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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quarta-feira, 28 de junho de 2017

Relação das Festas em Bragança na Aclamação de El-Rei D. Pedro V - 1855 - Programa

«O Presidente e mais Vereadores da Camara Municipal do concelho de Bragança, tendo em vista o Decreto de 29 de Agosto do presente anno, pelo qual foram declarados de Grande Gala os dias 16 [10] do corrente mez em que hade ter logar a grande festevidade da inauguração do Reinado do Senhor D. Pedro Quinto, com previo Juramento e Acclamação do Mesmo Augusto Senhor, em Sessão Real Extraordinaria das Cortes Geraes da Nação, e os dous immediatos; ordenando outrosim que em todos estes tres dias se festeje com o devido luzimento o acto solemnissimo de assumir El-Rei o Senhor D. Pedro Quinto o exercicio dos Poderes Reaes; – fazemos saber o seguinte:

Que nos referidos tres dias 16, 17 e 18 deste mez de Setembro haverá na Capital deste concelho e Districto festas publicas e todas as demonstrações de jubilo por tão faustissimo acontecimento, como é proprio da lealdade dos Bragantinos para com os seus Monarchas, devendo os habitantes da Cidade illuminar as suas casas nas noites dos mesmos tres dias, e adornar as janellas das suas moradas os que habitão as ruas por onde tem de passar o prestito da Acclamação, na manhã do dia 16.
E que os festejos serão distribuidos pela maneira seguinte:

DIA 16
Sahirá de manhã dos Paços do Concelho o Prestito da Acclamação d’El-Rei o Senhor D. Pedro Quinto, em cuja occasião dará o Presidente da Camara os Vivas do costume; e seguirá pela ordem seguinte:
1.º – Um piquete de cavalaria. 2.º – O Estandarte da Camara, acompanhado pelos Juizes Eleitos. 3.º – Os Cidadãos, Clero e Nobreza em alas – as Authoridades – Corporações – Repartições publicas e Tribunaes, segundo o programma estabelecido. 4.º – Um anjo ricamente vestido, que levará sobre uma almofada de veludo carmezim a carta Constitucional aberta, e sobre ella a Corôa e Sceptro Real. 5.º – O Retrato del-Rei conduzido por duas pessoas da cidade, das constituidas em maior dignidade, e acompanhado por duas álas de Sargentos. 6.º – O Ex.mo Governador Civil. 7.º – A Camara Municipal. 8.º – A tropa da Guarnição.
O Prestito desce n’esta ordem pela Costa Pequena e vem pela rua Direita á Praça da Sé. Segue-se a Parada Militar, fazendo-se a continencia ao Retrato de S.Magestade: depois é o mesmo Retrato recebido ás portas da Igreja debaixo do Palio, e assim conduzido até á Capela-mór, e colocado debaixo do Docel para esse fim levantado, colocando-se no degráo superior a almofada com as insignias Reaes.
Tem então logar o Solemne Te Deum, que o Ill.mo Cabido manda cantar por musica com instrumental, e para cujo acto tem feito adornar a capella mór e a Tribuna com o maior esmero: – findo o que, se recolhe o Prestito pelo mesmo modo pela rua de Traz, rua da Alfandega, rua dos Prateiros á Villa.
O Commercio distribue pelas 6 horas da manhã 500 rações de um arrátel de carne e 4 de pão trigo, aos pobres da cidade, que para esse fim tem de comparecer nas Eiras do Colegio, munidos da competente senha, em que irá declarado o numero das rações que cada chefe de família hade receber; e igualmente fará distribuir 100 camizas novas.
De tarde sahirá o Baile dos artistas da cidade que executará as danças nos seguintes Iogares: No meio da rua de Santo António – na Praça da Sé junto a Fora de Portas – na rua Direita, abaixo da travessa do Arco – no meio da rua d’Alfandega – e na rua de Traz, em frente do Governo Civil.
De noite se recitará no Theatro Elogio analogo á solemnidade do dia, aparecendo no fim o Retrato do Senhor D. Pedro V: concluido o Elogio que será desempenhado pela digna officialidade de Caçadores nº 3 e por outros cavalheiros da Cidade, terá logar então a representação do Drama “A Acclamação do Sr. D. João 4.º”, pela companhia Dramatica.
Os empregados do Governo Civil e da Repartição de Fazenda illuminarão a fachada da Casa do Governo Civil em todo o seu comprimento com tijelinhas de duas luzes. – Arcos na Janella cobertos de buxo, igualmente illuminados – Uma grinalda de farões de cores de Janella a Janella em todo o comprimento da fachada. No centro do Edificio o Retrato de S. Magestade debaixo d’um docel e cortinas de damasco – com bandeiras Nacionaes dos lados do retrato, com um distico em baixo –.
Algum fogo do ar, ao tempo de se acender a illuminação.

