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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

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COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 24 de abril de 2018

O DIA DE NATAL

Por: Antônio Carlos Affonso dos Santos – ACAS
São Paulo (Brasil)
(colaborador do Memórias...e outras coisas)
                                                                                           O DIA DE NATAL
Na noite de natal, propriamente dita, não era costume de se fazer a ceia. De tempos em tempos, meu pai convidava alguns compadres para jogarem um jogo de cartas chamado "Dourada"; às vezes era o jogo do "Truco". Nestas ocasiões, ficávamos ali, andando em volta da mesa que era montada vizinha à de jogo, onde mamãe dispunha algumas galinhas assadas, leitão, pães e anisete (bebida preparada com cachaça, açúcar e essência de anis, mais um quinto de água) ou vinho. Cachaça, confesso, nunca vi ser servida ou bebida em minha casa,, nunca! 
Antes de eu e meus irmãos irmos dormir, deixávamos nossos sapatos, engraxados e lustrados debaixo do presépio. Esperávamos um dia vermos o Papai Noel... . Caindo de sono, íamos para a cama e, quase sempre minha mãe vinha no quarto e gritava, avisando que o Papai Noel havia passado e deixado presentes. Aos treze anos de idade tive que sair daquele paraíso, porém minhas retinas mantêm gravadas as lembranças, as cores, as vozes, os cheiros e os significados dos presentes que ganhava, todos os anos, até os treze, sem nunca ter falhado uma única vez. Somente quando já era um "cavalão" de trinta anos, soube em detalhes do esforço de minhas irmãs mais velhas e de meu pai, para comprar presentes para nós todos.
Os parcos recursos do salário de meu pai eram insuficientes para comprar presentes para seis ou sete dos filhos; os menores. Entrava em cena minhas irmãs mais velhas, que se desdobravam, trabalhando na casa dos patrões preparando comidas e mais comidas para o Natal e ano Novo; a outra, só depois soube, sempre plantava muito alho e nos obrigava a regá-los todos os dias: não sabíamos que aquele alho, vendido fora da época da colheita tinha preços melhores e minha irmã os vendia e os transformava em caminhões, piões, bonecas, casinhas e roupas, que nos vestiam e os brinquedos que nos encantavam. Uma dessas irmãs, a mais velha, já viajou fora do combinado e deve estar, como sempre, ajudando no que for possível às almas que estão no céu, junto com ela. Nem é preciso dizer de como chorei no primeiro Natal longe da família, da fazenda, das pessoas gentis que falavam caipirês, assim como eu: afinal eu estava morando na metrópole de São Paulo, onde começava a vivenciar um novo modo de vida e novos valores.

                                                         NATAL NA ROÇA: IMPRESSÕES DO AUTOR
Descrevi aqui o ambiente do natal na roça, lembrado por um velho, que sou eu, ao tempo em que era uma criança. Natais, onde num almoço compareciam mais de cinquenta pessoas, algumas com desculpas de que..."só vim cumprimentar a comadre e o compadre..."! Nesses casos, meu pai, Seu Joaquim, os recepcionava da seguinte maneira:

-     Podem chegar! Vão chegando e se assentando. O menino Jesus passou por aqui!

E assim, o almoço de natal era servido até que a noite chegasse. A mesa nunca era desfeita. A presença do Deus Menino era coisa palpável, que também junto com todos, faziam a festa de natal prorrogar e fechava-se a noite com terço e uma roda de viola. 
Às vezes, o grupo de baianos e mineiros que faziam parte da "Folia de Reis" compareciam por cortesia. 
Com lágrimas nos olhos, lembro vocês daqueles natais, daqueles cantares, da bandeira dos reis magos, dos versos, das homenagens "tiradas" pelo líder da folia de reis e do palhaço, que não entrava na casa e ainda tinha que dançar, ao som das caixas e zabumbas lá fora, no quintal fronteiriço da casa grande, para ganhar as "boas festas". 
-Estas, são coisas que me enchem de emoção; até hoje.


Antônio Carlos Affonso dos Santos – ACAS. É natural de Cravinhos-SP. É Físico, poeta e contista. Tem textos publicados em 8 livros, sendo 4 “solos e entre eles, o Pequeno Dicionário de Caipirês e o livro infantil “A Sementinha” além de quatro outros publicados em antologias junto a outros escritores.

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