região e investido em desenvolvimento regional.”.


A Declaração de Impacte Ambiental (DIA) da barragem diz o seguinte: “A compensação pela perda de valores naturais e sua preservação deve ser assegurada através de contribuições anuais para o Fundo para a Conservação da Natureza e da Biodiversidade, previsto no artigo 37.º do Decreto-Lei n.º 142/2008, de 24 de Julho, de acordo com o constante na medida de compensação n.º 13.”.


Nenhuma relação é estabelecida entre a contribuição para o fundo de biodiversidade e a promoção do desenvolvimento regional, por razões que a mim me parecem óbvias: embora a biodiversidade e as áreas protegidas sejam activos económicos de primeira grandeza, não é a conservação da natureza (inerentemente deficitária) que tem de financiar a actividade económica, é exactamente o inverso. Tal como foi referido no artigo anterior, as medidas de compensação visam compensar os efeitos negativos não evitáveis dos projectos e dirigem-se exactamente a esses valores de biodiversidade.


Com a justificação da conservação da natureza e da biodiversidade não fazemos mais que alimentar os do costume.


Ao ler as medidas compensatórias desta DIA, é extraordinária a desfaçatez do Estado português na manipulação destas regras de decisão, aproximando a lista de medidas compensatórias de uma lista de pedidos ao tio rico da América (neste caso, a EDP): a tal criação da agência regional, um programa de criação de auto-emprego, a requalificação das acessibilidades, criação de núcleos interpretativos, estudos (mas que efeito negativo da barragem, inevitável, será compensado por um estudo? Será a ignorância um efeito inevitável da barragem que tenha de ser compensada com um estudo?), o plano de ordenamento da albufeira (o Estado aproveitou para passar para o promotor custos que são inerentes à sua função inalienável), a cooperação com a administração na formação técnica e científica (como? Que efeito negativo inevitável da barragem é compensado por esta esperteza saloia da administração vender licença de operação em troco do seu próprio financiamento?), etc..


Para compensar os efeitos negativos nos valores naturais, que medidas prevê o parque natural regional? Criação de rotas temáticas, certificação de produtos da região, medidas de redução do risco de incêndio, elaboração de guias sobre o património natural. Ou seja, dito pelos seus promotores: “Este investimento será um grande contributo para o desenvolvimento socioeconómico da região, criando, assim, um enquadramento favorável para a captação de investimentos privados para exploração do potencial turístico da região em termos de turismo de natureza e turismo de bem-estar.”


Não, não se pense que o problema está na EDP ou nas outras eléctricas, essas fazem, bem ou mal, o seu papel de produtores. O que é verdadeiramente corrosivo é uma administração pública que actua de forma ilegal e ilegítima, permitindo as mais evidentes aldrabices para que os pequenos interesses locais se atirem aos recursos como gato a bofe (em 7 milhões de euros, há menos de meio milhão para os gestores da biodiversidade: os proprietários. O resto é para distribuir pelos amigos sob a forma de cargos (mais de um milhão de custos de estrutura de gestão) ou de estudos.


E com a justificação da conservação da natureza e da biodiversidade não fazemos mais que alimentar os do costume.


Não, não se pense que são os outros o problema. O problema é mesmo a nossa complacência para com esta corrupção institucional bem patente em processos deste tipo: o Estado a vender licença a troco do seu próprio financiamento.


in:publico.pt

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