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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quarta-feira, 18 de abril de 2018

Olaria do Felgar é cultura e tradição

Felgar, no concelho de Torre de Moncorvo, terá sido dos centros oleiros mais importantes de Trás-os-Montes ao longo dos últimos 350 anos.

Forno de Telha
Remontam a meados do século XVII as primeiras referências documentais conhecidas e que indicam a presença de oleiros nas duas aldeias vizinhas de Felgar e Larinho.

Segundo os documentos existentes deixou de haver oleiros no Larinho no final do séc. XVIII, e consta-se que a produção cerâmica se tenha concentrado no Felgar.

Em 1796 existiam 20 oleiros, número que se mantém no final do século XIX e início do século XX. Nos anos 60 apenas subsistiam cinco oleiros, tendo desaparecido na década de 80 António Augusto Rebouta, o último oleiro do Felgar. No entanto, ainda hoje se fabrica esporadicamente cerâmica no concelho de Moncorvo, continuando a tradição deste centro oleiro.

A Raízes esteve à conversa com um apaixonado pela olaria do Felgar, António Carneiro de 48 anos, que apesar de viver em Lisboa, dinamiza diversas actividades ligadas a esta tradição. Natural da aldeia, António Carneiro, quer desenvolver alguns projectos entre eles criar a Casa dos Púcaros do Felgar.

“Eu desde miúdo que gostava de ver o senhor António Rebouta a trabalhar no barro mas quando eu tinha 14 ou 15 anos o meu pai, que estava emigrado na Alemanha, veio cá e encontrou uma bilha nas minas do ferro em 1963. Trouxe-a para casa e eu fiquei apaixonado por ela”, conta António Carneiro que a partir de 2005 começou a fazer um levantamento das peças existentes e hoje tem espólio suficiente para encher um museu temático. Ainda chegou a trabalhar na roda mas sempre como autodidacta. “Agora quero ver se consigo promover acções de formação para que haja gente a aprender este ofício”, refere.

A paixão pela sua aldeia leva-o a viajar pelo menos uma vez por mês de Lisboa e sempre que pode organiza actividades ligadas à olaria, pois, considera que não se deve perder este património cultural e que pode ser aproveitado a nível turístico, daí achar “necessário a criação da Casa dos Púcaros do Felgar para que as pessoas conheçam a história deste centro oleiro transmontano que já foi tão importante”.

A cerâmica produzida em Felgar distingue-se pela sua tonalidade característica de vermelho carregado, decorrente da cozedura oxidante, mas também da própria argila, com elevado teor de minerais de ferro e, por vezes, do acabamento polido dado à peça.

Fabricavam-se peças de muitos e variados feitios, tamanhos e usos: alguidares, tigelas, testos, panelas, asadas, bilhas, cantarinhas, púcaros, cântaros e talhas. Destinavam-se à confecção, transporte, serviço e armazenamento de alimentos.

Os oleiros do Felgar utilizavam na preparação do barro dois tipos de argila que recolhiam junto ao rio Sabor (Barrais) e no Cabeço da Mua. Recolhida a argila era então necessário preparar o barro para poder ser trabalhado na roda, tarefas muito pesadas e cansativas que eram frequentemente executadas pela mulher do oleiro. A argila era então seca, triturada e peneirada, após o que eram misturados os dois tipos de barro e amassados com água para preparação das pelas, porções tronco-cónicas prontas a serem trabalhadas pelo oleiro.

No fabrico das peças utilizava-se o torno ou roda alta, movimentado pelos pés do oleiro que com as mãos dava forma à peça. Uma vez terminada era posta a secar e posteriormente cozida.

A comercialização fazia-se de porta em porta pelas aldeias, transportando as peças no dorso de burros ou, mais recentemente, levando-as no comboio do caminho-de-ferro do Sabor.

As feiras mais frequentadas eram as de Moncorvo, Freixo de Espada à Cinta, Carviçais e Mogadouro. Mas os oleiros do Felgar chegavam a uma área muito alargada que ia de Mirandela a V. N. de Foz Côa, de Carrazeda de Ansiães a Figueira de Castelo Rodrigo. A venda das peças podia ser feita a dinheiro ou por troca directa com produtos agrícolas.

O alguidar
Destinavam-se à preparação da carne para os enchidos – a surça – servindo também para armazenar os próprios enchidos e os queijos. Em alguns casos podiam ser utilizados como bacias para lavar a louça e o corpo.

O cântaro
Juntamente com a talha é a peça mais característica desta olaria, de forma muito elegante, com bojo ovóide, colo alto e asa larga; é por vezes decorado com motivos encrespados e linhas ondulantes. Destinava-se ao transporte e aprovisionamento de líquidos (água e vinho).

A talha
Por se tratar de peças de grandes dimensões, de algum valor económico e destinadas a permanecerem nos lagares, adegas e armazéns, trata-se do tipo de peças que melhor se conservaram até aos nossos dias sendo possível encontrar exemplares com muitas dezenas de anos. São normalmente decoradas por um número variável de cintas, sendo a primeira decorada por dedadas. Destinavam-se ao armazenamento de líquidos e sólidos (azeite, azeitonas, castanha, feijão, mel, enchidos, queijos)

Já não resta nenhum dos antigos fornos do Felgar, os últimos se localizavam um na rua das Amoreiras (antiga dos Louceiros), e outro na rua da Calçada. Eram construídos em alvenaria, de planta circular, dispondo de duas câmaras separadas por uma grelha também em pedra. A câmara inferior, de combustão, possuía uma pequena porta por onde era introduzida a lenha, destinada a arder e cozer as peças colocadas na câmara superior, de cozedura. O forno não tinha cobertura superior, sendo tapado com telhas e fragmentos de peças durante a cozedura.

Foto: de M. Prudêncio, publicada na página 30 do Livro O Último Oleiro.
Revista Raízes

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