Por: José Mário Leite
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)
– Olha o ti’ Tomé Guerreiro. Pois se é tarde viesse mais cedo. Que um bom guerreiro apronta-se de manhãzinha.
– O meu amigo está com alma de filósofo. Quem pensaria tomar conselhos de guerra de um Manso?
– Manso, só de nome. Só de nome...
– E eu não sei? Fale-me das novidades da terra que, pelo que vejo, já leu de cabo a rabo o Jornal Nordeste.
– Ó ti’Tomé, nestes tempos eleitorais a gente já não sabe o que são notícias, o que são promessas, o que são projetos, o que são factos. Misturam tudo.
– E fazem mal. O povo precisa de esclarecimentos, não é de ilusões.
– O tempo é de promessas, homem! Por mais que discutam, por mais que condenem, por mais que prometam não fazer promessas vãs, essa é a mais vã de todas as promessas.
– Não há dúvida. Hoje deu-lhe para a filosofia... pois se querem o voto não hão-de prometer nada em troca? Como queria o meu amigo que enchessem a camapanha eleitoral?
– Oficialmente a campanha só começa em Setembro...
– Oficialmente, diz bem. Mas eles estão aí, andam por todo o lado, não podem estar calados se não ninguém sabe ao que vêm, nem tão pouco se lhes pode pedir contas depois.
– Pois melhor fora que dessem conta das promessas que já fizeram!
– Pois sim, pois sim. Mas a isso já nos vamos habituando...
– mas também já começamos a habituar-nos a outro tipo de atitudes. Veja bem o que se vai passando por esse mundo fora.
– Não me fale da América que não é bom exemplo.
– Não lhe falo da América, mas falo-lhe de França.
– Ora, ora. Mas isso é a outro nível. Ainda vai demorar a chegar ao plano das eleições deste ano. E eu até entendo que neste período comecem a despejar possíveis compromissos se calhar até com intenção séria de os levar até ao fim. E os votantes sabem bem que nem sempre as coisas correm como são projetadas e não é por falta de vontade e até mesmo de empenho.
– Então qual é o problema?
– O problema é quando avançam cedo demais com o anúncio de empreendimentos vultuosos e que são bem necessários para a nossa terra.
– Agora é que eu não entendi nada!
– Muitas vezes começam a falar e a dar como certas, obras, realizações e investimentos na altura indevida. Criam expetativas que depois não se realizam quando deviam.
– Mas se vocemessecê já disse que era natural...
– Natural não é, nunca. Mas quando são grandiosas e não há garantias sequer de começo e quando dependem de investimentos externos à nossa terra, se andamos a falar e a afiançar que vai, quando nem começou, o que estamos é a afastar quem podia ajudar e que assim pensa que já está e nem sequer se interessa. E não é só isso.
– Ai não? Então que mais é?
– Acontece como no caso do Lobo. Quando for mesmo para valer, já ninguém acredita de tanto ter sido noticiado antes, em vão.
– Já houve foguetório demais.
– É isso mesmo. Demais e em tempo impróprio. Que mal compare é como se um fogueteiro, na ânsia de mostar a sua habilidade e a qualidade do fogo-de-artifício que tem, começasse a fazer demonstrações antes da festa. Quando chegasse o arraial já pouco havia e desse pouco, nada era novidade pois já tudo tinha sido visto!
José Mário Leite, Nasceu na Junqueira da Vilariça, Torre de Moncorvo, estudou em Bragança e no Porto e casou em Brunhoso, Mogadouro.
Colaborador regular de jornais e revistas do nordeste, (Voz do Nordeste, Mensageiro de Bragança, MAS, Nordeste e CEPIHS) publicou Cravo na Boca (Teatro), Pedra Flor (Poesia) e A Morte de Germano Trancoso (Romance) tendo sido coautor nas seguintes antologias; Terra de Duas Línguas I e II; 40 Poetas Transmontanos de Hoje; Liderança, Desenvolvimento Empresarial; Gestão de Talentos (a editar brevemente).
Foi Administrador Delegado da Associação de Municípios da Terra Quente Transmontana, vereador na Câmara e Presidente da Assembleia Municipal de Torre de Moncorvo.
Foi vice-presidente da Academia de Letras de Trás-os-Montes.
É Diretor-Adjunto na Fundação Calouste Gulbenkian, Gestor de Ciência e Consultor do Conselho de Administração na Fundação Champalimaud.
É membro da Direção do PEN Clube Português.
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