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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 24 de março de 2017

Montesinho: A serra de conflitos e projetos, de mitos e comoção

A criação do Parque Natural de Montesinho evidenciou a tensão que tem caracterizado a emblemática serra ao longo dos tempos, entre o conflito e projetos distintivos da região, mas também mitos e comoção.

A neve foi uma imagem de marca de Montesinho e alimento para o sonho de instalar uma estância de Ski que se revelou impraticável, ao contrário de outros projetos que se tornaram símbolos da região, graças à criação da área protegida que é atualmente motivo de discórdia entre populações e gestão pelas restrições ambientais.

O parque foi criado em 1979, mas já antes Montesinho era zona de conflito, com fogos a seguir a impedimentos, perseguições das autoridades onde a natureza esbate a fronteira com Espanha e restrições nas atividades ligadas à subsistência.

Montesinho foi sempre uma serra emblemática para a região, como disse à Lusa um dos fundadores do parque, Dionísio Gonçalves, e foi, por isso, que o nome vingou aquando da fundação da área protegida, que se estende pelos concelhos de Bragança e Vinhais e pelas serras de Montesinho e Coroa.

Algumas pessoas iam para lá comer umas merendas, beber da água da Fonte Fria, ao pé da Lama Grande. Nas atividades económicas, era utilizada na transumância com rebanhos de gado dos dois lados da fronteira.

Até o Estado chegou a ter por lá um rebanho quando decidiu fazer pastagens de montanha nas lamas da Lama Grande, onde, anteriormente, durante quase 20 anos, um agricultor da região produziu batata de semente no tempo da guerra.

Mas Montesinho “foi sempre, para as próprias populações, uma zona de algum conflito”, contou Dionísio Gonçalves, apontando a década de 1950, quando o Regime Florestal impediu os gados de irem para a serra.

“Aquilo resultou em variadíssimas ondas de fogos. Num setembro da década de 1950, a serra de Montesinho ardeu de uma ponta à outra. Durante uma semana foi um autêntico braseiro”, recordou.

Montesinho era também zona de produção de carvão e, durante a safra, os carvoeiros viviam nas palas (rochas) de granito da Lama Grande e iam fazendo o carvão em Portugal e Espanha, perseguidos pelos carabineiros quando pisavam o outro lado da fronteira.

Foi um casal de carvoeiros que gerou “uma grande comoção”, na década de 1950, quando morreu numa tempestade de neve ao regressar a uma das palas para junto dos filhos, depois de ter ido buscar víveres à aldeia.

Da comoção adensou-se também o mito dos grandes nevões que naquela época caiam na serra e já atraiam visitantes e aventureiros como o então jovem estudante Dionísio Gonçalves que chegou a experimentar um telesqui de arrasto, construído na universidade.

Do entusiasmo dele e outros jovens nasceu a ideia de instalar em Montesinho uma pequena estância de Ski e o projeto foi falado durante anos até ser esquecido porque afinal já não neva como antigamente, nem nunca a serra teve neve suficiente para sustentar um projeto destes.

Com a criação do parque, outros projetos vingaram como a Feira do Fumeiro de Vinhais, hoje em dia um dos principais chamarizes da região, ou as raças autóctones protegidas com a criação da Associação dos Ovinos de Churra-Galega Bragançana, a Associação do Porco Bísaro, a Associação de Bovinos de Raça Mirandesa ou a associação dos apicultores e a Casa do Mel.

Os projetos foram enumerados à Lusa por outro dos fundadores do parque, Manuel Pinheiro, que lembrou também os cerca de 90 moinhos de água que reabilitaram para facilitar a vida às populações das aldeias, já que “era muito caro ir à moagem a Bragança a trocar o grão por farinha”.

Foi também o parque que levou o saneamento a algumas populações, numa área onde ainda hoje há aldeias sem esta infraestrutura básica.

Foi do parque a primeira oferta de turismo rural na região, as Casas-Abrigo, “para recuperar património, permitir a visitação e também mostrar (aos privados) a forma como se poderia recuperar património para proveito próprio”.

As Casas-Abrigo estão ao abandono, mas a oferta privada multiplicou-se.

O parque que conduziu estudos sobre o Lobo Ibérico e o processo de reconhecimento da raça Cão de Gado Transmontano, distribuindo pelos pastores exemplares para minimizar os ataques de lobos e, consequentemente as indemnizações a pagar.

A área protegida nasceu com a missão também de ser laboratório vivo ligado à investigação e às instituições de Ensino Superior e integra o projeto-piloto nacional das Montanhas de investigação.

in:sapo.pt

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