sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Banda Filarmónica da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Vimioso - Entrevista com Ana Cavaleiro

Ana Cavaleiro
Gravar é documentar para a posteridade um momento que, neste caso, a Banda atravessa. É uma forma de promover o trabalho que se produz e um meio de conseguir recursos financeiros, resultantes da venda desse produto. Pode ainda (e deve) ser um objectivo para relançar o entusiasmo entre o grupo que precisa constantemente de estímulos. 
É ainda considerada uma ferramenta que permite aferir à posteriori o grau de desenvolvimento ou de evolução das Bandas. Segundo os que passaram pela experiência há muitas virtudes numa gravação. Mas será que uma gravação reflecte uma imagem real do trabalho artístico da Banda? Há quem defenda que sim mas há quem diga que não. Desde 1996 que é relativamente fácil editar um CD. Temos editoras que o fazem com qualidade e existem mais de 500 gravações diferentes de Bandas Filarmónicas, em Portugal. Gravar já não é privilégio das Bandas carismáticas ou das “mais ricas”. Tornou-se acessível a qualquer Banda. E foi por esta via que muitas das menos conhecidas surgiram na ribalta. Destas, algumas apresentam gravações com tal nível que deixam as comissões de festas “ás aranhas” no momento de decidir quem contratar. No final de 2010 uma das “menos conhecidas”, do Nordeste transmontano, dirigida por uma jovem trombonista, apresentou uma gravação que foi uma surpresa para muitos. Ocultando a capa do CD e solicitando a um ouvinte, conhecedor do meio filarmónico, que nos dissesse que banda poderia estar a escutar ou a região a que pertencia, ninguém acertou nem na banda nem na região. Quando mostramos a capa e a Banda foi identificada a surpresa foi total: - Quem diria!.. E foi neste contexto que solicitamos à maestrina em questão, uma pequena entrevista sobre os contornos da sua gravação. Agradecemos desde já à Maestrina Ana Cavaleiro pela gentiliza e disponibilidade.

