O escritor Manuel Alegre mostrou-se hoje "honrado" com atribuição do primeiro prémio literário Guerra Junqueiro, instituído pelo Freixo Festival Internacional de Literatura (FFIL), garantindo que foi felicitado por pessoas de diversos países.
Em entrevista à agência Lusa, Manuel Alegre disse que Guerra Junqueiro (1850-1923) é uma grande figura da literatura portuguesa, tendo sido o poeta mais popular do seu tempo.
"Junqueiro trouxe à poesia portuguesa temas interditos no seu tempo, tais como a pobreza, a nudez, a prostituição, ou seja, aquelas coisas que eram para ficar fora da poesia. Ele trouxe a realidade e coisas mais infames da sociedade da época", frisou.
O antigo candidato à Presidência da República destacou poemas como a "Pátria", em que é descrito um trabalho adaptado à realidade vivida no seu tempo.
"Ele colou-se muito à realidade e à sociedade do seu tempo e parece que os seus poemas caíram em desuso. Mas, se os formos reler hoje, muito daquilo que teve uma marca contemporânea, tem agora uma dimensão intemporal e universal", enfatizou o laureado.
Manuel Alegre destacou que o poeta transmontano, natural de Freixo de Espada à Cinta, no distrito de Bragança, tem uma grande capacidade verbal em que consegue conjugar o tem épico com o tom lírico, com uma violência sarcástica, muito rara e inovadora na poesia portuguesa.
"A organização do FFIL está de parabéns porque em boa hora relançou Guerra Junqueiro e todo a sua obra", enfatizou.
O poeta Manuel Alegre, no decurso da entrevista à Lusa destacou que é tempo de Guerra Junqueiro voltar as escolas, ao ensino e as livrarias.
"Guerra Junqueiro é uma figura cimeira da poesia e da literatura portuguesa e não pode estar nas prateleiras, nem fora do ensino ou do convívio com a sua obra", enfatizou.
Manuel Alegre disse ter uma escrita "muito diferente" da de Guerra Junqueiro, mas que se identifica com o poeta freixenista na luta pelos ideais de liberdade, como fez durante o período da ditadura.
"Identifica-me com Junqueiro porque a sua poesia dominante é Portugal e a minha também", disse.
Na opinião de Manuel Alegre, Guerra Junqueiro, derrubou a Monarquia, antes de ser feita a revolução à Republica.
Freixo de Espada à Cinta é um concelho pequeno e periférico, o que significa que, na opinião de Alegre, iniciativas como o FFIL são uma lição.
"Não há desenvolvimento sem cultura e não há progresso. A cultura liberta", concluiu.
Agência Lusa
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