DIA 17
Sahirá de manhã o Baile desempenhado pelas corporações dos Sargentos de Cavallaria nº 7 e Caçadores nº 3 que executará as danças nos logares em que vespera hade representar-se o Baile dos Artistas.
O Ex.mo Governador Civil tenciona oferecer um jantar aos prezos da Cadeia Civil; e a respectiva Comissão de Soccorros uma camiza a cada um dos mesmos prezos; tudo ás 12 horas do dia.
De tarde sahirá pela 2.ª vez o Baile dos Artistas que executará as danças nos seguintes logares: Fora de Portas no largo dos Ferradores – na rua direita proximo da Travessa das Eiras do Colegio – no Cimo da Costa pequena, no plano que ahi forma a rua dos Prateiros – na Praça da Sé, pouco acima da rua de Traz – e no meio da rua dos Oleiros.
Para esse fim será uma torre construida em volta do cruzeiro na Praça da Sé, de figura octagona, tendo na base 8 grandes porticos que serão embelezados com pinturas transparentes para serem iluminadas.Na ordem superior uma galeria conservando a mesma figura, com um farol em cada angulo e um pouco mais recolhidos se levantarão outros 8 porticos de menor dimensão, que serão adornados com outros panos contendo o seguinte:
No portico que fica em frente do Castello e antiga Casa de Bragança será colocado o Retrato d’El-Rey o Sr. D. Pedro 5.º Nos dous que lhe ficão mais proximos ler-se-hão os disticos – 16 de Setembro de 1855 – Real, Real, pelo Senhor D. Pedro 5.º Rey de Portugal. Os outros dous imediatos a estes ultimos mostrarão os seguintes versos de Camões:

Tomai as redeas vós do Reino vosso,
Dareis materia a nunca ouvido canto.
Não vos hão-de faltar, gente famosa,
Honra, valor, e fama gloriosa.

No portico opposto ao do Retrato – as armas reaes – e nos dous que restão – os trofeus d’armas – e emblemas da industria e das sciencias e das bellas artes.
O remate da torre será formado com uma cupula com varias decorações transparentes.

DIA 18
De manha terá segunda vez logar o Baile das corporações dos Sargentos nos sitios designados ao dos Artistas no dia 17.
De tarde terá logar um luzido festejo de cavalhada com figuras alegoricas, transportadas em carros ricamente adornados, no qual toma exclusivamente parte a benemerita officialidade de Cavallaria nº 7 e que será executado na rua de Fora de Portas (Largo dos Ferradores) – na Praça da Sé – rua Direita por baixo da travessa do Arco – na rua de Traz abaixo da Travessa do Arco – e no meio da rua dos Oleiros.
De noite illuminação e fogo como no dia antecedente.
O Presidente da Camara – Miguel Carlos de Novaes e Sá».

Nota – Copiamos fielmente este «Programa» de uma folha avulsa inumerada, impressa nas suas duas páginas, sem ano nem lugar de impressão, que nos mandou o doutor Manuel António Ferreira Deusdado, distinto escritor e professor do Liceu Nacional de Angra do Heroísmo, a quem aqui gostosamente significamos o nosso profundo reconhecimento pelos muitos elementos que nos forneceu para esta obra.

Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança

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