Ana, que factores foram tidos em conta para que decidissem gravar?
Já havíamos gravado um álbum em 2002, num período em que a banda era ainda bastante jovem, apenas com 4 anos, pelo que se justificava fazer uma nova gravação, que registasse o seu momento actual, bem como a sua evolução nestes 13 anos após o reinício de actividade.
2010 foi ano em que tal se proporcionou?..
A banda é um grupo dinâmico, em constantes renovação e progressão, com a permanente formação e integração de novos músicos, bem como a saída de outros. Nestes últimos anos sentimos que se estava perante um conjunto bastante sólido e com aptidão exigida para alcançar um objectivo desta envergadura, estando reunidas as condições para tal.
Porquê este repertório?
A selecção do repertório gravado foi feita com o intento de abraçar uma diversidade de géneros musicais que compilasse toda a variedade de peças que fazem parte da nossa actividade, sejam os concertos, procissões, arruadas etc.. De igual modo, como não podia deixar de ser, o gosto dos músicos, bem como o dos ouvintes (que é para quem é dirigido o nosso trabalho), foi tido em conta.
Quando foi o lançamento?
Dia 10 de Junho de 2011.
Como decorreu o lançamento e onde se realizou?
O lançamento foi inserido no 2.º Encontro de Bandas Filarmónicas realizado em Vimioso no Parque Municipal, um evento que pretendemos que se torne um marco da actividade filarmónica no Nordeste Transmontano, e que este ano contou com a presença de cerca de 500 pessoas.
Que reacções registam do público que ouviu o cd?
No geral, houve um retorno bastante positivo da parte do público que está habituado a ouvir-nos, mas também, de pessoas que desconheciam a Banda e o trabalho que esta tem vindo a desenvolver, o que é sempre uma agradável sensação. A realidade é que, com base nalgum desconhecimento e até de falta de interesse do grande público do resto do país, as bandas transmontanas são tidas como de qualidade inferior. Isso talvez fosse um facto num período anterior em que a dificuldade de acesso à formação musical por parte dos transmontanos era bastante grande, devido às assimetrias regionais muito vincadas. Actualmente, essa assimetria tem-se vindo a esbater, embora continue a existir. No entanto, este álbum, veio mais uma vez demonstrar ao público nacional uma qualidade desconhecida e algo escondida, existente o Nordeste de Portugal, o que muito nos orgulha!
Considera o CD o produto comercial ou promocional?
Essencialmente este é um trabalho promocional porque, através do CD, podemos chegar a ouvintes que não estão presentes nos nossos concertos ou outras actuações. Como não somos uma banda reconhecida, esta ferramenta fará com que um tipo de público que, não nos conhecendo, não nos iria ouvir, possa ser “alertado” para que talvez valha a pena deslocar-se para assistir a uma actuação nossa. Para além disso, poderá abrir muitas portas, servindo, quem sabe, como passaporte para eventuais actuações em locais que, de outro modo, nos estariam, por desconhecimento, inacessíveis. De igual modo, este CD pode funcionar como embaixador e promotor cultural, em qualquer parte do mundo, do concelho de Vimioso e até de todo o Nordeste Transmontano.
Com quantos elementos se encontra a banda neste momento?
A Banda neste momento encontra-se com cerca de 50 músicos.
Quantos jovens com menos de 20 anos tem a Banda?
Perto de 40 músicos.
Tem escola de música a funcionar normalmente?
Sim.
Com que estrutura?
A Escola de Música funciona à Terça e Quinta-feira e ao Sábado. Os alunos têm aulas de formação musical nos três dias, sendo que, ao sábado, têm aulas individuais e de naipe. A sua direcção está a cargo de 6 professores, que são músicos da banda e que aqui iniciaram a sua formação. O conjunto de alunos é constituído por cerca de 25 crianças que ainda não estão integradas na estrutura principal, bem como pelos cerca de 30 jovens músicos que já o estão e que continuam a ter aulas de formação musical, individuais e de naipe, ao sábado.
Recorreram a reforços para gravar ou fizeram-no com a prata da casa?
A prata da casa é constituída maioritariamente por músicos amadores que fazem o enorme sacrifício para estar presentes nos ensaios semanais. Seria uma falta de consideração por eles reforçar a banda, menosprezando assim o trabalho realizado continuamente ao longo destes anos. Para além disso, consideramos que, se a gravação não corresponde ao real valor da banda e à sua verdadeira estrutura, então isso funcionará como uma tentativa de iludir os ouvintes, falseando o trabalho e fazendo-nos passar por algo que não somos. Desta forma, aquilo que foi feito foi apenas equilibrar o grupo, com cinco músicos convidados (trompete, trombone, sax-alto, sax-tenor e trompa), não alterando a nossa estrutura, nem lhe acrescentando outras características.
A Banda reflecte no CD a imagem real ou está favorecida?
Sim, a Banda reflecte no CD uma imagem muito aproximada do real, os aperfeiçoamentos realizados foram direccionados essencialmente para o equilíbrio de dinâmicas entre os naipes.
Quanto tempo dedicaram a preparar este trabalho, antes da gravação?
A produção demonstrada no CD é o reflexo do trabalho contínuo realizado ao longo da época. Tendo sido, como é óbvio, no mês que antecedeu a gravação, fruto de uma preparação mais intensiva e focada nas peças que iríamos gravar.
Quanto tempo demorou a gravação, propriamente dita?
Dois dias.
Conseguiram apoios para esta edição das entidades oficiais?
Sim, tivemos o habitual apoio da Câmara Municipal e da Junta de Freguesia de Vimioso, pelo qual estamos gratos e que foi essencial para a execução deste projecto.
Há quanto tempo está na direcção artística da banda Ana?
Desde 2008.
Considera que a Banda mudou muito depois que assumiu a direcção artística?
Eu diria que a banda não mudou, houve as alterações e as progressões próprias e necessárias.
Espera vir a realizar novo trabalho a curto/médio prazo?
Sim, a médio prazo. É necessário valorizar este álbum e conseguir extrair o maior benefício dele antes que estejam reunidas as condições para abraçar um novo projecto de gravação.
Quantos serviços a banda realiza por ano?
Cerca de 25.
Que tipo de serviços?
Os serviços mais numerosos serão as festas e romarias realizadas um pouco por toda a zona Norte, juntamente com os concertos, sejam a título individual ou integrados em encontros de bandas filarmónicas. Fazemos também actuações oficiais, sejam inaugurações e aberturas de eventos, solicitadas pela autarquia ou outras edilidades, mas também guardas de honra e outros eventos de carácter oficial, pois somos uma banda dos bombeiros.
Quais são as suas expectativas de futuro relativamente à Banda de Vimioso?
Avaliando a importância para a cultura e a formação de jovens que esta instituição tem, numa região onde ofertas deste tipo não abundam, será uma obrigação manter e melhorar continuamente este projecto e, obviamente este será o nosso objectivo primordial. Olhando especificamente para a banda, aquela que sobe ao palco, ou a que vai na procissão ou na arruada, esperamos fazer chegar o nosso trabalho a um cada vez maior número de pessoas e locais, tentando ser sempre reconhecidos pela qualidade apresentada e que esta se mantenha em constante progressão.
Ficou contente com o trabalho que editou?
Sim, fiquei bastante contente. É gratificante ouvir o produto de um conjunto de factores que compõem esta Banda (humanos e profissionais), o trabalho contínuo, “espírito de sacrifício” e amizade. Ver o resultado do esforço de tanta gente registado para a história, com esta qualidade, só nos pode deixar contentes.
Visita com que frequência o site bandasfilarmoncias.com?
Sim, claro.
Que comenta sobre este espaço dedicado ao universo das bandas Filarmónicas?
É essencialmente um espaço de divulgação e comunicação. Considero-o também, como filarmónica que sou, o “meu espaço” ;-)

Curriculum de Ana Cavaleiro
Nasceu em 1989, e é natural de Vimioso. Iniciou os seus estudos musicais na Banda Filarmónica da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Vimioso sob a direcção do Maestro Alexandre Fraguito com 9 anos de idade, em sax – trompa, mudando posteriormente para bombardino. Em 2001 ingressa na Escola Profissional de Arte de Mirandela na classe de trombone do Prof. Nuno Scarpa. Na sua formação como instrumentista participou em vários master classe, com os professores: Zeferino Pinto, António Santos, Svero Martinez, Hoshinsky Volodimir, Jarret Butler e Carlos Guerreiro. Participou em vários estágios de orquestra, com os maestros: Carlos Marques no estágio Verão Amizade, Christopher Bochmann no 1º estágio da Orquestra Sinfónica do PIAGET – Mirandela, Carlos Riazuelo, Filipe Silva, Paco Suarez, Maciel Matos, Alberto Roque, Pedro Neves, José Ricardo e António Saiote. Participou também na estreia mundial da Sinfonia “Da Mudança” de Rui Pedro Teixeira sobre a direcção de Artur Pinho. Em 2004 integrou-se no grupo de docentes da Escola de Música da Banda Filarmónica da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Vimioso. Em 2005 teve aulas de canto no Conservatório de Bragança, com a Prof. Ana Paula Lopes. Em 2007 ingressou no Agrupamento Vertical de Escolas de Vimioso, leccionando a disciplina de Expressão Musical, e participou no estágio da Orquestra de Sopros e percussão de Lamego, dirigida pelo maestro Alexandre Fraguito. Em 2008 foi convidada para dirigir a Banda Filarmónica da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Vimioso, onde se mantém. Em Janeiro de 2009 tomou posse como secretária da direcção, da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Vimioso.

in:bandasfilarmonicas.com

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